Opinião
A EDP foi nacionalizada?
A menos que alguma coisa tenha sido alterada no funcionamento da economia das empresas privadas eu acreditava, até esta semana, que as decisões são tomadas pelos seus accionistas e não pelo Estado.
Back to basics
A inspiração é de facto algo que existe, mas para ela surgir temos de estar a trabalhar.
Pablo Picasso
A EDP foi nacionalizada?
A menos que alguma coisa tenha sido alterada no funcionamento da economia das empresas privadas eu acreditava, até esta semana, que as decisões são tomadas pelos seus accionistas e não pelo Estado. No entanto, por estes dias percebi que o entendimento da nova anormalidade em que vivemos é que o Ministério Público e um juiz podem remover quem os incomode antes de haver qualquer julgamento. Vem isto a propósito do que se passa na EDP. Há muito tempo que António Mexia se tinha tornado um alvo a abater para o Governo. Infelizmente para a geringonça, os accionistas, e sobretudo o accionista maioritário chinês, decidiram manter a confiança em Mexia e nos resultados de gestão que alcançou. De maneira que, pegando na espingarda neste concurso de tiro ao alvo, um juiz e o Ministério Público, abrindo um grave precedente, tiraram Mexia e Manso Neto da empresa, contra as decisões tomadas pelos accionistas em assembleia-geral. Ambos são acusados num processo baseado em factos não provados e muito menos julgados. Para todos os efeitos são inocentes até prova em contrário - é esse princípio que norteia a justiça nos países democráticos. Se os accionistas entendem que um gestor cometeu algum acto reprovável ou que tem um ónus que penaliza a empresa, podem substituí-lo. Mas não foi isso que aconteceu. Em Portugal temos uma justiça lenta e ineficiente, com juízes acusados de corrupção, de justicialismo político e de mais algumas malfeitorias. É esse mesmo aparelho judicial, corporativo, arcaico e ineficaz que, à sombra do Estado, vive em impunidade. Vivemos tempos difíceis para a economia - e o principal perigo não vem da pandemia, vem de uma justiça assim, vem das interferências do Governo na TAP, da nacionalização da Efacec, deste cheiro a 11 de Março de 1975 que começa a perfumar o ambiente. Temos cada vez mais um Estado que não protege as pessoas, mas que as condiciona. E as imposições, com o medo que elas podem causar, começam a configurar uma tentativa de imposição de um pensamento único, protagonizado por um Estado que pretende ser incontestado e exercer a prepotência como modo de estar. E com a conivência dos mais altos magistrados da Nação.
Semanada
• Dados da Direcção-Geral da Saúde indicam que entre 2009 e 2019 a mortalidade no nosso país atingiu os 108.229 óbitos anuais, em média, com um máximo de 113.599 óbitos em 2018 e um mínimo de 103.203 óbitos em 2011 • no primeiro semestre de 2020, registaram-se 60.936 óbitos, o que corresponde a mais 7,2% do que a média da década anterior (56.869) • a Associação de Médicos de Família estima que ficaram 15 mil diagnósticos de cancro por fazer em três meses • há mais 110 mil utentes sem médico atribuído pelos centros de saúde e aumentam as queixas sobre a demora e dificuldade na marcação de consultas nos centros de saúde • a ASAE apreendeu 627 mil máscaras, compradas por diversas entidades públicas, destinadas a profissionais de saúde, e que não cumprem requisitos de segurança nem têm garantia de qualidade • o recrudescimento da pandemia provocou nova corrida à informação e, a semana de 22 a 29 de Junho, segundo dados da Marktest, foi a quarta com maior tráfego nos sites de informação desde meados de Março, com quase 300 milhões de pageviews • em 1928, na Grande Depressão, a economia portuguesa colapsou 9,7% e a Comissão Europeia estima que o país deve afundar 9,8% ou mais devido à pandemia • a task force de especialistas criada em Fevereiro pela Direcção-Geral da Saúde para acompanhar o combate à pandemia deixou de se reunir pouco tempo depois e não o faz desde Março • as reuniões de peritos de saúde no Infarmed foram suspensas por decisão do primeiro-ministro depois de terem lá surgido vozes críticas da actuação do Governo no desconfinamento.
Dixit
Há coisas que apesar de o Governo não nos querer dizer, precisamos de saber: não havia mesmo outra solução?
Paulo Rangel sobre a TAP
O regresso às galerias
A Galeria Espaço Exibicionista apresenta uma colectiva com a participação de 25 artistas plásticos, entre os quais Alexandre Alonso, Ana Monteiro, Emanuel de Sousa, Filipe Raizer, Gabriel Garcia, João Fortuna, Jorge Humberto (Joh), Luis Melo, Martinho Dias, Paulina Goca e Valentim Quaresma (cuja obra está na foto). Dilema- Group Show 2020 pode ser visto de segunda a sexta entre as 11 e as 20 e ao sábado das 11 às 18 no Espaço Exibicionista, Rua D. Estefânia 157 C. Mais sugestões: na Galeria Vera Cortês decorre uma exposição colectiva com todos os seus artistas, num formato invulgar, constituída por 19 apresentações individuais em nove exposições de dois artistas, cada um apresentando uma obra, cada dueto, chamemos-lhe assim, com a duração de uma semana. Até dia 15 podem ver Gonçalo Barreiros e John Wood com Paul Harrison, de 16 a 22 de Julho estarão Anna Franceschini e Daniel Blaufuks, de 23 a 31 deste mês estarão Alexandre farto (aka Vihls) e António Bolota. De 1 a 17 de Agosto a Galeria encerra e retoma o ciclo a 20 de Agosto, que decorrerá nos mesmos moldes até 23 de Setembro. Nas Carpintarias de S. Lázaro, que reabrem agora no pós-pandemia, James Newitt apresenta a curta-metragem "Fossil" em formato de instalação que percorre os vários espaços do local. A galeria Fonseca Macedo, em S. Miguel, nos Açores, completou 20 anos e apresenta uma Colectiva com obras de artistas que mostrou ao longo dos anos; o acontecimento da semana foi a abertura do Centro de Arte Contemporânea de Coimbra com a exposição "Corpo e Matéria" com curadoria de José Maçãs de Carvalho e David Santos.
Contra o pensamento único
Bernard-Henri Lévy, que se tornou conhecido por ser um dos artífices dos "novos filósofos" franceses, escreveu durante os últimos meses "Este Vírus Que Nos Enlouquece". Provocador como sempre, pretenso iconoclasta por definição, Levy dedica-se mais uma vez a abanar consciências e ataca toda a estratégia de contenção da pandemia por covid-19 imposta pelos governantes ocidentais, que acusa de se terem inspirado no modelo ditatorial chinês. Bernard-Henri Lévy não é meigo e classifica os detentores do poder de usurários da morte, tiranos da obediência, higienistas delirantes, protagonistas da primeira crise mundial que "produziu uma realidade mais incrível que a ficção" e a que mais "inflacionou discursos obsessivos". Sempre à procura de uma polémica, Levy aponta o dedo a governantes, organizações internacionais, influenciadores de opinião e "colapsologistas" que, "efusivos, disfarçam o seu egoísmo de abnegação" e aproveitam o coronavírus para arrasar o que a civilização ocidental tem de melhor. "É preciso resistir, custe o que custe, a esse vento de loucura que sopra sobre o mundo", vento a que o autor chama de "Primeiro Medo Mundial", que assola o planeta e, afirma, estrangula a liberdade dos cidadãos a coberto da urgência sanitária. Levy ergue-se contra o pensamento único, em defesa das portas da liberdade que para si são aeroportos, viagens, cosmopolitismo e comércio. "Os grandes epistemólogos dizem que as crises sanitárias são fenómenos sociais que comportam aspectos médicos" - é esta a tese que serviu de base ao pensamento formulado por Bernard Henri Lévy neste livro, já editado em Portugal pela Guerra & Paz.
Arco da velha
Segundo a Protecção Civil, o Ministério das Finanças não disponibilizou em Junho o reforço orçamental esperado para as despesas dos bombeiros no combate aos fogos rurais.
Sob a paisagem do Canadá
Quando um músico australiano é desafiado a fazer uma residência com músicos canadianos em Banff, na região de Alberta, no Canadá, com vista para o parque natural da região e para parte das montanhas rochosas, a influência da natureza na música produzida é inevitável. "Nothing Remains Unchanged" é o resultado da colaboração do baixista australiano Ross McHenry com o baterista Eric Harland, o pianista Matthew Sheens e o saxofonista Ben Wendel, no Banff Centre for Arts And Creativity. O resultado está em nove temas que oscilam entre o tranquilo e o tempestuoso, todos mostrando um desejo de explorar as potencialidades da colaboração entre músicos que se estão a descobrir uns aos outros. As influências de Ross McHenry estão bem sedimentadas no jazz, mas sem desprezar a música de câmara e alguma electrónica - um cocktail só por si invulgar. A grandiosidade da paisagem local foi certamente uma influência na composição destes temas, todos criados em Banff. "Complicated Us", o tema de abertura é um bom exemplo da ligação entre o baterista e o baixista, que se desenvolve enquanto o saxofonista e o pianista criam a paisagem sonora de fundo, repleta de tensões. Em contraste "Woods" é um exercício de tranquilidade e meditação, enquanto "Forest Dance" e sobretudo "Perspectives" mostram as capacidades individuais dos músicos. O disco está disponível no Spotify.
Por volta da meia-noite
A minha sugestão petisqueira de hoje passa por uma série japonesa de televisão, que tem origem numa obra de manga, e que é exibida pela Netflix em duas temporadas, de dez episódios de 25 minutos cada um - "Midnight Dinner, Tokyo Stories". Tudo se passa num bar de apenas 12 lugares ao balcão, localizado nas pequenas ruas escondidas do centro de Tóquio, junto da estação central de comboios, um restaurante que tem a particularidade de só funcionar entre a meia-noite e as sete da manhã. "O meu dia começa quando acaba o dos outros", diz o Mestre (único nome pelo qual é tratado pelos clientes), dono e único funcionário do bar que tem uma lista minimalista, teoricamente com um único prato, uma tradicional sopa japonesa de legumes e porco. O Mestre declara que a sua política é fazer o que os clientes pedirem com os ingredientes que nesse dia tiver disponíveis. Cada episódio é uma história fechada e o Mestre, uma interpretação fantástica de Kaoru Kobayashi, é o pivot de continuidade que assiste à forma como ao seu balcão se desenrolam histórias fascinantes de relações humanas - cada uma à volta de uma das suas criações culinárias. O que eu sei é que desde que comecei a ver a série já experimentei fazer ramen e inhame salteado e, para principiante, não me saí nada mal, sobretudo no ramen. Estou com vontade de um dia destes fazer uma omelete de arroz e ando a estudar a possibilidade do salmão com cogumelos. Vou ver mais uns episódios.
A inspiração é de facto algo que existe, mas para ela surgir temos de estar a trabalhar.
Pablo Picasso
A EDP foi nacionalizada?
A menos que alguma coisa tenha sido alterada no funcionamento da economia das empresas privadas eu acreditava, até esta semana, que as decisões são tomadas pelos seus accionistas e não pelo Estado. No entanto, por estes dias percebi que o entendimento da nova anormalidade em que vivemos é que o Ministério Público e um juiz podem remover quem os incomode antes de haver qualquer julgamento. Vem isto a propósito do que se passa na EDP. Há muito tempo que António Mexia se tinha tornado um alvo a abater para o Governo. Infelizmente para a geringonça, os accionistas, e sobretudo o accionista maioritário chinês, decidiram manter a confiança em Mexia e nos resultados de gestão que alcançou. De maneira que, pegando na espingarda neste concurso de tiro ao alvo, um juiz e o Ministério Público, abrindo um grave precedente, tiraram Mexia e Manso Neto da empresa, contra as decisões tomadas pelos accionistas em assembleia-geral. Ambos são acusados num processo baseado em factos não provados e muito menos julgados. Para todos os efeitos são inocentes até prova em contrário - é esse princípio que norteia a justiça nos países democráticos. Se os accionistas entendem que um gestor cometeu algum acto reprovável ou que tem um ónus que penaliza a empresa, podem substituí-lo. Mas não foi isso que aconteceu. Em Portugal temos uma justiça lenta e ineficiente, com juízes acusados de corrupção, de justicialismo político e de mais algumas malfeitorias. É esse mesmo aparelho judicial, corporativo, arcaico e ineficaz que, à sombra do Estado, vive em impunidade. Vivemos tempos difíceis para a economia - e o principal perigo não vem da pandemia, vem de uma justiça assim, vem das interferências do Governo na TAP, da nacionalização da Efacec, deste cheiro a 11 de Março de 1975 que começa a perfumar o ambiente. Temos cada vez mais um Estado que não protege as pessoas, mas que as condiciona. E as imposições, com o medo que elas podem causar, começam a configurar uma tentativa de imposição de um pensamento único, protagonizado por um Estado que pretende ser incontestado e exercer a prepotência como modo de estar. E com a conivência dos mais altos magistrados da Nação.
• Dados da Direcção-Geral da Saúde indicam que entre 2009 e 2019 a mortalidade no nosso país atingiu os 108.229 óbitos anuais, em média, com um máximo de 113.599 óbitos em 2018 e um mínimo de 103.203 óbitos em 2011 • no primeiro semestre de 2020, registaram-se 60.936 óbitos, o que corresponde a mais 7,2% do que a média da década anterior (56.869) • a Associação de Médicos de Família estima que ficaram 15 mil diagnósticos de cancro por fazer em três meses • há mais 110 mil utentes sem médico atribuído pelos centros de saúde e aumentam as queixas sobre a demora e dificuldade na marcação de consultas nos centros de saúde • a ASAE apreendeu 627 mil máscaras, compradas por diversas entidades públicas, destinadas a profissionais de saúde, e que não cumprem requisitos de segurança nem têm garantia de qualidade • o recrudescimento da pandemia provocou nova corrida à informação e, a semana de 22 a 29 de Junho, segundo dados da Marktest, foi a quarta com maior tráfego nos sites de informação desde meados de Março, com quase 300 milhões de pageviews • em 1928, na Grande Depressão, a economia portuguesa colapsou 9,7% e a Comissão Europeia estima que o país deve afundar 9,8% ou mais devido à pandemia • a task force de especialistas criada em Fevereiro pela Direcção-Geral da Saúde para acompanhar o combate à pandemia deixou de se reunir pouco tempo depois e não o faz desde Março • as reuniões de peritos de saúde no Infarmed foram suspensas por decisão do primeiro-ministro depois de terem lá surgido vozes críticas da actuação do Governo no desconfinamento.
Dixit
Há coisas que apesar de o Governo não nos querer dizer, precisamos de saber: não havia mesmo outra solução?
Paulo Rangel sobre a TAP
O regresso às galerias
A Galeria Espaço Exibicionista apresenta uma colectiva com a participação de 25 artistas plásticos, entre os quais Alexandre Alonso, Ana Monteiro, Emanuel de Sousa, Filipe Raizer, Gabriel Garcia, João Fortuna, Jorge Humberto (Joh), Luis Melo, Martinho Dias, Paulina Goca e Valentim Quaresma (cuja obra está na foto). Dilema- Group Show 2020 pode ser visto de segunda a sexta entre as 11 e as 20 e ao sábado das 11 às 18 no Espaço Exibicionista, Rua D. Estefânia 157 C. Mais sugestões: na Galeria Vera Cortês decorre uma exposição colectiva com todos os seus artistas, num formato invulgar, constituída por 19 apresentações individuais em nove exposições de dois artistas, cada um apresentando uma obra, cada dueto, chamemos-lhe assim, com a duração de uma semana. Até dia 15 podem ver Gonçalo Barreiros e John Wood com Paul Harrison, de 16 a 22 de Julho estarão Anna Franceschini e Daniel Blaufuks, de 23 a 31 deste mês estarão Alexandre farto (aka Vihls) e António Bolota. De 1 a 17 de Agosto a Galeria encerra e retoma o ciclo a 20 de Agosto, que decorrerá nos mesmos moldes até 23 de Setembro. Nas Carpintarias de S. Lázaro, que reabrem agora no pós-pandemia, James Newitt apresenta a curta-metragem "Fossil" em formato de instalação que percorre os vários espaços do local. A galeria Fonseca Macedo, em S. Miguel, nos Açores, completou 20 anos e apresenta uma Colectiva com obras de artistas que mostrou ao longo dos anos; o acontecimento da semana foi a abertura do Centro de Arte Contemporânea de Coimbra com a exposição "Corpo e Matéria" com curadoria de José Maçãs de Carvalho e David Santos.
Contra o pensamento único
Bernard-Henri Lévy, que se tornou conhecido por ser um dos artífices dos "novos filósofos" franceses, escreveu durante os últimos meses "Este Vírus Que Nos Enlouquece". Provocador como sempre, pretenso iconoclasta por definição, Levy dedica-se mais uma vez a abanar consciências e ataca toda a estratégia de contenção da pandemia por covid-19 imposta pelos governantes ocidentais, que acusa de se terem inspirado no modelo ditatorial chinês. Bernard-Henri Lévy não é meigo e classifica os detentores do poder de usurários da morte, tiranos da obediência, higienistas delirantes, protagonistas da primeira crise mundial que "produziu uma realidade mais incrível que a ficção" e a que mais "inflacionou discursos obsessivos". Sempre à procura de uma polémica, Levy aponta o dedo a governantes, organizações internacionais, influenciadores de opinião e "colapsologistas" que, "efusivos, disfarçam o seu egoísmo de abnegação" e aproveitam o coronavírus para arrasar o que a civilização ocidental tem de melhor. "É preciso resistir, custe o que custe, a esse vento de loucura que sopra sobre o mundo", vento a que o autor chama de "Primeiro Medo Mundial", que assola o planeta e, afirma, estrangula a liberdade dos cidadãos a coberto da urgência sanitária. Levy ergue-se contra o pensamento único, em defesa das portas da liberdade que para si são aeroportos, viagens, cosmopolitismo e comércio. "Os grandes epistemólogos dizem que as crises sanitárias são fenómenos sociais que comportam aspectos médicos" - é esta a tese que serviu de base ao pensamento formulado por Bernard Henri Lévy neste livro, já editado em Portugal pela Guerra & Paz.
Arco da velha
Segundo a Protecção Civil, o Ministério das Finanças não disponibilizou em Junho o reforço orçamental esperado para as despesas dos bombeiros no combate aos fogos rurais.
Sob a paisagem do Canadá
Quando um músico australiano é desafiado a fazer uma residência com músicos canadianos em Banff, na região de Alberta, no Canadá, com vista para o parque natural da região e para parte das montanhas rochosas, a influência da natureza na música produzida é inevitável. "Nothing Remains Unchanged" é o resultado da colaboração do baixista australiano Ross McHenry com o baterista Eric Harland, o pianista Matthew Sheens e o saxofonista Ben Wendel, no Banff Centre for Arts And Creativity. O resultado está em nove temas que oscilam entre o tranquilo e o tempestuoso, todos mostrando um desejo de explorar as potencialidades da colaboração entre músicos que se estão a descobrir uns aos outros. As influências de Ross McHenry estão bem sedimentadas no jazz, mas sem desprezar a música de câmara e alguma electrónica - um cocktail só por si invulgar. A grandiosidade da paisagem local foi certamente uma influência na composição destes temas, todos criados em Banff. "Complicated Us", o tema de abertura é um bom exemplo da ligação entre o baterista e o baixista, que se desenvolve enquanto o saxofonista e o pianista criam a paisagem sonora de fundo, repleta de tensões. Em contraste "Woods" é um exercício de tranquilidade e meditação, enquanto "Forest Dance" e sobretudo "Perspectives" mostram as capacidades individuais dos músicos. O disco está disponível no Spotify.
Por volta da meia-noite
A minha sugestão petisqueira de hoje passa por uma série japonesa de televisão, que tem origem numa obra de manga, e que é exibida pela Netflix em duas temporadas, de dez episódios de 25 minutos cada um - "Midnight Dinner, Tokyo Stories". Tudo se passa num bar de apenas 12 lugares ao balcão, localizado nas pequenas ruas escondidas do centro de Tóquio, junto da estação central de comboios, um restaurante que tem a particularidade de só funcionar entre a meia-noite e as sete da manhã. "O meu dia começa quando acaba o dos outros", diz o Mestre (único nome pelo qual é tratado pelos clientes), dono e único funcionário do bar que tem uma lista minimalista, teoricamente com um único prato, uma tradicional sopa japonesa de legumes e porco. O Mestre declara que a sua política é fazer o que os clientes pedirem com os ingredientes que nesse dia tiver disponíveis. Cada episódio é uma história fechada e o Mestre, uma interpretação fantástica de Kaoru Kobayashi, é o pivot de continuidade que assiste à forma como ao seu balcão se desenrolam histórias fascinantes de relações humanas - cada uma à volta de uma das suas criações culinárias. O que eu sei é que desde que comecei a ver a série já experimentei fazer ramen e inhame salteado e, para principiante, não me saí nada mal, sobretudo no ramen. Estou com vontade de um dia destes fazer uma omelete de arroz e ando a estudar a possibilidade do salmão com cogumelos. Vou ver mais uns episódios.
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