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12 de Julho de 2019 às 11:04

E Costa ri porquê

Como se viu há dias no Parlamento, começou a época das promessas e da deturpação da realidade. Um António Costa sorridente veio garantir que nesta legislatura correu tudo bem, que vivemos quatro anos de grande felicidade e progresso - tudo, claro, graças à geringonça.

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"Não debato política, pois os eleitos fazem o que querem depois da posse."
João Gilberto

E Costa ri porquê
Como se viu há dias no Parlamento, começou a época das promessas e da deturpação da realidade. Um António Costa sorridente veio garantir que nesta legislatura correu tudo bem, que vivemos quatro anos de grande felicidade e progresso - tudo, claro, graças à geringonça. O êxito foi tal que António Costa e os seus ministros vão correr o país numa digressão intitulada "Cumprimos!". Mas terão cumprido o quê? A generalidade dos serviços públicos essenciais degradou-se. O investimento público congelou, os transportes não dão resposta à procura, reformas estruturais não se fizeram, os contratos a termo aumentaram, o trabalho pouco qualificado cresceu. A austeridade agora chama-se cativações. As greves na Saúde, na Educação e nos Transportes voltaram - e estrearam-se na Justiça. Os casos de promiscuidade na colocação no aparelho de Estado de familiares de responsáveis governamentais aumentou para além de tudo o que se conhecia. O desrespeito pelos cidadãos atingiu níveis inéditos: um governante culpou as pessoas por fazerem fila para serem atendidas por serviços públicos. Quem trabalha para o Estado foi favorecido em relação a quem trabalha no sector privado. A carga fiscal aumentou para o maior valor de sempre e a Autoridade Tributária continuou a destratar os contribuintes e a exorbitar os seus poderes. A corrupção na classe política tornou-se endémica. Os incêndios de 2017 e o roubo de armamento em Tancos são episódios tristes, inacreditavelmente ainda sem responsabilidade apurada. No Parlamento, no debate sobre o Estado da Nação, o primeiro-ministro teceu loas à sua governação e aos seus aliados na geringonça, prometeu repetir acordos e teve uma frase memorável: "Para a geringonça sobreviver, tudo foi suportável."

Semanada
Os portugueses gastam 16 milhões de euros por dia nos jogos da Santa Casa e jogos online as raspadinhas representam mais de metade do volume de apostas dos Jogos da Santa Casa - 8,5 milhões de euros por dia por falta de vagas no serviço de psiquiatria do Hospital Universitário de Coimbra, há doentes com indicação de internamento compulsivo que ficam além do tempo limite no serviço de urgências  nesta legislatura, o Governo não deu resposta a 2.049 perguntas de deputados • uma empresa especializada em desinfestações diz que os tratamentos para eliminar percevejos aumentaram 475% em quatro anos e atribui o crescimento da sua actividade ao número de turistas • 1,3 milhões de pessoas têm salários até mil euros e, destas, cerca de 680 mil ganham entre 600 e 750 euros mensais • Portugal está entre os dez países da União Europeia que perderam habitantes em 2018 e tem a quarta taxa de natalidade mais baixa da região • em 2018, apenas 29 dos 308 concelhos portugueses registaram um maior número de nascimentos do que de óbitos • segundo a Marktest, entre Março e Maio deste ano, 51.6% dos portugueses leram ou folhearam a última edição de um título de imprensa, num total de 4.419 mil indivíduos • um relatório da WWF revela que em Portugal ardem todos os anos, em média, quase 140 mil hectares, em mais de 2.200 incêndios, o dobro do número de fogos dos outros países do Mediterrâneo, assim como a maior área ardida.

Dixit
"Nos dois anos seguintes, o Governo substituiu os ministros que defendeu, os altos funcionários que protegeu e os encarregados da Protecção Civil que nomeou [...]. Não analisou as falhas do Governo, nem as da Administração Pública. Parece não haver lições a retirar. Nem erros a evitar."
António Barreto,sobre os incêndios de 2017

Um policial gelado
Cada vez gosto mais de livros policiais, e confesso que nos últimos anos desenvolvi especial apreço por autores nórdicos. Christoffer Petersen é o pseudónimo de um escritor dinamarquês que decidiu, em 2006, ir viver para a Gronelândia e ali se dedicou, durante sete anos, a estudar a tradição e a cultura da região, que considera uma das mais fascinantes em termos mundiais. A Gronelândia é uma região autónoma da Dinamarca, ocupa a maior ilha do mundo e tem uma população de cerca de 60 mil pessoas que vivem num clima ártico e são maioritariamente descendentes de esquimós. Foi na Gronelândia que Christoffer Petersen começou a escrever policiais, como o fascinante "Um Inverno, Sete Sepulturas", lançado em 2018, e que a Quetzal agora editou. A história é assim resumida: "Na remota comunidade ártica de Inussuk, no final de cada Verão, são cavadas sete sepulturas antes que o solo congele. À medida que o Inverno se aproxima, a questão que se coloca é se serão em número suficiente." Este livro introduz a figura de David Maratse, um polícia prematuramente reformado que um dia, durante a pesca, encontra a filha desaparecida da primeira-ministra. Maratse torna-se o principal suspeito e, para provar a sua inocência, assume-se como o investigador do homicídio mais célebre da Gronelândia. Para além da trama policial, o livro cativa pelas descrições da Gronelândia, da sua cultura e tradições - de tal forma que se fica com vontade de descobrir esta região.

Roteiro
Até 17 de Novembro, a Casa das Histórias Paula Rego, em Cascais, exibe "Looking In/ Olhar Para Dentro", uma exposição que reúne 60 anos de produção de obra gráfica de Paula Rego, mostrando cerca de duas centenas de peças, entre desenhos preparatórios para a execução das gravuras, chapas de cobre e trabalhos mais recentes e menos conhecidos (na imagem). A curadoria é de Catarina Alfaro e a exposição inclui doações da artista, que decidiu completar a coleção da sua obra gráfica pertencente à Câmara Municipal de Cascais, à Fundação D. Luís I e à Casa das Histórias Paula Rego. Em Lisboa, no Museu Arpad Szenes-Vieira da Silva, está patente até 27 de Outubro a exposição "Brincar Diante de Deus, Arte e Liturgia", com obras de Matisse, Vieira da Silva e Lourdes Castro, feitas para locais de culto religioso. Ainda em Lisboa, na Rua Castilho 5 e até 6 de Setembro, no Espaço M, pode ser vista a exposição "Construir o Nada Perfeito - Tributo a Cruzeiro Seixas", uma iniciativa do Colectivo Multimédia Perve, em parceria com a Associação Mutualista Montepio, e que está inserida no ciclo de celebração dos 70 anos sobre a 1.ª exposição do anti-grupo surrealista português "Os Surrealistas", fundado por Cruzeiro Seixas e Mário Cesariny, recordando a exposição que, em 1949, teve lugar na sala de projeções da Pathé Baby, junto à Sé de Lisboa. Em Coimbra, organizadas pelo Centro de Artes Visuais no Pátio da Inquisição, duas novas exposições de fotografia, de Tomás Maia e de Carlos Vidal; em Ponta Delgada, nos Açores, na Galeria Fonseca Macedo, Olivier Nottellet expõe Emotional Rescue.

Arco da velha
Hugo Pires, deputado do PS e coordenador do Grupo de Trabalho de Habitação, Reabilitação Urbana e Política de Cidades no Parlamento, é sócio de uma imobiliária que está a promover o despejo de uma livraria/galeria em Braga, num imóvel que a sua empresa quer mudar para alojamento local.

Machine music
A voz e guitarra dos Radiohead, Thom Yorke, tem um novo álbum a solo, "Anima" - praticamente 50 minutos de nove canções baseadas num pano de fundo de sons electrónicos, onde questões ambientais estão na primeira linha - e com o próprio Yorke a proclamar "I Can’t Breathe", uma síntese das suas várias ansiedades pessoais e sociais. A saída do disco é acompanhada na distribuição, pela Netflix, de um mini-documentário com 15 minutos de duração, assegurado por um fiel fã dos Radiohead, Paul Thomas Anderson, que inclui três das canções do álbum e no qual surge a actriz italiana Dajana Roncione. O filme apresenta três canções unidas como se fossem uma só - "Not the News," "Traffic," and "Dawn Chorus". Musicalmente, "Anima" vai no mesmo sentido da banda sonora que Yorke fez para "Suspiria", de Luca Guadagnino. Tal como aconteceu nos seus dois anteriores projectos a solo, o álbum está baseado num lote de canções marcantes, como por exemplo "I Am A Very Rude Person", em que a linha de baixo contrasta com a voz de Yorke, num registo vocal quase místico, num contraste com "Runawayaway", uma enérgica despedida com guitarras, que praticamente estavam ausentes desde o início deste "Anima", essencialmente construído em torno de sintetizadores. E embora na maior parte das canções as situações concretas estejam distantes, em "The Axe" Yorke canta "Goddamned machinery, why don’t you speak to me?/One day I am gonna take an axe to you", um alerta que aqueles que consideram que a evolução tecnológica está a ir na direcção errada poderão subscrever.

As comidas da Monocle
Ao longo do ano, a revista Monocle vai fazendo edições especiais sobre vários temas - o futuro, destinos de viagens e, agora, um guia de locais onde se pode comer e beber bem: o "Food and Hospitality Annual". Nesta nova edição, Portugal surge algumas vezes. "A Matter Of Taste" fala sobre os locais do Algarve que, na opinião da correspondente da revista em Portugal, Trish Lorenz, merecem ser conhecidos. E quais são os destaques? O restaurante A Venda, na parte antiga de Faro, o olival de Monterosa, as ostras de Moinho dos Ilhéus, o restaurante Noélia de Cabanas de Tavira (que já conheceu melhores dias, diga-se…), o hotel rural Companhia das Culturas, em Castro Marim, o café DaRosa em Silves, pela sua doçaria, e as vinhas do Morgado do Quintão. Logo a seguir aparece um artigo dedicado a petiscos portugueses, com receitas de pastéis de bacalhau, peixinhos da horta, favas com chouriço, salada de polvo, bolo do caco com manteiga de alho e bolas de berlim com creme ("portuguese doughnuts", chamam-lhe…). Esta edição traz ainda a lista dos 50 restaurantes de todo o mundo que a Monocle recomenda - a primeira referência a Portugal surge na posição 42 com o "Rancho Português", do Rio de Janeiro. Em 40.º lugar surge o Kampo, do Funchal, e a terminar, em 31.º está o lisboeta Gambrinus. Há ainda um roteiro por diversas cidades e, em Lisboa, as recomendações vão para o pequeno-almoço da La Boulangerie, o almoço da Sea Me Peixaria Moderna, o café da tarde para o Hello Kristof, o jantar para o Café Lisboa e o copo de fim de noite para o Park Bar.
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