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Manuel Falcão - Jornalista 18 de Abril de 2019 às 10:12

Memórias de um cidadão

De que me lembro nesta legislatura? Do roubo, ainda não esclarecido, das armas em Tancos; do regabofe das falsas presenças no plenário da Assembleia da República; da abundância de nomeações familiares cruzadas no círculo do poder

Back to basics
Tacto é a habilidade de descrever os outros da forma como eles próprios se vêem.
Abraham Lincoln

Memórias de um cidadão
De que me lembro nesta legislatura? Do roubo, ainda não esclarecido, das armas em Tancos; do regabofe das falsas presenças no plenário da Assembleia da República; da abundância de nomeações familiares cruzadas no círculo do poder; do triste quadro de amnésia que assola quem vai depor a comissões parlamentares, mesmo de altos responsáveis públicos, como um ex-governador do Banco de Portugal; de convenientes alianças parlamentares para privilegiar uma classe profissional, a dos advogados; e de mais algumas coisas que estão espalhadas pelo país político - corruptelas locais, atrasos sistemáticos, cativações fantásticas que afectam serviços públicos, falta de reforma na justiça, atraso cada vez maior nos tribunais e um fisco que não olha a meios e quer devassar a seu bel-prazer a vida dos cidadãos, um Estado que obriga as pessoas e empresas a cuidados na utilização de dados provados, mas que se isenta a ele próprio dessa obrigação. A legislatura é isto; o desgoverno é este. O país está desregulado, o Estado é um complicómetro.

Semanada
Os monumentos, museus e palácios sob tutela da Direção-Geral do Património Cultural registaram uma queda de 7,8% no número de visitantes, ou seja, perderam quase 400 mil pessoas em 2018 em 2018, foram detidos 113 homens e quatro mulheres por abuso sexual de crianças há 12 concelhos sem balcões dos correios e da CGD uma em cada cinco cirurgias no Serviço Nacional de Saúde é feita fora do prazo obrigatório metade das empresas do PSI-20 tem ex-governantes na administração em 2018, regularizaram-se cinco vezes mais trabalhadores imigrantes em Portugal, a maioria brasileiros em cinco anos, a Polícia Judiciária Militar abriu 36 inquéritos a furto de armas e munições, que resultaram em apenas cinco acusações em 2018, as viagens dos portugueses aumentaram 10% a facturação do sector hoteleiro cresceu 4,4% em Fevereiro, em relação ao mesmo período do ano passado  mais de um quinto do desemprego afecta pessoas com curso superior a taxa de crescimento da economia portuguesa acumulada ao longo desta legislatura deverá ficar cerca de 17% abaixo da previsão de um grupo de economistas que prepararam as promessas eleitorais do PS em 2015, entre os quais Mário Centeno a despesa com investimento público também foi sempre inferior à meta traçada pelo PS na campanha eleitoral.

Dixit
Marido, mulher ou filha de ministro não têm os mesmos direitos (....) É errada a ideia de que "lá por ser filho ou mulher de ministro não pode ser prejudicado". Se "prejudicado" quer dizer não nomeado ou não ter subsídio, pode. E deve."
António Barreto

Uma questão de gramática
Não sou isento de pecados, mas pontapés na gramática irritam-me bastante. Às vezes, olho para legendas de filmes ou informações escritas na parte inferior dos ecrãs de televisão durante os noticiários que me causam arrepios - e não são de prazer. É um pouco paradoxal que, numa época onde tantas vezes as conversas são escritas - por mensagens, e-mails, WhatsApp -, se escreva cada vez pior. O desaparecimento, na generalidade dos jornais, de revisores e copy-desks veio piorar as coisas e creio que o ensino de português também tem culpas no cartório. O problema não vem só do ensino básico e secundário - nos últimos anos em que estive em redacções de jornais, recebia estagiários de cursos de comunicação e constatei que o seu domínio do português era muitas vezes fraco e interroguei-me como se pode ensinar alguém a comunicar sem explicar que o domínio da língua é essencial para essa actividade? Vem tudo isto a propósito de um livro, agora editado pela Guerra & Paz na colecção Livros Correio da Manhã: "Gramática para Todos - o português na ponta da língua". O seu autor é Marco Neves, professor na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova. Tem obra publicada nesta área: "Doze Segredos da Língua Portuguesa", " A Incrível História Secreta da Língua Portuguesa" ou "Dicionário de Erros Falsos e Mitos do Português", para só falar de algumas. Neste novo livro escreve-se sobre as regras do português, com capítulos de nomes sugestivos como "peças para construir palavras", "os parafusos da gramática", um desafiante "como criar palavras novas" ou "como escrever frases inesquecíveis". Há conselhos sobre como criar um texto, um repertório de dúvidas e armadilhas, uma viagem pela pontuação e os sinais e acentos, só para citar alguns casos. Este livro devia estar em cima de todas as mesas de trabalho. Poupar-se-iam muitas asneiras.

Fados & fado
Hoje recomendo uma heresia - um disco de fado onde surge uma guitarra eléctrica. O disco chama-se "Um Fado Ao Contrário" e o seu autor é Pedro Moutinho. Trata-se do seu sexto álbum de originais e o título vem da primeira faixa. O tema "Um Fado Ao Contrário" foi composto por Amália Muge para uma letra de Maria do Rosário Pedreira, que é provavelmente quem melhor escreve para fado hoje em dia. Amélia Muge também assina a letra de dois temas - "Não Sei se a Tristeza É Triste" (um fado com música de Filipe Raposo) e "Ruas do Tempo" (com base no tradicional Fado José Marques do Amaral) - e assina a música e letra da balada "Uma Pena que Me Coube" e de um fado que evoca milongas e mornas, "Aquele Bar". Manuela de Freitas fez parceria com o compositor (e guitarrista) Pedro de Castro, no alegre "Graça da Graça", e foi também a autora da letra de "Chego Tarde, Canto o Fado", sobre uma rapsódia de fados da lendária dupla de irmãos Ramos - o guitarrista Casimiro e o viola Miguel, conhecidos como "Os Pinoia". Há clássicos como "Foi Um Bem Conhecer-te" e "Maldição". E há uma versão da "Tragédia da Rua das Gáveas", um original de Vitorino Salomé do álbum "Leitaria Garrett". "Força do Mar", o terceiro tema do álbum, é um original de Márcia, uma balada envolvente, arranjada para piano e guitarra eléctrica. A produção foi de Filipe Raposo, que tocou piano, e os outros músicos são Quiné Teles (percussão), André Santos (guitarra eléctrica), Pedro Soares (viola), Daniel Pinto (baixo acústico) e Ângelo Freire (guitarra portuguesa).



Arco da velha
Numa aldeia ribatejana com cerca de mil habitantes, duas centenas receberam, em dois dias, 200 multas da PSP por excesso de velocidade numa zona onde o limite é de 50 kms/hora.


Relato de um prazer
Aqui há uns anos tive uma má experiência na Mercantina, que então tinha aberto há pouco tempo em Alvalade - quer no atendimento, quer na qualidade das pizzas que eram postas nos píncaros pela respectiva propaganda. Anos mais tarde, um querido amigo combinou lá um almoço e outro um jantar - o serviço estava melhor, mas a pizza continuou sem me entusiasmar. Nunca mais lá pus os pés. Há pouco tempo dei pela abertura, perto do Saldanha, do Bistro 37, dos mesmos proprietários e sob a insígnia Mercantina. Com uma localização privilegiada, na esquina da Miguel Bombarda com a Avenida da República, o local dá nas vistas. Ao almoço, das duas vezes que lá fui, fiquei com a sensação de que tinha chegado uma espécie de "ladies night" em plena luz do dia de senhoras já amadurecidas, que relatavam preocupações conjugais e evitavam excessos para não perderem o efeito dos ginásios de onde tinham saído pouco antes. Constatei que preferiam saladas a pastas ou qualquer vestígio de hidrato de carbono. A excepção era uma rapariga alourada e farta, vestida executivamente, mas a arregaçar a manga para mostrar uma tatuagem nova à amiga. A meio da conversa tatuada, veio a única pizza que vi servida a uma mulher e que dela motivou um comentário esclarecedor: "ai, que grande". Mas adiante, voltemos ao restaurante, confortável aliás, sobretudo na zona mais interior (embora tenha por resolver o problema habitual da reverbação do som - não percebo porque é que os arquitectos não têm mais cuidado com isto). O serviço foi bom e desta vez fugi às pizzas e dediquei-me, com êxito, a outras experiências. Confesso que tinha ido à procura de arancini - este era de salsicha italiana em vinho tinto, envolvido no risotto panado, com compota de tomate a acompanhar. Excedeu as minhas expectativas. Noutra ocasião comprovei que o carpaccio de carne era honesto, acompanhado de rúcula, lascas de parmesão e - raridade local - alcaparras fritas e pesto. Passei nas saladas (há três, e uma de espadarte marinado em citrinos chamou-me a atenção mas, a avaliar pelas mesas à volta a salada caesar, era a que tinha mais saída na clientela feminina). E passei também nos risottos, embora um com amêijoas, camarões e calamares me despertasse a atenção. Das pastas, só tenho a dar elogios - quer de uns bons ravioli de massa bicolor de camarão e trufa com crumble de avelã - a massa fresca saborosa e cozinhada no ponto, os aromas da trufa bem presentes e o camarão também em boa forma, a avelã curiosa. Noutro dia, provei o spaghetti alla carbonara, feito como deve ser, sem natas, com gema de ovo, bacon abundante e crocante. Na mesa havia uma boa focaccia, com manteigas temperadas. O vinho a copo era uma boa escolha - Venâncio da Costa Lima, um pequeno produtor de Azeitão que sabe o que faz. Se tivesse comido um doce, optaria pelo crumble de maçã e canela com gelado de baunilha. E se tivesse uma certa companhia, de certeza que vinha para a mesa o abacaxi marinado com limoncello e especiarias. Fiz as pazes com a Mercantina. Av. da República 37, telef. 919 134 014.

Maria Madalena Penitente
Até dia 28 ainda poderá ver no Museu Nacional de Arte Antiga este Ticiano, uma das várias versões que ele pintou de Madalena Penitente. Este que está exposto é uma tela do Hermitage de São Petersburgo, considerada de todas a melhor - pela expressão trágica da santa e do ambiente que a envolve. Quinta-feira, 18, é Dia Internacional dos Monumentos e Sítios e a entrada no MNAA é gratuita. No Domingo de Páscoa, o Museu está fechado, mas ainda terá a próxima semana, de terça a Domingo, entre as 10 e as 18, até esta obra ser devolvida ao Hermitage.



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