Opinião
A esquina do Rio
Esta semana, li numa página de Facebook que acompanho uma verdade absolutamente incontornável: nos manuais de liderança, ser o exemplo surge como uma das características mais importantes de um líder.
Back to basics
É obrigação de cada um reter na memória as promessas que andou a fazer.
Friedrich Nietzsche
Exemplos
Esta semana, li numa página de Facebook que acompanho uma verdade absolutamente incontornável: nos manuais de liderança, ser o exemplo surge como uma das características mais importantes de um líder. Vivemos num tempo em que a ignorância das leis e dos regulamentos é tida por coisa de somenos importância e em que a falta de memória é assunto esperado que motiva apenas sorrisos cínicos.
E é entre a ignorância e a falta de memória que se desenvolve o cepticismo do comum dos mortais sobre os políticos, sobre os que se oferecem para ter uma participação cívica, sobre quem anuncia querer contribuir para mudar o país. Se Portugal tivesse mudado, para melhor, um décimo do que andam a prometer há décadas, estaríamos nos primeiros lugares de bem-estar. Odeio pingue-pongue de acusações entre políticos que vivem debaixo de telhados de vidro - os últimos anos têm mostrado como, em matéria de falta de ética, a coisa está bem distribuída no espectro partidário, mas também no mundo empresarial e no sector financeiro. Este ano tem sido uma galeria de horrores em matéria de revelações escabrosas e o que mais revolta é observar a forma como as autoridades são tolerantes para com os políticos incumpridores e como os automatismos são inflexíveis para os vulgares cidadãos ou as instituições sem poder.
Enquanto houver políticos com carreiras contributivas poluídas que tentam disfarçar, enquanto houver ex-governantes que se dedicaram a criar teias de relações para enriquecimento posterior, nada pode funcionar bem neste país. A política em Portugal não é encarada como um acto cívico. É entendida como uma oportunidade. Fica tudo dito. As boas intenções não vivem sozinhas.
Semanada
• As escolas portuguesas perderam quase 40 mil professores desde 2011 • há 9500 professores que, quando saírem das suas escolas, não serão substituídos • o vereador Manuel Salgado disse que a presidente da Assembleia Municipal de Lisboa, Helena Roseta, tem um "raciocínio pouco atento" • o preço das casas subiu 1,2% em 2014, depois de uma queda de 22% em sete anos • a venda de automóveis cresceu 30,7% nos dois primeiros meses do ano face ao período homólogo de 2014 • 262 mil veículos foram apanhados em 2014 pelos radares policiais em excesso de velocidade • uma mulher de 30 anos fez a ponte 25 de Abril em sentido contrário, na direcção Almada-Lisboa • mais de 400 mil portugueses já foram ver as "50 Sombras de Grey" • um grupo de apoiantes do movimento "Junto Podemos" deixou de querer estar juntos e fundou o movimento "Agir" • Jardim Gonçalves aplaudiu a proposta de fusão do BPI e do BCP apresentada por Isabel dos Santos • segundo a Cáritas, as situações de pobreza em Portugal aumentaram 15% em 2014 • uma em cada quatro mulheres portuguesas estão desempregadas ou sub-ocupadas • o PSI-20 continua só com 18 empresas cotadas • em 2014, as empresas portuguesas desceram o seu endividamento em 19 mil milhões de euros e a maior fatia coube a microempresas que foram responsáveis por 39% do total da redução • frase esclarecida da semana: "O que é preciso agora é que os Governos desempenhem o seu papel", tal é o pensamento do director do think tank Bruegel • uma vigília de apoio a Sócrates, que decorreu junto à cadeia de Évora no fim-de-semana, juntou 17 mulheres e quatro homens • a Turquia vai ser um dos grandes mercados de carne de coelho portuguesa a partir de meados deste ano.
Dixit
Uma bala é um vulgar e tradicional instrumento da política russa.
Gleb Kuznetsov, no Moscow Times
Folhear
A revista Monocle fez, em Fevereiro, oito anos e foi fundada com uma substancial participação de capital do Japão. É frequente encontrar sugestões sobre locais, empresas, moda ou design japonês, tal como de outros países. Pela primeira vez, a edição de Março deste ano da Monocle tem o Japão por tema central, e ainda bem. É um retrato contemporâneo do Império do Sol Nascente, desde os media mais experimentais até comunidades estrangeiras que estão a mudar os hábitos dos locais - como os brasileiros que levaram o samba para Tóquio e explicaram porque é que no Brasil se faz sushi de fusão.
A coisa mais interessante da Monocle é proporcionar uma visão abrangente, multidisciplinar, ajudar os seus leitores a estarem atentos às tendências e obrigar a pensar no que se está a fazer por esse mundo fora - desde livrarias a lojas de acessórios, passando por moda ou música. É um equilíbrio difícil de conseguir, mas é esse delicado equilíbrio que faz o sucesso da revista e que, mês após mês, motiva fiéis leitores, como eu, a redescobri-la. No seu editorial desta edição, o fundador da revista, Tyler Brûlé, exprime o desejo de que, no Ocidente, existam escolas japonesas que possam ensinar boas maneiras e princípios básicos de civilização. Dei comigo a concordar com ele.
Gosto
Em Campolide vai haver um referendo para decidir que tipo de pavimento terão os passeios para peões no bairro.
Não gosto
Alexis Tsipras esconde-se atrás de acusações a outros países para não reconhecer, na Grécia, que as suas promessas eleitorais não serão cumpridas.
Ver
Hoje proponho uma exposição virtual, no "site" do Museum Of Modern Art - e não estou a falar da badalada exposição de Björk, a cançonetista preferida de algumas pessoas que gostam de se dizer atentas à música moderna. Vamos passar a coisas sérias. A exposição de que falo mostra a Colecção Thomas Walther, que incorpora aquilo a que se chamava exemplos de fotografia dos tempos modernos, feitas entre 1909 e 1949, com especial ênfase nos anos 20 e 30, quando a fotografia começou a ser notada, levada a sério e referenciada. O trabalho de investigação, a maneira como se relacionam locais, autores, estilos e temas, de forma interactiva, no "site" da exposição, é absolutamente exemplar. A galeria de imagens é deslumbrante e eu, que me gabo de conhecer muitas imagens, descobri várias que ignorava. A colecção tem 341 fotografias de 148 artistas e o "site" da exposição, "Object Photo", pode ser visto aqui: http://www.moma.org/interactives/objectphoto/#home. Não percam. Na página do museu existem indicações sobre como adquirir o magnífico catálogo cuja capa aqui se reproduz.
Ouvir
Em finais de 2014, a ECM ofereceu uma prenda aos seus fiéis - um CD com o registo, muito pouco conhecido, de um histórico concerto realizado em Hamburgo, em 1972, pelo trio que integrava o pianista Keith Jarrett, o contrabaixista Charlie Haden e o baterista Paul Motian - um trio que à época da gravação tocava em conjunto há cinco anos. É surpreendente, a esta distância, ver a consistência, a energia e o prazer da sua música. Motian morreu em 2011 e Haden no ano passado. Mas este disco é um legado precioso da forma como entendiam a música, como cada um contribuía para um resultado excepcional. Haden e Jarrett mostram já nessa altura, há 43 anos, o entendimento que ao longo de décadas aperfeiçoaram e Motian é surpreendente nas soluções que encontra para completar este trio. CD ECM na Amazon.
Arco da velha
Segundo a imprensa, o Fisco penhorou bens alimentares doados a uma associação que dá apoio aos sem-abrigo na cidade do Porto, o "Coração da Cidade", por dívidas em atraso relacionadas com o pagamento de portagens em antigas SCUT. E a autoridade tributária quer penhorar arroz, massa e bananas.
Provar
O Funil é um histórico restaurante das Avenidas Novas, nascido no início dos anos 70, com o apogeu nos anos 80, e que em meados do ano passado sofreu uma mudança total - de proprietários, de gerência, de decoração, de cozinha. Agora as mesas estão apenas colocadas no piso de entrada, mas, para os saudosistas, mantém-se o bacalhau à Funil, feito no forno com molho béchamel.
Na minha opinião, mais interessantes ainda são o novo bacalhau à Brás à Funil e o arroz de bacalhau, ambos a superar expectativas. Outro arroz que merece elogios é o arroz de pato à moda antiga, um dos melhores que tenho provado. Em matéria de aperitivo, recomendo as bolinhas de alheira com puré de maçã e a tábua de queijos. Ao almoço, há um menu executivo por 12,90 euros e um outro para os comilões, com sopa e sobremesa, que custa 14,50 euros. Ambos são servidos com pão de Mafra e azeitonas bem temperadas e um copo de vinho. No tinto, a casa recomenda, com razão, o Paulo Laureano Clássico e, nos brancos, o Álvaro de Castro Dão. Para sobremesa, há um bolo de chocolate para quem quer coisas mesmo doces e um honestíssimo leite creme de boa queima e consistência. O chef Duarte Lourenço tem também uma carta vegetariana. O novo Funil encerra aos domingos e fica na Elias Garcia 82A, junto à esquina com a 5 de Outubro. O telefone é 210 968 912 e em www.ofunil.pt pode encontrar todas as informações.