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31 de Janeiro de 2020 às 11:10

Brumas políticas

Vive-se de novo um período de sebastianismo em Portugal, no lado direito do espectro partidário.

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Back to basics
Nada melhor que dar uma aparência de mudança se quiser garantir que tudo fique na mesma.
Giuseppe di Lampedusa

Brumas políticas
Vive-se de novo um período de sebastianismo em Portugal, no lado direito do espectro partidário. O efeito combinado da ascensão de novos partidos e da falta de rumo dos históricos criou um vácuo político. Não há-de ser por acaso que uma sondagem revelada esta semana atribui ao Chega a mesma votação que à CDU, ultrapassando pelo caminho o CDS que, ainda por cima, também ficou atrás da Iniciativa Liberal na mesma sondagem. Com as novas lideranças do PSD e CDS, a verdade é que o PS pode dormir descansado - basta-lhe gerir as alianças orçamentais com os dissidentes ilhéus do PSD Madeira e os desejos do Bloco de Esquerda, sempre permeável a uma negociaçãozita. No caso do CDS, a vitória de Francisco Rodrigues dos Santos é o comprimido de que Rui Rio precisava para poder dormir descansado. À direita não haverá unidade, o CDS tornou-se personna non grata para o PSD. Na ânsia de se demarcar dos sociais-democratas, o CDS iniciou um caminho que o pode levar a ficar com o Chega como único protagonista possível de um acordo político-autárquico, por exemplo. A situação proporciona ainda um outro cenário a António Costa - o de, no futuro, se necessário, escolher entre dar guarida governamental ao PSD ou ao Bloco, dependendo do momento e dos interesses em jogo. No meio da crise da direita, o PS conseguiu tornar-se na charneira do regime e agora pode comandar o barco pela trajectória que lhe aprouver. Fará cedências, claro, dependendo de quem escolher para o noivado. Na realidade, no início deste novo ano separaram-se as águas da política nacional e afirmou-se uma nova realidade: há uma direita que está órfã, não se revê nas lideranças actuais, há toda uma base de eleitores do PSD que perdeu referências e não se revê em Rio nem em nenhuma das suas alternativas à direita. Provavelmente as autárquicas vão ser o laboratório das coligações futuras e, em Belém, Marcelo espreita com inquietação a paisagem que se desenhou entre a bruma do Tejo.

Semanada

Em 2019, verificou-se um aumento de famílias sobreendividadas que pediram auxílio à DECO o Tribunal de Contas proibiu alguns hospitais de fazerem compras de medicamentos para o cancro, HIV e algumas doenças raras alegando incumprimento de regras orçamentais Victor Reis, ex-presidente do Instituto de Habitação e Reabilitação Urbana, recordou que Fernando Medina prometeu sete mil fogos de renda acessível para este mandato e ainda não apresentou nenhum Lisboa é a cidade com pior trânsito da Península Ibérica na actual legislatura, o Governo, que se gaba de ter o combate às alterações climáticas como prioridade, anunciou estar a estudar fazer um novo aeroporto civil na base de Monte Real, além do já anunciado para o Montijo segundo a OCDE nos últimos quatro anos o número de sem-abrigo em Portugal aumentou 157% no último ano duplicou o número de adeptos de futebol proibidos de entrar em estádios por estarem envolvidos em incidentes violentos as queixas por violência doméstica à PSP e GNR subiram 11,5% em 2019 o juiz Neto de Moura, que ganhou má fama num caso em que justificou o uso de violência doméstica citando a Bíblia e o Código Penal de 1886, passou a assinar as suas decisões como Joaquim Moura para tentar evitar ser reconhecido.

Dixit
"Um dia não será com dinheiro que se poderá comprar o tempo. Só com mais tempo. O nosso."
Miguel Esteves Cardoso

Canções tranquilas
O primeiro disco de Bill Fay, um cantor e compositor inglês, data de 1970. O segundo disco data do ano seguinte e, depois, há um interregno de edição até 2005. Durante estes anos Bill Fay continuou a compor e a gravar e em 2005 foi editada uma compilação de originais inéditos datados do final dos anos 70 e início dos anos 80. Depois, novo interregno até 2012, durante o qual foi crescendo um culto em torno das canções simples e arranjos depurados de Bill Fay, da forma como canta as palavras, carregadas de melancolia. Um novo álbum foi editado em 2015 e, agora, acabou de ser publicado novo trabalho, "Countless Branches", com 10 canções inéditas que reflectem as suas preocupações sobre a situação do mundo. Há uma edição especial que inclui sete faixas bónus, com registos alternativos, alguns com a intervenção de uma banda de suporte em vez das versões acústicas do disco original que têm apenas Fay ao piano, uma característica da sua sonoridade. A maioria das críticas considera que este novo disco é o melhor de toda a carreira de Bill Fay, que agora está com 77 anos. O disco é curto, na sua versão original tem 27 minutos de duração e várias canções marcantes. Uma das causas mais evidentes para o renascer de interesse em torno da obra de Bill Fay vem da admiração que outros artistas têm por ele, nomeadamente os Wilco, que fizeram uma versão do tema "Be Not So Fearful" para o documentário de vídeo que produziram em 2002 intitulado "I Am Trying To Break Your Ear". Neste "Countless Branches", disponível no Spotify, Bill Fay faz canções místicas, outras bem terra a terra, relata a luta constante entre o Bem e o Mal, ao mesmo tempo que parece cantar para comunicar com diversas gerações. Surpreendente e irresistível.

Vida suave
A edição de Fevereiro da revista Monocle é dedicada a um dos temas mais em voga actualmente: a qualidade de vida. A capa, aqui reproduzida, apela a que cada um recomece, defina novos objectivos, adopte uma nova postura, leia mais e se descontraia - em suma, que se viva uma vida mais suave. Esta é uma edição anti-stress, focada em combater o imediatismo e a velocidade, que pode ser má conselheira no pensamento e na execução. A ideia central da edição é possibilitar que cada pessoa consiga que 2020 corra melhor do que o ano passado. Não há-de ser por acaso que aqui estão diversas histórias sobre pessoas que deixaram os seus empregos e procuraram uma vida diferente e mais realizada, de acordo com os objectivos de cada um e com um sentido de utilidade para a sociedade. Entre os artigos desta edição destaque para um trabalho sobre o plano de desenvolvimento e requalificação de Cartagena, na Colômbia, para os ambiciosos planos do novo autarca de Phoenix. O grande tema que passa pelos artigos centrados na capacidade de mudança tem que ver com uma questão básica: como passar dos sonhos para a realidade. Como se pode fazer o salto para o desconhecido, fora da zona de conforto; como encarar ideias e debates que ficam de fora da zona do pensamento dominante dos dias que correm. Como se escreve no manifesto "Easy Does It", vale a pena que cada um se consiga isolar, desaparecer durante alguns momentos e todos os dias fazer uma coisa de que se gosta e não apenas o que tem de se fazer por obrigação.

Arco da velha
Os partidos parlamentares fizeram 1.272 propostas de alteração ao Orçamento de Estado, mas nesta era de contas certas ninguém sabe dizer quanto custam as medidas e as alterações propostas.

Memórias fotográficas
"Aos Meus Amores 2.0", de Álvaro Rosendo, é uma viagem fotográfica às últimas décadas do século passado, centrada na observação privilegiada do autor em torno da música e em jornais, e na explosão de criatividade em Lisboa nessa época, acompanhando bandas como os Xutos & Pontapés ou os Heróis do Mar, artistas plásticos como Pedro Cabrita Reis, ou vivendo nas redacções do Blitz, Se7e, Independente e Já. Logo na entrada, na parede frente à porta da Galeria Cisterna, está uma selecção de fotos que evocam esse passado, entre elas pelo menos uma, dos Xutos, que esteve na primeira versão de "Aos Meus Amores", a primeira exposição a solo de Álvaro Rosendo no início da Galeria Monumental, no final dos anos 80, na qual anos depois desenvolveu o projecto pioneiro da escola de fotografia Maumaus. Passada a zona de entrada entra-se na sala abobadada da cisterna em que estão expostas de cada lado da parede cerca de seis centenas de fotografias dos anos 80 e 90, em pequenas impressões a preto e branco e uma grande fotografia colorida já fruto de trabalhos pessoais do autor, mais tarde (na imagem). A exposição levou à recuperação e digitalização de milhares de fotografias, num trabalho de arquivo e de curadoria (de Luís Gouveia Monteiro) exemplares. A exposição fica até 29 de Fevereiro, a Cisterna é na Rua António Maria Cardoso 27 e está aberta de terça a sábado entre as 11 e as 19 horas. Nos dias 1, 8, 15, 22 e 29 de Fevereiro Álvaro Rosendo dinamiza ele próprio visitas guiadas à exposição às 15 e 17 horas.

Gulodice
Uma das minhas guloseimas preferidas é uma sábia combinação entre sabores de fruta e chocolate. Nesta área gosto sobretudo de cascas de laranja cobertas com chocolate negro. Há alguns bons sítios para obter o petisco e, até agora, as da Pastelaria Sequeira, ao Saldanha, estavam no topo da lista, muito acima das demasiado sofisticadas (e pouco frutadas) da Arcádia. Anuncio agora que na lista das melhores cascas de laranja com chocolate negro passaram a estar as que são produzidas nos Açores pela empresa O Chocolatinho, de Rabo de Peixe, São Miguel. As cascas são grossas, levemente cristalizadas, cobertas de abundante chocolate negro e com uma pontinha descoberta da casca de laranja. São simplesmente arrebatadoras. O petisco encontra-se em Lisboa na Mercearia dos Açores, que existem em Lisboa na Rua da Madalena 115 e na Rua Viriato (às Picoas) n.º 14. Ali podem ser encontradas outras iguarias do arquipélago, com destaque para as manteigas artesanais do Pico e os vinhos locais, que têm vindo a ganhar notoriedade.

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