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02 de Outubro de 2015 às 09:53

A esquina do Rio

Portugal é um país dado a deixar obras por acabar - das capelas imperfeitas até reformas políticas. Neste Domingo o que está em questão é concluir um percurso ou mudar de rumo - embora não se saiba bem em que direcção.

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A melhor competência para um profeta é ter boa memória.
George Saville

Voto
Portugal é um país dado a deixar obras por acabar - das capelas imperfeitas até reformas políticas. Neste Domingo o que está em questão é concluir um percurso ou mudar de rumo - embora não se saiba bem em que direcção. Não encaro isto, para citar um amigo meu, como uma tragédia optimista.
Não estou satisfeito com todos os passos do caminho feito, mas não me apetece voltar a uma estrada esburacada, que é aquilo que António Costa me aponta, inspirado talvez pelo estado em que deixou as ruas de Lisboa. Durante meses encarei abster-me - mas decidi que, apesar da desconfiança que tenho na maioria dos políticos e no sistema partidário, não quero contribuir para deixar mais uma obra a meio. Para mim a abstenção é um voto em Costa e não o quero dar. Também eu gostava que os partidos da coligaçãp PàF (que raio de nome) fossem sensíveis aos problemas sociais que uma política de contenção da despesa do Estado provoca. Também teria apreciado que fossem menos seguidistas em relação aos falsificadores de motores.
Mas prefiro dar o meu voto a quem já sei ao que vai, do que a alguém que tem o ziguezague como linha política e cuja obra passada não me inspira confiança para o futuro.

Semanada
• A delegação permanente do FMI em Lisboa encerrou esta semana, ao fim de quatro anos  a receita do IMI subiu o dobro do que estava previsto  o partido PAN (Pessoas- Animais-Natureza) defendeu a criação do Estatuto Jurídico do Animal  António Costa prometeu um Ministério da Cultura num almoço com 200 artistas; Catarina Martins defendeu o voto aos 16 anos  Mário Soares apelou ao voto no PS; Gonçalo da Câmara Pereira, líder do PPM, foi à sede da Antral, garantir o seu apoio aos taxistas na luta contra a Uber  António Costa convidou Maria de Belém para uma arruada no Chiado  "já estou velho para ser ministro" - disse o líder do PDR, Marinho e Pinto  Francisco Van Zeller, ex presidente da CIP, afirmou que uma aliança entre o PS e o PSD é a única solução  Rui Tavares, do Livre, apelou a uma união com o PS, BE e PCP  António Costa respondeu que "está sozinho contra a direita unida  António Costa disse que, se não vencer as eleições, vota contra o Orçamento de Estado que for apresentado pelo novo Governo  Passos Coelho disse que, se perder as eleições, não votará contra o Orçamento de Estado que for apresentado pelo novo Governo  "isto é tudo muito bonito, mas as sondagens não votam" - afirmou Passos Coelho  Rui Tavares disse que o Livre é "a única novidade na política portuguesa"  há 23 partidos no boletim de voto destas eleições, o maior número de sempre.

Dixit
Estou descontente com o presente mas receio o futuro.
Ângela Monteiro, cidadã de 30 anos, indecisa sobre o sentido do seu voto.

Folhear
Estamos numa época em que o aumento da penetração do digital coincide com o renascer da edição de revistas em papel, tornadas num produto raro, muito elaborado do ponto de vista editorial, de design e de impressão. Todos os meses descubro publicações que se dedicam a temáticas inesperadas com abordagens editoriais surpreendentes. A Kinfolk é uma revista que se publica desde 2011 nos Estados Unidos, quatro vezes por ano, e que se apresenta como dedicada ao "slow lifestyle", tendo como alvo jovens criativos e jovens profissionais que procuram sugestões para simplificarem as suas vidas, desenvolverem comunidades e passarem mais tempo com família e amigos. É assim que ela se apresenta no site (www.kinfolk.com) e também no Facebook. Actualmente a Kinfolk, além da edição original norte-americana, tem edições autónomas no Japão, China, Coreia e Rússia. Com correspondentes por todo o mundo, a revista, nas suas várias edições, organiza dezenas de eventos que servem para congregar e desenvolver a sua comunidade de leitores. A edição mais recente, que tem por tema de capa a Família, é um exemplo de criatividade editorial: explora temas como a persistência de actividades criativas em famílias que há muito dão atenção a esta área, sugerindo até a existência de um gene criativo; noutro ponto percorre a importância das recordações e da memória, com base em escritos ou imagens. A isto acrescem o relato de um dia na vida de alguém e uma divertida zona de leituras recomendadas chamada "A Minha Mesa de Cabeceira". Por falar em mesas um dos artigos engraçados desta edição é sobre as múltiplas utilidades que uma mesa pode ter, além das mais óbvias, que são comer ou trabalhar. Com 160 páginas impressas em bom papel mate, a Kinfolk custa 18 dólares na edição original e chega a Portugal a 22 euros - encontrei-a numa Bertrand.

Ver
A obra de Paulo Brighenti vive da explosão de cores e da maneira como as manchas cromáticas criam formas e desenham ambientes. Brighenti (na imagem junto a duas das obras desta mostra) é um dos artistas plásticos mais interessantes da sua geração e tem vindo a fazer um percurso consistente, evolutivo, mas com pontos de ruptura que mostram a sua busca pela exploração de novos caminhos. "Família", a exposição que esta semana abriu na Galeria Baginsky, evidencia isso mesmo através da alteração da escala que agora explora, da introdução de formas inesperadas e de uma abordagem diferente da utilização das cores, que tem sido uma das facetas marcantes do seu trabalho. A exposição fica na Baginski até 7 de Novembro (Rua Capitão Leitão 51-53).
Outra sugestão: "Os artistas do KWY na colecção Manuel de Brito", uma incursão pelas obras de Lourdes de Castro, René Bertholo, João Vieira, José Escada, Costa Pinheiro e Gonçalo Duarte, o colectivo que editou em Paris doze números da revista KWY e que juntava ainda os nomes de Christo e de Jan Voss. Mas nessa revista foram igualmente divulgadas obras de outros artistas, também representados nesta exposição, como Vieira da Silva, Arpad Szenes, Jorge Martins ou Mimmo Rotella, entre outros. No Palácio Anjos, em Algés até 24 de Março.

Gosto
Da ideia do Museu Nacional de Arte Antiga de expor reproduções exactas de algumas das suas obras mais emblemáticas nas ruas do Chiado, Príncipe Real e Bairro Alto.

Não gosto
Um quinto dos idosos portugueses está em risco de pobreza.

Provar
Chama-se Tabernáculo, foi criado e é dirigido por Hernâni Miguel, um histórico da noite lisboeta. Fazedor de tertúlias, foi ele quem pôs de pé o histórico Tagus, no Bairro Alto, durante uns anos ponto de encontro de uma geração de músicos, jornalistas, artistas. Era o sítio onde sempre se encontrava alguém conhecido e o Hernâni tem a arte de conseguir atrair pessoas, juntá-las e tornar os seus espaços como que uma sala de convívio de bons amigos.
Depois de voltas várias, a última das quais na LX Factory, apresenta agora este Tabernáculo, na Rua de S.Paulo, mesmo ao lado do elevador da Bica. A casa propõe petiscos e copos, está aberta do meio dia às duas da manhã - portanto pode-se ir lá desde o almoço à ceia. Tábuas de queijo e de enchidos (estes assados em lenha de azinho), tapas feitas a partir das já afamadas conservas José (eu acho as de cavala uma especialidade), e daqui a algum tempo petiscos africanos para ir descobrindo outros sabores. A ideia é mesmo petiscar, com a companhia de bons vinhos - a casa estabeleceu um protocolo com a Bacalhoa, que tem lá várias propostas, desde o Serras de Azeitão até ao espumante Loridos. Claro que há outros copos - desde o Gin à cerveja, mas para picar um queijo ou enchido o vinho vem a calhar. O espaço é dentro de uma construção tradicional em abóbodas e arcos e, numa zona lateral, está instalada uma Adega Bacalhoa, a evocar uma antiga taberna, com tonéis à vista. E logo à entrada, do lado direito, está uma das grandes atracções da casa - uma máquina de pinball clássica, da série "Star Wars". Só por isso já vale a pena lá ir. Rua de S. Paulo 218.

Arco da velha
No meio de umas obras inacabadas da Epal, numa rua de Alvalade, bem perto da Avenida da Igreja, nasceu um tomateiro que já está a dar os primeiros frutos.

Ouvir
Keith Richards, dos Rolling Stones, 71 anos bem vividos, não editava um disco a solo desde 1992. "Crosseyed Heart", agora publicado, é uma viagem às suas origens musicais, baseada sobretudo nos blues que o têm inspirado. É um daqueles discos em que se sente que o autor teve um enorme gôzo e fez o que quis, tocou o que lhe apeteceu, como lhe apeteceu. Tem temas acústicos a evocarem o grande bluesman Robert Johnson (como a faixa título "Crosseyed Heart") e outros onde a guitarra de Richards se destaca de formas diferentes ("Heartstopper", "Amnesia" ou "Trouble"), todos a mostrarem a eficácia com que ele a toca. Há mais momentos incontornáveis - a evocação de Gregory Isaacs em "Love Overdue" ou dos Weavers de "Goodnight Irene", em ambos os casos com Richards a mostrar como fazer uma versão é conseguir ser fiel, mas fazendo algo diferente. Finalmente, num piscar de olho geracional, Richards e Norah Jones fazem um dueto discreto e sedutor em "Illusion". Ao lado de Keith Richards, em vez dos outros Stones, estão Steve Jordan, Ivan Neville e Waddy Wachtel. Fica feita a prova de que Richards vive para além da fama que ganhou com os Stones, demonstrada a vivacidade da sua guitarra, e reconhecida a sua devoção aos Blues. CD ouvido no Spotify.
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