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04 de Março de 2016 às 10:26

A esquina do Rio

Há uma enorme diferença entre gerir instituições culturais e programar a sua actividade para os públicos que cada uma atinge ou pretende atingir.

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Os jornais não se podem preocupar em ter amigos.
Joseph Pulitzer

Cultura
Há uma enorme diferença entre gerir instituições culturais e programar a sua actividade para os públicos que cada uma atinge ou pretende atingir. A confusão vem de há muito e atravessa a manada que nem um raio em noite de trovoada seca. Por cá, o azar começa muitas vezes logo nos ministros.

João Soares é um bom exemplo do problema: em vez de delinear uma estratégia para o seu largo sector - as instituições culturais e a comunicação (que inclui o audiovisual) -, deu apenas sinais de querer programar a discutível e débil colecção de Mirós para Serralves, ao mesmo tempo que vai distribuindo promessas de atenção a isto e aquilo, sem mostrar os meios que poderá usar para garantir que tanta atenção seja produtiva.

O seu consulado fica, para já, marcado mais por afastamentos - que noutros tempos alguns apelidariam de saneamentos - do que por propostas concretas. João Soares entrou no sector como um elefante se passeia numa loja de porcelanas. As suas demissões e nomeações reflectem mais uma preocupação de distribuir aliados e multiplicar iniciativas do que de criar uma linha coerente e integrada que junte peças - coisa que também fez em Lisboa quando foi vereador da Cultura.

A esse nível, João Soares padece do mesmo pecado que António Lamas: ambos gostam de controlar e de ter a última palavra. Estou à vontade no assunto: não alinho no muro de lamentações em torno de Lamas. Um dia, quando alguém contar a história verdadeira das coisas, se saberá quem apadrinhou a ideia de mudar o plano original do CCB, introduzindo a valência de ópera no Grande Auditório, que radicalmente desequilibrou o projecto arquitectónico original, deu uma machadada irrecuperável na acústica da sala, e foi responsável por uma grande parte do enorme desvio orçamental da obra. Se forem ver quem mandava no plano e acompanhava a construção, perceberão melhor o efeito destruidor da tendência de ser programador de gostos pessoais - e, no caso, pretendendo fazer tábua rasa do S. Carlos. Que fazia António Lamas à data? - Superintendia o organismo que tutelava a construção do CCB. Dele, apenas sei, pelo que me diz quem com ele trabalhou, que é um autocrata, incapaz de delegar, que concentra tudo em si mesmo. Quis, agora, no CCB onde em má hora voltou, reproduzir uma coisa que fez bem em Sintra, num contexto de recuperação de monumentos e ruínas, preconizando uma gestão integrada de instituições com programações autónomas na zona de Ajuda-Belém, abrindo o caminho a descaracterizar cada uma delas. Nunca concordei com esta ideia e deixei-o, aliás, escrito.

A posição de um ministro é dar orientações - se as souber dar, claro. Não é demitir porque não se simpatiza - como aconteceu agora no CCB, mas também no São Carlos. A ver vamos onde isto vai parar. Como se sabe, e agora se tem visto, dirigir é bem mais difícil do que mandar. Na Cultura, está a criar-se um Gulag. Em nome do antifascismo, claro, que de outra forma não podia ser. Uma palhaçada.

Semanada
• O ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, disse em Marrocos que o PS quer conquistar novo mandato governamental em 2019  Passos Coelho garantiu em Lisboa que o PSD está preparado para governar e admite voltar ao Governo mesmo sem eleições antecipadas  as avaliações de Bruxelas a Portugal vão continuar pelo menos até 2035, segundo dados do Eurogrupo  o Conselho das Finanças Públicas considera que existem "riscos importantes" no Orçamento do Estado e avalia como demasiado optimista a receita fiscal prevista  a dívida pública aumentou 3,34 milhões de euros em Janeiro, tendo atingido o total de 234 mil milhões de euros  nos últimos anos, encerraram mais de 10% das escolas portuguesas  a McDonald's anunciou que as refeições para crianças vão deixar de ter a indicação de que se destinam a rapazes ou raparigas, em função dos brinquedos que têm como brinde, para evitarem estimular a discriminação entre sexos  uma mulher de Chaves tentou matar o marido por este não a querer deixar ir jogar ao casino  o regresso às 35 horas semanais, a partir de Junho deste ano, vai custar ao Serviço Nacional de Saúde entre 28 a 40 milhões de euros  as vendas de automóveis em Portugal atingiram as 20.640 unidades em Fevereiro, o que corresponde a mais 23,4% do que as unidades vendidas no mesmo mês de 2015  68% dos utilizadores de telemóveis já possuem smartphones e a penetração destes equipamentos aumentou 89% relativamente ao observado em Abril de 2013.

Ver
Hoje estou em dia de contrariar os bem pensantes. Depois de ver o segundo episódio, aqui declaro gostar de "Vinyl", a série de Scorsese & Jagger, produzida pela HBO, que a TV Series está a exibir. Aceito que a coisa possa parecer fantasiosa, mas acreditem que, na época retratada, anos 70, a indústria discográfica era mesmo assim. Se achei o primeiro episódio, duplo, longo demais, achei o segundo com bom ritmo e certeiro. Vejo a série e adivinho alguns dos nomes reais que inspiraram os autores a criar aquelas personagens. "Empire", outra série sobre o mesmo tema, é apenas uma variante mais pobre, embora mais contemporânea, sobre a mesma história.

Gosto
De ter um Presidente que diga que a comunicação social é essencial para a democracia, como Marcelo Rebelo de Sousa fez esta semana - bem melhor que um Presidente que se gabava de não ler jornais, como Cavaco Silva.

Não gosto
Dois terços dos médicos e enfermeiros apresentam sinais de esgotamento.

Folhear
Eu aposto que 99% dos autores de insultos variados a Henrique Raposo no Facebook não leram o livro que motivou a polémica que se criou em torno das suas declarações num programa da SIC Radical. O livro chama-se "Alentejo prometido" e acontece que é um
livro bem escrito e que aborda com originalidade um retrato do Alentejo, a região de onde a família do autor é originária, em temas como a vida, o papel da mulher, o suicídio, o desenraizamento depois da fuga para a grande cidade ou os seus arredores. Ora, o retrato que Henrique Raposo faz é realista, elogiando a resistência das mulheres, recordando a vida na região na última metade do século passado, explicando o desespero de quem
põe fim à vida ou as saudades da terra que se deixou. Não sou particularmente fã das colunas de opinião de Henrique Raposo - e, neste momento, ele está a ser vítima do estilo que usa na sua coluna e não do que escreveu neste livro, que é um bom livro. Mas o tema não é este - o que me irrita é a banalização de uma suposta superioridade moral da esquerda que justifica que se faça censura e se apelem a autos de fé contra esta obra e contra o seu autor. Em suma, pretendem vigiar a opinião mas nem sabem ler aquilo que criticam. Se lessem, arrepender-se-iam de ter diabolizado "Alentejo prometido". Eu não preciso que decidam por mim o que devo ler - quando não engraço com a coisa, sigo em frente. Para dizer que não se gosta é preciso saber ler - uma coisa que exige paciência, atenção e algum desejo de aprender. E, neste livro, aprende-se.

Arco da velha
O Pessoas-Animais-Natureza (PAN) pretende que seja possível deduzir as despesas veterinárias "em sede de IRS", como despesa de saúde, beneficiando animais e pessoas que têm "animais de companhia" e manifestou-se contrário à utilização de coleiras em cães.

Ouvir
Francisco Silva é o criador de uma aventura musical chamada Old Jerusalem, que publica discos a ritmo incerto. O anterior trabalho datava de 2011 e agora, de repente, sai este "A Rose Is A Rose Is A Rose", título inspirado em Gertrude Stein. Atrevo-me a dizer que este sexto álbum de originais é o seu melhor trabalho. Poder-se-iam detectar numerosas influências musicais neste CD - mas cada artista cria as suas obras a partir daquilo que mais o tocou. Fiquei rendido com o tema de abertura, "A Charm", mas depois fui descobrindo, ao longo das dez canções, a espantosa energia e eficácia de uns arranjos que, se tivessem errado, seriam apenas espampanantes em vez de impressionantes. A responsabilidade de uma riqueza sonora que convive com a simplicidade deve ser assacada ao pianista Filipe Melo. Mas é ao "clandestino" Francisco Silva que se deve mais este episódio das aventuras sonoras dos Old Jerusalem, algo do melhor que se tem feito neste pequeno rectângulo.

Dixit
É preciso dizer que o jornalismo do cidadão é uma treta.
Carlos Magno, Presidente da ERC

Provar
Uma série de amigos andava a falar-me, desde há uns tempos, de um restaurante que fica perto da Estrada da Luz, na rua da Loja do Cidadão, chamado Bom de Veras. Nos últimas semanas, fui lá duas vezes e em ambas dei por bem empregue o tempo e fiquei contente com o resultado da prova. Da primeira vez, comi um dos pratos do dia - e vale sempre a pena perguntar ao proprietário, Luís Filipe, o que tem para propor que não esteja na carta.
Normalmente, estas propostas são comida de conforto, caseira, bem portuguesa e muito bem confeccionada. Na lista, há especialidades como uma empada de carne, uma coxa de pato confitada ou um bacalhau fresco sobre cama de brás - em que o fiel amigo vem invulgarmente bem afinado na confecção. O couvert conta com umas azeitonas muito bem temperadas. Quanto aos vinhos, não se fiquem pela lista e peçam sugestões: eu segui a recomendação de uma Quinta das Camélias Reserva, magnífico tinto que faz jus à evolução que a região tem tido. Os preços dos vinhos não são especulativos e a conta é honesta. A sala tem duas zonas - para fumadores e não fumadores e, ao domingo, há um buffet de cozido que tenho ouvido louvar com frequência - e nesse dia é mesmo preciso marcar. Bom de Veras - Rua Abranches Ferrão nº 17, telefone 217 266 203.

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