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Manuel Falcão - Jornalista 13 de Novembro de 2015 às 10:28

A esquina do Rio

A coisa promete. À primeira divergência sobre a condução dos trabalhos parlamentares, o apagado Ferro Rodrigues acendeu uma luz

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Os homens sábios falam quando têm alguma coisa a dizer; os tolos porque acham que devem sempre dizer alguma coisa.
Platão

Dixit
"Este Parlamento mete dó!"
António Barreto

Golpes
A coisa promete. À primeira divergência sobre a condução dos trabalhos parlamentares, o apagado Ferro Rodrigues acendeu uma luz e, desajeitado como é seu hábito, disse do alto posto a que o ascensor partidário o levou: "A democracia também é o respeito pelas maiorias". No fundo, este é o pensamento dominante no novo regime que comprou uma maioria nos saldos das eleições. Essa maioria, que já tem umas demarcações de Catarina Martins e continua a ter uns mistérios do PCP, pretende usar em pleno as prerrogativas dadas pela manobra de António Costa. Tenho curiosidade em saber se António Costa teria feito o que fez caso existisse um Presidente da República em pleno gozo das suas faculdades, com possibilidade de dissolver a Assembleia e convocar novas eleições. Assim se fazem os pequenos golpes palacianos no regime. Esta habilidade tirou ainda mais credibilidade ao sistema eleitoral, aos partidos, ao Parlamento. Muitos dos que votaram há um mês não voltarão a dirigir-se às mesas de voto e eu percebo-os muito bem. Como já vi escrito, o que aconteceu terça-feira no Parlamento foi a estocada final na III República - esse foi o dia em que o sistema bateu no fundo, convenientemente resguardado dos olhares públicos em cerimónias apressadas de assinaturas de acordos apenas parcialmente enunciados. Nesse sentido, a coligação de Costa pode ter a maioria mas nasceu num vão de escada, deliberadamente escondida, como se de uma conspiração se tratasse. A procissão da discórdia nesta coligação de oportunistas ainda vai no adro, como a questão da privatização das empresas de transportes deixa adivinhar - bem se sabe que essa foi uma das moedas de troca exigidas pelo PCP, já que com empresas privadas nesta área a possibilidade de a CGTP bloquear os transportes em dia de greve geral seria mais reduzida e muito do efeito propagandístico perder-se-ia. Tenho para mim que este período de queda do regime vai ter consequências no sistema político e partidário. Muito provavelmente as presidenciais vão ser o primeiro palco onde isso se vai notar. Tenho para mim que o capítulo de quem é candidato não está encerrado e que surpresas ainda podem existir. Vai ser curioso observar o que se irá passar nas próximas semanas. E o que se passar terá depois efeitos na progressiva substituição das lideranças nos partidos que inevitavelmente ocorrerá a médio prazo. No entretanto, vamos atravessar o caminho das pedras.

Semanada
• SEGUNDA-FEIRA: "Perestroika no PCP"(i); "PCP dá apoio ao Governo do PS por quatro anos" (JN)  "PS tem condições para formar Governo" (Negócios)  "Comunistas apoiam Governo de Costa" (Económico)  "PS avança com moção de rejeição própria ao programa do Governo" (Público)  "Jerónimo dá luz verde a Governo PS" (DN)  "PCP dá quatro a nos a Governo de António Costa (CM) "Acordos à esquerda só depois de derrubado o Governo" (Observador) TERÇA-FEIRA: "Governo do PS promete oásis" (i)  "Seis horas de debate com Costa em silêncio" (JN)  "António Costa com pouca margem para imprevistos" (Negócios)  "Cavaco vai ouvir conjunto alargado de personalidades antes de decidir" Económico)  "Governo é derrubado hoje quatro vezes seguidas" (DN); "2 mil milhões fogem da Bolsa". (CM)  "Estupefecçao e revolta - como a direita viu a queda" (Observador)  "Acordos à esquerda blindam Governo PS de moções de censura" (Público); QUARTA-FEIRA: "Bloco e PCP mantêm em aberto possibilidade de deixar cair Costa" (DN)  "PCP impõe acordo secreto" (CM)  "Caiu" (Publico); "11 dias, 5 horas e 40 minutos" (JN);  "Fractura" (Económico)  "À espera de Cavaco" (Negócios)  "Cavaco sem pressa deixa esquerda em suspenso" (i)  "Sampaio decidiu depois de 10 dias e 17 audiências" (Observador); ORGÃOS CENTRAIS: "Força do Povo derrota Governo" (Avante!)  "São demasiados os exemplos de que o PS não aprendeu a lição de 2011" (Folha CDS)  "O papel do Bloco na transformação que o país precisa" (Portal do Bloco de Esquerda)  "XX Governo Constitucional tomou posse" (Povo Livre)  "PS propõe isenção temporária das taxas moderadoras" (Portugal Socialista).

Ver
Hoje vou recomendar uma exposição que retrata o país, mostrando o que muitas vezes é desconhecido. Trata-se de uma exposição em forma de filme e chama-se "Portugal, um dia de cada vez". Foi realizado por João Canijo, filmado por Anabela Moreira, com edição de João Braz e produção de Pedro Borges. Inspirados nos célebres Guias de Portugal criados por Raul Proença e editados pela Gulbenkian, Canijo e Anabela Moreira seguem os volumes sobre Trás-os-Montes e Alto Douro e revisitam-nos em 2014, 45 anos depois da edição original. O filme faz retratos de pessoas e não a descrição minuciosa de paisagens como os livros originais. Mas esses retratos de pessoas e de sítios mostram um outro Portugal, bem longe das ideias dos políticos das distritais partidárias das grandes cidades ou, no caso do cinema recente, do folclorismo de Miguel Gomes nas suas "Mil E Uma Noites". Este "Portugal, um dia de cada vez" é uma mostra de um Portugal afastado da Europa, a não ser pelos emigrantes romenos que surgem a trabalhar nas vinhas e nas obras. Pode ser um choque, mas é um testemunho de uma realidade, rural e sobrevivente, alicerçada nas festas religiosas, na terra e no trabalho, que existe provavelmente mais do que aquilo que pensamos.
Os testemunhos são marcantes, a fotografia arrasta-nos para dentro do ecrã e o momento em que Amália interpreta o "Com Que Voz", em cima de imagens do nosso tempo, é um sinal de como o filme, distante de Lisboa, se aproxima do nosso momento político presente. No Cinema Ideal, ao Chiado.

Gosto
O Inquérito Nacional de Saúde 2014 do INE indica que a percentagem de fumadores na sociedade portuguesa está a diminuir.

Não gosto
O Inquérito Nacional de Saúde 2014 do INE indica que a percentagem de obesos na sociedade portuguesa está a aumentar.

Ouvir
Em apenas oito anos, os Beatles conseguiram que 27 canções suas fossem nº1 nos "tops" de vendas de "singles" do Reino Unido e dos Estados Unidos - uma média, sensivelmente, de um êxito de quatro em quatro meses. Estas canções foram gravadas entre Setembro de 62 e Janeiro de 69, de "Love Me Do" a "The Long And Winding Road". 26 destas canções foram escritas por John Lennon e Paul McCartney e George Harrison escreveu o único "top one" que escapou à dupla, a balada "Something". George Martin, hoje com 89 anos, conhecido como o quinto Beatle, esteve envolvido na produção de todas elas, e o seu filho, Giles Martin, pegou nas fitas originais e fez agora novas remisturas "stereo" de todas as canções, excepto das três primeiras, "Love Me Do", "From Me To You" e "She Loves You", que foram mantidas em mono, como nos registos originais. O livrinho que acompanha esta nova edição remasterizada e remisturada de "The Beatles 1", colectânea originalmente lançada em 2000, inclui reproduções das capas dos "singles" lançados em diversos países, muitas vezes com os títulos originais traduzidos para os idiomas locais. O som melhorou graças às novas capacidades tecnológicas e, mesmo que alguns puristas torçam o nariz, esta é uma grande forma de mostrar o legado dos Beatles às gerações que mal os conheceram - o último "top one" aconteceu há 45 anos. (CD Universal Music)

Arco da velha
Um funcionário da Segurança Social de Lisboa aumentava reformas de particulares, anulava dívidas de empresas e atribuía falsos subsídios de desemprego a troco de "luvas", que recebia em dinheiro vivo em envelopes fechados, tudo isto com a ajuda de um tio que angariava clientes.

Folhear
Milo Manara é um notável autor italiano de banda desenhada, conhecido primordialmente pela sua extensa obra erótica. No entanto, nas suas nove dezenas de obras publicadas, tem vários livros sobre episódios históricos, algumas biografias e, é certo, muitas histórias eróticas onde a sua forma de desenhar e utilizar o corpo feminino na narrativa dramática o tornaram autor de um estilo muito peculiar - que inclusivamente chegou a levar Fellini a querer adaptar ao cinema uma das suas novelas gráficas, "Viagem a Tulum", o que acabou por não acontecer. Manara, agora com 70 anos, acabou de lançar o seu mais recente trabalho, uma história da vida do pintor Caravaggio. Manara é um daqueles autores de banda desenhada que tem um traço meticuloso e uma utilização cuidada da cor. Caravaggio era uma velha obsessão - Manara descobriu o pintor aos seis anos através de uma reprodução de "A crucificação de S.Pedro". Desde aí, nunca deixou de descobrir e estudar a obra de Caravaggio. O livro agora editado, também em Portugal, "Caravaggio, O Pincel E A Espada", é a primeira parte de uma saga em dois volumes, inspirada nas cores e luzes do pintor milanês, aqui no ambiente de Roma onde a sua fama nasceu e de onde fugiu em 1606, depois de ter morto um homem numa luta de rua. Quatro anos depois, em 1610, ele próprio foi morto em circunstâncias desconhecidas. Este primeiro volume termina com a fuga de Roma, o próximo contará os quatro derradeiros e mais produtivos anos da vida de Caravaggio enquanto pintor. A edição portuguesa é da Arte de Autor, que assim se estreia.

Provar
Um dos meus restaurantes favoritos de dia a dia é o De Castro Elias. Este Verão mudou a decoração e refrescou o ambiente, há poucas semanas introduziu umas novidades na carta que, agora, para além dos clássicos, inclui a categoria de itinerantes. Dos clássicos fazem parte especialidades como o polvo à galega nas entradas ou o arroz de fígados de pato salteados com enchidos e cogumelos ou ainda as célebres amêijoas com feijão manteiga, de Miguel Castro e Silva. Na nova lista, sob a tal designação "itinerantes", há boas novidades. Ao almoço, por exemplo, há uma salada de lulinhas fritas com molho de iogurte, gengibre e lima para quem quer uma opção mais leve e um belíssimo hambúrguer com bacon, ovo estrelado, cebola e batata frita para uma versão "slow-food" de um prato típico da "fast-food"; a opção vegetariana é um arroz carolino de verduras. Ao jantar há uma açorda de bacalhau com amêijoas e um esparguete com ovo, barriga de porco e trufas, ou um bife à portuguesa com batata frita; a opção vegetariana é brás de verduras com salada. Nas sobremesas, pontifica sempre o bolo de chocolate sem farinha e a tarte de laranja acompanhada de laranja em calda. A carta de vinhos é suficiente e os preços foram revistos em baixa - e há várias opções de vinho a copo. Eu recomendo, nos tintos, o Confidencial Reserva e, nos brancos, o Confidencial, ambos da casa Santos Lima e com uma excelente relação qualidade-preço. Av Elias Garcia 180, telefone 217 979 214.

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