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Opinião
Manuel Falcão - Jornalista 26 de Janeiro de 2018 às 10:07

A esquina do Rio

Não é novidade dizer-se que existe um descrédito generalizado no Parlamento, nos partidos e nos políticos.

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Os conselhos devem ser julgados pelos resultados que provocam e não pelas intenções que os originam.
Cícero

Eleições
Não é novidade dizer-se que existe um descrédito generalizado no Parlamento, nos partidos e nos políticos. Nesta conjuntura, duas associações, a Sedes (Associação para o Desenvolvimento Económico e Social) e a APDQ (Associação por uma Democracia de Qualidade) apresentaram um projecto de reforma eleitoral que preconiza um sistema de representação proporcional personalizada, inspirado no modelo alemão, que conjuga as listas territoriais com os círculos uninominais e um círculo nacional de compensação, para garantir um equilíbrio final das representações partidárias. Não é a primeira vez que a questão da introdução dos círculos uninominais, permitidos pela revisão Constitucional de 1997, é apresentado como uma solução para a crise de confiança dos eleitores em relação aos deputados. O objectivo é fazer uma reforma do sistema eleitoral que reforce o poder de escolha dos eleitores e responsabilize os eleitos - cada eleitor exerce o duplo voto no boletim, assinalando, por um lado, a força política preferida, na lista do círculo territorial intermédio e, por outro, o deputado que escolhe no respectivo círculo uninominal. Esta proposta já foi apresentada ao Presidente da República e pretende ser apreciada no Parlamento. Um dos objectivos, segundo Ribeiro e Castro, um dos seus promotores, é provocar uma transformação profunda na formação das listas, com os partidos a terem de ser mais cuidadosos com os candidatos que apresentam, privilegiando a sua relação com os eleitores e não com os equilíbrios internos de forças do aparelho. Por mim, penso que a adopção desta proposta seria um grande passo em frente no nosso sistema - resta saber se os partidos políticos têm coragem para darem este passo ou se preferem manter o imobilismo e o caduco sistema eleitoral actual.

Dixit
"Não quer dizer que o pinhal não vá ser pinhal. O pinhal vai ser pinhal e só é pinhal se tiver pinheiro. Mas, para nós termos um bom pinhal e um bom pinheiro que seja, também ele, resistente ao fogo, é preciso que este pinhal não seja só de pinheiro".
António Costa

Semanada
 Em 2017, registaram-se mais 24 mil mortes do que nascimentos e a população portuguesa está a encolher há nove anos consecutivos  os tempos de espera por consultas da especialidade em algumas unidades do Serviço Nacional de Saúde chega a ultrapassar os quatro anos  de acordo com o gabinete de estatísticas da UE, as maiores dívidas públicas são as da Grécia (177,4% do PIB), Itália (134,1%) e Portugal (130,8% do PIB)  a Direcção-Geral do Orçamento cativou 100% das verbas do Turismo do Norte, colocando em risco o pagamento de salários e ameaçando fechar os postos do aeroporto e do centro do Porto  a Associação Nacional dos Municípios diz que o plano do ministro Eduardo Cabrita, de limpar matas em dois meses, "não é exequível"; em 2017, Marcelo Rebelo de Sousa teve mais tempo de presença nos espaços informativos das televisões do que Cavaco e Sócrates juntos dez anos antes  um estudo revelado esta semana indica que em Portugal existem cerca de 48 mil esquizofrénicos, 16% dos quais sem qualquer acompanhamento médico  um estudo do ACP indica que 80% dos portugueses utilizam o automóvel próprio em deslocações para o trabalho  a DECO recebeu 405 mil queixas em 2017, 80% delas terminaram a favor do consumidor e o sector das telecomunicações é o principal alvo de reclamações.

Folhear
A Monocle de Fevereiro tem o tema do futuro dos "media" na capa e inclui diversos artigos interessantes sobre o assunto. A Monocle, que preserva ciosamente a sua existência na edição impressa, que não é disponibilizada na net, que não tem site com conteúdos da revista, tem em paralelo uma intensa e diversa actividade digital como uma rádio online, uma área vídeo com numerosos pequenos filmes entre o documentário e a informação, além de diversas "newsletters" digitais. No editorial, Tyler Brûlé defende a sua ausência de plataformas como o Instagram porque considera que as marcas de comunicação não devem revelar demasiado sobre elas próprias. O problema com as redes sociais, sublinha, é que o facto de estarem constantemente activas obriga a dizer mais do que aquilo que muitas vezes se pretende. Outros temas desta edição: o "portfolio" de moda é inteiramente fotografado no Restelo, parte dele na zona comercial junto ao Careca; e existe um artigo sobre a recuperação do antigo cinema Odéon para Hotel e restaurante com incorrecções factuais - a mais humorística das quais é dizer que Salazar frequentava o cinema com "a sua mulher e netos" - enfim, vai para o rol de anedotas daquilo que correspondentes mal informados são capazes de escrever. Muito bom, o suplemento patrocinado dedicado à importância do design na Lufthansa.

Não gosto
Um ano depois de ter sido detectado um problema informático que omitiu dados sobre o apagão das offshores, envolvendo informação sobre dez mil milhões de euros, as Finanças não dizem se há investigação aberta ou responsáveis apurados e a justiça não constituiu arguidos.

Gosto
Há quatro portugueses entre os jovens mais brilhantes da União Europeia, segundo a revista Forbes: o bailarino Marcelino Sambé, que está no Royal Ballet de Londres, as empreendedoras Filipa Neto e Lara Vidreiro, da Chic By Choice, na área do Comércio Electrónico, e Francisco Rodrigues dos Santos, líder da Juventude Popular, na categoria Direito e Política.

Ver
Até domingo, 28 de Janeiro, ainda pode ver uma das últimas representações da versão de "Sonho De Uma Noite de Verão", a comédia romântica de Shakespeare escrita no final do século XVI, numa versão da produtora teatral Espaço Em Branco com encenação de LuÍs Moreira. Destaco a adaptação do texto, a partir de uma tradução de Fernando Villas Boas, que mantém o espírito de Shakespeare bem ajustado a esta época, sem perder o enquadramento original. O trabalho de todos os actores é muito bom. Como Luís Moreira faz questão de fazer notar no programa do espectáculo, o motor do texto é o ciúme e a tensão que ele cria na relação entre personagens. Mais não digo, esta peça, nesta encenação, merece ser vista e está no Teatro do Bairro, rua Luz Soriano 63. Sexta e sábado às 21h30, domingo às 17h00. Reservas: espacoembranco.teatro@gmail.com ou 916 911 100. Já agora, a companhia Espaço em Branco não é subsidiada e as representações têm estado cheias.

Outras sugestões: em Matosinhos, a galeria-livraria O Manifesto (Rua França Junior 1) apresenta, até 31 de Março, "Coming Home", de David Guttenfelder, um importante fotógrafo norte-americano que mostra imagens da Coreia do Norte feitas durante os anos em que lá foi correspondente da Associated Press e, depois, do seu país, os Estados Unidos, quando regressou ao fim de 20 anos no estrangeiro. Todas as fotografias foram feitas com smartphone e vale a pena seguir o seu Instagram em dguttenfelder.

Ouvir
Numa recente leitura online da revista de jazz Downbeat, descobri "Directions", um disco assinado por João Barradas na editora nova-iorquina Inner Circle Music. E quem é João Barradas? Ribatejano, natural de Porto Alto, a fazer agora 26 anos e já com uma carreira longa, que incluiu formação na área da música clássica e do jazz, João Barradas é um dos mais conceituados e reconhecidos acordeonistas europeus. Em 2016, gravou, para a Inner Circle Music, o seu primeiro álbum enquanto líder - "Directions", que teve produção de Greg Osby e contou com as participações de Gil Goldstein e Sara Serpa. O grupo é formado por João Barradas (acordeão), André Fernandes (guitarra), João Paulo Esteves da Silva (piano), André Rosinha (contrabaixo) e Bruno Pedroso (bateria). O disco começa por uma faixa que é uma espécie de manifesto, pontuada pela voz de Greg Osby. O acordeão está sempre em destaque, desde a balada "Varazdin's Landscape" às sonoridades folk de "Amalgamat" (onde surge a voz de Sara Serpa) ou a evocação de Piazzolla e o seu novo tango em "The Red Badge Of Courage". Outro acordeonista, Gil Goldstein, faz um arrebatador dueto com Barradas em "Tiling For The Plane" e Greg Osby participa ainda, enquanto saxofonista, em duas faixas, "Unknown Identity" e "Ignorance", ambas a sublinhar a ligação de Barradas ao jazz e à música improvisada. Nas plataformas de streaming, pode não só ouvir este disco como o outro álbum gravado para a Inner Circle Music, "Home - An End For A New Beginning".

Arco da velha
Uma juíza de Beja solicitou ao hospital local uma perícia psiquiátrica a um homem falecido há dois anos e, da notificação, fazia parte a indicação
do cemitério onde está sepultado e a localização da campa.

Provar
Finalmente, fui ao andar gourmet do El Corte Inglés, no sétimo piso do edifício em Lisboa, onde só se chega depois de percorrer toda a restante loja. Resolvi deixar de lado as modas insensatas de nomes como Kiko Martins, as propostas geralmente sensatas de José Avillez e concentrei-me em ver o que ali soprava do lado de Espanha. Amante da Galiza, fui direito ao Atlántico, uma criação de Pepe Solla (uma estrela Michelin no Casa Solla, em Pontevedra) dedicada aos petiscos galegos com uma interpretação muito pessoal. O Atlántico está logo à saída das escadas rolantes e tem uma área confortável que contrasta com a amálgama barulhenta dos chefes da moda e, sobretudo, com o ruído do salão de festas mexicano ali instalado no meio. Salvaguardados da poluição, já bem sentados, constatei que a escolha do Atlántico tinha sido boa. Não se provaram os mexilhões com caril verde que são a marca de Solla, mas outros petiscos deram boa prova de si. No couvert, vinha bom pão, azeitonas levemente picantes e uma surpreendente manteiga com algas. A seguir, vieram uns bons croquetes de marisco, acabados de fazer, e umas zamburinhas (pequenas vieiras, habituais na Galiza), temperadas com um molho de azeite e alho, que estavam suculentas, o tempero q.b para não tirar o sabor de mar que as caracteriza. No fim, um atum com paprika agridoce e algas foi um remate perfeito para uma noite de petisco galego. A lista de vinhos inclui nos brancos portugueses um Alvarinho, um Douro, um Dão e um Alentejo, todos bem escolhidos, e quatro propostas da Galiza - distribuição que tem uma réplica semelhante nos tintos. Para a próxima, experimento as tapas de Aitor Ansorena, um embaixador da cozinha basca, com o seu Imanol, onde me dizem ter que experimentar alcachofras fritas.


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