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06 de Março de 2015 às 09:41

A esquina do Rio

Esta semana, li numa página de Facebook que acompanho uma verdade absolutamente incontornável: nos manuais de liderança, ser o exemplo surge como uma das características mais importantes de um líder.

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Back to basics

É obrigação de cada um reter na memória as promessas que andou a fazer.
Friedrich Nietzsche

 

 

Exemplos

Esta semana, li numa página de Facebook que acompanho uma verdade absolutamente incontornável: nos manuais de liderança, ser o exemplo surge como uma das características mais importantes de um líder. Vivemos num tempo em que a ignorância das leis e dos regulamentos é tida por coisa de somenos importância e em que a falta de memória é assunto esperado que motiva apenas sorrisos cínicos.


E é entre a ignorância e a falta de memória que se desenvolve o cepticismo do comum dos mortais sobre os políticos, sobre os que se oferecem para ter uma participação cívica, sobre quem anuncia querer contribuir para mudar o país. Se Portugal tivesse mudado, para melhor, um décimo do que andam a prometer há décadas, estaríamos nos primeiros lugares de bem-estar. Odeio pingue-pongue de acusações entre políticos que vivem debaixo de telhados de vidro - os últimos anos têm mostrado como, em matéria de falta de ética, a coisa está bem distribuída no espectro partidário, mas também no mundo empresarial e no sector financeiro. Este ano tem sido uma galeria de horrores em matéria de revelações escabrosas e o que mais revolta é observar a forma como as autoridades são tolerantes para com os políticos incumpridores e como os automatismos são inflexíveis para os vulgares cidadãos ou as instituições sem poder.


Enquanto houver políticos com carreiras contributivas poluídas que tentam disfarçar, enquanto houver ex-governantes que se dedicaram a criar teias de relações para enriquecimento posterior, nada pode funcionar bem neste país. A política em Portugal não é encarada como um acto cívico. É entendida como uma oportunidade. Fica tudo dito. As boas intenções não vivem sozinhas.

 

 

Semanada

• As escolas portuguesas perderam quase 40 mil professores desde 2011  há 9500 professores que, quando saírem das suas escolas, não serão substituídos  o vereador Manuel Salgado disse que a presidente da Assembleia Municipal de Lisboa, Helena Roseta, tem um "raciocínio pouco atento"  o preço das casas subiu 1,2% em 2014, depois de uma queda de 22% em sete anos  a venda de automóveis cresceu 30,7% nos dois primeiros meses do ano face ao período homólogo de 2014  262 mil veículos foram apanhados em 2014 pelos radares policiais em excesso de velocidade  uma mulher de 30 anos fez a ponte 25 de Abril em sentido contrário, na direcção Almada-Lisboa  mais de 400 mil portugueses já foram ver as "50 Sombras de Grey"  um grupo de apoiantes do movimento "Junto Podemos" deixou de querer estar juntos e fundou o movimento "Agir"  Jardim Gonçalves aplaudiu a proposta de fusão do BPI e do BCP apresentada por Isabel dos Santos  segundo a Cáritas, as situações de pobreza em Portugal aumentaram 15% em 2014  uma em cada quatro mulheres portuguesas estão desempregadas ou sub-ocupadas  o PSI-20 continua só com 18 empresas cotadas  em 2014, as empresas portuguesas desceram o seu endividamento em 19 mil milhões de euros e a maior fatia coube a microempresas que foram responsáveis por 39% do total da redução  frase esclarecida da semana: "O que é preciso agora é que os Governos desempenhem o seu papel", tal é o pensamento do director do think tank Bruegel  uma vigília de apoio a Sócrates, que decorreu junto à cadeia de Évora no fim-de-semana, juntou 17 mulheres e quatro homens  a Turquia vai ser um dos grandes mercados de carne de coelho portuguesa a partir de meados deste ano.

 

 

Dixit 

Uma bala é um vulgar e tradicional instrumento da política russa.

Gleb Kuznetsov, no Moscow Times

 

 

Folhear

A revista Monocle fez, em Fevereiro, oito anos e foi fundada com uma substancial participação de capital do Japão. É frequente encontrar sugestões sobre locais, empresas, moda ou design japonês, tal como de outros países. Pela primeira vez, a edição de Março deste ano da Monocle tem o Japão por tema central, e ainda bem. É um retrato contemporâneo do Império do Sol Nascente, desde os media mais experimentais até comunidades estrangeiras que estão a mudar os hábitos dos locais - como os brasileiros que levaram o samba para Tóquio e explicaram porque é que no Brasil se faz sushi de fusão.
A coisa mais interessante da Monocle é proporcionar uma visão abrangente, multidisciplinar, ajudar os seus leitores a estarem atentos às tendências e obrigar a pensar no que se está a fazer por esse mundo fora - desde livrarias a lojas de acessórios, passando por moda ou música. É um equilíbrio difícil de conseguir, mas é esse delicado equilíbrio que faz o sucesso da revista e que, mês após mês, motiva fiéis leitores, como eu, a redescobri-la. No seu editorial desta edição, o fundador da revista, Tyler Brûlé, exprime o desejo de que, no Ocidente, existam escolas japonesas que possam ensinar boas maneiras e princípios básicos de civilização. Dei comigo a concordar com ele.

 

 

Gosto

Em Campolide vai haver um referendo para decidir que tipo de pavimento terão os passeios para peões no bairro. 

 

 

Não gosto

Alexis Tsipras esconde-se atrás de acusações a outros países para não reconhecer, na Grécia, que as suas promessas eleitorais não serão cumpridas. 

 

 

Ver

Hoje proponho uma exposição virtual, no "site" do Museum Of Modern Art - e não estou a falar da badalada exposição de Björk, a cançonetista preferida de algumas pessoas que gostam de se dizer atentas à música moderna. Vamos passar a coisas sérias. A exposição de que falo mostra a Colecção Thomas Walther, que incorpora aquilo a que se chamava exemplos de fotografia dos tempos modernos, feitas entre 1909 e 1949, com especial ênfase nos anos 20 e 30, quando a fotografia começou a ser notada, levada a sério e referenciada. O trabalho de investigação, a maneira como se relacionam locais, autores, estilos e temas, de forma interactiva, no "site" da exposição, é absolutamente exemplar. A galeria de imagens é deslumbrante e eu, que me gabo de conhecer muitas imagens, descobri várias que ignorava. A colecção tem 341 fotografias de 148 artistas e o "site" da exposição, "Object Photo", pode ser visto aqui: http://www.moma.org/interactives/objectphoto/#home. Não percam. Na página do museu existem indicações sobre como adquirir o magnífico catálogo cuja capa aqui se reproduz.

 

 

Ouvir

Em finais de 2014, a ECM ofereceu uma prenda aos seus fiéis - um CD com o registo, muito pouco conhecido, de um histórico concerto realizado em Hamburgo, em 1972, pelo trio que integrava o pianista Keith Jarrett, o contrabaixista Charlie Haden e o baterista Paul Motian - um trio que à época da gravação tocava em conjunto há cinco anos. É surpreendente, a esta distância, ver a consistência, a energia e o prazer da sua música. Motian morreu em 2011 e Haden no ano passado. Mas este disco é um legado precioso da forma como entendiam a música, como cada um contribuía para um resultado excepcional. Haden e Jarrett mostram já nessa altura, há 43 anos, o entendimento que ao longo de décadas aperfeiçoaram e Motian é surpreendente nas soluções que encontra para completar este trio. CD ECM na Amazon.

 

 

Arco da velha

Segundo a imprensa, o Fisco penhorou bens alimentares doados a uma associação que dá apoio aos sem-abrigo na cidade do Porto, o "Coração da Cidade", por dívidas em atraso relacionadas com o pagamento de portagens em antigas SCUT. E a autoridade tributária quer penhorar  arroz, massa e bananas. 

 

 

Provar

O Funil é um histórico restaurante das Avenidas Novas, nascido no início dos anos 70, com o apogeu nos anos 80, e que em meados do ano passado sofreu uma mudança total - de proprietários, de gerência, de decoração, de cozinha. Agora as mesas estão apenas colocadas no piso de entrada, mas, para os saudosistas, mantém-se o bacalhau à Funil, feito no forno com molho béchamel.


Na minha opinião, mais interessantes ainda são o novo bacalhau à Brás à Funil e o arroz de bacalhau, ambos a superar expectativas. Outro arroz que merece elogios é o arroz de pato à moda antiga, um dos melhores que tenho provado. Em matéria de aperitivo, recomendo as bolinhas de alheira com puré de maçã e a tábua de queijos. Ao almoço, há um menu executivo por 12,90 euros e um outro para os comilões, com sopa e sobremesa, que custa 14,50 euros. Ambos são servidos com pão de Mafra e azeitonas bem temperadas e um copo de vinho. No tinto, a casa recomenda, com razão, o Paulo Laureano Clássico e, nos brancos, o Álvaro de Castro Dão. Para sobremesa, há um bolo de chocolate para quem quer coisas mesmo doces e um honestíssimo leite creme de boa queima e consistência. O chef Duarte Lourenço tem também uma carta vegetariana. O novo Funil encerra aos domingos e fica na Elias Garcia 82A, junto à esquina com a 5 de Outubro. O telefone é 210 968 912 e em www.ofunil.pt pode encontrar todas as informações.

 

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