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30 de Agosto de 2019 às 10:37

A política cultural

Vão agora começar a circular os programas eleitorais dos partidos - e a sua semelhança com a realidade é maioritariamente escassa.

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Back to basics
"Aos olhos de quem lê História, a desobediência é a virtude original do Homem: é através da desobediência e da rebelião que se faz o progresso"
Oscar Wilde

A política cultural
Vão agora começar a circular os programas eleitorais dos partidos - e a sua semelhança com a realidade é maioritariamente escassa. Hoje, pego numa área muitas vezes subalternizada - a da Cultura. Nos últimos anos, a discussão sobre o tema tem-se centrado sobre se deve existir ministério ou não e, sobretudo, sobre o financiamento do Estado ao sector e a percentagem do PIB que esse financiamento poderá representar. Reduzir as questões a isto é a melhor forma de acabar com a cultura. Desde há muito, defendo que mais importante que a percentagem do PIB é tomar medidas que facilitem e incentivem acções de mecenato e a aquisição de bens culturais pelos cidadãos. Assim, antes de aumentar o orçamento da Cultura, vale a pena pensar como ele pode ser estimulado, do exterior, pelos privados. Neste domínio, há várias questões, a maior parte dependente das Finanças - e, logo em primeiro lugar, a revisão da lei do mecenato, tornando mais simples o seu funcionamento e muito mais largo o seu campo de acção, o que inclui que os benefícios sejam mais estimulantes para quem decide apoiar a Cultura. Por exemplo, seria interessante estudar um regime fiscal favorável para que as empresas e os particulares (trabalhadores independentes, por exemplo) possam adquirir arte contemporânea com uma vantagem fiscal no IVA e na dedução à colecta, sem ter de recorrer à Lei do Mecenato. Era interessante estudar como estender este processo ao apoio à edição livreira, cuja situação se agrava de dia para dia. Diminuirá isto a receita fiscal? Há estudos que indicam uma diminuição marginal, largamente compensada por uma redução da necessidade de financiamentos do Estado - como acontece nalgumas sociedades, onde a sociedade civil tem incentivos para existir e se desenvolver. E, finalmente, em vez da discussão sobre o estatuto de um ministério, creio que seria bem mais importante implementar uma verdadeira coordenação entre vários departamentos do Governo que lidam com áreas culturais, do património edificado que é chamariz do Turismo, até à Educação, passando pela dinamização da imagem internacional do país, geralmente mal feita pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros.

Semanada

Nos primeiros sete meses do ano, foram feitos mais de 90 mil pedidos de nacionalidade portuguesa, com Brasil, Venezuela e Israel à frente da lista 84,4% das vagas para jovens médicos no Alentejo ficaram por preencher por falta de interessados, que alegaram deficientes condições de trabalho durante o fim-de-semana passado, o Sul do país esteve sem transporte aéreo de urgência mais de 350 vagas para médicos que terminaram a especialidade nas áreas de medicina geral e familiar, saúde pública e hospitalar ficaram por preencher no concurso de primeira época deste ano, que disponibilizava 1.264 postos de trabalho no ano passado, 156 pessoas morreram atropeladas nas estradas portuguesas – é o número mais alto dos últimos seis anos e subiu 20% em relação a 2017, com o registo de mais 26 vítimas mortais actividades ilegais como a prostituição, droga e contrabando já valem 0,5% do PIB segundo a Marktest, em Portugal, já há milhão e meio de assinantes de serviços de streaming áudio e vídeo, com a Netflix a ter a maioria das subscrições ainda segundo a Marktest, há quase dois milhões de portugueses que ouvem regularmente rádio pela internet. Os indivíduos entre os 25 e os 34 anos são os que possuem maior afinidade com este hábito e, nos quadros médios e superiores, a penetração de ouvir rádio pela internet é de cerca de 44% A receita fiscal proveniente da venda de combustíveis atinge os 10 milhões de euros por dia.

Dixit
"O PS não se propõe ‘libertar’ energias, cidadãos, empresas, autarquias ou iniciativas. O PS propõe-se enquadrar, comandar, dirigir, orientar e, numa palavra, fazer. O PS não quer deixar fazer, não deseja que outros façam, quer fazer. E o que ele não fizer, proíbe ou dificulta."
António Barreto

As origens dos europeus
Numa altura em que as questões em torno do Brexit se agudizam e em que o número de eurocépticos vai aumentando, é curioso olhar para a História da Europa e dos europeus, não do ponto de vista da evolução política, mas do ponto de vista biológico, a partir do seu legado genético, da primeira onda de migração que desencadeou o povoamento do continente até aos dias de hoje. "A Grande Família Europeia - os primeiros 54 000 anos" é uma obra escrita por Karin Bojs, que foi durante duas décadas editora de ciência de um dos maiores jornais diários suecos e foi distinguida com um doutoramento "honoris causa" da Universidade de Estocolmo. Esta sua obra recebeu o prémio de melhor livro de não ficção editado em 2015 na Suécia. "Viajei por dez países, li cerca de 200 estudos científicos e entrevistei mais de 70 cientistas na minha pesquisa", escreve Karin Bojs, que conversou com geneticistas, historiadores e arqueólogos eminentes, acabando por descobrir a história escondida nos nossos genes, que revela a história partilhada dos povos europeus e de toda a humanidade. O livro começa pela evocação do que aconteceu, há 54.000 anos, na proximidade do mar da Galileia, com um encontro entre uma mulher e um homem, fisicamente muito diferentes, no cimo de uma montanha. Do encontro nasceu um rapaz, de uma aparência física diferente das outras crianças da tribo da mãe. E o rapaz teve "uma grande descendência, que migrou em todas as direcções e se espalhou pelos territórios sem fim". Ele era o filho de um homem de Neandertal. E, a partir daqui, a autora percorre as diferentes épocas da História e da evolução da raça humana. Fascinante. O livro foi agora editado em Portugal pela Bertrand.

Manifestação fotográfica
Ao longo de 2013, o fotojornalista Luís Ramos acompanhou as manifestações em Lisboa contra as políticas de austeridade impostas pela troika. Mas, em vez de se limitar a fazer planos das manifestações ou de cartazes, Luís Ramos fixou-se na cara das pessoas, de manifestantes, isolando-os do cenário de multidão em que estavam inseridos, como se fossem retratos individuais. São grandes planos das caras, a preto e branco, que oscilam entre a desilusão e a expectativa, com alguns, poucos, sinais de determinação. São fotografias mais de um queixume do que de um protesto. Percebe-se que são pessoas muito diversas, mas o enquadramento escolhido e a técnica seguida apagam diferenças sociais ou de origem. Restam as (poucas) diferenças de idade e as diferenças de expressão entre os 100 retratos que estão no painel "Remember" que, até 29 de Setembro, pode ser visto na grande praça do Museu do CCB, ao fundo, enquadrada pela marcante escultura que José Pedro Croft levou há uns anos à Bienal de Veneza. Visto à distância, o painel parece uma peça única - é preciso aproximarmo-nos para vermos, uma a uma, a cara destes protagonistas do que acaba por ser uma manifestação fotográfica. Luís Ramos afirma que o desalento foi o sentimento marcante que sentiu ao seleccionar as imagens dos manifestantes, com quem não falou, limitando-se a isolá-los no meio das multidões. Numa recente entrevista sobre a exposição e a razão de ter feito estes retratos, Luís Ramos afirmou simplesmente: "Na cara das pessoas está tudo."

Para mais tarde recordar
Foi com um Governo PS, apoiado pelo Bloco de Esquerda e pelo PCP, que se chegou ao ponto de procurar dissolver um sindicato desalinhado das centrais sindicais e incómodo para o poder.

Um dueto invulgar
A primeira edição de "El Corazón", em LP de vinil, saiu em 1982. Não é muito frequente fazer um disco baseado num dueto entre trompete e bateria, mas "El Corazón" é isso mesmo. Don Cherry com o seu pequeno trompete, ocasionalmente no piano e na harmónica, Ed Blackwell na bateria e também nas percussões. Em 1982, Don Cherry tinha 46 anos e Ed Blackwell já ia nos 53. Cherry ganhou fama ao lado de Ornette Coleman, nomeadamente no marcante "The Shade Of Jazz To Come", de 1958. Ao longo dos anos, tocou com John Coltrane, Sonny Rollins e Charlie Haden, entre muitos outros. Este "El Corazón", depois de ter nascido no vinil, foi reeditado em 2000 pela ECM em CD e este verão teve nova reedição, também da ECM, com uma remasterização e também presença no Spotify. Este dueto entre o trompete e a bateria é muito interessante de seguir - até porque Blackwell não se coíbe e, por vezes, ocupa muito o espaço, mas sempre de forma elegante. Há, no entanto, um tema que Cherry toca a solo, "Voice of the Silence", que é dos momentos altos do disco e uma demonstração da capacidade e criatividade do trompetista e da forma como conseguiu deixar marca com a sua sonoridade. Se não conheciam esta obra, vale a pena descobrirem-na agora, 37 anos depois da sua edição original. E é espantoso como permanece tão actual.

Em defesa da cavala
Abundante na costa portuguesa e rica em ómega 3, com todas as vantagens que daí advêm para a saúde, a cavala é um peixe ainda hoje menosprezado por muita gente - quer fresco quer em conserva. Para efeito de receita de fim de Verão, vou focar-me apenas nas conservas de filetes de cavala em azeite. Três ideias simples: como entrada, sugiro uma fatia de bom pão tostado, barrado com pasta de abacate temperado com lima, sal e pimenta, e coberto por fatias muito finas de pepino e tomate. Por cima colocam-se os filetes de cavala partidos aos pedaços, depois de escorridos. Estas sanduíches abertas são sempre um bom petisco, que tanto pode ser entrada como uma refeição leve. Outra alternativa é uma salada de corações de alface e tomate-coração-de-boi, cortado aos pedaços, com rodelas de pepino e amêndoa laminada e bem temperada com azeite e vinagre, e depois com os filetes inteiros misturados. Por fim, uma inspiração italiana: um bom esparguete cozido "al dente" em água com sal, misturado com molho de tomate cozinhado e temperado com ervas, ao qual se adicionou, no final, os filetes de cavala de conserva aos pedaços. Deita-se tudo sobre a massa, envolve-se bem e serve-se de imediato. Eu costumo usar os filetes da Comur, uma marca de conservas cujo método de produção tem a vantagem de não deixar um, por vezes desagradável, sabor da lata.

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