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Manuel Falcão - Jornalista 18 de Janeiro de 2019 às 11:01

O regresso das nacionalizações

Desde que a geringonça chegou ao poder, o Estado mudou de forma substancial: passou a ocupar mais espaço, a ser mais intrusivo na vida dos cidadãos (basta ver a nova legislação sobre acesso do Fisco às contas bancárias), a regressar a sectores de onde tinha saído, a entrar em novos sectores sem se saber porquê.

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O futuro já chegou, só não está é distribuído de forma igual para todos.
William Gibson

O regresso das nacionalizações
Desde que a geringonça chegou ao poder, o Estado mudou de forma substancial: passou a ocupar mais espaço, a ser mais intrusivo na vida dos cidadãos (basta ver a nova legislação sobre acesso do Fisco às contas bancárias), a regressar a sectores de onde tinha saído, a entrar em novos sectores sem se saber porquê. Enquanto o Estado reforçava a sua participação na economia e aumentava o seu peso sobre os cidadãos, deixava ao mesmo tempo para trás uma série de obrigações básicas - na saúde, na educação, na segurança, nas infraestruturas básicas, na justiça. A prática das cativações fez diminuir o Estado onde ele de facto é mais necessário e abriu caminho a que ele ocupasse espaço onde não é necessário. Não há-de ser por acaso que o regresso do Estado, por exemplo à TAP, coincida com o caos instalado na companhia, recordista mundial de atrasos de voos com graves consequências no seu desempenho financeiro. Este desejo de o Estado ser dono de muito mais do que seria necessário chegou também às autarquias e, neste caso, o desdobramento da geringonça em Lisboa deu os mesmos resultados. Nunca perceberei, por exemplo, porque é que a autarquia lisboeta se meteu ela própria no negócio das bicicletas de aluguer em vez de deixar esse terreno aos privados, como acontece nos outros países europeus - e não foi por falta de interesse de diversos operadores. Mas o mais inesperado e suspeito movimento do Estado foi a espécie de nacionalização da Inapa, uma das poucas multinacionais portuguesas, concretizada nas últimas semanas. A jogada tem muitos contornos ainda por esclarecer, envolveu a Caixa Geral de Depósitos, a Direcção-Geral do Tesouro e Finanças e a Parpública - que agora detém 44% da empresa. Mas, como é o Estado o dono desta fatia, não se sujeita às mesmas obrigações dos accionistas privados que, de um momento para o outro, viram a sua posição desvalorizada. Aqui está um bom exemplo do que é a política económica de António Costa e seus aliados. Qual a negociata que inspirou esta movimentação é o que o tempo dirá.

Dixit
"O PS não tem o direito, enquanto está no Governo, e para ganhar mais uns votos, de comprometer o futuro do país."
Fernando Rocha Andrade
Deputado do PS e antigo secretário de Estado dos Assuntos Fiscais

Semanada
Dez dos 33 heliportos existentes em hospitais portugueses não têm condições de segurança para receber voos com doentes durante a noite as apreensões de medicamentos ilegais em 2018 bateram todos os recordes e um quinto dos fármacos apreendidos destinava-se ao tratamento da disfunção eréctil entre garantias e empréstimos concedidos, o total de gastos do Estado no BES/Novo Banco vai já em 4.980 milhões de euros, montante que provavelmente aumentará ainda mais entre 2015 e 2017, as autoridades detectaram 15 casos de jovens futebolistas que vieram para clubes portugueses através de esquemas de tráfico de seres humanos dez aparelhos médicos de gastroenterologia, no valor de 300 mil euros, foram roubados de uma zona de acesso restrito do Hospital Egas Moniz em contrapartida à queda de 8% de turistas britânicos, regista-se um crescimento de visitantes dos EUA (cerca de mais 20%), colocando este mercado emissor num inédito 4º lugar (a seguir a França, Brasil e Espanha) na semana das propinas gratuitas, soube-se que ainda há quase 17 mil alunos das universidades e politécnicos nacionais à espera de saber se têm bolsa de estudo o livro escolar do 12º ano onde foram efectuados cortes a três versos da "Ode Triunfal"de Álvaro de Campos, heterónimo de Fernando Pessoa, alegadamente por serem escabrosos, foi uma obra editada, com os cortes, sob a coordenação do Centro de Linguística da Universidade Nova de Lisboa.

Histórias escondidas
Adoro histórias picantes da História, ir buscar o que anda escondido no fundo dos baús. Um livro agora editado, "Bizarrias de Reis, Rainhas e Fidalgos Infames", relata fantasias sexuais, infidelidades variadas, escândalos abundantes, de enguiços a incestos, com passagem por episódios de tortura, roubos e outras coisas muito pouco recomendáveis. Na nossa História são evocados casos como a luta de D. Afonso Henriques contra a sua mãe, a dama espanhola que terá enfeitiçado D. Sancho I, a morte de D. Inês de Castro, a infiel rainha D. Leonor Teles, o caso de D.Pedro II que prendeu o irmão e casou com a cunhada, de D.João V que ficou conhecido por ter numerosas amantes e ser um frequentador dos conventos onde as alojava, nomeadamente o Convento de Odivelas, onde várias viveram em simultâneo. E, claro, há o devido destaque para D.Pedro IV de Portugal e I do Brasil, um digno sucessor dos seus mais aventureiros antecessores em matéria de devaneios sexuais. Mas, além da corte portuguesa, o livro relata ainda as depravações de Calígula, as rainhas de Henrique VIII, as loucuras de Nero ou a fantasia de Luís II da Baviera. A edição é da Guerra & Paz e garante uma belíssima visita à História dos vícios e pecados.

O problema do umbigo
O fim da Quadratura do Círculo é o fim de uma época e o sinal de uma mudança. A SIC Notícias já não é líder no cabo, os intervenientes do programa acomodaram-se, deixou de haver valor acrescentado. Em termos de audiência, foram caindo - passar dos 50 mil espectadores já era raro e a média do último trimestre de 2018 foi 43.500, o share de audiência do programa esteve abaixo do share médio anual do canal. Em resumo, perdia fiéis e não trazia ninguém de novo à congregação. O programa não tinha debate político, tinha afirmação de egos e era megafone de grupos de interesse dos partidos de onde eram originários os comentadores. Servia de suave anestesia para que as boas consciências tivessem a ilusão de que havia debate político. Tornou-se mais monótono que um debate na Assembleia da República, o que, deve dizer-se, é um feito difícil. Na realidade, tratava-se de uma conversa previsível entre dinossauros políticos previsíveis que acabaram por se fechar na quadratura do círculo que queriam contestar. Agora há quem se lamente, que chore o fim deste clube de amigos. O painel da Quadratura do Círculo teve o pecado capital de olhar para o país e a paisagem política através dos respectivos umbigos. Tornou-se fastidioso.

Cenas botânicas
Manuela Moura Guedes comparou Rui Rio a um "brócolo" e Luís Montenegro a uma beterraba. Coitadas das courgettes, quem lhes irá calhar na rifa? - pergunto eu...

Os ouvintes do rádio
Segundo a Marktest, o auto-rádio é o principal suporte de escuta de emissões de rádio, com 6 milhões e 199 mil utilizadores, o que representa 72,4% das pessoas, o rádio portátil é o segundo suporte com mais utilizadores com 16%, e o telemóvel o terceiro, com 15,7% num total de um milhão e 345 mil ouvintes. Se olharmos para a idade, os mais jovens são os que apresentam maior percentagem de audição de rádio pelo telemóvel, que quase duplica os valores médios: entre os 15 e os 24 anos, 88,4% ouve rádio pelo auto-rádio, 6,4% no rádio portátil e 27,9% no telemóvel. Ainda segundo o Bareme Radio da Marktest, 81,8% dos residentes no Continente ouviu rádio pelo menos uma vez por semana e 57,8% fê-lo na véspera. Numa análise por regiões, é possível ver que são os residentes no Grande Porto os que apresentam maior consumo deste meio, com 59,2%. Pelo contrário, no Interior Norte observam-se as taxas mais baixas, de 51,4%.

Guloseima
Não sou muito doceiro nem me deslumbro com a montra de uma pastelaria. Em geral, gosto daquilo que se designa por bolo seco, sem grandes cremes. A bola de Berlim sem creme está no limite máximo e só é admissível num contexto de praia. A seguir vem o queque tradicional, sem raspas de chocolate nem outras coisas como nozes, pinhões e quejandos. Em terceiro lugar, vem um caracol simples e depurado - o da Versailles é para mim o melhor de todos. E finalmente vem o meu preferido, desde miúdo - o clássico bolo de arroz, uma coisa modesta, cuja receita leva apenas farinha de arroz, farinha de trigo, ovos, manteiga, açúcar e raspa de limão. Vai ao forno enrolado num papel vegetal que lhe segura a base e onde costumam estar inscrições do género "fabrico especial da casa". O bolo de arroz ideal deve ter a crosta polvilhada de açúcar bem tostada, a massa deve ser leve sem se desfazer, não pode ser compacta e o sabor do limão deve ser delicado, sem exageros. Conheço dois que são uma referência - há muitos anos, provei no Porto o afamado Bolo de Arroz da Padaria Ribeiro, que existe desde 1878. Uns anos depois encontrei paralelo em Lisboa, na também histórica Confeitaria Nacional, ainda mais antiga, fundada em 1829. Mas há muitas boas pastelarias em Lisboa com um Bolo de Arroz honesto, sem artifícios, acompanhante ideal de um café cheio. Com o tempo ganha-se experiência e basta olhar para se saber se vale a pena. Nas cadeias de padaria da moda, em geral, não vale a pena.

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