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29 de Agosto de 2014 às 09:59

A esquina do rio

Chega agora aquela altura do ano em que os partidos criam uns acontecimentos a que chamam universidade de Verão, ou qualquer outra coisa do género, para dar um ar de trabalho e respeitabilidade.

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Back to Basics

Não posso fazer mudar a direcção do vento, mas posso ajustar as velas do meu barco de maneira a conseguir chegar ao meu destino. James Dean

 

 

Semanada

• Em Portugal, registam-se, por ano, dez mil incêndios urbanos que provocam 60 mortes • a Provedoria de Justiça deu razão a queixas contra a Cresap - comissão criada pelo Governo e liderada por João Bilhim para escolher dirigentes no Estado - e aponta violações da lei, critérios "arbitrários" e "conceitos indeterminados" na selecção e nos concursos • João Bilhim referiu que a Cresap "é um sonho do senhor primeiro-ministro", acrescentando que "numa cultura da Europa do Sul, ou seja, do azeite, não é fácil aceitar a lei do mérito e a intervenção de uma entidade administrativa independente" • António José Seguro admitiu não poder garantir que vá baixar impostos se for primeiro-ministro • António Costa quer debater menos que Seguro - Costa propõe debates televisivos de 25 minutos e Seguro propõe 45 minutos • a hotelaria algarvia registou, no primeiro semestre deste ano, 6,5 milhões de dormidas, mais 13,1% do que no período homólogo • a dívida da Câmara de Lisboa ultrapassa os 500 milhões de euros, mais do dobro da dívida do Porto • Vila Nova de Poiares, Portimão, Aveiro e Nazaré são municípios que estão com a corda na garganta e já mostraram interesse em recorrer a uma linha de emergência do Governo para pagar salários, transportes escolares e outros pagamentos essenciais mais urgentes  o Museu do Brinquedo, em Sintra, vai encerrar Domingo por falta de apoios.

 

 

Drones

Chega agora aquela altura do ano em que os partidos criam uns acontecimentos a que chamam universidade de Verão, ou qualquer outra coisa do género, para dar um ar de trabalho e respeitabilidade. No geral, é perpetuamente convidado o mesmo conjunto de notáveis. Em cada partido há o cuidado de ir buscar um notável do partido ao lado, e todos ficam felizes repetindo, quase todos os anos, os mesmos relatos das suas experiências passadas. Poucos são, no entanto, os que falam das realidade presentes e dos desafios futuros - o maior dos quais é a reforma do sistema político e partidário, assunto declarado tabu, apesar de todas as iniciativas não partidárias em curso sobre essa matéria. Toca-se ao de leve no tema mas, verdadeiramente, a reforma do sistema não é interiorizada como uma prioridade - se o fosse, o arco parlamentar provavelmente mudaria. É interessante como os partidos são incapazes de reflectir sobre si próprios - por exemplo, sobre esse "case study" de conspiração interna em que se tornou o PS ou sobre a aliança entre negócios e política, que toca todo o arco da governação de forma mais ou menos acentuada. Mas não os ouço a reflectir sobre as expectativas dos eleitores, sobre as possibilidades que a análise dos dados digitais hoje possibilita a nível da acção política, sobre a importância da adopção de estudos de opinião à marcação da agenda política ou sobre a importância de saber comunicar de forma efectiva, em relação aos eleitores, por forma a mobilizá-los e não apenas aos militantes, com o objectivo de os entreter, que é a prática corrente. Há quem demonize o marketing político, mas ninguém assume uma discussão séria sobre esta questão: é mau fazer marketing na política? Ou é preferível criar drones de falatório e politiquice, de que Marques Mendes deve ser o mais genuíno exemplo?

 

 

Dixit

"Sou uma carta fora do baralho".
Marcelo Rebelo de Sousa

 

 

Ver

O Sundance Channel foi criado por iniciativa de Robert Redford em 1996 com o objectivo de exibir filmes de autor, documentários, séries, curtas metragens e reportagens. O projecto cresceu, criou um festival de audiovisual - o Sundance Film Festival - que depressa se tornou uma referência. Na Europa, o canal Sundance apenas tem uma versão na Holanda, por sinal o primeiro país a ter televisão privada num continente dominado por um serviço público cada vez mais arteriosclerótico. O Sundance é uma iniciativa privada que, além de Redford, contou com a CBS e a Universal, até ser comprado, em 2008, pela Rainbow Media. Apesar de não poder ser visto em Portugal, uma pesquisa no YouTube revela muitos dos seus programas e, sobretudo, permite aceder a uma das suas séries documentais de referência, "Iconoclasts", exibida entre 2005 e 2012, e sempre patrocinada por uma marca de vodka premium. O conceito é simples - colocar duas personagens criativas e conhecidas, de áreas diferentes ou não, a falarem uma com a outra sobre o que fazem. No YouTube, encontra os episódios do músico Eddie Vedder com o surfista Laird Hamilton, da cantora Fiona Apple com o realizador Quentin Tarantino, da designer e estilista Stella McCartney com o artista plástico e fotógrafo Ed Ruscha, de Paul Smith com Jamie Oliver (na foto) e, sobretudo, os episódios do próprio Robert Redford a conversar com Paul Newman. Imperdível - e qualquer destes programas, aposto, é mais barato de produzir que uma transmissão de um jogo de futebol, desses que passam a toda hora no serviço público. É isso que me chateia.

 

 

Gosto

Depois de quatro anos de protestos dos utilizadores dos parques naturais do País, o Governo aboliu a polémica portaria que implicava o pagamento de uma taxa de 152 euros para a realização de uma simples caminhada.

 

 

Não gosto

O Jardim da Graça, prometido pelo executivo de António Costa para 2009, primeiro, e para 2013, depois, continua com as obras paradas desde há meses, mas José Sá Fernandes arranjou tempo e recursos para mandar retirar do Jardim da Praça do Império os brasões das ex-colónias.

 

 

Folhear

O número de Setembro da revista Vanity Fair é a edição anualmente dedicada ao Estilo, e que inclui a escolha dos que são considerados como os mais elegantes e mais bem vestidos - aqui fotografados por Mario Testino. Mas as principais matérias de interesse da revista têm a ver com outros estilos. Destaco o artigo sobre o projecto criado pelo arquitecto Frank Gehry em Paris, no Bois de Boulogne, para albergar a Fundação Louis Vuitton
- descrito pela revista como um edifício diferente de qualquer coisa que antes se tenha conhecido, "um casamento de ambição cultural com empreendedorismo". Faço questão de recordar que Lisboa não tem um projecto de Frank Gehry
- por sinal, fantástico (tive ocasião de o conhecer) - paredes meias com a Avenida da Liberdade por culpa principal desse nefasto Presidente da República chamado Jorge Sampaio, que vetou a utilização de verbas do Casino e do Jogo para a sua construção. O projecto de Gehry para Lisboa seria construído se Sampaio não o tivesse impedido, no local onde continuam apenas a existir os destroços do Parque Mayer, que António Costa e Sá Fernandes persistem inabalavelmente em manter
- mais um sinal da actuação de Costa na cidade que desgoverna, em estágio para querer fazer o mesmo ao País. Eu gostava que em Portugal, volta e meia, se fizesse a memória de algumas coisas e se investigasse, numa boa reportagem, o que levou um Presidente da República a impedir aquilo que seria uma obra de arquitectura marcante para Lisboa, com um enorme impacto no seu posicionamento internacional. Talvez nessa altura tivéssemos umas páginas da Vanity Fair a olhar para Lisboa.

 

 

Arco da Velha

A KPMG, auditora do BES, recusou-se a assinar as contas do banco relativas ao primeiro semestre deste ano.

 

 

Ouvir

Lana Del Rey é uma provocadora que agora se apresenta como guardiã de memórias do passado na música pop de hoje. Só assim se compreende a forma como ela evoca filmes antigos, como percorre a estética de imagem e até da música dos anos 60 e 70. A canção que dá nome ao álbum, "Ultraviolence", repete a frase ""He Hit Me (And It Felt Like a Kiss)", que era o título de um original de Carole King e Gerry Goffin, gravada pelos Crystals e Phil Spector nos anos 60. Muita da força deste disco, ao nível dos arranjos, da intensidade das guitarras e da sonoridade criada deve-se a Dan Auerbach, dos Black Keys, que exerceu a função de produtor. É sabido que os Black Keys gostam dos anos 70, mas este disco é mais que uma ida ao passado, é como um perverso exercício de nostalgia, nas letras e na música. Os temas mais marcantes são "West Coast", "Brooklyn Baby", "Money Power Glory", "Old Money" e, claro, "Fucked My Way Up To The Top" e "Cruel World", a faixa de abertura. Em todos se nota o mesmo recado - um mundo que se foi tornando num museu confuso, em que a cultura se repete e em que todos copiam todos e imitam quem podem. Aqui está um álbum intrigante e sedutor.

 

 

Provar

Jorge Rodrigues é um dos chefs de cozinha algarvios que mais se tem destacado nos últimos anos. Combina a fidelidade às tradições gastronómicas da sua região com uma assinalável capacidade criativa e posiciona-se numa cozinha de inspiração mediterrânica - um dos seus prémios diz respeito à forma como elaborou um tamboril em molho de carabineiro suado na cataplana. É ele o responsável pelo restaurante "O Convento", localizado no Convento das Bernardas, em Tavira, reconstruído em 2010 pelo arquitecto Souto Moura, e que era o maior convento do Algarve. O restaurante fica numa sala ampla e tem uma lista tentadora. Nas entradas, destaco as ostras da Ria Formosa ao natural, fresquíssimas, e um carpaccio de polvo com saladinha montanheira e vinagrete de coentros. Na parte mais substancial, quem quis as ostras de entrada avançou para o polvo de Tavira confitado sobre esmagada de batata doce e misto de legumes, e quem começou pelo carpaccio escolheu os filetes de cavala na chapa com açorda de ostras e aroma a poejo. Do princípio ao fim, tudo excedeu as expectativas - desde a manteiga de amêndoa no couvert, até à trilogia de amêndoa, alfarroba e figo na sobremesa, acompanhada por um shot de medronho. A lista dos vinhos é assumidamente algarvia e o destaque da casa vai para a produção da Quinta do Barranco Longo. Na ocasião, bebeu-se o branco, que esteve à altura da refeição servida. É, sem nenhuma dúvida, o melhor restaurante do Algarve ao qual fui nos últimos tempos.
O Convento, Rua Dom Paio Peres Correia, Tavira, telefone 281 329 040.

 

 

 

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