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Manuel Falcão - Jornalista 30 de Abril de 2021 às 11:57

A monocultura

Sempre me disseram que nenhuma organização deve depender de um único cliente e de uma única oferta

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"A liberdade implica responsabilidade, e essa é a razão por que a maioria das pessoas a teme"
George Bernard Shaw

A monocultura
Sempre me disseram que nenhuma organização deve depender de um único cliente e de uma única oferta; que uma empresa que tem a maior parte da sua facturação proveniente de uma só entidade, corre um sério risco se, por qualquer razão, o cliente deixar de querer os seus serviços. Este parece ser um princípio básico de gestão: alargar a carteira de clientes, diversificar, não deixar de procurar novas oportunidades. Pois foi exactamente neste erro, salta agora à vista, em que Lisboa caiu. Vá-se lá saber porquê, alguém convenceu quem manda que o turismo era a solução para todos os problemas da cidade. Trazia receitas, fomentava o consumo na hotelaria, na restauração e, de uma forma geral, o comércio da cidade. O orçamento da autarquia cresceu graças às taxas sobre o turismo, mas apesar de tudo Lisboa continuava barata para os visitantes estrangeiros, o nosso clima era o nosso petróleo, e plataformas como o Airbnb ajudaram a transformar tudo de forma muito rápida. Tal como as chinchilas na década de 1960 e os "croissants" de chocolate na década de 1970, o turismo era agora a nova galinha dos ovos de oiro. Mas, como todos os galináceos, tem uma vida incerta. Neste caso, não acabou no forno, mas caiu vítima da pandemia. Como essa era a grande fonte de receita do município, quando se esvaiu, tudo se complicou. A única lição a tirar é a de que convém que uma cidade não dependa de uma só actividade. Por isso, o futuro de Lisboa passa por criar mais polos de atracção, não só para turistas estrangeiros, que tenha em conta outras possibilidades competitivas que os portugueses podem oferecer. O mal de Medina não esteve só nos imbróglios do urbanismo - que vamos ver se não acabam prescritos - nem no sistemático desprezo pelo conforto dos lisboetas. O grande mal de Medina foi a monocultura. E, quem se enganou assim não é a melhor cabeça para mudar a cidade e fazê-la remoçar.

Semanada

n Até Março, os consumidores portugueses gastaram mais 125 milhões de euros em supermercados, um aumento de 5,5% em relação a igual período do ano passado, e o sector das bebidas foi o que registou maior crescimento, de 20,7% n de acordo com o estudo "Radar da Reciclagem", 46,4% dos portugueses afirmam reciclar mais quantidade de resíduos face há um ano, e indica um aumento do lixo doméstico durante os períodos de confinamento n 47%: é o peso dos impostos na fatura doméstica da electricidade em Portugal, o terceira parcela mais alta na Europa, apenas atrás da Dinamarca e da Alemanha n um estudo da Marktest indica que em Portugal, no ano passado, existiam cerca de 7,7 milhões de smartphones a serem utilizados, um crescimento de 14% face a 2019 n ainda segundo a Marktest, cerca de 1,7 milhões de portugueses afirmaram ter ar condicionado, o que significa que mais do que um em cada cinco portugueses reside num lar com este tipo de instalações n o saldo orçamental das Administrações Públicas agravou-se em 2.358 milhões de euros no primeiro trimestre face ao mesmo período do ano passado n o consumo de combustíveis aumentou 24% em Portugal durante o mês de março face ao mês anterior, em consequência do desconfinamento; o porto de Lisboa já tem anunciadas 308 escalas de cruzeiros para 2022, com um total de 700 mil passageiros n o estudo "Vacation Rental" indica que mais de metade dos portugueses que estão a planear as férias prefere viajar dentro do próprio país e 31% planeiam viajar para países europeus n o primeiro-ministro, António Costa, inaugurou na segunda-feira uma obra ferroviária atrasada e inacabada na ligação entre Viana do Castelo e Valença.

Dixit
Desde que este Executivo assumiu o poder, ficaram por cumprir ou gastar mais de 3,5 mil milhões de euros em investimentos face ao que ficou definido nos vários Orçamentos do Estado.
Luís Reis Ribeiro

O ladrão sedutor
Maurice Leblanc foi um jornalista e escritor francês que em 1905 criou a figura de Arsène Lupin, apresentado como um elegante cavalheiro ladrão, de monóculo e cartola, e que era a sua resposta ao muito inglês Sherlock Holmes. Leblanc estava longe de imaginar que, mais de um século depois de ter escrito as primeiras aventuras de Lupin, a seu personagem se tornaria numa estrela planetária através de uma plataforma de streaming, a Netflix. "Lupin", a série francesa de 10 episódios estreada em 2021, foi também um êxito em Portugal, fazendo muitos espectadores descobrir os encantos do cavalheiro ladrão nascido na Belle Époque, no século passado, a época que Paris viveu como nenhuma outra capital europeia. Este foi o palco onde se desenrolaram crimes fantásticos e intrigantes da autoria de Arsène Lupin, um ladrão hábil, carismático e sedutor, eternamente perseguido pelo inspector Ganimard. Aproveitando a notoriedade que a Netflix deu ao herói de Maurice Leblanc, a Porto Editora reuniu as primeiras nove aventuras da seu personagem em "Arsène Lupin, Cavalheiro Ladrão", agora editado. Maurice Leblanc escreveu mais de duas dezenas de aventuras de Lupin, e este volume é uma boa introdução à personagem e aos expedientes a que recorre - para escapar à polícia ou praticar roubos arriscados. Um aventureiro "chic".

O desafio dos novos
A Galeria Módulo tem um trabalho consistente na descoberta e divulgação de novos artistas. Mário Teixeira da Silva, o galerista, admite que lhe dá particular satisfação acompanhar o início da carreira de um artista, algo que classifica de estimulante. Até 15 de Maio, a Módulo expõe o conjunto de obras "Ponto E Vírgula", de Fátima Frade Reis, que inclui guache, aguarelas e gravuras de exemplar único e que a artista encara como "retratos, auto-retratos e ficções". O trabalho baseia-se numa técnica exemplar e rigorosa que serve o que deseja mostrar. O galerista descobriu-a entre os finalistas da escola ARCO, em Lisboa, e mostra-a agora na Módulo (Calçada dos Mestres 34, Campolide). Os preços oscilam entre os 220 e os 700 euros e uma grande parte da exposição já está vendida.

Outras sugestões: a Fundação Carmona e Costa expõe "É Só Uma Ferida" de Pedro Barateiro. Na Porta 14 (Calçada do Correio Mor), Pedro Calapez apresenta uma nova faceta da sua obra, e no Museu da Sociedade Martins Sarmento, em Guimarães, apresenta uma seleção de obras dos últimos oito anos do seu trabalho. Na Galeria de Santa Maria Maior (Rua da Madalena, 147), Corrêa dos Santos, 87 anos, repórter fotográfico há 70 anos a percorrer os acontecimentos e as ruas de Lisboa, tem uma exposição de vida.

Arco da velha
No meio do actual debate sobre a corrupção de políticos, o ex-ministro João Cravinho veio recordar que em 2006 tinha apresentado um plano anticorrupção recusado "liminarmente" pelo governo da época, chefiado por José Sócrates.

Entre gospel e folk
Valerie June nasceu em 1982 em Memphis, Tennessee, e cresceu a ouvir folk, blues, muito gospel, soul e country nos seus vários géneros. Publicou agora o seu terceiro álbum, "The Moon And Stars: Prescription for Dreamers". O disco anterior, "The Order Of Time", data de 2017 e foi incluído pela revista Rolling Stone na lista dos melhores 50 discos desse ano. E, exactamente em 2017, numa entrevista, Bob Dylan incluiu o nome de Valerie June entre os artistas que ouvia e respeitava. O trabalho de Valerie é indiscutivelmente alicerçado na música popular norte-americana, numa mistura entre blues electrificados e folk tradicional, com toques de country e uma presença marcada de gospel, evidente na sua forma de cantar e de fazer arranjos. Neste novo disco, ela é acompanhada pela grande Carla Thomas em "Call Me A Fool", um clássico instantâneo que é um retrato perfeito daquilo que Valerie June gosta de criar. "The Moon And Stars: Prescription for Dreamers" é um disco marcado pelo sentimento de amor e de perda ao longo das suas 14 faixas, e a crítica tem afirmado que se trata do mais maduro e marcante trabalho - que tem no tema "Within You" o melhor exemplo da sua criatividade e capacidade. "You And I" sintetiza o espírito do álbum: "When the love left just a friendship/ That’s when we found our greatest gift." Ou seja, conseguir olhar para o passado e aproveitar o melhor para seguir em frente. Disponível nas plataformas de streaming.

O leitão
A raça bísara é uma das raças autóctones nacionais de suínos. Os seus leitões são alimentados exclusivamente de leite materno até à altura do desmame, que ocorre por volta dos 45 dias. Têm uma carne aveludada, com uma cor rosada e um sabor especial que o distingue de outras raças suínas. O leitão bísaro tem também características morfológicas diferentes dos demais - é mais comprido e delgado, o que permite uma maior penetração dos temperos na carne. Quando se fala de bom leitão assado, é da raça bísara que falamos - mas não é muito frequente encontrá-la, mesmo na zona da Mealhada, onde a quantidade nem sempre rima com qualidade. Felizmente a quantidade não é a preocupação do Leitão da Vila, um paraíso para os apreciadores deste petisco, situado em Coina, perto do Barreiro. A casa tem menos de dez anos, mas o seu proprietário, António José Rebocho, aprendeu há muito mais tempo o segredo da preparação, do tempero e do forno, para poder servir um leitão assado excepcional. A casa é pequena, menos de duas dezenas de lugares na conjuntura actual, só abre ao almoço e encerra ao domingo. Faz "takeaway", mas em quantidades limitadas, para não prejudicar o serviço da sala nem a qualidade do que serve. O leitão chega à mesa muito bem cortado, acompanhado de um competentíssimo molho, um arroz de miúdos e batatas fritas às rodelas, feitas na hora, além da indispensável salada de alface, fresca e viçosa, com rodelas de cebola crua. Antes disso, chegam à mesa ou uns rissóis ou umas empadas, obviamente de leitão, e um queijo fresco de ovelha para quem quiser, ao lado de umas azeitonas bem temperadas. A lista de vinhos não é extensa, mas tem preciosidades como o Coteis Grande Escolha, um daqueles vinhos intensos, de 16º, proveniente de Moura. No final, se quiser, há um pastel de nata caseiro, que vem quente para mesa, onde a massa e o recheio são perfeitos. A carta aceita reservas, mas não vá com pressas pois, sobretudo ao fim-de-semana, vai ter de esperar uma data disponível. Leitão da Vila, Rua Professora Rita Amaro Duarte, Coina, telefone  935 849 213.

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