Outros sites Medialivre
Notícias em Destaque
Opinião
04 de Junho de 2021 às 11:03

O buraco

O estado da nação resume-se a isto: a autoridade do Estado é um buraco. O próprio secretário de Estado do Desporto, face ao buraco, classificou como um sucesso a final da Champions no Porto.

  • ...
Back to basics
"Nunca ensino os meus alunos. Limito-me a criar as condições para que eles possam aprender"
Albert Einstein

O buraco
O estado da nação resume-se a isto: a autoridade do Estado é um buraco. O próprio secretário de Estado do Desporto, face ao buraco, classificou como um sucesso a final da Champions no Porto. Indiferente às críticas de vários sectores políticos, sociais e desportivos, o governante regozijou-se pelo comportamento dos que vieram assistir no estádio à final e que não cumpriram as regras em vigor no país sobre cuidados a ter em matéria de saúde pública em tempo de pandemia. Ficámos a saber que há um membro do Governo que entende que há dois critérios de aplicação da lei e que se resume a isto: aos estrangeiros de visita tolera-se aquilo que aos portugueses é proibido. O próprio primeiro-ministro foi suave na análise do sucedido e evitou comentar as críticas do Presidente da República à forma como os acontecimentos se desenrolaram. Fugiu de falar de um possível cenário de eventuais consequências políticas, que, a existirem, teriam de atingir o seu fiel escudeiro Cabrita. O que sucedeu foi grave, não só porque revela duas bitolas - até na forma de actuar das autoridades, que evitaram confrontos e terão mesmo recebido indicação para não dispersarem os visitantes britânicos se isso implicasse o uso da força. A saúde pública não pode ser uma moeda de troca na atracção do turismo. Não há lógica para permitir que quem nos visita possa estar sem máscara, sem distanciamento social, a consumir bebidas alcoólicas na via pública. Como salientou o médico Filipe Froes, o que correu mal foi o que era da responsabilidade das entidades oficiais. Não era má ideia começar a averiguar responsabilidades de quem deixa acontecer o impensável - porque não podemos ser todos a voltar a pagar os erros de alguns.

Semanada

A Anacom recebeu 140 mil reclamações sobre serviços de comunicações entre 19 de Março de 2020 e 18 de Março de 2021 n desde 2013, as rendas em Lisboa duplicaram e a capital portuguesa é agora a oitava mais cara da Europa n no último ano, foram encerrados mais de 100 balcões bancários n 41 jogadores portugueses marcaram 175 golos nos principais campeonatos europeus durante esta época n entre Janeiro e Abril, as multas por infracções ao Código da Estrada aumentaram 10% e atingiram o total de 30,7 milhões de euros, apesar das medidas da redução da circulação viária devido ao confinamento n mais de metade de arguidos em processos de cibercrime não são condenados n a escassez de materiais de construção provocou um aumento de preços que ultrapassa os 35% n as exportações de madeira e mobiliário para fora da Europa cresceram 24% n um estudo da OCDE indica que a reposição do PIB per capita em Portugal para os níveis pré-pandemia deverá demorar cerca de três anos, o que nos coloca como o terceiro país mais lento na recuperação entre os países mais desenvolvidos analisados n 90% das respostas ao Censos 2021 foram feitas pela internet n foi solicitada à provedora de Justiça a averiguação de eventual inconstitucionalidade das isenções fiscais a entidades e pessoas envolvidas na final da Champions no Porto, isenções aprovadas pelo PS com uma abstenção maioritária e os votos contra apenas do Bloco e do PAN.

Dixit
"Com a ‘Carta Portuguesa dos Direitos Humanos na Era Digital’ o Estado prepara-se para pagar o funcionamento de uma rede infernal de delação, supervisão e vigilância (....). Salazar não faria melhor"
António Barreto

Descobrir
O catálogo digital da História das Exposições de Arte da Fundação Calouste Gulbenkian recolhe toda a programação desenvolvida entre os anos de 1957 e 2016, com dados sobre as 1.343 exposições realizadas nesses 59 anos e com o acesso a cerca de 30.000 documentos associados, de convites a cartazes, passando por cartas, folhetos, catálogos, textos de imprensa, recensões e fotografias. São ainda incluídas cerca de duas mil publicações e o registo de 20.000 entidades associadas (entre artistas, curadores, emprestadores e organizações parceiras). Este enorme projecto foi desenvolvido entre 2014 e 2020 - numa parceria entre a Fundação Calouste Gulbenkian e o Instituto de História da Arte (IHA) da Universidade Nova de Lisboa -, sob a direcção-geral de Helena de Freitas, que apresentou a ideia, e posteriormente de Leonor Nazaré, ambas pela Gulbenkian, e de Raquel Henriques da Silva, pelo IHA. Dezena e meia de investigadores e cerca de 30 estudantes de diferentes instituições colaboraram também no desenvolvimento deste projecto digital. O website permite realizar pesquisas variadas. Será possível, por exemplo, ter um conhecimento aprofundado da regularidade com que um artista ou uma determinada nacionalidade foram representados, da frequência com que uma obra da Coleção Gulbenkian foi exposta ou da recorrência com que um tema ou tipologia foram abordados na história da Fundação. É uma base documental única na História de Arte em Portugal, acessível a todos em www.gulbenkian.pt/historia-das-exposicoes

O selo de Chafes
O destaque desta semana vai para a escultura em ferro Início Permanente criada por Rui Chafes propositadamente para o espaço da Galeria da Casa A. Molder (Rua 1.º de Dezembro 101, 3.º). Segundo Rui Chafes, "Início Permanente é o tempo em suspensão onde a vida e a não-vida, a morte e a não-morte, encontram a sua origem, o seu ponto de partida". A escultura em ferro está colocada no chão de madeira, na penumbra do espaço da galeria, e remete para a forma feminina da origem do mundo (na imagem). Rui Chafes acredita que "a origem da arte foi a tensão entre o sagrado e o profano e que devemos saber qual o nosso destino na terra". Há uma intenção de recolhimento na forma como a peça é apresentada, levando quem a vê a procurar o seu significado. A Galeria da Casa A. Molder é um projecto da artista Adriana Molder, que recuperou a zona de exposições da mais antiga casa de filatelia do país, criada em 1943 por August Molder. A exposição está patente até 25 de Junho, aberta ao público durante a semana, no horário da tarde da loja, das 15h30 às 19h, e aos fins-de-semana e feriados por marcação.

Outra sugestão: um novo projecto imobiliário apresentou-se na semana passada através de uma exposição, "New Era For Humanity" no Marvila Art District, num edifício de cinco andares no início da Rua Fernando Palha, que vai ser reabilitado como parte da reconversão de todo um quarteirão onde em tempos existiram armazéns e oficinas. Na exposição estão representados 27 artistas de Portugal, Angola, Nigéria, Itália, Bélgica, São Tomé e Príncipe, África do Sul, Reino Unido, Moçambique e França. A exposição pode ser visitada até 7 de Agosto.

Arco da velha
O Ministério da Administração Interna autorizou que a GNR comprasse uma lancha que custou 8,5 milhões de euros e que duplica as funções de vigilância da Marinha portuguesa, sem disso dar conhecimento àquele ramo das Forças Armadas.

Blues do Mississípi
Os Black Keys fizeram em 2020 uma das derradeiras digressões nos Estados Unidos, antes do início da pandemia e do confinamento. Estavam a divulgar aquele que era então o seu novo álbum, "Let’s Rock", após uma ausência de cinco anos das edições discográficas. Depois veio o confinamento e os meses de inatividade forçada dos concertos - que foram sempre uma base da actividade do grupo. E durante o confinamento este duo de músicos do Ohio dedicou-se à sua paixão - os blues do delta do Mississípi, a origem da sua produção musical. Dan Auerbach na voz e guitarra e Patrick Carney na bateria e produção constituem os Black Keys. O duo, com mais dois músicos convidados, esteve em estúdio, em Nashville, durante dez horas ao longo de dois dias. Gravaram o seu décimo álbum e o repertório escolhido baseou-se em versões de temas de blues e rock que tinham aprendido quando estavam a começar a tocar. Assim nasceu este novo álbum, "Delta Kream", acima de tudo uma homenagem a um dos expoentes dos blues do delta do Mississípi, Junior Kimbrough, que teve algum êxito no início dos anos 1990 e que foi a inspiração directa de Auerbach e Carney.

Nos discos dos Black Keys há várias versões de temas originais de Kimbrough e, neste "Delta Kream", metade dos 12 temas são da sua autoria e dois foram compostos por outro bluesman, R.L Burnside. Há outra presença a evocar Kimbrough - o baixista escolhido pelos Black Keys, Eric Deaton, era um dos músicos que acompanhavam regularmente o bluesman, e para a slide guitar foi chamado Kenny Brown, uma lenda dos Mississipi Hill Country blues. Por curiosidade, uma das primeiras gravações dos Black Keys foi um original de Kimbrough, "Do The Rump", que aparece de novo, numa nova versão, neste "Delta Kream". Já agora, o tema inicial do álbum é "Crawling Kingsnake", um original de John Lee Hooker, outra das suas referências. Se gostam de blues, vão a correr ouvir a este disco a uma das plataformas de streaming.

Cachorrinhos
Em 2017, nasceu no Porto a casa The Dog, dedicada aos cachorros-quentes. A receita era simples: baguetes longas e finas, com salsicha e linguiça fresca, queijo que derrete quando vai à prensa quente, o pão um pouco tostado, salpicado no final com um fio de um molho levemente picante. Os amantes de sensações fortes podem pedir o molho mais puxado, mas a receita standard já é magnífica. Os cachorrinhos vêm num prato comprido cortados em pedaços e acompanham com umas batatas fritas aos palitos finos feitas na hora. Como era de esperar, a cerveja é a bebida de eleição no local, obviamente uma marca nortenha. The Dog tornou-se rapidamente um caso de sucesso na Rua 5 de Outubro, no Porto, com vendas diárias que por vezes ultrapassavam as 400 unidades. Além do cachorrinho, que é a especialidade da casa, há diversas variedades de pregos no pão, com carne da vazia, um prego no prato servido com batata frita, queijo e fiambre, e também um pica-pau que inclui a carne da vazia, linguiça e salsicha fresca, tudo aos pedaços e convenientemente temperado. Para emoções fortes, há uma sanduíche de presunto com ovo estrelado no meio. The Dog abriu há poucas semanas em Lisboa, na Avenida Marquês de Tomar 25 B. O balcão, logo na entrada, tem duas dezenas de lugares, ao fundo há uma esplanada que pode acolher umas 30 pessoas e existe ainda a possibilidade de encomendar e levar para casa. A equipa que dirige este prolongamento lisboeta veio do Porto, assim como a matéria-prima para garantir que não há diferenças entre os dois restaurantes. O resultado é um petisco que pode ser viciante.

Ver comentários
Mais artigos de Opinião
Ver mais
Outras Notícias
Publicidade
C•Studio