Opinião
A esquina do Rio
O Partido Socialista tem um passivo de 11 milhões de euros e há sedes locais em risco de ficarem sem água e luz. António Costa garantiu que o rigor será a marca da governação do PS
Back to basics
É melhor saber colocar algumas perguntas do que querer ter respostas para tudo.
James Thurber
Semanada
• O Partido Socialista tem um passivo de 11 milhões de euros e há sedes locais em risco de ficarem sem água e luz • António Costa garantiu que o rigor será a marca da governação do PS • o programa económico do PS propõe aumento da despesa pública e diminuição das receitas do Estado • Marcelo Rebelo de Sousa diz que a proposta apresentada pelo PS é "a mais sedutora para o eleitorado" • A ex-ministra da Cultura, Gabriela Canavilhas, pediu a expulsão do PS de outro ex-ministro da Cultura, Manuel Maria Carrilho, para que "morra para a vida pública quem agride e maltrate a mulher" • na semana passada, Carrilho tinha pedido a expulsão de José Sócrates do Partido Socialista • a Alemanha é o país que tem maior número de funcionários de topo nos serviços da Comunidade Europeia • a Comissão Europeia considerou que a taxa turística lançada em Lisboa por António Costa contraria a legislação europeia que proíbe a discriminação em função da nacionalidade e chama a atenção para uma proliferação excessiva de taxas com "efeitos negativos sobre a competitividade da indústria do turismo" • até final de 2015, está prevista a abertura de 58 novos hotéis em Portugal, 24 dos quais em Lisboa • o abandono escolar em Portugal continua acima da média da União Europeia • iniciou-se um programa de estágios para maiores de 31 anos • o secretário de Estado Adjunto da Administração Interna demitiu-se em divergência com a ministra Anabela Rodrigues sobre políticas relativas às polícias, que estavam na sua tutela • um preso a cumprir pena no Estabelecimento Prisional de Sintra saiu da prisão e decidiu ir às compras no vizinho Beloura Shopping, onde foi reconhecido por um guarda prisional • a primeira auditoria feita ao Tribunal Constitucional colocou em causa a "fiabilidade" da prestação de contas da instituição e aponta várias irregularidades e descontrolo nas suas despesas.
Dixit
Podemos dizer, olhos nos olhos, aos portugueses que aquilo que nos comprometermos a fazer na oposição é o que faremos no Governo. Só temos uma cara, só temos uma palavra.
António Costa
Qualidade
No sábado passado, a revista Monocle realizou em Lisboa a sua conferência inaugural, sob o tema "The Quality Of Life". O evento trouxe a Portugal centena e meia de participantes que vieram desde São Francisco até ao Japão, passando por Singapura e uma série de países europeus (sobretudo do centro e Norte da Europa), e ainda da Coreia ou da Austrália. Era um núcleo duro de seguidores da revista, interessados em arquitectura, design, cultura urbana, "media" e a vida nas cidades com tudo o que ela comporta. Dos painéis a que assisti, destaco dois: "How do media brands make our cities?" e "How the museums became the modern cultural powerhouse".
Do primeiro destes painéis retenho algumas ideias-chave: assistimos a uma evolução do chamado jornalismo isento do século XX para um jornalismo com atitude, no século XXI - e quem conseguiu evoluir neste padrão conquistou as suas audiências, que vieram procurar conteúdos diferentes; o exemplo do grupo de "media Vice", nascido no digital, que está a evoluir para a televisão com a HBO, e que ganha penetração pelas suas aplicações para dispositivos móveis numa série de países, é um excelente modelo do que se pode fazer nesta área de forma inovadora e conquistando novos públicos; e, finalmente, o próprio exemplo da Monocle, um produto que existe sobretudo no formato de papel, de revista, que se tornou global e que conseguiu conciliar/acompanhar pequenos detalhes do dia-a-dia com fomentar uma massa crítica de leitores suficiente para se manter, fazendo-o com estilo e sem concessões.
A Monocle cresceu a criar comunidades, a unir essas comunidades com eventos, a negar-se a ceder os seus conteúdos do papel sob qualquer forma digital, a oferecer-lhes soluções relacionais novas, como a rádio que funciona em "streaming" com conteúdos próprios e numa aplicação para "smartphones", e ainda com as suas lojas e produtos exclusivos que mostram, de forma clara, a sua força de marca; no ar ficou a ideia de que a morte anunciada do papel impresso ainda não é caso arrumado e de que existem sinais geracionais de uma evolução do ecrã para o suporte impresso.
No outro painel, dedicado aos museus, foi estimulante ouvir os responsáveis do Victoria & Albert, de Londres, e do Rijksmuseum, de Amsterdão, a falar das suas estratégias de captação de públicos e da forma como programam para poderem chegar a novas audiências; em comum, o princípio de que os museus são apenas depositários de obras que pertencem a todos - "All Of This Belongs To You", um dos lemas do museu britânico; mas também a forma como isto se materializa - o Rijksmuseum pegou em reproduções de algumas das suas obras e cedeu-as a uma marca de leite para figurarem em embalagens de cartão, que trazem essa arte à mesa de pequeno-almoço dos holandeses; em comum, também a ideia de que num mundo todo digitalizado começa a desenhar-se uma tendência para o regresso aos suportes físicos e aos objectos propriamente ditos - porque quanto mais se divulga a imagem digital mais as pessoas querem ver o objecto físico verdadeiro, real; isto é, o meio de comunicação, o suporte de transporte da imagem, não interessa, o que interessa é o conteúdo; e, finalmente, o fim da separação entre épocas: o painel defendeu que a grande arte é sempre contemporânea - desde o momento em que foi criada até ao momento em que se tornou reconhecida, e o fundamental é que os artistas vivam e mostrem de forma autêntica o seu próprio tempo.
Gosto
Da exposição "Florestas Submersas", imaginada pelo japonês Takashi Amano para o Oceanário de Lisboa, e que conta com música ambiente de Rodrigo Leão.
Não Gosto
Que Passos Coelho se tenha referido à morte de Mariano Gago sublinhando que o fazia "apesar de ter servido em governos do Partido Socialista".
Ver
Desde há alguns meses, o Hotel Tivoli (Avenida da Liberdade, 185) promove regularmente exposições de artistas contemporâneos, e esta semana Pedro Calapez apresentou um conjunto de peças que intitulou "Além do Horizonte", citando a obra de Eugene O'Neill. No "hall" de entrada do hotel está uma peça de grandes dimensões (na imagem), acrílico sobre alumínio, dois meios cilindros abertos, a remeter para a "street art", intitulada "Half Pipe". Dentro da Brasserie Flo, ao lado da entrada do hotel, uma sala magnífica, três quadros dominam o restaurante, visíveis de quase todas as mesas - foram feitos entre 2013 e 2015 e têm a designação genérica de "Horizontes". As obras de Pedro Calapez vão estar no Tivoli até 22 de Julho, num bom exemplo de cruzamento de um espaço que alberga públicos diversificados e cosmopolitas com a arte contemporânea. Outra exposição a ver, e também inaugurada esta semana, é "Cidades Invisíveis", um conjunto de imagens fotográficas manipuladas, de Graça Sarsfield, que estarão na Galeria Giefarte (Rua da Arrábida 54 B) até 29 de Maio.
Provar
No velho centro comercial Roma, que começou por ser Tutti-Mundi, houve obras de renovação. Agora, no piso inferior há um espaço, "Cantinho do Paladar", especializado em carne mertolenga. Os nomes dos menus são um bocado irritantes, género "Aconchego da Alma", que significa uma sopa de legumes e dois pastéis de massa tenra, bebida e café, tudo por 5,90€. Os menus, aliás, variam até aos 7€ e os tais pastéis, que se vendem à peça a 1,50€ cada, podem vir acompanhados por salada mista, por uns legumes estufados ou uma salada montanhesa.
Os pastéis pretendem rivalizar com os da Frutalmeidas, do outro lado da rua, mas isso ainda está longe de acontecer. O recheio de carne é bom, bem temperado, mas a fritura que me calhou foi péssima - fritos demais, escurecidos e com demasiada gordura não escorrida -, com a textura da massa e o seu sabor completamente aniquilados pela má fritura. Há alternativas, como um inevitável estaladiçamertolengo -, mas o que é bom mesmo é o prego especial, servido numa carcaça honesta, com mostarda de alcaparras e pickles - peçam-no mal passado e insistam porque a cozinha exagera no tempo de confecção. Também há bifes no prato com mandioca estaladiça, e vários menus de almoço e jantar. As mesas são sólidas e confortáveis e há algumas gulodices para rematar - desde um pudim de mel e azeite até uma torta de laranja - tudo calorias garantidas. Com muito maior cuidado na confecção, talvez possa evoluir. Centro Comercial Roma, piso -2, loja 10/11, Avenida de Roma 48 B.
Arco da Velha
A tradicional broa de milho, um símbolo da gastronomia regional portuguesa, está a ser feita em parte com milho transgénico, sem que o consumidor tenha disso qualquer conhecimento e os distritos de Braga, Viana do Castelo e Porto são aqueles onde se verificam percentagens mais altas daquele cereal geneticamente modificado.
Ouvir
"Soundprints" é o disco de Joe Lovano & Dave Douglas que recupera a gravação de um concerto realizado em 2013 no Festival de jazz de Monterey. São seis temas - dois de Lovano, dois de Douglas e outros dois, novos, apresentados em público pela primeira vez nessa ocasião, de Wayne Shorter - que é assumido como uma das fontes de inspiração do quinteto. O trompete de Dave Douglas e o saxofone de Joe Lovano são acompanhados pelo piano de Lawrence Fields, o baixo de Linda Oh e a bateria de Joey Baron - e é este quinteto que tem actuado sob a designação de Soundprints, o nome da faixa inicial, e que se estreou precisamente em Monterey. O resultado é uma demonstração de ousadia musical e de entendimento entre os cinco músicos. Os meus temas preferidos são "To Sail Beyond The Sunset", "Sprints" e "Power Ranger" - CD Blue Note.