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12 de Fevereiro de 2021 às 12:05

Os sabe-tudo

Portugal é um país de treinadores de bancada. A quantidade de programas com palpitadores sobre jogos de futebol e profundos analistas do chuto na bola criou uma legião de descendentes para todas as ocasiões.

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Back to basics
"A única forma de resolver uma situação é deixar a conversa e começar a fazer o que deve ser feito"
Walt Disney

Os sabe-tudo
Portugal é um país de treinadores de bancada. A quantidade de programas com palpitadores sobre jogos de futebol e profundos analistas do chuto na bola criou uma legião de descendentes para todas as ocasiões. Não houve sítio por onde eu passasse profissionalmente em que não tivesse de ouvir palpites, que sempre escutei com atenção, sem me irritar nem rir. Mas a pensar para mim que estava a ouvir apenas palpites de quem não sabia do que estava a falar: sobre como deviam ser os jornais, sobre as capas das revistas, sobre programação de canais de televisão, sobre audiências ou criatividade publicitária. O mais recente treinador de bancada português é o fã da epidemiologia, o especialista da pandemia. De repente, vejo epidemiologistas por todo o lado, infectologistas em potência, intensivistas de sofá. Em abono da verdade, diga-se que os mais altos cargos da nação, Presidente da República e primeiro-ministro, já tiveram o seu momento de brincadeira aos médicos. Deliberadamente pus de fora outro alto responsável da nação, o presidente da Assembleia da República, porque verdadeiramente acho melhor não recordar o ridículo de várias afirmações que fez no último ano. Não abona a nosso favor ter tantos treinadores de bancada em tantas modalidades e sobretudo na pandemia. Ainda abona menos que quem de direito feche os ouvidos ao que os verdadeiros especialistas dizem e que os responsáveis políticos acabem por fazer uma gestão política oportunista da terrível situação pela qual estamos a passar. Não é certamente fácil ser Governo nesta altura. Mas um pouco menos de palavreado e um pouco mais de audição e bom senso não fariam mal a ninguém.

Semanada

n Um grupo de cientistas europeus, entre eles o português Manuel Carmo Gomes, defende um aumento radical dos testes e a adopção de uma testagem "em anel", em que todas as pessoas em redor de um caso diagnosticado sejam testadas rapidamente para que as infeções assintomáticas sejam encontradas n defendem ainda que o número de testes deve subir tanto mais quanto mais acima se estiver de uma taxa de positividade superior a 5% — métrica usada pela OMS para avaliar se uma epidemia está ou não sob controlo n o mesmo grupo de especialistas considera que o objectivo para todos os países europeus deve ser o de estar abaixo dos 10 novos casos por milhão de habitantes na primavera de 2021 n no caso de Portugal, isso significa não ter mais do que 102 novos casos diários — o que não acontece desde 16 de março do ano passado n o epidemiologista Manuel Carmo Gomes, que esta semana deixou as reuniões de peritos do Infarmed, criticou a forma como o Governo tem gerido a situação, considerando que as medidas têm sido oscilantes e tomadas com atraso n António Barreto afirmou numa entrevista que "a geringonça só conseguiu paz social, na economia foi um fracasso" n apesar da crise e do trambolhão da economia, a receita fiscal do Estado em 2020 aumentou, nomeadamente no IRC e IRS, que cresceram acima do previsto n com as aulas à distância a recomeçar, responsáveis das escolas afirmam que são necessários pelo menos 300 mil computadores para que todos os alunos possam acompanhar as aulas em condições.

Dixit
O Governo, além de ser um monstro devorador do dinheiro dos contribuintes, perdeu qualquer credibilidade executiva; do lado das oposições, as "esquerdas" só gritam e as "direitas" só gemem.
Manuel Villaverde Cabral

Uma nova revista
Tyler Brûlé, que já tinha inventado a Wallpaper e a Monocle, voltou a lançar uma novidade para as bancas este ano - a revista Konfekt, mais focada em moda, viagens, comida, design e cultura, maioritariamente em inglês, mas com uma parte final em alemão. No site da Konfekt, podem subscrever uma "newsletter" e um "podcast" mensais. Sophie Grove, a editora, conta que nos meses de preparação com a equipa de Tyler Brûlé pensaram em muitas coisas, mas não fizeram "focus groups", preferiram explorar as suas próprias convicções. Já Steve Jobs fazia o mesmo na Apple, preferia a sua intuição e não se deu mal com o assunto. Adiante, a Konfekt teve o primeiro número no final de 2020, sairá quatro vezes por ano, e esta edição inaugural tem cerca de 200 páginas. Sophie Grove trabalha com a Monocle há muitos anos e conhece o espírito da casa. Nesta primeira edição, a revista visita um ceramista finlandês, uma pequena estalagem na Hungria, promove uma conversa em Roma sobre cozinha e moda, escolheu o Hotel Kindli, em Zurique, como cenário para uma entrevista com vários convidados. No Egipto, visitou uma tradição familiar em Alexandria, em Estocolmo o tema é o design nórdico e no Porto há uma visita com diversas sugestões. A revista faz recomendações em várias áreas, da moda a bicicletas, passando por batons, tem uma secção com boas receitas culinárias e propõe uma detalhada viagem de fim de semana ao Funchal. Na parte das comidas e bebidas, há uma interessante conjugação de recomendações de vinhos, com sugestões de canções adequadas a cada um, e uma série de receitas do chef suíço Richard Kâgi. A Konfekt pode ser encomendada online no site da Monocle. A propósito de Monocle, Tyler Brûlé, nesta mais recente edição da revista, cedeu, ao fim de 14 anos, o seu espaço de abertura para o editor Andrew Tuck, que assim passa a protagonizar a publicação.

Museu virtual
Por estes dias não podemos lá ir, mas no grande "hall" de entrada do Museu Berardo está uma enorme peça de madeira, longa e curva, a face superior pintada de vermelho. É como se fosse a forma bruta, não trabalhada, do casco do barco, longilíneo, negro, com o interior a vermelho, que é a peça central da exposição "Dar Corpo Ao Vazio", de Cristina Ataíde, inaugurada em Novembro naquele museu. A terra, a água e uma evocação da presença humana são elementos da exposição, entre esculturas, desenhos de grandes dimensões, uma instalação, fotografias e um vídeo - as áreas em que Cristina Ataíde tem trabalhado. A cor vermelha é uma constante na sua obra, do papel à escultura. Esta semana, o Museu Berardo colocou no seu canal do YouTube o vídeo de uma visita de Cristina Ataíde a esta exposição, onde a artista e o curador Sérgio Fazenda Rodrigues falam sobre o que ali está exposto. À falta de podermos visitar, podemos ter uma ideia do que está nas cinco salas por onde a exposição se desenvolve. Quando o museu reabrir, não deixem de ir ver. Se quiserem, podem espreitar o PDF do catálogo da exposição no site do museu, na página sobre esta exposição. Para finalizar, vale a pena seguir os sites das instituições e os Instagram de galerias - todos vão colocando online as abordagens possíveis que no confinamento nos permitem ter o prazer de ver a arte que não podemos ver ao vivo.

Arco da velha
O Ministério da Saúde recusou aceitar o trabalho voluntário dos médicos reformados que se disponibilizaram a auxiliar no combate à pandemia, revela um abaixo-assinado, cujo primeiro subscritor é Gentil Martins.

Ouvir
Um dos grandes discos já editados este ano é o álbum de estreia de Arlo Parks, "Collapsed In Sunbeams", lançado no final de Janeiro. Arlo Parks tem 20 anos, é inglesa, cresceu a ouvir a mãe a falar francês e o som da música soul a tocar. Cita Otis Redding e Jacques Brel como influências. Aos 14 anos, começou a tocar guitarra e aos 18 foi editada a sua primeira canção, "Cola", que teve mais de três milhões de "streams" no Spotify. No ano a seguir, editou "Super Sad Generation", ainda antes da sua primeira grande actuação ao vivo - nesse ano esteve em vários festivais e depois, em 2020, foi apanhada pelo confinamento. Daí saíram as 12 canções do álbum de estreia, depois dos singles e EP de 2018 e 2019. É ela que escreve as suas canções, música pop simples, despretensiosa, descontraída, mas com ideias claras. O disco é de uma simplicidade arrasadora, as palavras em primeiro plano, uma percussão minimalista, um teclado em fundo. A produção é discreta e o palco é tomado por Arlo Parks, pelas suas palavras, pela maneira como canta. Disponível em streaming.

Enfrasquemo-nos
Eu gosto de conservas, desde as nossas históricas conservas de peixe enlatadas até às conservas em frasco de produtos confeccionados. Neste confinamento encomendei uma série de conservas em frasco elaboradas por José Júlio Vintém, do restaurante Tomba Lobos, em Portalegre. Apropriadamente, ele chama-lhes Enfrascados. Há perdiz em escabeche, coelho em molho vilão, salada de pato assado com laranja, orelha de porco grelhada, e fraca (galinha de angola) de escabeche. Por vezes há petiscos especiais, como chispe moreno, pezinhos de coentrada e galinha sacaninha - na verdade, frango do campo assado no forno com limão e piripíri. José Júlio Vintém esclarece que os enfrascados estão todos prontos a ser consumidos e podem ser servidos com qualquer acompanhamento ou então funcionar de base para empadas, empadões, arrozes ou massas. Aconselha a que se experimente a fraca, a perdiz, o pato, o coelho e o frango ligeiramente tépidos e recomenda que os pezinhos sejam aquecidos em frigideira com um pouco de água, para de seguida serem servidos com pão frito em azeite e com uma salada. Quanto à orelha e ao chispe, podem ser aquecidos em banho-maria. Cada frasco tem 200 gramas, e com um acompanhamento condigno proporciona uma refeição para duas pessoas. Os enfrascados são ideais para aqueles dias de confinamento em que apetece um petisco mais elaborado, mas não há já paciência para cozinhar nada de raiz. Por aqui entraram, com êxito, a salada de pato, a galinha de escabeche e o frango sacaninha. As encomendas podem ser feitas para enfrascadostombalobos@gmail.com, e será o próprio José Júlio Vintém a responder. A entrega é rápida. Podem ver informação actualizada no Facebook do Tomba Lobos. Neste tempo de confinamento, lá foi a pressurosa ASAE fazer uma prova e não encontrou nada por onde implicar. Os enfrascados são confeccionados sem qualquer aditivo ou conservante artificial e podem ser consumidos com segurança num prazo de seis meses.

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