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12 de Novembro de 2019 às 09:20

A primavera da esperança...

O problema não é a inovação em si mesma, nem a disputa dos benefícios associados. Antes é a redistribuição do poder e a gestão da transição. Que “apropriações” emergentes exigem controlo, e quem é munido de autoridade (os cidadãos, ou o Estado)? Eis a questão!...

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A FRASE...

"Não são dados que estão a ser explorados, são as pessoas."

Edward Snowden, Público, 4 de Novembro de 2019

 

A ANÁLISE...

 

Ler a entrevista que Paddy Cosgrave deu ao Público no dia 4 de novembro faz lembrar a abertura do "Conto de Duas Cidades" de Charles Dickens: "Aquele foi o melhor dos tempos, foi o pior dos tempos; aquela foi a idade da sabedoria, foi a idade da insensatez, foi a época da crença, foi a época da descrença, foi a estação da Luz, a estação das Trevas, a primavera da esperança, o inverno do desespero; tínhamos tudo diante de nós, tínhamos nada diante de nós, íamos todos direto para o Paraíso, íamos todos direto no sentido contrário."

 

O mundo de opostos inconciliáveis está bem patente nas suas respostas, oscilando entre uma posição libertária e o urgente apelo à intervenção do Estado. Fio condutor único, o pragmatismo que preside ao sucesso de uma "pequena empresa de eventos", a quem nada mais se pode exigir. É difícil a quadratura do círculo... Não seria este assunto de relevo, não fosse a importância do acontecimento do momento nos editoriais da comunicação social, ou na agenda política.

 

Está dado o mote. O Web Summit é um palco de visões opostas e contraditórias: a começar pelo discurso, logo na abertura, de Edward Snowden - "Que fazer quando as instituições mais poderosas na sociedade são as menos respeitáveis?" - em contraste claro com a ambição das empresas das novas tecnologias - que vivem, precisamente, da "apropriação (monopólio) da informação", com pouco ou nenhum respeito pelas suas variadas constituintes.

 

Nos processos de inovação disruptiva, ao turbilhão exuberante inicial sucede-se o inevitável debate entre "incluídos" e "excluídos". Por norma, separados por uma linha divisória bem demarcada, estabelecem-se num campo de batalha propício a altercações e confrontos. Já foi assim com as grandes revoluções da história. E, sempre, a "apropriação" foi o elemento da discórdia: da terra com a revolução agrícola; do capital, com a revolução industrial. Hoje com a informação, amanhã com a genética. Pode-se aprender muito com o passado!

 

O problema não é a inovação em si mesma, nem a disputa dos benefícios associados. Antes é a redistribuição do poder e a gestão da transição. Que "apropriações" emergentes exigem controlo, e quem é munido de autoridade (os cidadãos, ou o Estado)? Eis a questão!... 

 

Este artigo de opinião integra A Mão Visível - Observações sobre as consequências diretas e indiretas das políticas para todos os setores da sociedade e dos efeitos a médio e longo prazo por oposição às realizadas sobre os efeitos imediatos e dirigidas apenas para certos grupos da sociedade.

maovisivel@gmail.com

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