Opinião
A esquina do Rio
22 mil portugueses votaram "corrupção" para palavra do ano, num inquérito promovido pela Porto Editora, na mensagem de fim de ano, o Presidente da República sugeriu os partidos em que se pode votar, os antigos tradicionais, e aqueles que não devem ser tidos em consideração, que são os novos que têm aparecido a criticar os antigos
Back to basics
Não há nada mais servil, desprezível, covarde e tacanho que um terrorista.
François-René de Chateaubriand
Semanada
• 22 mil portugueses votaram "corrupção" para palavra do ano, num inquérito promovido pela Porto Editora • na mensagem de fim de ano, o Presidente da República sugeriu os partidos em que se pode votar, os antigos tradicionais, e aqueles que não devem ser tidos em consideração, que são os novos que têm aparecido a criticar os antigos • a mensagem de Cavaco Silva não esteve sequer entre os 20 programas de televisão mais vistos da semana • Marcelo Rebelo de Sousa, cuja intervenção de Domingo na TVI foi o quarto programa com maior audiência da semana, diz que é "suicida" a direita falar já em presidenciais • o CDS considerou infeliz a proposta do PSD ao PS • foi revelado que, só em estudos e preparativos diversos, o TGV custou 153 milhões de euros ldepois deste número ter sido conhecido, os documentos digitais sobre o projecto de alta velocidade desapareceram do "site" da REFER • a Função Pública encolheu o dobro do exigido pela troika • o valor médio do subsídio de desemprego pago em 2014 caiu 4,3% • em apenas três meses, a evolução da situação económica destruiu 28 mil postos de trabalho • resumo numa só frase das audições da Comissão Parlamentar sobre o BES: ninguém sabia de nada • o Museu Nacional de Arte Antiga bateu recorde de visitantes em 2014, com 221 mil entradas • o filme português mais visto em 2014 nas salas de cinema foi "Os Maias", de João Botelho, com 115 mil espectadores, seguido de "Virados do Avesso" de Edgar Pêra, com 109 mil, e de "Os Gatos Não Têm Vertigens", de António-Pedro Vasconcelos, com 93 mil l foram estreados 17 filmes portugueses, dos quais uma dezena teve dez mil espectadores ou menos; o filme mais visto em absoluto foi "The Hunger Games - A Revolta", com 343 mil espectadores • há 35 filmes estrangeiros à frente de "Os Maias", o filme português mais visto em 2014.
Civilização
No dia 11 de Setembro de 2001, logo ao princípio da tarde, estava a rever as imagens do ataque às torres gémeas em Nova Iorque e um grande amigo, ao meu lado, disse uma única frase: "a partir de agora, tudo vai mudar, nada mais será igual ao que era". Como temos visto nestes anos, ele tinha toda a razão. Esta semana, quando vi as imagens do ataque ao Charlie Hebdo, em Paris, passou pela minha cabeça, em "fast forward", o filme destes 13 anos - crises, guerras, invasões, mais crises, um sistema económico em caos, atentados, revoltas, decapitações, tortura e sempre, sempre, de todos os lados das barricadas, o mesmo princípio: "os fins justificam os meios". Nenhuma frase é mais falsa que esta e, no entanto, se observarmos a história recente, económica, política, religiosa, ela é a frase que tem governado o mundo e que nos tem levado ao ponto onde estamos. O atentado de Paris não ataca só os franceses nem um jornal satírico. Ataca os fundamentos de uma Europa, enquanto civilização, para além das uniões artificiais e das unidades monetárias fabricadas. O ataque é feito num momento em que a Europa está especialmente frágil e perde todos os dias as suas referências. O que aconteceu é terrível; o que vai acontecer a seguir, nem imagino.
Dixit
"O assassinato de jornalistas em Paris não foi apenas um atentado em França, mas também um ataque ao Islão e às liberdades que permitem que 30 milhões de muçulmanos vivam e prosperem no Ocidente. A liberdade de expressão não é um conceito ocidental: é a base da existência da mente humana. (....) Não podemos permitir que sejam assassinos a definir o que é o Islão."
Ed Husain, The Guardian
Ver
Para quem gosta de tudo o que é relacionado com a arte da impressão, a Biblioteca Nacional de Lisboa apresenta, até 21 de Fevereiro, a exposição "Giambattista Bodoni: a invenção da simplicidade". Bodoni, célebre pelo seu "Manuale Tipografico", de finais do século XVIII, teve uma relação próxima com o português Vieira Portuense que, aliás, conseguiu que o Estado português adquirisse as edições de Bodoni, numa colecção única e valiosa que aqui se mostra. "Bodoni ou a invenção da simplicidade", comissariada por José de Monterroso Teixeira, realiza-se em articulação com duas outras exposições, a decorrer simultaneamente no Museu Nacional de Arte Antiga: "Il celebre pittore. Vieira Portuense" (Desenhos de Parma), que redescobre os trabalhos gráficos da época em que se relacionou com Bodoni, e "A Colecção", de Franco Maria Ricci, editor de excepção e grande coleccionador, profundamente marcado pelas obras de Bodoni e de Jorge Luís Borges. Dias 20 e 27 de Janeiro, José de Monterroso Teixeira faz visitas guiadas à exposição da Biblioteca Nacional. Marcações e detalhes no "site" da instituição.
Gosto
De pensar que a melhor reacção ao terror é podermos dizer: Todos somos Charlie!
Não gosto
De fanatismos religiosos, venham de onde vierem, do terror imposto, usurpando o nome de qualquer divindade.
Folhear
A revista Vanity Fair de Janeiro, com Bradley Cooper na capa, tem um artigo extremamente actual e oportuno, relacionado com o estado de espírito de alguma ex-classe política. Se pudesse enviar encomendas para Évora, era um exemplar desta revista que eu remeteria. A razão da escolha está numa investigação sobre a carreira pós governamental de Tony Blair. Num artigo baseado numa entrevista com o ex-primeiro-ministro britânico, agora com 61 anos, Sarah Ellison conta como Blair montou um negócio assente em consultorias e palestras, tendo, entre os seus clientes, regimes de reputação duvidosíssima e empresas ávidas de quem as ajude a fazer conexões
e encontrar novos negócios a qualquer preço. O artigo fala da fortuna acumulada por Blair nestas actividades, das suas ligações e do seu desejo de conseguir ser um líder de estatuto mundial que se apresente, imagine-se, como uma referência moral. Podia ser anedota, mas parece que não. Uma das melhores partes do artigo é uma citação de um outro político britânico, Enoch Powell: "todas as carreiras políticas, a menos que sejam interrompidas a meio por alguma feliz circunstância, terminam em desgraça, porque essa é a natureza da política e dos homens que a protagonizam".
Arco da velha
Andrew Lloyd Webber, o produtor de musicais como "Jesus Christ Superstar", propõe que as igrejas passem a disponibilizar wi-fi gratuito e de acesso livre como forma de atrair mais pessoas aos templos.
Ouvir
Jamie Cullum gravou o seu primeiro disco há 15 anos e, desde então, tornou-se um nome seguro no jazz vocal, essa categoria musical dantes esquecida e que agora está frequentemente nos primeiros lugares de vendas. Eu acho que este êxito tem a ver com o aumento da idade média de quem hoje em dia ainda compra CD's, como eu, que assim me confesso. A verdade é que Cullum tem sabido explorar bem o filão - no início, dedicou-se sobretudo a versões de standards popularizados por nomes como Frank Sinatra, mas depois foi introduzindo repertório próprio, de originais seus. Em abono da verdade, reconheça-se que o homem é um animal de palco, um exemplo de que não é preciso uma voz de acrobata para saber cantar. É um bom intérprete e tem tido extremo cuidado na escolha dos produtores e dos arranjos das canções que interpreta. "Interlude" é o seu trabalho de finais de 2014 e, além do CD, existe uma edição especial que inclui um DVD gravado num espectáculo em França. Os repertórios não se sobrepõem e a edição permite comparar a versão de estúdio com a versão de palco de algumas das canções. No CD de estúdio, Jamie Cullum interpreta temas de Dizzy Gillespie (como "Interlude", que dá o nome ao disco) Ray Charles ou Cannonball Adderley - mas também Randy Newman ou o contemporâneo Sufjan Stevens. Tem convidados como Gregory Porter, que o acompanha no clássico "Don't Let Me Be Misunderstood". Cullum é um artista habilidoso. Mas com boa imaginação.
Provar
Já imaginou o que é uma mousse feita de Nutella? A coisa é possível no restaurante "Bella Ciao", em plena baixa lisboeta, na Rua do Crucifixo, a cinco minutos do antigo Tribunal da Boa Hora. Apresentada como uma cantina italiana, abriu no espaço de uma antiga taberna lisboeta em Julho de 2013 e orgulha-se da maneira como confecciona massas - pasta, melhor dizendo. Usam massas frescas e as prestigiadas Cecco, que são das melhores massas duras que se podem comprar por cá. Há algumas semanas, ali provei uns papardelle com funghi porcini - na perfeição, simples, tempero rigoroso. A clientela é variada, a casa é confortável para grupos de amigos, o proprietário italiano mete conversa quando solicitado mas não se intromete, o vinho da casa é honesto, o marsala para a sobremesa acompanha bem e, nas paredes, há anúncios antigos de scooters Vespa. O serviço é simpático, o preço é módico e a mutella é omnipresente, como se vê no gigantesco frasco que faz parte da decoração da casa. Em matéria de sobremesas, o tiramisú também é afamado. Rua do Crucifixo 21, reservas pelo 210 935 708, detalhes e novidades no facebook em bellaciaolx.