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21 de Abril de 2017 às 09:56

A esquina do Rio

Em 1578, D.Sebastião foi derrotado em Marrocos, na Batalha de Alcácer-Quibir, terminando aí o período da expansão portuguesa, iniciado com a vitória na Batalha de Aljubarrota.

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Numa época de mentiras generalizadas, dizer a verdade é um acto revolucionário.
George Orwell

Alcácer-Quibir
Em 1578, D.Sebastião foi derrotado em Marrocos, na Batalha de Alcácer-Quibir, terminando aí o período da expansão portuguesa, iniciado com a vitória na Batalha de Aljubarrota. A Dinastia de Avis findou, Portugal perdeu a independência durante 60 anos. Quando olho para o que vivemos agora, é impossível não encontrar paralelos. Depois das desgraças ocorridas na política, nas empresas e no sistema financeiro desde o início do século, temo chegar à conclusão de que estamos perante um novo Alcácer-Quibir, onde os exércitos dos xeques marroquinos foram substituídos pela corrupção e pelas manigâncias que venceram e nos afundaram. Da mesma forma que aconteceu há mais de quatro séculos, estamos a ser transformados numa mera região de Espanha, agora pelas empresas internacionais, pela banca europeia e pelo conluio urdido em Bruxelas com perseverança e afinco. Corremos o risco de ficar irrelevantes. O início do século marcou o novo fim da ilusão e regressámos à geografia do pequeno rectângulo, que agora estamos a despachar em retalhos de paisagem e de sol - devemos ser dos poucos a desejar que o aquecimento global nos continue a dar calor a rodos. Os recursos naturais da paisagem são o nosso nicho de negócio e vendemos o território a patacas, afastando os locais e dando a primazia aos forasteiros. Tratamos o presente como um aviário de galinhas poedeiras de ovos de ouro, que vamos servindo de cabidela sem cuidar do dia de amanhã.

Dixit
Ninguém pode fingir que Portugal é um oásis sem corrupção, sem gestão danosa, sem tráfico de influências e sem grande criminalidade de colarinho branco.
Nuno Garoupa, num artigo intitulado "Falar de corrupção em Portugal é cada vez mais complicado".

Semanada
 Segundo a Direcção-geral da Saúde, cerca de 95 mil jovens não estão vacinados contra o sarampo  na sequência da exoneração do responsável pelo departamento que investiga acidentes aéreos (por ter criticado a falta de meios de que dispunha), o Governo nomeou para esse lugar um especialista em incidentes ferroviários  há apenas dois técnicos especialistas em aeronaves nesse departamento, mais um do que em comboios  os portugueses descarregam uma média de 18 aplicações por mês para os seus smartphones e tablets  78,2% dos portugueses consideram que os dados mais insubstituíveis que têm nos seus telemóveis são as fotografias, elas são aquilo que mais temem perder  segundo a Marktest, em Março, cerca de metade dos acessos aos sites mais relevantes foram feitos através de dispositivos móveis  no que toca a consumo de vinho, Portugal está no topo da lista, com um consumo de 54 litros por pessoa e por ano, seguindo-se França (51,8 litros), Itália (41,5 litros) Suécia (41 litros), Suíça (40,3 litros), Bélgica e Argentina (31,6 litros em cada país), Alemanha (29,3 litros) e Austrália (27 litros)  há 500 mil analfabetos em Portugal  o número de patentes de invenções registadas anualmente por portugueses passou de 200 para mais de mil no espaço de uma década  12% da dívida directa do Estado está nas mãos das famílias que apostaram nos Certificados do Tesouro Poupança Mais  dois terços das pessoas que mudaram de sexo no Registo Civil em 2016 tinham entre 18 e 29 anos  Mário Nogueira voltou a organizar uma manifestação de rua dos professores  o viaduto de Alcântara continua encerrado ao trânsito e Manuel Salgado continua à procura do camião-fantasma.

Ver
Durante nove anos, o fotojornalista português João Pina (na imagem) trabalhou em "Operação Condor", o ensaio fotográfico e correspondente exposição, que desde 20 de Abril e até 18 de Julho é mostrado pela primeira vez em Portugal, no Torreão Poente do Terreiro do Paço. Inicialmente mostrada em São Paulo, em 2014, esta exposição sobre a repressão nas ditaduras sul-americanas foi financiada por um processo de "crowdfunding", que recebeu contribuições de pessoas de 20 países diferentes. João Pina, que continua a dividir o seu tempo entre a América do Sul e Portugal, venceu este ano o prémio Estação Imagem, com a reportagem "Rio de Janeiro - Preço pelos Eventos Desportivos", através da qual tenta mostrar as consequências que os Jogos Olímpicos de 2016 e o Mundial de Futebol de 2014 tiveram naquela cidade. Publicado em jornais e revistas de referência em todo o mundo, João Pina é um dos nomes incontornáveis da fotografia portuguesa contemporânea.

Gosto
A Cinemateca Júnior celebra dez anos de actividade, a funcionar no Palácio Foz, com ateliês, oficinas de cinema e imagem em movimento, e, claro, sessões de cinema.

Não gosto
Do desprezo pelas recomendações de vacinação a crianças.

Folhear
Desde pequeno que me dedico a fazer colecções. Já passei por várias, de selos a filmes de James Bond, borboletas (ai o PAN…) ou construções de Legos. Ao fim destes anos, há duas que permanecem galopantes: discos e livros. A coisa causa-me alguns problemas de espaço, mas há um apelo irresistível quando uma editora decide lançar uma nova colecção de livros, ainda por cima com um toque de novidade. A questão da novidade, para mim, não se coloca tanto nos textos, mas na forma como eles são passados a papel. O caso desta semana refere-se a uma obra clássica - "Robinson Crusoé", de Daniel Defoe, a versão possível de um Indiana Jones de 1719, que foi a sua data de edição original. A ideia de Manuel S. Fonseca e da sua editora Guerra & Paz nesta nova colecção é adaptar, em versões resumidas e de escrita contemporânea, os grandes romances clássicos, versões feitas para um público dos 9 aos 14 anos. Muito acertadamente, a colecção intitula-se "Os Livros Estão Loucos" e, além de "Robinson Crusoé", irá ainda atrever-se este ano no "Romeu e Julieta" de Shakespeare, na "Alice no País das Maravilhas" de Lewis Carroll e no aventureiro "Os Três Mosqueteiros" de Alexandre Dumas. Num livro, o aspecto gráfico é determinante e Ilídio Vasco faz, mais uma vez, maravilhas entre os tipos utilizados, a intromissão de destaques ou de ilustrações. A adaptação do texto vive de um intercalado diálogo imaginário entre dois leitores, irmãos, que se deslumbram com o evoluir da história e das aventuras. Delicioso. E parece-me eficaz para conseguir que haja mais gente a ler estes clássicos. Cá para mim, o tal Plano Nacional de Leitura devia ter disto.

Arco da velha
O Metropolitano de Lisboa retirou parte de um painel de azulejos da pintora Gracinda Candeias, na estação do Martim Moniz, sem comunicação prévia à autora nem a sua autorização, e a administração da empresa afirma desconhecer a situação.

Ouvir
Em 1963, Astrud Gilberto foi para os Estados Unidos com João Gilberto e tornou-se conhecida no mundo do jazz com o agora clássico álbum "Getz/Gilberto", onde cantou pela primeira vez canções do seu marido, com arranjos de Tom Jobim. A sua versão de "The Girl From Ipanema" tornou-se num clássico instantâneo e criou o bossa-jazz. Avancemos agora duas décadas: Eliane Elias, que tinha três anos quando Astrud foi para os Estados Unidos, decidiu viver o sonho americano e lá gravou um disco menor em 1983. Mas não desistiu. Ao longo do tempo, foi percebendo que ser brasileira era uma vantagem e, na companhia dos músicos norte-americanos com quem conviveu e trabalhou, foi evoluindo até "Made In Brazil", o disco que ganhou o Grammy de Latin Jazz de 2016. O novo "Dance Of Time", agora editado, prossegue esse trilho, misturando temas clássicos brasileiros com composições inéditas e standards de jazz. Em abono da verdade, deve dizer-se que Eliane Elias tem a seu favor a forma como toca piano, e que é uma das suas grandes mais-valias. É uma canção de João Gilberto, "O Pato", que abre de forma irresistível este disco, mas é justo elogiar "Little Paradise", um brilhante original de Eliane, assim como a sua versão, inesperada, de "Speak Low", um tema de Kurt Weill. O disco termina com um dueto com Toquinho em "Pra Não Chorar/ Not To Cry", um tema que ele compôs para Eliane, tinha ela 18 aninhos. E, finalmente, também gosto do "Na Batucada da Vida", de Ary Barroso e Luiz Peixoto, uma bela canção de fim de noite. CD Concord, já disponível em Portugal.

Provar
A focaccia é uma especialidade italiana, um pão achatado que ao ir ao forno é salpicado com rosmaninho ou alecrim, sal grosso e azeite. A farinha usada na sua confecção tem bastante glúten e dá-lhe uma consistência forte. A focaccia pode ser servida para acompanhar uma refeição ou para aperitivos, com azeite, carnes frias ou legumes salteados. Finalmente, também pode servir para fazer uma bela sanduíche, com um sabor muito próprio e uma textura rica. Não é muito fácil encontrar uma boa focaccia em Lisboa e um restaurante de um "food corner", de um centro comercial, parece o mais improvável local para isso acontecer. E, no entanto, a focaccia servida no Focca, do Centro Comercial Picoas Plaza, é uma das melhores que ultimamente me foi dada a provar. A casa usa a receita tradicional, faz as suas fornadas diárias e propõe uma série de sanduíches de focaccia. Numa visita recente, provei uma de mortadela trufada, com cebola confitada, alface e molho de mostarda. Ao lado, um cliente deliciava-se com uma de carne de vitela assada com mozarella e outro, ainda, com uma de presunto de parma, figo e mel. Na lista existe também uma de pernil assado e outra de legumes grelhados, marinados em ervas aromáticas. Eu achei a minha de mortadela trufada uma delícia, que acompanhei com um copo de vinho tinto Gláudio. As sanduíches de focaccia oscilam entre os 5,30€ e os 6,10€. Cabe dizer que o serviço é muito simpático, que existem várias saladas e, ao fim da tarde, o local proporciona uns petiscos e aperitivos com pedaços de focaccia, queijo, enchidos e várias propostas de vinho a copo. O lema da casa é "una buona focaccia è como un abbracio forte". Mais informações na página da Focca no Facebook ou em www.focca.pt . Picoas Plaza, Rua Tomás Ribeiro 65, 912 756 414.


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