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Opinião
Manuel Falcão - Jornalista 11 de Agosto de 2017 às 11:10

A esquina do Rio

Há dias que ando a pensar nisto: aproveitando o facto de tanta gente ter uma máquina fotográfica no bolso, no smartphone, seria interessante que alguma edição digital de um título de informação desafiasse os seus leitores a fotografarem as rotundas das suas terras, nesta época de pré-eleições e eleições, para fazer um levantamento dos cartazes de propaganda dos candidatos autárquicos

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Back to basics
Políticos, prédios feios e prostitutas tornam-se respeitáveis se se mantiverem durante bastante tempo.
John Houston
No filme "Chinatown", de Roman Polanski

As rotundas
Há dias que ando a pensar nisto: aproveitando o facto de tanta gente ter uma máquina fotográfica no bolso, no smartphone, seria interessante que alguma edição digital de um título de informação desafiasse os seus leitores a fotografarem as rotundas das suas terras, nesta época de pré-eleições e eleições, para fazer um levantamento dos cartazes de propaganda dos candidatos autárquicos. A propaganda política autárquica é um mundo fascinante, em termos da mensagem que aparece escrita, em termos das fotografias dos candidatos utilizadas nos cartazes, em termos de grafismo. Nesta altura, as rotundas de cidades e vilas são um manancial de recolha de slogans, de percepção do estilo e da estética dos partidos e dos candidatos. O objectivo, meramente documental, repito, seria recolher o testemunho de um determinado ano, numa determinada conjuntura política, num determinado contexto local. As eleições autárquicas fascinam-me, desde logo porque são as únicas onde podem existir candidaturas independentes das organizações partidárias tradicionais, mas também porque são aquelas onde a imposição centralizada de normas de propaganda dos partidos se tornam mais difíceis de assegurar. Como em todas as coisas relacionadas com comunicação - e a propaganda política é uma forma de comunicação -, haverá bons e maus exemplos. Basta, aliás, andar nas rotundas da capital para perceber isso: os dois maiores partidos, PS e PSD, têm exibido até agora em Lisboa conceitos de "outdoor" no mínimo polémicos e, para ser brando, duvidosos. A propaganda é uma actividade fundamental da acção política, por isso, além da recolha de colecções de material de campanha, como a equipa de voluntários de Pacheco Pereira vem realizando, era interessante promover a recolha das imagens das rotundas - o único local onde, na maior parte das vezes, as diversas candidaturas cruzam mensagens e as suas imagens se confrontam. As rotundas são o "showroom" da política portuguesa, não é?

Dixit
As fusões e aquisições só são verdade no dia em que se anunciam. Até lá, são sempre uma mentira dos jornais.
António Costa director do jornal online Eco

Semanada
 Portugal está entre os países europeus que menos investem na Cultura, sendo o quinto país que menor percentagem do produto aplica nestes domínios  só a Grécia, Itália, Reino Unido (todos com 0,7% do PIB) e Irlanda (0,6%) investem menos do que Portugal  o Tribunal de Contas considerou-se limitado na sua capacidade de controlar a execução orçamental da administração central porque os registos orçamentais não correspondem ao dinheiro reportado como tendo entrado e saído da conta do Tesouro  ao todo, há mais de 1,7 milhões de portugueses emigrados pela Europa  cerca de 907 mil são emigrantes de primeira geração e outros 812 mil são de segunda geração  segundo o INE, existem duas gerações de emigrantes de primeira geração, a dos 25 aos 39 anos e a dos 55 aos 64 anos, e a proporção de emigrantes mais jovens com ensino superior é cerca de 10 vezes a dos emigrantes mais velhos  entre os mais velhos, a percentagem dos que têm ensino superior é de 2,7%  já entre os mais jovens, é de 26,3%; nos últimos 25 anos, o número de jovens entre os 15 e os 24 anos diminuiu em quase todos os concelhos  no total, o país perdeu 514 mil jovens entre os 15 e os 24 anos, passando de 1 milhão e 611 mil jovens em 1991 para 1 milhão e 97 mil em 2016  apenas em 19 dos 308 concelhos do país este número de jovens é hoje superior ao observado em 1991  os concelhos mais rejuvenescidos do país são os das Regiões Autónomas  o investimento captado através dos vistos "gold" subiu 14,8%, nos sete primeiros meses do ano, face a igual período do ano passado, para 656 milhões de euros.

Ver
Com muitas das galerias encerradas em Agosto, recomendo uma visita a duas exposições no Museu Nacional de Arte Antiga (Rua das Janelas Verdes), destacando duas exposições: a primeira mostra uma peça extraordinária, a Custódia da Igreja de Santo Inácio de Bogotá (na imagem), um tesouro da arte barroca mundial, encomendada em 1700 pela Companhia de Jesus. A peça é conhecida pelo nome de "La Lechuga", devido ao verde intenso que lhe é dado pelas 1486 esmeraldas que ostenta, além de um topázio brasileiro, 62 pérolas de Curaçau, 168 ametistas da Índia, 28 diamantes africanos, 13 rubis de Ceilão (Sri Lanka) e uma safira do Reino de Sião (hoje, Tailândia); um total de 1.759 pedras preciosas de altíssima qualidade, encastradas numa peça de ouro de 18 quilates. A peça está exposta até 3 de Setembro na Sala do Tecto Pintado, no piso 1 do Museu; a outra exposição do MNAA é "Madonna - Tesouros dos Museus do Vaticano" e fica até 10 de Setembro na Galeria de Exposições temporárias. Esta mostra apresenta, pela primeira vez em Portugal, um conjunto de obras das famosas colecções dos Museus do Vaticano com pinturas de primitivos italianos (Taddeo di Bartolo, Sano di Pietro, Fra Angelico), de grandes mestres do Renascimento e do Barroco (Rafael, Pinturicchio, Salviati, Pietro da Cortona, Barocci), além de tapeçarias e códices iluminados do acervo da Biblioteca Apostólica Vaticana. Se, no fim, quiser um refresco, aproveite a esplanada no jardim com vista para o Tejo. É uma pena fechar tão cedo, roubando os prazeres do fim da tarde.

Folhear
Uma boa surpresa deste Verão é a Casa Alegria, um restaurante aberto no primeiro trimestre deste ano na Aldeia do Meco por um casal de franceses: Karine Guichard dirige as operações na sala e o seu marido Olivier superintende na cozinha. A partir de um local que já teve várias utilizações ao longo dos últimos anos, os novos proprietários criaram um ambiente informal, com vários espaços entre zonas de interior e exterior, aproveitando móveis antigos de várias proveniências. O serviço é descontraído, mas eficaz e simpático, a decoração é acolhedora, quase caseira, com vários recantos, e a clientela reflecte bem o ambiente do Meco. Para entrada, provaram-se uns pastéis de bacalhau, bem feitos, mas estão disponíveis petiscos como bruschetta de sardinha ou brie no forno com orégãos frescos. A seguir vieram coisas mais sérias como um caril de gambas e um caril de legumes, ambos de inspiração tailandesa, um pato confitado honesto e um lombinho de porco com cebola caramelizada e molho de Porto apreciado pela comensal que o escolheu. A cozinha é correcta, com boa qualidade na matéria-prima e cuidado na execução. Finalizou-se com uma boa mousse de chocolate negro sem açúcar e, do outro lado da mesa, com um cheesecake de frutos silvestres, que mereceu aplauso. Aberta para refeições, petiscos e aperitivos de fim de tarde, a Casa Alegria é bem diferente, no ambiente e ementa, dos restaurantes tradicionais do Meco: menos barulho, menos confusão. E é engraçado como um casal de franceses escolheu Casa Alegria para nome e propõe de entrada belos pastéis de bacalhau. Fecha às segundas. Casa Alegria, Rua do Comércio 18, Aldeia do Meco, telefones 214 051 343 ou 932 280 176.

Gosto
Segundo a Marktest, 6,9 milhões de portugueses contactam com a imprensa, seja nas edições em papel, seja no meio digital - 80,2% dos residentes no continente com 15 ou mais anos.

Não gosto
Registam-se mensalmente cerca de 100 ataques de cães perigosos a pessoas. 

Ouvir
"Zaire 74 - The African Artists" é um disco com uma história fantástica - trata-se da gravação do espectáculo montado em paralelo ao célebre combate de boxe entre Muhammad Ali (Cassius Clay) e George Foreman, realizado no dia 30 de Outubro de 1974, em Kinshasa. No oitavo round, Ali arrumou Foreman com um KO, reconquistando o seu título de campeão do mundo. O festival de música que decorreu em paralelo, sob os auspícios do regime de Mobutu e de um promotor habilidoso, Don King, incluía músicos e artistas americanos populares à época e um naipe excepcional de artistas africanos. Este disco recolhe e divulga, finalmente, a actuação destes últimos, nomeadamente Miriam Makeba, Franco T.P.O.K. Jazz e o seu rival Tabu Ley Rochereau, Orchestre Stukas, Abumba Masikini e a sua irmã Abebi, rainha do soukous. Trata-se de um duplo álbum que recorda actuações fantásticas, uma montra de afro-funk, secções de metais arrebatadoras e contagiantes ritmos de soul e rumba, cruzamentos de acid rock, heavy metal e música africana. É o retrato de uma época musical única numa circunstância especial. Uma descoberta. Disponível no Spotify. 

Arco da velha
A rede SIRESP colapsou praticamente todos os anos desde que foi criada em 2006 e, desde 2010, teve falhas de funcionamento em todas as situações de emergência reportadas - apesar disso, o Estado nunca avançou com nenhuma queixa ou processo judicial contra a empresa que opera a rede, cujo desempenho não é fiscalizado há sete anos. 

Provar
Uma das mais interessantes revistas de fotografia actuais é o British Journal Of Photography (BJP em abreviado). Cada edição é dominada por um tema - e recentemente estiveram em destaque nomes de novos fotógrafos a seguir com atenção, seja no campo comercial, seja na expressão artística individual (Ones To Watch - The Talent Issue, edição de Junho), trabalhos de narrativa fotográfica documental (Truth Or Fiction?, edição de Julho), um número especial dedicado às mais relevantes escolas e cursos europeus que se dedicam ao ensino da fotografia (Look & Learn, edição de Agosto). Nesta edição de Setembro, sob o tema Invisible World, o BJP mostra ensaios fotográficos sobre realidades quase ignoradas, desde uma ilha no Pacífico onde um terço da população sofre de uma rara forma de cegueira que não permite distinguir as cores, passando por um documento sobre os conflitos étnicos na Índia Central até à degradação ambiental em vastos territórios da ex-União Soviética. Além disso, merece destaque um trabalho sobre os Rencontres d'Arles, além de uma agenda de 10 importantes festivais de fotografia que acontecem em Setembro - desde o novíssimo que se prepara em Oxford até aos Encontros da Imagem, de Braga. O número de Setembro do BJP inclui ainda uma conversa com o fotógrafo norte-americano Joel Meyerowitz sobre a forma como ele observa e se inspira, e ainda sobre as razões que o levaram a sair de Nova Iorque e a ir viver para a Toscânia. Meyerowitz é um dos fotógrafos em destaque na edição deste ano dos Rencontres d'Arles, que terminam a 27 de Agosto.


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