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Manuel Falcão - Jornalista 03 de Abril de 2020 às 10:09

E a Europa?

A situação que vivemos mostra aquilo que é de facto a Europa: uma confluência egoísta de interesses económicos, não uma federação de vontades nem uma aliança de princípios, muito menos um mecanismo de entreajuda.

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"Por melhor que uma estratégia pareça ser, são os resultados alcançados o que verdadeiramente conta."
Winston Churchill

E a Europa?
A situação que vivemos mostra aquilo que é de facto a Europa: uma confluência egoísta de interesses económicos, não uma federação de vontades nem uma aliança de princípios, muito menos um mecanismo de entreajuda. Cada vez que há crise, há clivagem. É o salve-se quem puder. Olha-se para o que é a estrutura central da Comunidade Europeia e não se vê direcção, não se vê liderança, não se vêem estadistas. Há silêncios, há alarvidades da Hungria à Holanda, noutros países há a procura de uma solidariedade que embate em limites apertados e rigorosamente vigiados. O Banco Central Europeu é uma anedota de capacidade de acção quando comparado com a Reserva Federal Americana. A realidade é esta: ao fim de todos estes anos, a Europa não existe como o paraíso prometido quando é mais necessária. Os burocratas convivem mal com a acção e este é um momento de acção. Esta crise vai ser longa. O PIB vai baixar de forma generalizada, muitos sectores vão-se defrontar com a sua própria sobrevivência. Portugal, que tem um mercado interno pequeno, viveu anos de crescimento porque teve uma população visitante, de passagem, que alargou o mercado muito para além do seu tamanho real. Agora, quando ficarmos outra vez no nosso pequeno rectângulo, provavelmente com menos visitantes, que acontecerá? O Governo português tem reagido bem à situação em termos de prevenção e defesa da saúde pública, atrevo-me a dizer que para além do que era previsível - e ainda bem. Mas a seguir vão-se sentir os efeitos da falta de estratégia de competitividade económica, da falta de reformas. E é quando isto acabar que é preciso começar a pensar no que tem de se fazer para o país poder voltar a prosperar, sem bóias passageiras de salvação. Contando com os nossos recursos e a nossa capacidade.

Semanada

A aldeia de São Pedro Velho, em Mirandela, conhecida pela produção de morango, teme pela colheita deste ano com toneladas do fruto que podem ficar por apanhar por falta de trabalhadores e de procura devido à pandemia de covid-19 técnicos de som e de palco de norte a sul do país, que tinham as suas agendas cheias nos próximos meses, ficaram sem um único trabalho nos primeiros 22 dias de Março, o número de domínios registados com palavras-chave associadas à pandemia subiram de 3 mil para 53 mil a pandemia está a gerar o maior número de ciberataques alguma vez realizado o índice mundial dos mercados de ações recuou 13,7% em Março, com as maiores quedas registadas na América Latina e na Zona Euro as praças de Bogotá, São Paulo, Buenos Aires e Viena foram as mais penalizadas e Lisboa perdeu 16% o montante médio das compras no comércio online aumentou 6% desde o registo do primeiro caso de covid-19 em Portugal; segundo as projeções do Instituto Nacional de Estatística, a população residente em Portugal poderá baixar de 10,3 para 8,2 milhões de habitantes em 2080 e o índice de envelhecimento quase duplicará Portugal continua dependente de outros países para se alimentar, pois só produz 85% dos bens de que precisa para pôr no prato a superfície semeada dos principais cereais em Portugal diminuiu pelo sétimo ano consecutivo e a sua produção está no mínimo dos últimos 100 anos.


Dixit
"Fazer as duas coisas que parecem ou são contraditórias: este é o grande problema. Fazer com que os cientistas e os técnicos, sem se envolver em política, encontrem os remédios e tratem de quem necessita. Mas fazer também com que os políticos façam as leis necessárias, sem se envolver em ciência."
António Barreto

Histórias de Macau
Os mais recentes livros de ficção de Fernando Sobral são orientais, passados entre a China e a Índia. Não são orientais apenas na localização geográfica das histórias que contam, são-no, sobretudo, na forma como estão escritos, nos reparos que as personagens fazem, nas reflexões que evocam ao longo da narrativa, nos pensamentos que deixam no ar. "A Grande Dama do Chá" é o mais recente livro de Fernando Sobral e foi publicado originalmente como folhetim semanal no diário "Hoje Macau" em 2019. O cenário é Macau, em 1937, no momento em que o Japão tinha atacado a China, tomado Xangai, o que leva a um êxodo de refugiados em direcção a Macau - que assim se torna numa plataforma onde se vigiam mutuamente chineses nacionalistas, comunistas e agentes japoneses. É neste ambiente que se desenrola a história de Jin Shixin, que abre a mais famosa casa de chá de Macau, cobertura para a sua ligação com a tríade do Bando Verde que dominava Xangai. O livro retrata o que era a vida em Macau, o papel dos funcionários portugueses da administração local, os conflitos, cumplicidades, pequenas corrupções e também histórias de sedução. O livro conta a noite, os bares, a música, deixa antever todos os vícios e negócios, os segredos e as conspirações. Macau é uma terra de encontros e desencontros, e, como uma das personagens diz no final do livro, "Macau é bela e sem saída. Sejam sempre bem-vindos a esta cidade. Para jogar, para fugir do passado, para encontrarem o futuro. Assim continuará a ser." É certo que eu tenho um fascínio pelo Oriente, mas de cada vez que leio um livro assim fico com vontade de lá voltar. Pelos vistos, agora, infelizmente, não vai ser tão cedo.

Arte no Instragram
Nestes tempos o Instagram tornou-se numa imensa galeria virtual - de museus, de artistas e, claro, de pessoas que mostram o que estão elas próprias a ver. Mas concentremo-nos hoje nos artistas. Um dos que têm estado mais activos durante estes tempos da pandemia é Todd Hido, um americano que hoje em dia vive em São Francisco. O seu trabalho está focado em casas, muitas delas em ambientes rurais, outras em ambientes urbanos pouco densificados. O domínio da luz e da cor, uma cuidadosa escolha da luminosidade natural em que prefere fotografar, é a sua imagem de marca - nomeadamente na série "Homes At Night". Todd Hido tem trabalhos seus publicados na Artforum, The New York Times Magazine, Eyemazing, Wired, Elephant, FOAM e Vanity Fair. Tem obras suas nas colecções permanentes de museus como o Getty, o Whitney Museum of Art, o Guggenheim, San Francisco Museum of Modern Art e The Smithsonian, entre outros. Por vezes surgem paisagens rurais e muitas vezes foca-se em questões ambientais, como aconteceu com o seu mais recente livro, "Bright Black World", fotografado fora dos Estados Unidos. Poucas vezes surge o elemento humano, excepto numa série em que fotografa interiores de casas em que surgem corpos de mulheres. Do ponto de vista técnico, utiliza grandes formatos, exposições longas e uma enorme profundidade de campo, na tradição de alguns fotógrafos paisagistas americanos de meados do século passado - só que desta vez a cores e não a preto e branco. A imagem que aqui se reproduz é extraída da sua página do Instagram, que merece ser visitada.

Vinhos Durienses
Durante uns anos, os vinhos do Alentejo dominaram o mercado doméstico português e João Portugal Ramos foi o enólogo decisivo para criar uma marca e uma personalidade que antes estavam difusas. Sem nunca deixar o seu Alentejo, aqui há uns anos aventurou-se, em parceria com José Maria Soares Franco, por terras do Douro. Assim nasceu a gama Tons do Duorum, inicialmente com tinto e branco e agora, pela primeira vez, com um rosé, uma surpresa nas colheitas agora lançadas. As uvas são de terreno xistoso, com as vinhas a uma cota alta, entre os 400 e 600 metros. O Tons do Duorum Rosé 2019 é feito a partir de uvas Touriga Franca, Touriga Nacional e Tinta Roriz, tem aroma marcado por frutos vermelhos, um final de boca prolongado, acidez equilibrada, fresco, graduação de 12%. É uma boa surpresa na gama Duorum, ideal para acompanhar pratos leves e saladas. O Tons do Duorum Tinto 2017 é feito a partir das mesmas castas, Touriga Franca, Touriga Nacional e Tinta Roriz com um processo de vinificação muito controlado. Tem dominante de frutos vermelhos, taninos suaves, aroma intenso, fresco, graduação de 13,5% e vai bem com carnes temperadas. O Tons do Duorum Branco 2019 foi feito com uvas das castas Viosinho, Robigato, Verdelho, Arinto e Moscatel Galego Branco. Tem graduação de 12,5%, aroma intenso, citrinos pronunciados, perfeito para acompanhar uma massa com gambas ou massada de peixe.

Arco da velha
A organização sindical de professores do Sr. Mário Nogueira exigiu que as escolas suspendam já o acolhimento de filhos de profissionais de saúde e forças de segurança.

O trio de jazz
Uma das minhas formações preferidas no jazz é o trio - o mais frequente é ter piano, bateria e baixo, mas outra formação de que gosto particularmente é guitarra, bateria e baixo. "Angular Blues" é o novo disco do guitarrista austríaco Wolfgang Muthspiel, acompanhado por Scott Colley no baixo e Brian Blade na bateria. Muthspiel tem uma forma de tocar guitarra eléctrica muito característica, com um dedilhar marcante e preciso e um sentido melódico notável. Editado pela ECM, o disco tem uma produção simples que deixa os três músicos mostrarem as suas capacidades de improvisação e sobretudo a forma como se conseguem ligar uns aos outros. "Angular Blues" é um dos discos de jazz que mais gostei de descobrir nos últimos tempos, e dos melhores de que me lembro, onde a guitarra desempenha o papel principal. O primeiro tema, "Wondering", é uma espécie de manifesto daquilo que se vai poder ouvir ao longo do disco. Logo a seguir, a faixa título, "Angular Blues", mostra como a guitarra de Muthspiel se cruza de forma perfeita com o baixo e a bateria. "Huttengriffe" é uma faixa apaixonante, a mais bluesy de todo o disco. "Camino" é uma ode à guitarra e "Ride" uma demonstração de virtuosismo colectivo. "Kanon in 6/8" é um percurso que evoca o blues-rock e "Solo Kanon in 5/4" é o único tema tocado a solo por Wolfgang Muthspiel. O álbum termina com uma versão do standard "I’ll Remember April", já interpretada por muitos músicos, mas que aqui vive do diálogo entre a guitarra e o baixo. Disponível no Spotify.

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