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27 de Julho de 2018 às 09:30

A esquina do Rio

Dos trinta maiores financiamentos atribuídos pelo programa comunitário 2020, 26 foram para o Estado e só quatro para empresas

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Gosto

Uma investigadora portuguesa na área do transplante renal, Margarida Carvalho, ganhou o prémio pela melhor tese de doutoramento na Europa.

 

Não gosto

Há 90 leis que não são aplicadas por não terem sido regulamentadas, algumas desde 2003, em áreas como a corrupção, as florestas e as secretas.

 

Arco da velha

Um homem condenado e preso por fuga ao fisco usou cheques furtados e sem cobertura para pagar protecção a outro detido, com o objectivo de evitar mau tratos na prisão.

 

Dixit

"Chegou ao Aeroporto de Beja uma avioa que vem prenhe."

Comentário de um dos mirones que foi assistir ao aterrar do enorme A380, que tem um larguíssimo ventre aeronáutico.

 

Back to basics

O estilo permite dizer de forma simples coisas complicadas.

Jean Cocteau

 

 

Semanada

Dos trinta maiores financiamentos atribuídos pelo programa comunitário 2020, 26 foram para o Estado e só quatro para empresas • esta semana, tornou-se notícia o facto de o maior avião do mundo ter aterrado no aeroporto com menos passageiros do mundo, em Beja • o número de caixas multibanco disponíveis para consumidores diminuiu ao ritmo médio de 467 por ano desde 2011 • os portugueses pagam em comissões bancárias o dobro do valor suportado pelos vizinhos espanhóis • em seis anos, foram encerradas 1.895 agências bancárias • ficaram por preencher 1.230 vagas de professores, mais de metade em Lisboa e Setúbal • mais de 85% da produção de electricidade tem subsídios • 22,9% dos portugueses recebem o salário mínimo • 54% dos pensionistas, cerca de 1,6 milhões, recebem reformas abaixo do salário mínimo • o Conselho das Finanças Públicas considera que a probabilidade de a economia portuguesa se encontrar em recessão, no decorrer dos próximos cinco anos, é de aproximadamente 55% • a economia nacional tem um dos maiores défices da balança alimentar da Europa • a média das temperaturas até agora registadas no mês de Julho é a mais baixa dos últimos 30 anos.

 

Uma revista diferente

Mayday (palavra que pode querer significar socorro em várias circunstâncias) é o título de uma revista independente nascida e criada em Copenhaga, na Dinamarca, e que se publica duas vezes por ano. Apresenta-se como uma montra das mudanças que acontecem no mundo e que confrontam as pessoas, a cultura, a sociedade e a tecnologia, com especial incidência no pensamento independente. A ideia é ver o presente a olhar para o futuro, e na sua origem está o Trouble, um laboratório criativo de novas ideias.

A Mayday gosta de se apresentar como uma revista sobre cultura, sociedade, tecnologia e realidades imprevistas. Neste segundo número da Mayday, o destaque vai para uma entrevista com a Comissária Europeia Margrethe Vestager, que se lançou numa cruzada contra os abusos de gigantes tecnológicos como o Google e Apple. É seguida por 250 mil pessoas no twitter e dirige uma equipa de 900 colaboradores que velam sobre o cumprimento das regras da concorrência na Europa. Uma das suas frases mais relevantes desta entrevista, que merece ser lida de fio a pavio, é esta: "a questão da identidade é algo que custou milhões de vidas ao longo de vários séculos e é por isso que se torna muito premente perceber como nos posicionamos e qual o nosso papel num mundo digital". Outro ponto de interesse nesta edição é a entrevista com Ivan Krasner, o politólogo autor do livro "Depois da Europa". A Mayday está disponível na Under The Cover, Rua Marquês Sá da Bandeira 88, Lisboa.

 

A lista de Sakamoto

Uma das coisas mais enervantes em qualquer local público é música ambiente colocada de qualquer maneira, muitas vezes num volume estridente. Cada local deveria ter uma selecção musical cuidada e adequada ao seu estilo e às pessoas que o frequentam. Vem isto a propósito de um brilhante artigo publicado por estes dias no New York Times, no qual se explica porque é que o grande músico e compositor Ryuichi Sakamoto se levantou da mesa e foi falar com o chef do seu restaurante japonês favorito em Nova Iorque. A questão tinha que ver com a falta de sentido da playlist existente. De modo que Sakamoto propôs-se oferecer uma playlist, sem cobrar nada por isso, para que pudesse ali continuar a ter as suas refeições num bom clima.

Como diz o autor do artigo do NYT, quando se vai a um bom restaurante disposto a pagar uma factura gorda, a última coisa que apetece é que a playlist seja feita num vão de escada pelo filho do ajudante de cozinha ou do chefe de sala. Foi isso que Ryuichi Sakamoto se propôs alterar. Foi falar com o chef do Kajitsu, perto da Lexington Avenue, Hiraki Odo, e ofereceu-lhe a lista. É uma escolha de Sakamoto, que tem a particularidade de não ter uma única das suas composições, que vai do jazz à pop e à electrónica, passando por várias épocas e diversas geografias. Se procurar no Spotify por "The Kajitsu Playlist", descobrirá a preciosidade que Sakamoto ofereceu a Odo. E que agora todos podemos partilhar

Ideias fotográficas
A fotografia que acompanha estas linhas é de Martin Parr, um dos nomes grandes da agência Magnum e da fotografia contemporânea, e refere-se a uma série sobre a transformação de Brighton nos anos 80. Faz parte da exposição "New Brighton Revisited", que está na Open Eye Gallery daquela cidade. Se procurarem por ela na internet, depressa darão com esta e outras imagens - não só de Parr (que há dois anos teve uma bela exposição em Lisboa na já extinta Barbados Gallery), mas também de Ken Grant e de Tom Wood, que documentam a vida naquela cidade costeira ao longo de três décadas. Um dos aspectos mais interessantes da fotografia contemporânea, sobretudo na Grã-Bretanha, é a capacidade de mostrar e preservar o quotidiano de diversas épocas.

Nos últimos anos, o British Journal Of Photography tem lançado a série "Portrait Of Britain", que está a tornar-se um documento e testemunho incontornável. Várias cidades, sobretudo no norte da Europa, convidam anualmente fotógrafos a mostrarem a sua visão dessas cidades e das pessoas que as habitam. E entretanto, em Portugal, só se fotografam desgraças, acidentes, catástrofes. O dia-a-dia, o quotidiano, está sempre ausente, desde há muitos anos. Com esta ausência, perdemos a preservação da memória e abandonamos o registo das mudanças que vão ocorrendo. Lisboa, o Porto, e também várias outras cidades de Portugal precisavam destes registos, de iniciativas assim - uma gota de água nos orçamentos de festividades muitas vezes vazias e que não deixam património sobre o presente para ser interpretado no futuro. Em vez de investirmos no que fica, gastamos no que se esquece. É este um dos nossos grandes problemas.

 

Diferenças ibéricas

Portugal mudou de regime em Abril de 1974. A Espanha teve igual mudança ao longo do ano de 1976 - dois anos depois. Hoje em dia, a média de idade dos dirigentes dos principais partidos espanhóis é de 40 anos, enquanto a média de idade dos dirigentes dos principais partidos portugueses é de 55 anos. No caso espanhol, a maior parte dos dirigentes nasceu depois da transição; no caso português, a maior parte dos dirigentes nasceu no velho regime, há mais de 44 anos. Dos actuais dirigentes portugueses, só Assunção Cristas tem 44 anos, Catarina Martins tem 45, Jerónimo de Sousa tem 71, Rui Rio tem 61 e António Costa tem 57. Em Espanha, as contas são diferentes: Pablo Casals, do PP, tem 37 anos, Pedro Sanchez, do PSOE, tem 46 anos, Albert Rivera, dos Ciudadanos, tem 39 anos e Pablo Iglesias, do Podemos, tem 40.

A diferença da média de idades dos dirigentes partidários dos dois países é de 15 anos, significa praticamente uma geração. Esta diferença significa também uma visão diferente da vida, do país e do mundo. Em Portugal, excepção feita ao Bloco, que mesmo assim já leva 19 anos de existência, o resto vem de uma situação particular de transição, à excepção do PCP - que em Espanha já não existe na prática. Em Espanha, o Ciudadanos foi fundado em 2006 e o Podemos em 2014. A Espanha retomou a democracia depois de Portugal, andou mais depressa, o regime modificou-se mais rapidamente. Portugal, na discussão do poder político, vive do passado e no passado, precisam-se de líderes novos e de organizações novas. Assim como estamos não vamos a lugar algum a não ser degradar mais o que existe. A entrevista de Rui Rio na TVI, esta semana, foi o retrato da incapacidade da sua geração política. Há uma geração de políticos em Portugal que, para bem do país, deve saber sair de cena. 

 

Restaurantes & Pessoas

Além do chef (e das suas propostas culinárias), há duas coisas que fazem um restaurante: o serviço e as pessoas que o frequentam. É muito difícil encontrar o ponto de equilíbrio entre uma cozinha de que gostamos, um sítio onde nos sentimos bem e uma vizinhança que não indisponha. Em Lisboa, juntar estas três peças é cada vez mais uma raridade. Os novos chefs e os seus conceitos olham tanto para os seus respectivos umbigos que se esquecem das pessoas. Estão interessados em ser adulados, em servir o que lhes apetece sem ouvir críticas - seja da qualidade, seja do preço. Eu não suporto, por exemplo, chefs que me querem oferecer uma experiência baseada num menu de degustação ao qual não posso fugir. Gosto de escolher o que me apetece sem ser forçado. Odeio a ditadura dos chefs e as suas imposições. Irrita-me um serviço que não sabe distinguir um bife mal passado de uma carne transformada em sola a preços de sapatos Church. Não gosto de olhar para uma sala e ver maioritariamente pessoas a quem não me apetece falar nem estar. Quando vou ao restaurante, gosto de estar descansado. Muitas vezes, ao almoço, vou sozinho aos sítios mais diversos, só para observar pessoas, a maneira como falam umas com as outras. Um restaurante é um ponto de encontro, não é um ponto de desencontros. É por isso que, cada vez mais, desconfio dos restaurantes da moda e dos chefs carapau de corrida carregados de (pre)conceitos.

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