Opinião
A esquina do Rio
O mundo está num processo de mudança complexo e um dos sinais disso mesmo é a percepção de que a democracia liberal se está a tornar num regime geograficamente limitado e progressivamente mais minoritário.
Back to basics
Num regime democrático, cada partido dedica o melhor das suas energias a dizer que o outro partido é incapaz de governar - e ambos têm razão e acertam de forma alternada.
H.L. Mencken
Geografias
O mundo está num processo de mudança complexo e um dos sinais disso mesmo é a percepção de que a democracia liberal se está a tornar num regime geograficamente limitado e progressivamente mais minoritário. A noção ocidental de regime democrático é um conceito que países como a China, a Rússia e grande parte dos países árabes (para não falar do Estado Islâmico e da Coreia do Norte) não pratica. A chamada democracia liberal está confinada geograficamente a uma porção da Europa e à maioria do continente americano -, mas é muito frágil ou inexistente em vastas regiões da Ásia, de África e da Europa Central e Oriental.
Hoje em dia é cada vez mais frequente observar que líderes de alguns países não hesitam em proclamar o seu autoritarismo - um contraste significativo com uma época, recente, em que por todo o mundo novos líderes políticos diziam rever-se no retrato das democracias liberais.
A crise económica, os conflitos, o fracasso das reformas e a quebra de desenvolvimento de muitas dessas democracias e a proliferação de conflitos abriram campo para o ressurgir dos nacionalismos e dos autoritarismos, assim como de novos fenómenos como o jihadismo - bons pretextos para, em nome da segurança, alguns Estados limitarem a democracia. Mesmo em países onde o regime democrático existe assiste-se a uma crise latente no modo de funcionamento do sistema político. O sistema apodreceu e o mais perigoso de tudo é não o perceber a tempo.
Semanada
• Rui Rio atacou os jornalistas que noticiaram que ele pretendia ser candidato à Presidência da República • Segundo a "newsletter" "Confidencial", Rui Rio já começou a contactar potenciais financiadores da sua campanha às presidenciais • Jorge Jesus passou do Benfica para o Sporting quinze dias depois de se sagrar campeão; quatro dias depois de ter insistido na realização do congresso que o reelegeu, Blatter demitiu-se de presidente da FIFA • A posição das empresas patrocinadoras dos eventos da FIFA, que ameaçaram retirar todos os patrocínios perante os escândalos revelados, terá sido a razão para o recuo de Blatter • As apostas ilegais nos resultados da I Liga portuguesa devem representar 30 milhões de ano por ano e estima-se que três milhões de euros sejam destinados a subornos para manipulação de resultados, revela um estudo do Parlamento Europeu • Os "ratings" dos bancos nacionais foram cortados 60 vezes desde 2011 • Segundo o Bareme Imprensa Crossmedia 2015, da Marktest, 82,1% dos portugueses contactam com a imprensa, quer seja em papel ou no meio digital; Miguel Relvas vai lançar um livro intitulado "O Outro Lado da Governação", que será apresentado por Durão Barroso • Polícias da PSP queixaram-se da ministra da Administração Interna ao primeiro-ministro • num debate sobre políticas culturais, a vocalista dos Óquestrada disse a Sampaio da Nóvoa que ele tinha "uns olhos muito bonitos para colocar em outdoors".
Dixit
Décadas depois de Abril, alguém de direita ainda causa espanto e indignação.
Maria de Fátima Bonifácio n'Observador
Folhear
"As Mulheres que fizeram Roma - 14 histórias de poder e violência" agrupa de uma forma aliciante outras tantas narrativas sobre a vida de mulheres que estiveram ligadas a episódios que marcaram a História do Império Romano, como Reia Sílvia, Lucrécia, Cleópatra, Valéria Messalina, Agripina ou Helena de Constantinopla. Carla Hilária Quevedo conta episódios de luta pelo poder e descreve a importância que as mulheres tiveram em diversas fases do Império, como eram encaradas, qual o seu papel na sociedade e como eram vistos temas como o casamento, a maternidade ou o adultério. Através da sucessão de episódios, e do seu permanente enquadramento na época em que ocorreram, é possível perceber como evoluiu a noção de poder imperial, como se alteraram os hábitos e costumes, como a própria lei e a moral se vão adaptando e como as religiões se cruzam com o andar dos tempos e como a nossa própria compreensão do passado se foi modificando. É sempre o poder - seja a sua conquista, seja o seu exercício - que baliza as histórias aqui contadas e, no fundo, a História ao longo dos séculos. Para quem gosta de ler os pormenores da História e os seus episódios menos conhecidos, este é um livro aliciante. Edição Esfera dos Livros.
Provar
Aberto há pouco tempo, o restaurante do Hotel Porto Bay Liberdade corre o risco de se tornar num ponto incontornável na zona da Avenida. O restaurante Bistro 4 tem uma carta preparada pelo Chefe Benoit Sinthon, um francês que vive há largos anos na Madeira e que aí ganhou uma estrela Michelin, a única do arquipélago, no restaurante Il Gallo D'Oro do Hotel Cliff Bay, que pertence ao mesmo grupo desta nova unidade que abriu em Lisboa. A sala é ampla, embora incaracterística, mas o pátio adjacente, situado entre prédios, bem protegido do vento, é verdadeiramente um local à parte no centro da cidade. A lista propõe um sortido de petiscos frios e quentes de entrada e uma carta com opções muito variadas. Na mesa estava um cesto de pão de boa qualidade, manteiga com flor de sal e patê de atum com azeitona, a preparar a chegada das entradas escolhidas - um ceviche muito bem temperado e uma cavala marinada com legumes, ambos a exceder as expectativas. Passando a coisas mais sérias, a escolha recaiu num tártaro de vitela com cebola confitada e batata frita em rodelas finíssimas rendilhadas, e num couscous chow mein, quente, com camarão, verdadeiramente surpreendente. A garrafeira tem uma ampla e cuidada selecção e a copo existem boas opções - no caso, provou-se um Morgado da Calçada Branco Reserva de 2010 e um Ninfa Escolha de 2012, do enólogo Rui Reguinga, que se revelou uma opção acertada. A terminar, partilhou-se a sobremesa Paris-Lisboa-Funchal, ou seja, massa choux com recheio de pastel de nata, raspas e pedaços de bolo de mel. O Bistro 4 fica na Rua Rosa Araújo 6, junto à esquina com a Avenida da Liberdade, telefone 210 015 700.
Gosto
Da aplicação web opontodoparlamento.org, que permite seguir a assiduidade e o tipo de trabalho desenvolvido pelos deputados - útil em ano eleitoral.
Não gosto
De não poder escolher entre usar um táxi maldisposto ou um Uber atencioso.
Ver
José Barrias é um importante artista português que, desde 1968, vive em Milão. Utiliza o desenho, a pintura, a fotografia e a escultura, que frequentemente conjuga na criação de instalações. As suas exposições têm um acentuado cuidado na apresentação e encenação das obras, uma atenção ao detalhe e um cuidado visual, que por vezes parece quase cinematográfico, como foi bem evidente quando apresentou "In Itinere", na Fundação de Serralves, em 2011. Uma outra característica de José Barrias é o seu interesse em conhecer a obra de novos artistas e a vontade que tem de trabalhar em conjunto com eles, explorando as diferenças de gerações e de linguagens, mas procurando as complementaridades e os pontos de contacto. É o que acontece com a exposição "Inside Outside", o cruzamento entre a obra de uma quase estreante, Bárbara Fonte, e o trabalho do próprio José Barrias, que inaugurou na passada semana, na Plataforma Revólver. No fundo, esta é, para ambos, uma exposição de desenhos, que por vezes assumem outras formas, esculturas, instalações, fotografias - mas é o imaginário do desenho que permanece como fio condutor. É, aliás, o próprio desenho que foi usado para criar o cenário de acolhimento nas paredes das salas do edifício onde decorre a exposição. É uma exposição surpreendente - por alguns dos desenhos de Bárbara Fonte e pelo ambiente criado pelas obras de José Barrias, marcantes, e pela própria envolvente que ele criou com numerosos pormenores e que obrigam a uma constante revisão da forma de ver o que está à vista - criando a deliberada dúvida sobre onde é o começo e o fim da exposição. Na Rua da Boavista 84, informações em www.transboavista-vpf.net.
Arco da velha
As celebrações do Dia Mundial da Criança organizadas pela Câmara Municipal de Portalegre, com o apoio da PSP, incluíram a simulação de um motim por crianças em idade pré-escolar, e enquanto umas faziam de polícia com escudos e capacetes, outras representavam manifestantes que lançavam "pedras" feitas de papel às autoridades.
Ouvir
Terence Blanchard é um dos grandes trompetistas de jazz norte-americanos e, nos últimos anos, tem feito algumas incursões na fusão com outros géneros musicais. Com Don Was a dirigir agora a Blue Note, as experiências de fusão são encorajadas e daí esta incursão que passa também pelos rhythm'n'blues e o funk, não perdendo as referências no jazz contemporâneo.
Trata-se da primeira gravação de Blanchard com o seu novo quinteto, o E Collective. O título do álbum, segundo o próprio Blanchard, evoca as três últimas palavras pronunciadas por Eric Garner, "I can't breathe", quando foi imobilizado e asfixiado por um polícia em Nova Iorque num polémico caso ocorrido em Julho de 2014. O disco começa com uma surpreendente versão de "Compared To What", um tema de Les McCann e Eddie Harris, onde o trompete de Blanchard se cruza com a voz de PJ Morton (que aparece em mais faixas do disco) e as percussões de Oscar Seaton. É um inesperado começo para um disco onde o trompetista se aventura também em versões de "I Ain't Got Nothin' But Time", de Hank Williams, ou "Midnight", dos Coldplay, que encerra o CD.
A E Collective dá uma marcante sonoridade funky, capaz de inquietar quem esperava um disco mais tradicional de um trompetista de jazz da escola de Nova Orleães. A minha faixa favorita é "Everglades", um instrumental composto pelo pianista do E Collective, mas entre os vários originais de Terence Blanchard destacaria "Confident Selfleness" e "Tom & Jerry". CD Blue Note, distribuído por Universal Music.
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