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05 de Março de 2021 às 11:23

As notícias

Quase todos os dias me acontece isto: acordo, espreito os canais de notícias, meto-me no carro e vou fazer compras, incluindo jornais do dia, em papel, que é para haver palavras-cruzadas.

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Back to basics
O grande problema que existe no mundo é que os fanáticos e os loucos estão sempre cheios de certezas, enquanto as pessoas sensatas têm dúvidas
Bertrand Russell

As notícias
Quase todos os dias me acontece isto: acordo, espreito os canais de notícias, meto-me no carro e vou fazer compras, incluindo jornais do dia, em papel, que é para haver palavras-cruzadas. No caminho ouço noticiários de duas estações de rádio. Quando me sento com os jornais na mão, cujas edições foram feitas na noite anterior, constato, salvo raras excepções, que a maior parte das informações que já vi ou ouvi aparecem nesses jornais. Na realidade, a maior parte da agenda noticiosa do dia (que inclui também entrevistas, reportagens e investigações jornalísticas) continua a ser estabelecida pelas empresas de "media" que criaram e desenvolveram os velhos jornais em papel - e que têm evoluído para o digital com investimentos consideráveis e, por enquanto, ainda com curtas receitas. Ter uma agenda própria, descobrir, informar, é uma actividade forçosamente dispendiosa e a que muitas vezes não é dado o devido valor. As empresas de "media" queixam-se há muitos anos que não recebem uma compensação justa por artigos e outros conteúdos que geram receitas de publicidade para plataformas tecnológicas como o Google e o Facebook, queixas que estas tecnológicas têm ignorado. Olhemos para a recente agitação que o governo australiano provocou ao impor que empresas como a Google pagassem pela utilização de conteúdos dos jornais do país. A lição do caso australiano, em que a Google primeiro estrebuchou e depois se apressou a fazer acordos e a pagá-los, é curiosa: mostra como um esforço de regulação - ou até apenas a sua ameaça - pode levar um gigante tecnológico a alterar o seu comportamento. O desafio agora é ver como outros países, em particular na Europa, podem tomar iniciativas que levem as tecnológicas a pagar pelas notícias e conteúdos que utilizam. Esta é uma questão cada vez mais decisiva para a saúde financeira e a sobrevivência das empresas jornalísticas. Não se trata de ir buscar dinheiro ao Estado. Trata-se de o Estado fazer o que lhe compete para equilibrar o mercado.

Semanada

n O romance do aeroporto tem novo capítulo e os aviões estão como na canção: hesitantes entre dois amores, Montijo e Alcochete n FC Porto, Benfica e Sporting têm em conjunto um passivo superior a 1,2 mil milhões de euros n depois da Dinamarca também a Áustria anunciou que vai deixar de contar exclusivamente com a União Europeia e começou conversações com Israel para garantir vacinas contra a covid-19 para os seus cidadãos n os correios do Canadá, numa criativa acção de relações públicas, vão entregar nos próximos dias em todas as casas do país, cerca de 13,5 milhões de postais em branco e com envio pago, para que as pessoas possam mandar uma mensagem manuscrita a amigos que não vêem há muito devido ao confinamento - na parte da frente dos postais estão vários desenhos, sempre com a frase "Sending smiles. Je t’embrasse" n em Lisboa e no Porto são feitas duas queixas por dia, desde o início do ano, devido ao ruído de obras e na maior parte dos casos os queixosos estão em teletrabalho n o número de casos de crianças e jovens com ansiedade disparou nos hospitais n os preços das casas desceram 14,4% no centro histórico de Lisboa em relação ao segundo semestre do ano passado n em 2020, o número de desempregados que receberam subsídio de desemprego aumentou 49% n  no ano passado, a pandemia provocou uma diminuição de 75% dos espectadores nas  salas de cinema portuguesas, uma perda de quase 12 milhões de bilhetes vendidos; cerca de 28 mil profissionais de saúde foram infectados desde que a pandemia começou, há um ano.

Dixit
A esquerda é actualmente a mais importante força de estabilidade e de conservação política. Se pudesse, tudo ficava como está. Aos outros, na oposição, nas margens e nas extremas, compete o mais difícil: reconquistar, reorganizar, renovar e consolidar.
António Barreto

Visita ao passado
"O Milagre de São Francisco" foi o primeiro sucesso de John Steinbeck, tinha ele 33 anos. Publicado em 1935, quatro anos antes de "As Vinhas da Ira", a meio da Grande Depressão que varreu a economia norte-americana durante a década de 1930, o livro enquadra bem o clima da época, ainda para mais numa zona então fortemente empobrecida. "Tortilla Flat", o seu nome original, passa-se em Monterey, uma pequena cidade a sul de São Francisco, junto ao mar, numa baía, não muito longe de Silicon Valley. Hoje é uma zona muito procurada por californianos que não querem viver nas grandes cidades. Na época era uma zona industrial muito ligada à pesca e indústria conserveira, longe de estar na moda. O livro conta-nos a história de um grupo de vagabundos que vivem numa das colinas à volta de Monterey. Um deles, Danny, herda subitamente duas casas e converte-se, nos padrões de então e no meio em que vivia, num rico proprietário, à mesma sem dinheiro, mas com a ilusão de uma riqueza idealizada. Ele que dormia na rua passou a ter um tecto e albergava quem lhe aparecesse. A sua vida no entanto não mudou no essencial, continuou sem nada fazer, na expectativa de que algum dos seus amigos trouxesse vinho para casa, como se fosse a compensação por ele os deixar partilhar o espaço. O livro é um manual sobre as relações humanas no meio de expedientes, de pequenas intrigas e conspirações, num círculo fechado de amigos que procuram sobreviver sem muitas maçadas. Da mesma forma como a herança veio, esfumou-se - assim como a vida do próprio Danny, a quem o sentimento de posse e propriedade afligia. Reedição, na colecção Dois Mundos dos Livros do Brasil.

Bairro dos Museus Virtual
Esta semana deixo aqui duas sugestões de visitas virtuais ligadas ao sexto aniversário do Bairro dos Museus, uma iniciativa desenvolvida desde 2015 pela Câmara Municipal de Cascais e pela Fundação Dom Luís I e que tem fomentado actividade em equipamentos como o Centro Cultural de Cascais, o Museu Condes de Castro Guimarães, o Museu do Mar Rei D. Carlos e a Casa das Histórias Paula Rego, entre outros. Para assinalar o sexto aniversário do Bairro dos Museus, e já que por força da pandemia os equipamentos estão encerrados, foi lançada uma visita virtual à exposição "Paula Rego e Josefa de Óbidos: Arte Religiosa no Feminino", patente na Casa das Histórias Paula Rego, e que pode ser vista através nas páginas de Facebook Cultura Cascais, da Casa das Histórias Paula Rego e da Fundação Dom Luís I, ficando ainda disponível no site da Fundação. E entretanto também já está disponível nas redes sociais da mesma instituição (Facebook e canal de Youtube), e da Cultura Cascais, o primeiro de sete episódios sobre a visita virtual à exposição "Vivian Maier: Street Photographer" , com comentários da curadora Anne Morin - que, logo que a pandemia permita, poderá ser visitada no Centro Cultural de Cascais.

Arco da velha
A Assembleia da República revelou estar "com dificuldades em contactar" Carlos Costa, ex-governador do Banco de Portugal, para depor numa Comissão Parlamentar. O ex-governador, questionado por um jornal, disse residir na mesma casa há 21 anos, e continuar com o mesmo número de telemóvel e o mesmo endereço de e-mail pessoal de sempre.

O som dos 80’s
Um pouco por acaso, num destes dias, dei comigo a ver na RTP2 um documentário sobre os Pop Dell’Arte, uma banda portuguesa nascida em inícios dos anos 1980 pela mão de João Peste, que aliás hoje continua a manter o projecto em funcionamento, mesmo que com muitos interregnos pelo meio. Os Pop Dell’Arte nasceram em Lisboa, em 1985, tendo João Peste como vocalista, Zé Pedro Moura como guitarrista, Ondina Pires como baterista, Paulo Salgado como baixista e Luís Saraiva como percussionista. Ao ver o documentário recordei-me como os Pop Dell’Arte foram um dos grupos mais influentes dos anos 1980 e 1990, quer pela forma de expressão e presença de João Peste, quer pela forma disruptiva que assumiram musicalmente. Por lá passaram, além dos fundadores, nomes como Luís San Payo, Rafael Toral, Nuno Rebelo, Sei Miguel, João Paulo Feliciano, Pedro Alvim, JP Simões, General D, entre muitos outros. No fundo, Pop Dell’Arte envolveu gerações de músicos que deixaram marca na cultura urbana, marca também acentuada pela editora Ama Romanta, uma ideia de João Peste, que em Maio de 1986 lançou o álbum "Divergências", onde aparecem, além dos Pop Dell’Arte, nomes como Mler Ife Dada, Croix Sainte, Anamar, Essa Entente, Linha Geral, A Jovem Guarda ou Bye Bye Lolita Girl, entre outros. Estreado em 2018, o documentário "Ainda Tenho Um Sonho ou Dois - A História dos Pop Dell’Arte" é da autoria de Nuno Duarte e Nuno Galopim e está disponível no RTP Play.

Culinária TikTok
Neste confinamento tudo é possível - até uma receita simples tornar-se viral através da rede social TikTok. A história merece ser contada: em 2018, uma blogger finlandesa colocou um "post" com uma sua receita, a que chamou "unnifetapasta". A coisa foi ganhando tracção e já este ano alguém no TikTok lançou a receita e num ápice tornou-se viral. Foi de tal modo que nos Estados Unidos houve supermercados que esgotaram o queijo feta e tiveram de reforçar as encomendas significativamente, colocando algumas fábricas à beira de um ataque de nervos. A receita passou a ser conhecida como "TikTok Feta Pasta", e uma busca na Google produz mais de um milhão de resultados diferentes. A base da receita é sempre a mesma: um recipiente de ir ao forno, um pouco de azeite no fundo, com um bloco de queijo feta no meio, rodeado de tomate-cherry inteiro. Rega-se tudo bem com azeite, tempera-se com alho cortado fino, orégãos, sal e "peperoncino" em flocos. Vai ao forno a 200 graus durante trinta minutos. Entretanto coloca-se a massa a cozer em água salgada - pode ser conchas, lacinhos e até cotovelos. Guarda-se um pouco da água da cozedura e escorre-se quando estiver "al dente". Ao fim da meia hora, o tabuleiro sai do forno, o queijo estará quase derretido e mexe-se tudo - tomate e queijo - muito bem, criando um molho grosso. Deita-se a massa escorrida por cima, envolve-se tudo com o molho e, se necessário, adiciona-se um pouco da água da cozedura que foi reservada. Por cima deitam-se folhas de basílico cortadas e serve-se. É um sucesso e um rosé acompanha bem.

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