Opinião
O Governo e as remunerações encapotadas
António Costa é dos mais hábeis políticos que têm dirigido o país, consegue transformar crises em vantagens, e o que se passou no caso da greve dos motoristas de matérias perigosas é um manual de como inverter a situação.
"Todos os movimentos acabam por ir longe demais."
Bertrand Russell
O Governo e as remunerações encapotadas
António Costa é dos mais hábeis políticos que têm dirigido o país, consegue transformar crises em vantagens, e o que se passou no caso da greve dos motoristas de matérias perigosas é um manual de como inverter a situação.
Aqui vai, com a devida vénia ao autor: "No meio do nevoeiro lançado pelo Governo, só há uma coisa em causa neste assunto ou não assunto. Os motoristas querem que o total que recebem (que não é pouco) pelo seu trabalho seja considerado retribuição para efeitos fiscais e contributivos. Porque ganhar dois mil euros por mês e só descontar sobre o salário mínimo é muito bom para as empresas, que poupam bastante nos descontos para a Segurança Social e em IRS, mas penaliza os trabalhadores quando têm de estar de baixa, em situação de desemprego ou para o cálculo da sua reforma. E penaliza directamente o Estado, que não recebe as contribuições devidas em impostos e descontos para a Segurança Social. Só o Governo tem a chave desta questão - e toda a gente omite isto, ai minha santa comunicação social -, basta que obrigue as empresas a cumprir a lei. É esta estranha aliança de interesses entre um Governo socialista calçado em sapatos comunistas e bloquistas e um patronato que continua a gerir as suas empresas com clara evasão fiscal que me faz confusão. Ou não, porque realmente é mais fácil atirar as culpas para o motorista - esse tipo feio, bruto e analfabeto."
Dixit
"Greves, sim senhor - mas não quando o PS está à beira de uma maioria absoluta e o país inteiro fica subitamente impedido de andar de popó."
João Miguel Tavares
Semanada
Este ano, já deram entrada 6.926 pedidos de equivalência de diplomas de ensino por alunos estrangeiros que querem continuar a estudar em Portugal, um aumento de 366% em relação ao ano passado • no final de 2018, existiam 16.203 funcionários públicos com idade superior • a 65 anos no final deste ano, cerca de 3.500 médicos continuarão sem acesso à especialidade devido à falta de vagas nos internatos • ao longo da última década, diminuiu o número de guardas e sargentos da GNR, mas aumentou o número de oficiais • nos primeiros três meses deste ano, foram decretadas 2.757 insolvências, uma redução de 181 processos relativamente ao mesmo período do ano passado • a nova versão do "Rei Leão", estreada em Portugal em meados de Julho, já está perto do milhão de espectadores nos cinemas nacionais, o que o coloca como o filme mais visto deste ano • o filme português mais visto foi "Snu", com cerca de 82 mil espectadores, muito acima dos cerca de 30 mil até agora registados de "Tony" • o movimento dos coletes amarelos português anunciou a sua extinção; este ano, 135 pessoas com idades entre os 16 e os 58 anos fizeram pedidos para alterar o nome e o género no Cartão de Cidadão.
Reflexões monetárias
"Money makes the world go round", cantava Liza Minnelli no filme "Cabaret". E dinheiro é precisamente o tema do sexto número da revista trimestral Electra, editada pela Fundação EDP e dirigida por José Manuel dos Santos e António Guerreiro.
Nove artigos desta Electra são sobre o tema do dinheiro - a sua relação com a guerra, com o poder, com a escrita, a arte, o luxo, os novos meios de pagamento, a dívida e até a loucura. Para além deste tema central, monetário, destaco um belíssimo artigo de Ulf Meyer sobre a Bauhaus, um portefólio de Edmund de Wald com imagens da sua exposição "Psalm" feita para a Bienal de Arte de Veneza deste ano. Neste portefólio, criado pelo autor expressamente para a Electra, fotografias da exposição surgem a par de um texto que percorre a memória, os livros, os objectos, os sentidos e os lugares. Um outro portefólio, deslumbrante, é o proposto por Álvaro Siza, "Paisagens de Papel", que através dos seus desenhos regista um diário de uma viagem ao Peru.
A figura entrevistada desta edição é o historiador A.J.P Taylor, autor de numerosos livros sobre a história contemporânea e que rapidamente se tornou numa estrela mediática graças ao sucesso das suas obras. Finalmente, destaque ainda para a entrevista feita ao imunologista António Coutinho, director do Instituto Gulbenkian da Ciência, e sobretudo para a parte em que fala sobre as questões teóricas da filosofia da ciência e do processo científico e sobre uma política para a ciência. A terminar, um belo texto de João Pinharanda sobre uma exposição de Lourdes Castro em Paris.
Arco da velha
O Governo recuou na decisão que tinha tomado em 2017 e decidiu manter a taxa de utilização de subsolo na fatura de gás.
TV JAZZ
Jon Batiste é o pianista de serviço a dirigir o grupo de músicos que anima o "The Late Show With Steve Colbert" na estação de televisão norte-americana CBS. Batiste é um dos mais conhecidos músicos
de jazz contemporâneos graças à sua presença constante num programa de grande audiência.
Na televisão americana é comum que os talk-shows da noite tenham uma banda residente e um director musical, simultaneamente líder dessa banda, tocando ao vivo, em todas as emissões. Jon Batiste vem de uma família de músicos de Nova Orleães muito ligados à tradição musical local. No final da adolescência mudou-se para Nova Iorque e estudou numa das mais prestigiadas escolas de música,
a Juilliard. Ao longo da sua carreira, gravou com nomes como Wynton Marsalis e Bill Laswell e com a sua banda, Stay Human, que é aliás a formação que aparece no programa de televisão já referido.
O seu novo álbum, "Anatomy Of Angels", foi gravado ao vivo com os Stay Human, ao longo de oito concertos realizados no Village Vanguard um clube de jazz de Nova Iorque, no Outono de 2018. Com uma duração de 36 minutos e já disponível no Spotify, este "Anatomy Of Angels", agora editado, inclui cinco temas - três peças para trio (duas composições originais de Batiste e o clássico "The Very Thought Of You" de Ray Noble e duas faixas mais extensas, tocadas em octeto) - "Round Midnight" de Thelonius Monk e o tema que dá título ao álbum, da autoria do próprio Jon Batiste.
Com arranjos cuidados e uma interpretação criativa que, por vezes, junta diversas influências, este álbum é uma excelente introdução ao trabalho de Jon Batiste, conseguindo combinar uma sonoridade clássica e uma execução completamente actual.
A ver o rio
Fundado em 1993 pelo hoteleiro Joaquim Machaz, o Alfoz, em Alcochete, tem uma localização única, em cima do Tejo, frente à zona oriental de Lisboa. Com duas salas rasgadas para o rio, o Alfoz tem uma tradição de servir peixe e marisco da melhor qualidade.
Ao longo dos tempos, tem tido altos e baixos e, numa recente visita, comprovei que está em grande forma. Comecemos pelo couvert, simples, com bom pão e boa broa, azeitonas honestas e uma pasta de atum caseira temperada a alcaparras que está muito acima do que, sob esse nome, se costuma encontrar por aí. Nas propostas de entradas destacam-se as cada vez mais raras pontellitas, pequeníssimas lulas fritas, bem estaladiças.
No menu, há pratos emblemáticos da casa, como cataplana do mar, caldeirada de línguas de bacalhau com ovo escalfado ou caldeirada de enguias. A escolha da refeição recaiu numa massada de garoupa e em filetes de peixe galo com arroz do rio. A massada estava superior, com a massa de cotovelos ao ponto, tempero acertado, presença abundante de garoupa e de bons camarões. Os filetes de peixe-galo tinham uma fritura exemplar e o arroz, caldoso q.b., estava farto de berbigão. Até a salada, que veio a pedido, estava boa. A terminar o teste final - como está o melão? - Muito bom, foi a resposta. E, de facto, estava acima da média. Em muitos locais louvam o melão sem merecimento - aqui foi um conselho acertado. Lista de vinhos sem grandes surpresas, mas com boa variedade, a preços razoáveis.
Bom serviço. Boa comida, bem confeccionada. E uma grande vista, numa zona bem tranquila. Esperemos que não se estrague com os aviões no Montijo. Alfoz, Avenida D. Manuel I, Alcochete, telefone 212 340 668. Tem parque de estacionamento.
Um museu musical
Volta e meia, descubro qualquer coisa completamente inesperada. Há uns tempos que via cartazes publicitários na região de Setúbal e Palmela a anunciar o Museu da Música Mecânica, localizado no Pinhal Novo.
Os dias menos soalheiros deste Verão proporcionaram a ocasião para a visita. Primeira surpresa: o museu é uma iniciativa completamente privada, instalado num moderno e atraente edifício projectado pelo arquitecto Miguel Marcelino. O edifício foi pensado para albergar a colecção de Luís Cangueiro, um empresário da área da publicidade de exterior que actua sobretudo na margem sul.
A sua colecção engloba 200 anos de máquinas que produzem ou reproduzem música - desde realejos a instrumentos, passando por grafonolas, um exemplar do cilindro de Edison, que foi a primeira máquina de gravação de som, uma grande colecção de caixas de música e uma magnífica Jukebox Wurlitzer de 1947, que é a peça mais moderna de uma colecção, que se estende por 200 anos.
O museu foi inaugurado em outubro de 2016 e a sua colecção é constituída por mais de 600 peças que produzem música e se movimentam por sistemas exclusivamente mecânicos, todos em estado de funcionamento e que foram produzidos entre finais do século XVIII e a década de 40 do século passado. A entrada custa 5 euros e o museu está aberto de terça a domingo, das 14h30 às 18. O Museu de Música Mecânica tem recebido várias distinções da Associação Portuguesa de Museologia, um total de sete desde a abertura, entre eles um, recebido já este ano, pelo catálogo "O Maravilhoso Mundo da Música Mecânica".
O site do museu tem muita informação e é acessível em museudamusicamecanica.com.