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12 de Junho de 2020 às 10:25

A grande ilusão

Quando olhamos para a lista dos 20 programas mais vistos da televisão portuguesa, só vemos dois canais: SIC e TVI. Porquê? A explicação é fácil e baseia-se na táctica da sobreposição da realidade.

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Back to basics
As nossas vidas começam a acabar no dia em que ficarmos silenciosos face às coisas que mais importam.
Martin Luther King

A grande ilusão
Quando olhamos para a lista dos 20 programas mais vistos da televisão portuguesa, só vemos dois canais: SIC e TVI. Porquê? A explicação é fácil e baseia-se na táctica da sobreposição da realidade. Passo a explicar: estes dois canais começaram há algum tempo a desdobrar cada um dos seus principais programas em várias emissões, com títulos ligeiramente diferentes. O objectivo é conseguir ocupar o maior número possível de lugares no "ranking". Por exemplo, as telenovelas têm "especiais", o "Isto É Gozar Com Quem Trabalha" fica dividido em duas partes que ocupam de facto dois lugares da lista, o "Big Brother" idem e o "Quem Quer Namorar Com o Agricultor" ainda mais. Na semana passada, por exemplo, a lista dos 20 programas mais vistos afinal só corresponde a dez programas realmente diferentes. Só o "Quem Quer Namorar Com O Agricultor" tem cinco presenças no "top 20", graças a esta técnica dos desdobramentos. A lista assim elaborada dá uma ideia distorcida do que é de facto a realidade e diversidade da televisão em Portugal. Basta dar este pequeno exemplo: sem este truque de multiplicação dos programas, a RTP1 também estaria com várias entradas, pelo menos cinco, na lista dos 20 mais da semana passada. É uma perigosa ilusão esta que se cria de fazer crer que só existe a SIC e a TVI, quando as duas juntas alcançaram 34,6 % da média do total de espectadores da semana passada, enquanto o conjunto de canais cabo por si só significou 37,8% .

Semanada

Mário Centeno afirmou que não falou e não quer falar com Costa e Silva no âmbito do estudo que este está a realizar para o Governo sobre a recuperação da economia segundo o Conselho das Finanças Públicas, o PIB pode cair entre 7,5 e 11,8% e a dívida pode disparar para 141,8% devido aos efeitos da pandemia na economia; o sector das empresas de diversões itinerantes, pirotecnia e música, que trabalham habitualmente nas festas e romarias de Verão, estima perder 50 milhões de euros este ano um estudo divulgado esta semana indica que as rendas de casa já desceram 20% desde o início da pandemia os lucros das empresas do PSI-20 caíram 56% desde o início da pandemia um terço dos alunos do nono ano passa com negativa a Matemática durante o período do confinamento, foram usados mais descartáveis e houve um recuo nos hábitos da reciclagem no final da semana passada, estavam operacionais e a voar 12.234 aviões em todo o mundo e continuavam em terra 14.025, à espera de ordem para descolar Portugal esteve quase 100 dias sem jogos de futebol e, na primeira semana de regresso dos jogos, começaram logo os casos de violência Pinto da Costa foi eleito para o 15.º mandato consecutivo à frente do Futebol Clube do Porto, que dirige desde 1982, e alcançou 70% dos votos as autoridades espanholas procuraram um crocodilo que teria sido visto no Douro, na zona de Valladolid – mas afinal era uma morsa.

Dixit
"O meu sonho é que conseguíssemos ter os cidadãos dos nossos países a mudar as suas vidas para criar uma relação de maior respeito pela natureza e pelos oceanos, e que isso tivesse repercussões nas decisões políticas nos próximos anos."
Tiago Pitta e Cunha
Presidente da Fundação Oceano Azul

Folhear fotografias
Uma das maneiras de seguir o que de melhor se faz em fotografia é ter acesso a edições de photobooks e revistas - particularmente, a Aperture, editada quatro vezes por ano, sazonalmente, pela Aperture Foundation, de Nova Iorque. Encontrar a Aperture em Portugal não era fácil, mas agora já é possível adquiri-la (e folheá-la antes se for o caso), numa nova loja, a Photo Book Corner, que abriu na Avenida Marquês Sá da Bandeira, perto da Gulbenkian, e praticamente paredes-meias com a Under The Cover, uma loja especializada em revistas independentes. Assim se criou ali um pequeno "cluster" de divulgação e venda de edições difíceis de encontrar noutros locais.

A Photo Book Corner dispõe de uma boa selecção de livros de fotografia de autores como Robert Frank, Todd Hido, Nan Goldin ou Martin Parr, entre outros. Além disso, expõe ainda fotografia, que vende, apesar do espaço exíguo, mas bem aproveitado.

Mas, passemos a esta edição da Aperture, da Primavera de 2020, que na capa leva o título genérico "House & Home". A edição explora as formas dos espaços domésticos e as ligações entre arquitectura, design e fotografia. Logo na entrada, e fora deste tema, há dois pequenos artigos interessantes - um sobre a ligação entre a arte, artistas e a utilização das suas obras na publicidade; e outro sobre a crescente utilização de boa fotografia nas capas de livros, nalguns casos porque os seus autores viram, em exposições, imagens que lhes pareceram adequadas às obras que tinham escrito e quiseram tê-las na capa.

Os tigres regressaram
Vinte e dois anos sem deitar um disco cá para fora e agora sai isto: uma pérola. Os Três Tristes Tigres marcaram a última metade dos anos 1990, mas desde 1998 que não editavam originais - "Comum" havia sido o seu último registo dessa época, sempre com Ana Deus, Alexandre Soares e as palavras de Regina Guimarães. Nos anos mais recentes tinham-se reencontrado em torno de Osso Vaidoso, um projecto nascido em 2010 entre a guitarra e a voz, desenvolvido por Alexandre Soares e as suas guitarras e Ana Deus e a sua voz. O novo disco, "Mínima Luz", nasceu de um desafio de revisitação da obra dos Três Tristes Tigres feito pelo Teatro Rivoli. Uma coisa puxa a outra e, nos últimos dois anos, o novo disco foi nascendo na cabeça dos seus autores, foi ganhando forma. Desta vez, Alexandre Soares chamou mais músicos para o seu lado, com destaque para o baterista Fred Ferreira, o baixista Rui Martelo, o percussionista Gustavo Costa e a harpista Angélica Salvi. Ao longo destas últimas duas décadas, Alexandre Soares tem trabalhado em bandas sonoras e em composições para dança e teatro. Nos Osso Vaidoso, deu asas à guitarra, que neste novo disco dos Três Tristes Tigres ganha electricidade e estabelece um renovado diálogo com os seus sintetizadores. Ana Deus está em grande forma a interpretar as palavras de Regina Guimarães, que escreveu cinco dos nove temas, e a própria cantora escreveu um deles ("Surrealina"), Luca Argel outro, e Regina Guimarães adaptou também poemas de Langston Hughes - "Life is Fine" aqui é "À Tona" e de William Blake "The Tyger". Numa recente entrevista, falando sobre o disco, Ana Deus disse que ele "reflecte o desejo de que haja mais luz e mais ciência na informação - hoje em dia, é como se anos e anos de ciência, estudo e conhecimento fossem abafados por lixo e conversas da treta". "Mínima Luz" é uma edição de autor, em CD e vinil, que pode ser comprado através do email correiodostigres@gmail.com, e pode também ser ouvido no Spotify.

Arco da velha
Três avaliadores de projectos da Fundação para a Ciência e Tecnologia concorreram e ganharam um apoio, apesar de terem tido acesso antecipado aos critérios de avaliação.

Os dilemas do fim da vida
"Reconhecer os limites da ciência e da sua aplicação tecnológica é um acto de maturidade. Cumprir o desejo do doente, não o obrigar a viver através de meios tecnológicos, é respeitar o princípio da autonomia, que é o único princípio da moral, de acordo com Kant. Em nome da moralidade, obrigar um doente frágil a prolongar o seu sofrimento contra a sua vontade, simplesmente porque é possível através de meios tecnológicos, não é aceitável." Quem o afirma é o médico J. Filipe Monteiro, pneumologista e mestre em Bioética, no livro "Testamento Vital - Nos dilemas éticos do fim da vida", agora editado. O tema da morte assistida foi ganhando relevo e, no início deste ano, o Parlamento aprovou uma série de projectos que abriram o caminho para a elaboração de uma lei que permita e regulamente a morte assistida. No livro de J. Filipe Monteiro, ao longo dos vários capítulos, são discutidos e reflectidos o percurso histórico, os aspectos técnicos e filosóficos, a perspectiva de algumas religiões e organizações médicas. O livro explica ainda em detalhe todo o processo ligado à opção pelo Testamento Vital ou Directivas Antecipadas da Vida. "A rejeição da obstinação terapêutica é um acto de boa prática médica", defende o autor, que sublinha: "Todos os intervenientes, dos doentes aos médicos, passando pela família e pelas instituições gestoras de saúde, devem envidar todos os esforços para a sensibilização pedagógica do testamento vital."

Elas & as iscas
Tinha saudades de uma isca, com elas, claro - o nome do prato é só por si um episódio, estimulando a imaginação. Mas adiante. A realidade é que, num "takeaway", não se pode comer iscas. A coisa não é simples - o corte tem de ser bem feito e, desde as vacas loucas, ficámos quase reduzidos às iscas de porco e, aí, o corte tem ainda de ser mais preciso e afinado - sempre muito fino. Temperá-las é outra arte e o molho outra ainda - um pouco de vinagre a mais ou a menos é a morte do artista. Na Valbom há um restaurante que tem umas iscas acima da média - o Jaguar. A sala é das inviáveis pela pandemia - pequena, cheia de mesas, corredor comprido estreito e balcão, tudo coisas impossíveis. Mas, felizmente, agora tem uma boa esplanada. Com as iscas vêm as batatas cozida ou, na versão traiçoeira, com batata frita aos palitos. Confesso que não sou ortodoxo e escolho conforme as ocasiões e o apetite do momento. É curioso que a Valbom tem, mais abaixo, no clássico Polícia, outro bom local para umas iscas tradicionais. Mas devo deixar aqui uma recomendação: há uma outra hipótese de iscas, que é um petisco e não é frequente conseguir encontrar -iscas de leitão, ainda mais finas e delicadas que todas as outras. Aqui, em Lisboa recomendo um sítio que por vezes as tem - é o Apuradinho, na Rua de Campolide.



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