Opinião
ERC agride RTP
Na semana passada, foi dada mais uma machadada no serviço público audiovisual por um órgão essencialmente emanado do Parlamento
"Fazer reportagem é uma escola de vida: o que aprendemos baseia-se em erros que cometemos."
Cristina Garcia Rodero
ERC agride RTP
Na semana passada, foi dada mais uma machadada no serviço público audiovisual por um órgão essencialmente emanado do Parlamento - a Entidade Reguladora da Comunicação, um organismo que tem tido uma vida aberrante, criado há relativamente pouco tempo, sob a batuta desse génio que é Azeredo Lopes (sim, o de Tancos…), mas que é sobretudo um monstro burocrático, incapaz de acompanhar o evoluir dos tempos e daquilo que se propõe regular. Tenho guardados na memória episódios da falta de conhecimento da realidade de que a ERC regularmente dá mostras, nomeadamente na área online.
Voltemos ao tema: José Fragoso, jornalista e experiente homem de televisão, tem sido o director de programas da RTP e tem conseguido, no meio do furacão que em 2019 alterou o panorama das televisões no país, manter a estação pública estável, continuando linhas de programação relevantes, dinamizando documentários, criando novas apostas e proporcionando até um crescimento da relevância do serviço público. A proposta da administração da RTP em lhe dar a possibilidade de acumular a direcção de programas com a de informação é uma aposta estratégica, na linha do que acontece nas melhores estações mundiais de serviço público, em que há um director-geral que coordena ambas as áreas. Qualquer pessoa que siga e se interesse pela missão contemporânea do serviço público audiovisual conhece as boas práticas do sector, que têm dado provas e alcançado resultados, que têm desenvolvido a estratégia de produção de conteúdos.
A RTP não tem, na estrutura e estatutos, consignada a figura de director-geral, embora ela tenha existido implicitamente, de forma mais ou menos disfarçada, em muitos casos anteriores. Desta vez, respeitando os estatutos, a nomeação foi clara e fazia sentido. Sempre defendi que na RTP devia existir um director-geral, com capacidade para harmonizar as áreas da informação e programação, que muitas vezes evidencia uma esquizofrenia que se manifesta graças à solução actual - além das numerosas guerras internas improdutivas que fomenta. A estrutura que a ERC defende é uma herança da forma de organização dos jornais do início do século passado, adoptada como modelo para todos os media e que depois foi progressivamente abandonada, em que se defendia uma certa predominância da informação sobre a programação, em vez de existir complementaridade. Ora, era exactamente esta complementaridade, hoje em dia evidente em muitas estações públicas europeias de referência, que a RTP poderia ter, e que esta administração procurava agora formalizar de forma transparente.
Ao recusar a solução por temer a concentração e "os riscos que tal situação comporta", a ERC veio revelar como é retrógrada, como não compreende o que deve ser hoje em dia um serviço público audiovisual e como é avessa a qualquer tentativa de mudança e inovação. Não é pelo caminho que a ERC preconiza que se pode desenvolver um serviço público audiovisual forte. Os senhores deputados e os senhores governantes que sustentam a ERC são coniventes com isto. Ou seja, prestam um péssimo serviço ao serviço público audiovisual.
Semanada
A ADSE tem por validar 650 mil facturas apresentadas por beneficiários para reembolso e o número deverá crescer no primeiro trimestre de 2020 • nas duas primeiras décadas deste século, Portugal perdeu 8.767 escolas • ao contrário do que foi prometido pelo Governo, a Autoridade Tributária não está a aceitar as correcções das declarações de IRS de quem recebeu pensões em atraso • cada árbitro ganha 1.480 euros por jogo da Primeira Liga • no Orçamento do Estado apresentado por Centeno faltam dados sobre quanto o Governo tem para gastos imprevistos • a Ordem dos Engenheiros afirmou, sobre o impacto do mau tempo na zona de Coimbra, que houve incúria do Estado e desinvestimento na manutenção • segundo o presidente do seu conselho de administração, a agência de notícias Lusa, por ter visto o seu financiamento limitado pelo Governo, vai sacrificar drasticamente o investimento em tecnologia em 2020, "num exercício orçamental de altíssimo risco", sobre o qual a ERC mantém religioso silêncio • no terceiro trimestre do ano, o preço das casas em Portugal subiu 10,3% • o Bispo do Porto afirmou que "o Estado não é pessoa fiável" • nos últimos cinco anos, a Inspecção do Ambiente só conseguiu cobrar 24% das multas • um terço dos projectos apresentados por empresas e aprovados no âmbito do Programa Portugal 2020 está por executar • cada português produz, em média, 508 quilos de lixo por ano • o Exército perdeu metade dos efectivos em quase duas décadas • o quartel da GNR em Tavira está há um ano sem água quente.
Dixit
"Os políticos adoram o caos. Não pensam noutra coisa. Dá-lhes autoridade e dá-lhes poder. Dá-lhes proeminência. Ficam com a ideia de que podem resolver as coisas por nós."
John le Carré
Fotografia
Este ano, no Porto, surgiu uma galeria integralmente dedicada à fotografia. O Espaço SP620 foi criado por Pablo Berástegui, que tem bastante experiência na área, nomeadamente como um dos responsáveis da Photo España. Além de galerista, difunde edições especiais e promove um projecto pedagógico que organiza visitas guiadas às exposições da galeria para grupos de jovens. Durante os próximos quatro anos, vai dedicar-se exclusivamente à fotografia documental, tendo por base um ciclo designado "Salut Au Monde!", evocando o título de um poema célebre de Walt Whitman. Até 11 de Janeiro, pode ser vista a exposição "Out Of The Way", de Elena Anosova, com imagens realizadas nos territórios do extremo Norte da Rússia, onde ainda vive a família paterna de Anosova, rodeada por uma natureza intacta e uns modos de vida não muito diferentes daqueles dos antepassados que colonizaram a região da Sibéria há três séculos. A galeria quer basear a sua actividade num grupo de apoiantes que, mediante uma contribuição anual, têm direito a tiragens das imagens das exposições realizadas. É um desafio para todos os que gostam de fotografia. Espaço SP620, Rua Santos Pousada, 620. Mais informações em https://www.salutaumonde.info. Outras sugestões: ainda no Porto, no edifício da Alfândega, pode ver "Henri Cartier-Bresson: Retratos", uma exposição que reúne 121 trabalhos do fotógrafo francês realizados ao longo de 70 anos. Em Évora, numa mostra preparada e encenada para ser vista ao ar livre, no Largo Conde Vila Flor, estão expostas 38 fotografias de Sebastião Salgado, a preto e branco, que integram o seu mais recente livro, "Génesis".
Sons da emoção
Arco da velha
No PSD, que é teoricamente o maior partido da oposição, menos de metade dos seus militantes tem direito a voto nas eleições directas para escolha de quem irá dirigir o partido. E só cerca de 30 mil poderão votar. Esta democracia está cada vez menos representativa.
Provar
Cada vez mais gosto de restaurantes despretensiosos, onde o único conceito é prestar bom serviço e apresentar comida bem confeccionada. Por estes dias, descobri o Clotilde, no Estoril, próximo do Casino, junto ao Centro de Congressos. A sala é confortável, com a cozinha à vista, e existe também uma esplanada coberta. O serviço é atencioso e eficaz, a lista de vinhos é curta, mas bem escolhida, e a preços honestos. E, no final, a conta é decente. Nas entradas, provaram-se com agrado os peixinhos da horta e uma perdiz de escabeche muito boa. Umas trouxas de enchidos ficaram aquém das expectativas, mas havia uma opção elogiada numa mesa perto que podia ter sido um boa escolha - ostras à unidade ou à dose de seis. Nos pratos de substância, tudo continuou a correr bem, com particular destaque para umas lulas guisadas com amêijoas, no ponto e muito saborosas. Na mesa, mereceram elogios uns filetes de peixe-galo que podem vir com arroz de tomate ou salada; e dois amigos estrangeiros residentes aventuraram-se com êxito, ele nuns filetes de polvo com arroz de feijão, enquanto uma californiana de gema elogiou a bochecha de porco preto com migas de espargos - destacou o tempero da tenra carne e o sabor das migas de espargos, e quis saber como se faziam. O Clotilde fica na Avenida Clotilde, Edifício Centro de Congressos do Estoril, telefone 214 663 084.