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24 de Abril de 2020 às 10:46

Dinossauros excelentíssimos

A Assembleia da República e os seus deputados continuam a dar uma triste imagem ao país. Nesta semana, foram protagonistas, sobretudo o seu presidente, de um lamentável pretexto que fomentou a intolerância a propósito do 25 de Abril.

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"Todos recebemos tanta informação ao longo do dia que corremos o risco de perder o bom senso."
Gertrude Stein

Dinossauros excelentíssimos
A Assembleia da República e os seus deputados continuam a dar uma triste imagem ao país. Nesta semana, foram protagonistas, sobretudo o seu presidente, de um lamentável pretexto que fomentou a intolerância a propósito do 25 de Abril. Criaram o anátema de rotular como antidemocratas aqueles que chamaram a atenção para as medidas em vigor no âmbito da pandemia e que se opunham a uma reunião alargada. Quem projectou um debate de saúde pública em debate ideológico, colocou-se no lugar, não de quem deve dar o exemplo, mas daqueles que se julgam acima de qualquer lei e ostentam como argumento privilégios que julgam ter para contrariar as instruções do próprio Governo sobre matéria de saúde pública. Deram, mais uma vez, prova de um completo autismo e de uma incapacidade em compreender a comunicação - podiam ter aproveitado para criar uma celebração virtual da liberdade melhor que os discursos monótonos e repetitivos com que brindam as reduzidas audiências que seguem as cerimónias oficiais, e que cada vez se assemelham mais a exéquias do que a festa. Foram, em última análise, o reflexo do pior que existe no degradado sistema político-partidário actual, verdadeiros dinossauros excelentíssimos. Um ex-deputado socialista, mais lúcido que os actuais, escreveu no Facebook sobre a polémica criada: "A AR, com o seu presidente à cabeça e a pronta anuência do Presidente da República, conseguiu o que não passaria pela cabeça de um cão tinhoso: pôr uma boa parte dos portugueses contra as comemorações do 25 de Abril."

Semanada

Desde o início da pandemia, cerca de 38,0% dos consumidores inquiridos num estudo da Marktest deixaram de fazer compras em hiper e supermercados, e passaram a fazer compras noutro tipo de lojas, sobretudo no comércio local segundo os dados da última sondagem do Barómetro Marktest, na semana passada, os portugueses dedicaram mais de cinco horas ao teletrabalho, cerca de duas horas a ajudar os filhos nas tarefas escolares e quatro horas a ver TV, aceder à internet ou ouvir rádio o governo britânico consignou uma verba adicional de 40 milhões de libras exclusivamente para uma campanha de publicidade concebida para aparecer nos próximos três meses em centenas de jornais locais e nacionais, como medida de apoio à imprensa, realçando o seu papel na informação e na liberdade segundo a GfK, no sector livreiro, o efeito da pandemia e das medidas de confinamento provocou uma queda de faturação de dois milhões de euros relativamente ao período homólogo do ano passado, o que equivale a cerca de menos 150 mil livros vendidos na semana passada, registou-se uma diminuição no tempo médio de visionamento de televisão por espectador, que desceu de 8 horas e 9 minutos por dia, para 7 horas e 42 minutos e, após um mês de confinamento, começa a notar-se uma quebra de audiência nos programas informativos e um ligeiro aumento no cabo segundo a Marktest, em março de 2020, o primeiro-ministro, António Costa, manteve a liderança do "top" de exposição mediática, ao protagonizar 244 notícias com 13 horas e 36 minutos de duração. Marta Temido, ministra da Saúde, subiu para a segunda posição, com 175 notícias de 9 horas e 29 minutos de duração. O Presidente da República baixou para a terceira posição, com 130 notícias, que ocuparam 8 horas e 5 minutos. Paulo Portas, comentador político, foi quarto, esteve em ecrã cerca de 4 horas e 4 minutos, e Pedro Siza Vieira, ministro de Estado, Economia e da Transição Digital, subiu ao quinto lugar, com 70 notícias de 3 horas e 50 minutos de duração.


Dixit
"Não aceito que um ritual seja transformado numa autêntica linha vermelha que separa os democratas dos outros."
Sónia Sapage

Sons e imagens
Agora percebe-se melhor a importância da existência de um serviço público de rádio e de televisão - e não estou só a falar na telescola. Por isso, talvez seja interessante aproveitar para conhecer o museu virtual da RTP, onde se pode percorrer a história da sua actividade, desde os primórdios da Emissora Nacional de Radiodifusão, em 1935, até aos dias de hoje. Neste site podemos descobrir cenários antigos de programas de televisão que ficaram na História, aceder a numerosos conteúdos de vídeo e de áudio, a episódios de bastidores, fazer uma visita aos pormenores do primeiro carro de exteriores da RTP, assim como ver um documentário sobre a época do teatro radiofónico, antecessor das telenovelas de hoje em dia. No acervo deste museu virtual estão mais de mil peças, 16 horas de conteúdos e visitas em realidade aumentada. Na secção de exposições temporárias, é possível espreitar modelos antigos de receptores de rádio, altifalantes ou grafonolas. O museu proporciona um percurso sobre a evolução da radiodifusão e da televisão em Portugal. Para quem quiser brincar às televisões, há um Estúdio Virtual, em que maiores de 13 anos são convidados a vestir a pele de pivôs e a apresentar o Telejornal. O museu virtual da RTP pode ser visitado por todos em museu.rtp.pt .

Emoções cantadas
Fiona Apple nasceu em 1977 em Nova Iorque, gravou o seu primeiro disco em 1996 e rapidamente tornou-se conhecida pela intensidade das suas canções e pela forma como combina a sua voz com o piano. Desde 2012 que não tinha nenhum novo trabalho, até surgir agora "Fetch The Bolt Cutters", o seu quinto álbum. Musicalmente estimulante, por vezes quase experimental, este disco é ainda mais assertivo nos temas que aborda e nas palavras que Fiona Apple usa. O novo álbum aborda a vulnerabilidade humana, a dor e o leque de emoções que atravessam uma vida. O disco foi quase todo gravado na casa da cantora, na Califórnia, com um grupo de músicos de sessão, usando arranjos, onde a percussão - por vezes quase acidental - tem mais peso que habitualmente nas suas composições. Fiona Apple construiu o disco em cima da sua visão de vida: criamos uma espiral de sentimentos e desilusões, remetendo no final a expressão artística como a forma de expor as mentiras da sociedade. O título "Fetch The Bolt Cutters", que pode ser traduzido livremente por "tragam um alicate corta-arame", evoca a necessidade de nos livrarmos das armaduras que construímos à nossa volta. Este é talvez o melhor trabalho da carreira de Fiona Apple, com as canções mais fortes, musicalmente mais trabalhadas. Temas como "Under The Table" são uma janela aberta para a sua forma de pensar: "Kick me under the table all you want/I won’t shut up." Disponível no Spotify.

Leituras caseiras
A edição de Maio da revista Monocle é já fruto da pandemia e está dedicada à casa - o título de capa é "Why Home Matters". No seu editorial, Tyler Brulé, o editor da Monocle, escreve que estas últimas semanas têm sido as mais complicadas desde que a revista nasceu em 2007 - aliás, este número de Maio é uma das edições com menos páginas desde que começou a sua publicação: a quebra da publicidade atinge toda a gente. Brulé faz algumas perguntas incómodas, como por exemplo: porque é que as pessoas, em tantos países, permitiram que os respectivos governos deixassem degradar os sistemas de saúde; porque é que se permitiu que tantas cidades tivessem um péssimo planeamento urbanístico e porque é que tantas grandes empresas pensaram que deslocalizar a produção de tanta coisa para a China era uma boa ideia a longo prazo. A revista aponta oito mandamentos para aproveitar a casa onde vivemos e para mudarmos os nossos hábitos, dá conselhos sobre exercício simples que se podem fazer, recomenda que se fuja de estar constantemente em cima das notícias, que se ajude os vizinhos e deseja que o hábito de lavar sempre as mãos perdure. Depois há conselhos sobre coisas que se podem fazer para melhorar a casa de cada um e, claro, um conjunto de receitas culinárias provenientes de vários países. Por falar em casas, Portugal está presente, através do trabalho de arquitectos como Alcino Soutinho e Alfredo Viana de Lima na zona de Esposende. Uma reportagem sobre os criativos que estão por trás de alguma da publicidade política mais interessante para as próximas eleições presidenciais nos Estados Unidos é outro ponto alto desta edição da Monocle.

Arco da velha
A Câmara Municipal de Lisboa não sabe quantas pensões há para refugiados requerentes de asilo e ignora o número de refugiados nessas pensões. Entre os refugiados, foram detetados 138 casos de covid-19. 

Petisco no forno
Na presente situação, cozinhar, sobretudo ao jantar, depois de horas em teletrabalho, pode ser um momento de descontracção. É só combinar a "happy hour" de fim de dia com um pouco de experimentalismo culinário. Basta seguir duas ou três "newsletters" gastronómicas internacionais para surgirem boas ideias de receitas, que vou ensaiando. Esta semana, fiquei atraído por uma sugestão de brócolos no forno com camarões e um tempero algo oriental. Dito assim, reconheço, a coisa pode parecer um bocado estranha. Mas, se seguirem algumas indicações básicas, verão que são recompensados por uma bela surpresa. Primeiro, os brócolos: cortem só a flor, com muito pouco caule. Numa taça grande misturem os brócolos com duas colheres de sopa de azeite, uma colher de chá de coentros moídos, outra de cominhos e outra de gengibre ralado, uma de sal, meia colher de pimenta-preta moída de fresco, um toque de piripíri e uma colher de raspa de lima (ou limão, se não tiverem). Misturem tudo bem e reservem enquanto aquecem o forno a 200º. Noutra taça, coloquem os camarões crus (convém que sejam de bom tamanho, descascados) e misturem com mais duas colheres de azeite, raspa de meio limão, meia colher de chá de sal e meia colher de chá de pimenta-preta. Misturem bem e deixem repousar. Quando o forno estiver à temperatura, coloquem os brócolos bem espalhados num tabuleiro de metal e deixem no forno durante dez minutos. Passado esse tempo, colocam-se os camarões no mesmo tabuleiro, borrifa-se tudo com uns salpicos de óleo de sésamo (em havendo) e agita-se para se misturarem bem com os brócolos, indo o tabuleiro ao forno mais dez minutos. Quando os camarões estiverem opacos e os brócolos tenros, está pronto. Retirem do forno e espremam o limão de que usaram a casca por cima de forma generosa. E pronto, basta servir e esperar que gostem. Se quiserem, acompanhem com um bom pão ou, até, um arroz. Cá em casa passou a ser coisa a repetir. Vai bem com um vinho branco fresco, no caso foi um Duorum.


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