Opinião
A esquina do Rio
Esta semana soube de uma história extraordinária. Numa das zonas próximas de Lisboa que ainda têm uns restos de agricultura, uma mulher empreendedora decidiu criar o seu posto de trabalho num negócio próprio, baseado no seu talento culinário.
Back to basics
Todas as decisões devem ser avaliadas em função dos resultados obtidos e não das intenções que as inspiraram.
Cícero
ASAE
Esta semana soube de uma história extraordinária. Numa das zonas próximas de Lisboa que ainda têm uns restos de agricultura, uma mulher empreendedora decidiu criar o seu posto de trabalho num negócio próprio, baseado no seu talento culinário. Com recurso a produtos naturais da região, criou uma marca, com várias variedades, montou uma cozinha regulamentar e meteu mãos à obra. Pagou impostos e taxas, fez comunicação e publicidade, foi a feiras e certames e ganhou prémios de qualidade. Nas lojas da região, os seus produtos ganharam fama e começaram a ser procurados. Geraram receitas para o Estado, animaram, à sua pequena proporção, a economia local. Não recebeu subsídios, arriscou, trabalhou, divulgou, vendeu. Um dia destes entrou-lhe pela casa o Estado, vestido de ASAE, e o que encontraram para tolher as pernas à iniciativa foi uma menção num rótulo. O rótulo dos produtos tinha escrito "Best before" e, depois, a data da validade. Pois os nossos queridos agentes da ASAE mandaram suspender imediatamente todas as vendas, recolher todos os produtos e substituir "Best Before" por "Consumir antes de". O resultado disto é que desde há quase um mês que não se prepara novo produto nem se fazem vendas e se está apenas a substituir etiquetas, causando evidentes prejuízos. Os senhores da ASAE talvez pudessem ter dito alguma coisa do género "isto não é regulamentar, tem de corrigir, tem x meses (o que fosse razoável) para mudar". Mas não - tem de mudar já. Não sei se já ocorreu às almas da ASAE, que são pagas pelos contribuintes, que cada vez que tomam uma medida que pode lesar actividades económicas estão a desrespeitar quem lhes paga. Uma coisa é velar pela Lei, outra é ser cego e não olhar a meios. Assim, a ASAE não ajuda nem o país nem os contribuintes. Muito menos a economia. O Estado no seu melhor.
Dixit
"Os políticos não gostam, de modo nenhum, de análises de custo/benefício independentes e competentes".
Miguel Cadilhe
Semanada
• A investigação do caso Sócrates encontrou um milhão de euros, em dinheiro vivo, num cofre do Barclays, pertencente ao amigo Carlos Santos Silva • António Costa estabeleceu que carros anteriores a 2000 estão proibidos de circular no centro de Lisboa • no caso BES, uma coisa é certa: havia uma extraordinária obediência, todos se limitavam a cumprir ordens e ninguém sabia de nada • a Parque Escolar tem dívidas a fornecedores no valor de 1,14 mil milhões de euros • há uma escola básica, no Parque das Nações, que está por concluir há quatro anos • em menos de quatro meses, houve mais de 700 denúncias de maus tratos a animais • Marco António Costa, porta voz do PSD, elogiou Santana Lopes por admitir avançar por sua própria iniciativa para as eleições presidenciais • Marques Mendes diz que Rui Rio está inclinado a avançar com uma candidatura presidencial • Vítor Bento voltou a ser nomeado por Cavaco Silva para o Conselho de Estado • um juiz de Braga anulou uma multa de 62,10 euros relativa a uma portagem que era originalmente de 5,75 euros • no final de 2013, o fisco tinha mais de 5,9 mil milhões de euros que não podia cobrar aos devedores • a dívida total de médio e longo prazo que Portugal tem de amortizar durante a próxima legislatura deve chegar a 62 mil milhões de euros, ou seja, mais de 35% do PIB só para os credores em quatro anos • em 2013, 75% dos técnicos de ambulância tinham sintomas depressivos • Alberto João Jardim deixou a presidência do Governo Regional da Madeira ao fim de 37 anos de poder • a GNR já detectou, nos últimos meses, 33 toneladas de azeitona roubada no Alentejo.
Ler
Devo começar por fazer uma declaração de interesse - sou director-geral da Nova Expressão, a agência de meios que esta semana tornou público um estudo de hábitos digitais dos portugueses, "Um Dia Das Nossas Vidas Na Internet". Promovido pela agência e executado pela Marktest, o relatório integral foi disponibilizado no "site" da Nova Expressão e na sua página do Facebook. O estudo revela e quantifica as grandes mudanças ocorridas nos últimos anos. Muito resumidamente: o chamado horário nobre da televisão, entre as 20 e as 24, coincide com o período do dia em que há maior número de acessos na Internet - maioritariamente em computadores portáteis e em dispositivos móveis como "tablets" e "smartphones"; 58% dos inquiridos de uma amostra representativa dos cibernautas portugueses com mais de 15 anos admite que, ao ver televisão em casa, num televisor, costuma navegar em simultâneo na Internet; a hora das refeições coincide com o período em que são mais utilizados dispositivos móveis; os portugueses já passam mais tempo a navegar na Internet que a ver televisão, verifica-se um aumento da idade média dos utilizadores e regista-se um crescimento significativo do comércio electrónico; finalmente, os conteúdos mais procurados são redes sociais (com o Facebook à frente), o visionamento de vídeos (claramente liderado pelo YouTube) ou a partilha de fotografias no Instagram. Finalmente, o estudo conclui que a utilização da Internet em Portugal é já um hábito comportamental consolidado e absoluto, que a transferência dos suportes de media convencionais para o acesso na Internet é elevado e crescente e sublinha que a capacidade multi-task dos internautas portugueses é grande. Definitivamente, o nosso mundo comunicacional já mudou, talvez mais do que aquilo que muita gente pensava.
Gosto
A Livraria Lello, do Porto, foi classificada em primeiro lugar na lista das livrarias mais "cool" do mundo pela revista Time.
Não gosto
Das posições da deputada europeia Ana Gomes, do PS, que defende os argumentos usados pelos terroristas islâmicos no caso do jornal Charlie Hebdo.
Ver
A RTP 2 está a emitir, desde o início da semana passada, uma exemplar série produzida pelo operador público de televisão dinamarquês, "Borgen", que revela os bastidores da política, a formação de um governo de coligação e as negociações permanentes que existem para conseguir manter o poder. A série tem sido um sucesso em todo o mundo e cerca de três dezenas de países já a exibiram, antes de a RTP 2 a ter começado a programar - mas nem um desses países a tratou da forma que a RTP está a tratar - episódios seguidos de segunda a sexta, desrespeitando o formato original de exibição de um episódio por semana, que caracteriza a narrativa e a produção original. Tratar uma série destas, premiada internacionalmente, como se fosse uma telenovela é uma amostra do muito que há para mudar no comportamento do serviço público em Portugal. "Borgen", cujos direitos de adaptação foram negociados pela BBC e pela HBO norte-americana, é o exemplo do que pode e deve ser a produção audiovisual num serviço público. A Dinamarca tem 5,5 milhões de habitantes, o seu idioma tem um reduzido alcance mundial, mas produções como esta fizeram com que, nos últimos anos, o audiovisual dos países nórdicos desse um enorme salto qualitativo. O formato original tem três séries, de dez episódios cada uma: a RTP 2 está a consumir cinco episódios por semana, fez uma fraca promoção da série e, em termos de audiência, cerca de um terço dos espectadores dos programas de informação que antecedem a exibição de "Borgen" desaparece do ecrã quando a série começa. Na Dinamarca, o operador público fez conjugar a exibição em televisão com um programa na rádio pública, que acompanhou o lançamento e a exibição, desenvolvendo um "spin off" com uma narrativa paralela. Não resisto a contar que a Copenhagen Business School fez um inquérito junto de espectadores regulares de "Borgen", inquirindo-os sobre o seu posicionamento político - a maioria respondeu que a série não lhes tinha feito modificar as opções partidárias pessoais, e uma também clara maioria dos inquiridos declarou que tinha começado a seguir a actualidade política dinamarquesa com maior atenção desde que a série começou.
Por mim, um dos momentos favoritos, logo num dos primeiros episódios, é quando a recém empossada primeiro-ministra nomeia, para assessor de comunicação, um eminente académico, especialista em retórica, que se espalha ao comprido na primeira crise política que enfrenta e que diz tamanhas barbaridades numa entrevista à televisão que é de imediato dispensado. Geografias diferentes, histórias paralelas.
Arco da Velha
Há três distritos - Bragança, Setúbal e Évora - com 40% de desistências e chumbos escolares no 12º ano.
Provar
Nos últimos anos, o vinho Moscatel de Setúbal, nas suas várias variantes, tem obtido um reconhecimento merecido. A sua utilização na doçaria da região é tradição antiga - desde uma mousse com ele temperada (que, com sorte, se apanha no restaurante Retiro do Gama, em Cabanas, Quinta do Anjo) até ao belíssimo Pastel de Moscatel, fabricado pela confeitaria S. Julião, de Palmela, e que pode ser encontrado nalgumas lojas e restaurantes da região - uma delas a casa agrícola Horácio Simões, que produz um premiado Moscatel Roxo e que fica situada precisamente na Quinta do Anjo. Prove o doce em conjunto com este vinho e terá uma grata surpresa. O pastel tem a configuração de uma queijada, é elaborado com amêndoa, ovos, açúcar e moscatel e recebeu já vários prémios em certames. O responsável pela confeitaria S. Julião é Nuno Gil, de 42 anos, que se dedica ao estudo dos doces tradicionais da região e é presidente da direcção da Confraria Gastronómica de Palmela. Além dos Pastéis de Moscatel, faz outros doces regionais, como o histórico Dom Filipe e fogaças. A Confeitaria S. Julião pode ser contactada pelo telefone 919 927 457 ou na página do Facebook.