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06 de Abril de 2018 às 10:00

A esquina do Rio

Esta semana, o tema dos subsídios à actividade cultural irrompeu de forma estridente. O financiamento da Cultura é sempre um problema, seja qual for o Governo, os candidatos e projectos são sempre acima das verbas disponíveis e as coisas pioram quando há arrogância do poder associada a incompetência

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Back to basics
Os americanos não têm o sentido da privacidade nem sabem o que ela significa, privacidade é coisa que não existe nesse país.
George Bernard Shaw

Cultura
Esta semana, o tema dos subsídios à actividade cultural irrompeu de forma estridente. O financiamento da Cultura é sempre um problema, seja qual for o Governo, os candidatos e projectos são sempre acima das verbas disponíveis e as coisas pioram quando há arrogância do poder associada a incompetência - que na realidade foi o que aconteceu. Mas esta semana houve uma reveladora frase no meio da polémica quando, depois de chamado a S. Bento, o secretário de Estado da Cultura confessou ingenuamente que o primeiro-ministro, António Costa, estava a par de tudo o que se tinha feito e aplicado. Acontece que o primeiro-ministro, como já aconteceu noutros casos e noutras áreas, cedeu ao sururu de quem protestou e primeiro deu um público puxão de orelhas ao ministro e secretário de Estado por terem deixado criar tanto alarido, apareceu ele próprio a resolver a confusão e rematou com um cínico elogio aos ocupantes da Ajuda. Este caso ilustra duas coisas: em primeiro lugar, mostra que não existe uma política nem uma estratégia para a Cultura, não é de agora, bem sei, e, em segundo lugar, que António Costa prefere ceder, mais uma vez, aos protestos do que perceber porque existem e qual o caminho para resolver o problema de fundo - para não ir mais longe, actualizar a Lei do Mecenato. Na realidade, António Costa replicou aqui o que tem feito em tantos casos - ceder às reivindicações suportadas pelo Bloco e pelo PCP a ter de arranjar dores de cabeça em futuras votações parlamentares. Desenganem-se os grupos de teatro se acham que o recuo anunciado tem que ver com uma compreensão da situação e a definição de uma nova política. O que se passou foi uma troca: satisfazer aqui os aliados da coligação, para noutros casos lhes pedir a compensação. Foi só isto. Mais à frente se perceberá qual foi a taxa de câmbio utilizada.

Semanada
Na PSP, há 16 sindicatos, três deles têm mais dirigentes do que sócios  a pressão turística no Porto e em Lisboa é superior à que se verifica em Londres ou Barcelona  Portugal importa dez mil toneladas de pão diariamente  em todo o país, há apenas 300 guardas-nocturnos  a rede Siresp, que serve de sistema único de comunicação entre as forças e serviços de segurança e emergência, falhou durante nove mil horas em 2017  quase 30% dos estudantes abandonam o ensino superior e mais de metade dos alunos que entram com média de 10 valores não acaba a licenciatura  em 2017, foram registados 22.599 crimes de violência doméstica, 6.303 dos quais no distrito de Lisboa  as ajudas concedidas à banca entre 2007 e 2017 foram de 23,7 mil milhões de euros, cerca de 12,3% do PIB, o que significa 2.302 de euros por cada português  as vendas de automóveis nos três primeiros meses do ano aumentaram 4,7% em relação a igual período de 2017 e totalizaram 73.104 viaturas  de acordo com a Marktest, 21,96% do poder de compra está concentrado em cinco concelhos: Lisboa, Porto, Sintra, Vila Nova de Gaia e Cascais  ainda segundo a Marktest, cerca de 3,9 milhões de portugueses com 15 e mais anos ouviram música online em 2017 e este hábito aumentou 91% nos últimos sete anos  o Estado exige a privados contratos a prazo mais curtos do que os que utiliza nas suas próprias contratações de pessoal.

Dixit
Actualmente, não há quase nada mais importante do que garantir a existência de um robusto serviço público de informação universalmente acessível aos cidadãos.
Emily Bell
Ex-editora digital do Guardian

Folhear
Se sigo a actualidade e as notícias no digital, prefiro olhar para a reflexão e a descoberta no papel. E é aí que entra a nova geração de revistas que se vai publicando e que mostra as capacidades da imprensa, que estão longe de estar esgotadas. Com criatividade, imaginação editorial e gráfica, arrojo, e alguma capacidade para encontrar nichos de público têm surgido numerosas novas publicações. A minha mais recente descoberta é a Mayday, cujo primeiro número foi publicado no final do ano passado, em Copenhaga, uma cidade que, nesta área editorial, tem estado muito activa. A revista debruça-se sobre cultura, sociedade, tecnologia e realidades imprevistas, no dizer dos próprios editores. A História é o ponto de união de vários artigos desta edição - seja a narrativa de Dom Quixote, sejam as descobertas sobre a evolução da humanidade. Um artigo que me chamou particularmente a atenção chama-se "A arte é a lente que nos permite ver o mundo", escrito pela curadora de um dos museus europeus que mais admiro, o Louisiana Museum Of Modern Art, nos arredores de Copenhaga. Mary Laurberg, uma das curadoras do museu, fala sobre quatro artistas escandinavos contemporâneos a partir da frase de Joyce Carol Oates, "a arte leva-nos a novos lugares". Termino com um destaque de uma das páginas da Mayday: "A colaboração é uma das mais importantes competências do século XXI." Vista numa folha, retive estas palavras. Talvez num ecrã isso não tivesse acontecido. A Mayday está disponível na "Under The Cover", Rua Marquês Sá da Bandeira, 88.

Gosto
O filme "Terra Franca", a primeira longa-metragem da realizadora Leonor Teles, venceu o "Prix International de la Scam" no festival Cinéma du Réel em Paris.  

Não gosto
Do plágio feito no filme "Peregrinação", realizado por João Botelho, ao livro "Corsário dos Sete Mares", de Deana Barroqueiro, utilizado sem autorização nem tão-pouco comunicação prévia. 

Ouvir
Nos dias de hoje, as fronteiras entre géneros são cada vez mais ténues e as classificações são por vezes difíceis. Quando músicos de jazz se lançam em música improvisada maioritariamente de origem electrónica, poderá ser considerada ainda dentro dos territórios do jazz contemporâneo? Os britânicos GoGo Penguin estão no centro de uma polémica sobre este assunto desde o seu disco anterior, "Man Made Object". O novo "A Humdrum Star", já distribuído em Portugal, vem reacender a discussão. Há aqui elementos de house, mas também de electrónica, de ambiental, de clássica contemporânea. Este "A Humdrum Star" é um passo em frente na transição dos GoGo Penguin para um território electrónico mais explícito e acentuado, em que alguma ausência de regras é a matéria-prima mais visível para a forma como as nove faixas deste disco se desenvolvem e cruzam, com uma bem-vinda libertinagem que tem andado demasiado arredada da música. O que aqui me seduz mais é o cruzamento do piano com teclados electrónicos, a presença da percussão bem cruzada com o baixo, tudo a fluir de forma deliciosamente imprevisível, ao sabor dos acontecimentos e do sentir dos músicos. Há muito que não ouvia um disco tão libertador. CD "A Humdrum Star", dos GoGo Penguin, edição Blue Note, distribuição Universal Music.

Arco da velha
Na semana passada, a RTP2 ficou em 12.º lugar nas audiências a nível nacional e, na região de Lisboa, nem aparece entre os 20 canais mais vistos.  

Ver
A iniciativa British Bar, imaginada e desenvolvida por Pedro Cabrita Reis, entrou agora na sua 12.ª edição - tem, portanto, um ano de vida. Ao longo destes 12 meses, Cabrita Reis seleccionou e convidou mensalmente três artistas plásticos para criarem ou escolherem obras suas que pudessem ser expostas nas três montras verticais do British Bar, no Cais do Sodré, uma casa que o organizador frequenta há muitos anos e que é um ponto de passagem num local central. É uma forma especial de arte pública, expondo obras num contexto bem diferente do habitual e colocando-as perante públicos diversos daqueles que as estão habituados a ver nas galerias ou museus. Sempre suportada por um folheto bem elaborado, com informação sobre os artistas e obras expostas, esta semana foram apresentadas "Private Dancer" de Pedro Calapez (na imagem), "Fruteira", de Pedro Valdez Cardoso, e "Banco de Estirador B", de Fernanda Fragateiro. São todas elas obras criadas para o local e confrontam quem passa na rua com três perspectivas criativas bem diversas. Outras sugestões: no espaço capela do Centro Cultural de Cascais um ensaio fotográfico de Bruno Saavedra, "Ana", sobre os últimos cinco dias de vida de uma mulher; na Galeria Módulo, Tito Mouraz mostra a sua visão do interior em "Fluvial".

Provar
Estamos no fim da época dos ouriços do mar e não há melhor local para descobrir esta iguaria do que a Ericeira, onde, até domingo, decorre o 4.º Festival Internacional dos Ouriços do Mar. Em 22 restaurantes da localidade e arredores (nalguns o prazo será alargado), dão-se a provar diversas formas de experimentar esta iguaria a que alguns chamam o caviar da Ericeira. Acontece que a preparação dos ouriços é trabalhosa, a época do ano em que estão com as saborosas ovas é esta e é muito limitada, os ouriços do mar são raros e a sua apanha é difícil. Mas a Ericeira é o seu bastião em Portugal. As propostas existentes nos diversos restaurantes da terra passam por um risotto de ouriços do mar com camarão grelhado, açorda de ouriços de mar, arroz do mar com ouriços e algas e até caril de ovas de ouriços do mar ou spaghetti com ovas de ouriço. Mas se é neófito nestas lides, comece por experimentar os ouriços ao natural, uma experiência inesquecível, pela explosão de sabor de mar que proporciona. 


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