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Opinião
15 de Setembro de 2017 às 09:30

A esquina do Rio

Depois de um período inicial de bom senso, que há uns tempos anda desaparecido, os concursos públicos têm vindo a transformar-se num mundo de opacidade com vários escalões.

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Semanada

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A Comissão Nacional de Eleições já recebeu 450 queixas por causa das autárquicas, 160 delas sobre a "neutralidade e imparcialidade das entidades públicas" l apesar de domingo ser o dia tradicional dos grandes jogos de futebol, a Comissão Nacional de Eleições desconhecia o facto e mostrou-se surpreendida pela realização de um Sporting-Porto no dia das autárquicas l segundo a Marktest, em Agosto, 52% do tráfego na internet em Portugal foi gerado por PC (desktop ou portáteis) e 48% por equipamentos móveis, o que representa um aumento de dez pontos percentuais na utilização de smartphones e uma diminuição igual na de PC, em relação ao mesmo período do ano anterior l das dez câmaras mais endividadas, oito – Fornos de Algodres, Nordeste, Cartaxo, Vila Franca do Campo, Portimão, Nazaré, Alfândega da Fé e Paços de Ferreira – estão sob a alçada do PS e duas – Fundão e Vila Real de Santo António – do PSD l o número de jovens entre os 15 e os 29 anos que não trabalham nem estudam passou de 11 para 20,8% entre 2000 e 2016 l mais de metade da população activa portuguesa não tem sequer o ensino secundário; 14 mil enfermeiros saíram de Portugal desde 2010 l um julgamento sobre corrupção no futebol, envolvendo manipulação de jogos sobre os quais eram feitas apostas, está em risco de nulidade por falta de traduções l nos últimos seis meses, os portugueses gastaram 1,5 mil milhões de euros em apostas e jogos diversos.

Back to basics

A qualidade é mais importante que a quantidade. Steve Jobs


Malabarismos


Depois de um período inicial de bom senso, que há uns tempos anda desaparecido, os concursos públicos têm vindo a transformar-se num mundo de opacidade com vários escalões. Alguns escritórios de advogados especializaram-se em criar cadernos de encargos que são uma espécie de encomenda feita à medida para determinado interessado, obviamente a mando da entidade que organiza a consulta, sobrepondo habilidades jurídicas a questões técnicas básicas.

Noutros casos, as entidades que lançam os concursos resolvem sobrepor-se à apreciação técnica dos júris que nomearam e fomentam justificativos jurídicos, devidamente fundamentados em extensos pareceres que são elaborados de forma a encaminhar a decisão numa determinada direcção, mesmo que não seja aquela que melhor dá resposta técnica aos objectivos do concurso.

Tornou-se rotina não haver coerência na apreciação das propostas, na interpretação das regras, não há sequer respeito pelo trabalho desenvolvido. O que nuns casos se aceita em relação a um concorrente, não se aceita noutros casos; o que se tornou regra numa série de concursos passa a ser penalizado noutros. Por isso, conheço cada vez mais gente que hesita apresentar propostas a concursos públicos. É mais um sinal da degradação do Estado.  


Dixit

Não sei se alguém entrou em Tancos, no limite pode não ter havido furto. José Alberto Azeredo Lopes, Teoricamente, ministro da Defesa.

Gosto

A encenação de "A Viúva Alegre", que decorre em Paris na Ópera da Bastilha, tem cenografia de António Lagarto. 

Não gosto

O planeta perde 15 mil milhões de árvores por ano.

Arco da velha

Numa época de crescente especulação imobiliária em Lisboa, Fernando Medina conseguiu inverter a tendência – vendeu o apartamento que tinha há dez anos com um ganho de 36% e comprou outro por menos 23% do que a vendedora tinha pago por ele, também há dez anos. É o que se chama ter acesso a boas oportunidades.


Folhear


O British Journal of Photography foi fundado em 1854 e inovação e invenção são duas palavras que podem caracterizar a revista. Uma das melhores demonstrações desse espírito é a iniciativa "Portrait of Britain", que este ano promoveu pela segunda vez. A ideia é simples: a revista pede aos seus leitores para enviarem imagens que mostrem a multiplicidade e a diversidade da sociedade britânica. Este ano, enviaram oito mil imagens. A partir destes envios são seleccionadas cem fotografias que depois são exibidas, durante o mês de Setembro, numa rede de anúncios de exterior digitais, múpis da JC Decaux, em estações de transportes públicos, centros comerciais e nas ruas em todo o Reino Unido. Na sua edição de Setembro, a revista mostra uma selecção dos melhores trabalhos e, acima de tudo, procura mostrar cidadãos vulgares no seu dia-a-dia, fotografados por outros cidadãos. Ainda na edição de Setembro pode ser visto um trabalho sobre alguns editores de fotografia cujo trabalho é escolher quem vai fazer as imagens de que necessitam e que critérios presidem às suas escolhas. Há também dois portefólios muito interessantes – Mathieu Pernot mostra o resultado do trabalho feito ao longo de duas décadas com uma família romena que emigrou para o Sul de França e Rob Hornstra fala de "Man Next Door", um trabalho sobre o seu vizinho, que ele documentou fotograficamente ao longo de uma década. Finalmente, outro destaque da edição é uma entrevista a Quentin Bajac, o novo responsável pela fotografia no MoMA de Nova Iorque. A revista já está à venda em Lisboa e a edição digital pode ser adquirida em www.bjp-online.com.

Ver

Esta semana, todo o destaque vai para o Porto. Em primeiro lugar, Serralves, onde está, até 7 de Janeiro, a exposição "Jorge Pinheiro: D'après Fibonacci e as coisas lá fora" (na imagem). Apresentada como um projecto de Pedro Cabrita Reis com o próprio Jorge Pinheiro, a exposição reúne desenhos, pinturas e esculturas do autor e a sua instalação foi concebida pelo arquitecto Eduardo Souto de Moura. O diálogo estreito entre Jorge Pinheiro e Cabrita Reis conduziu à selecção de 80 obras datadas de períodos específicos do percurso de Pinheiro, desde os anos 1960 até ao presente. A exposição inclui ainda uma nova escultura produzida especialmente para ser mostrada em Serralves. O catálogo que acompanha a exposição reproduz, além das obras expostas em Serralves, os cerca de 90 desenhos que integram uma exposição na Fundação Carmona e Costa, em Lisboa,
a partir de 23 de Setembro, contextualizadas por uma entrevista de Jorge Pinheiro conduzida por Cabrita Reis e um ensaio do poeta e crítico de arte João Miguel Fernandes Jorge.

Ainda no Porto, o Centro Português de Fotografia (na antiga Cadeia da Relação) lança um desafio: Quem é que já viu uma prisão do lado de dentro? Assim surgiu "the portuguese prison photo project",
que procura transmitir uma visão das prisões contemporâneas e históricas de Portugal. A exposição é feita a partir de imagens contemporâneas captadas por dois fotógrafos, o português Luís Barbosa e o suíço Peter M. Schulthess, em 2016 e 2017, complementada por imagens históricas pertencentes aos arquivos nacionais. Até 3 de Dezembro. Podem ver várias das imagens expostas em www.prisonphotoproject.pt. Outras sugestões: na Galeria João Esteves de Oliveira (Rua Ivens 38), a exposição Ouvidos No Deserto, trabalhos em papel de Marco Pires; na Fundação Gulbenkian, vídeos, fotografias e serigrafias de Marie José Burki.

Ouvir

Tori Amos leva quinze discos de originais no activo, desde que começou a sua carreira discográfica em 1988. Depois de, em 2014, ter lançado o belíssimo "Unrepentant Geraldines", Amos regressa agora com "Native Invider", basicamente construído como reflexo da América que está a desenhar-se depois da vitória de Donald Trump nas presidenciais. Mas, além de uma visão sobre os Estados Unidos, "Native Invider" aborda também, como é tão presente na obra de Tori Amos, a sua relação com a vida e a dor. Amos conta que a ideia deste disco lhe começou a surgir numa viagem às Smoky Mountains, na Carolina do Norte, de onde a sua família é originária, e que a parte mais pessoal tem que ver com a sua própria mãe, que hoje tem dificuldade em comunicar com o mundo exterior.

Incomodada com o estado da nação, entristecida pela decadência física da sua mãe, Tori Amos não poupa palavras neste disco e exprime com intensidade as suas emoções. "Native Invider" tem 15 faixas e algumas das mais marcantes seguem a linha das intensas baladas de voz e piano que são a imagem de marca de Tori Amos – "Reindeer King" (talvez a mais arrebatadora), "Bang" e "Mary’s Eyes". "Broken Arrow" e "Up The Creek" mostram uma incursão inesperada nas influências da música country, e "Wildwood" e "Wings" somam considerações políticas com emoções pessoais, assim como "Breakway" ou "Chocolate Song". O disco está disponível no Spotify.

Provar

Há uns tempos que andava com curiosidade de experimentar a Enoteca de Belém, local que me era recomendado por diversos amigos. O local é pequeno, tem poucas mesas, fica numa pequena travessa perto dos Pastéis de Belém, na mesma rua da Galeria da Ermida da Nossa Senhora da Conceição. Aliás, a Galeria e a Enoteca são parte do projecto Travessa da Ermida, que quer combinar arte com gastronomia e provas de vinhos. Quando se entra na Enoteca, a primeira coisa que salta à vista é a variedade de bons vinhos expostos, em prateleiras que vão até ao cimo das paredes – os clientes são convidados a usar uns binóculos de ópera que a casa cede para lerem os rótulos das garrafas mais distantes.

A casa tem cerca de uma centena de vinhos e muitos deles podem ser servidos a copo, proporcionando experiências diferentes ao longo da refeição. A cozinha é de inspiração portuguesa com confecção contemporânea – dispensavam-se as espumas da moda. Nesta incursão, provou-se com agrado um atum fresquíssimo, no ponto, sobre uma cama de brócolos, anchovas e camarão e um lombo de garoupa muito bem confeccionado com arroz de amêijoas em molho Bulhão Pato. O chefe ofereceu um "amuse-bouche" interessante – uma mini-salada de polvo servida em cone e o couvert inclui uma belíssima manteiga de ovelha. O vinho escolhido foi um branco Casal Santa Maria, de Colares, que estava impecável – embora de início o serviço de vinho fosse desatento. Outras sugestões possíveis são polvo com batata-doce, chouriço e molho de ervas ou, na carne, um magret de pato com risotto de cogumelos. O espaço reduzido e a invasão turística aconselham a que se faça reserva. Enoteca de Belém, Travessa do Marta Pinto, 6, Lisboa, todos os dias, das 13 às 23, telefone 213 631 511.
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