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Opinião
08 de Agosto de 2014 às 09:47

A esquina do rio

O meu ponto de partida numa conversa de café é sempre complicado - desprezo o futebol, que acho um jogo menor.

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Back to basics

A inveja é a úlcera da alma. Sócrates, filósofo grego

 

Semanada
• Um país em festa: o estudo TGI da Marktest contabiliza cerca de 1,5 milhões de indivíduos que referem ter ido a uma discoteca nos últimos 12 meses • existem 20 mil cães perigosos registados em Portugal  em Junho de 2011, a população activa portuguesa era de 5,5 milhões de pessoas e, em Junho deste ano, tinha descido para 5,24 milhões  novas admissões na Função Pública representam um terço dos 90 mil empregos criados no segundo trimestre deste ano  seis em cada 10 empregos gerados no segundo trimestre foram para trabalhadores com mais de 45 anos  a Feira do Livro de Lisboa deste ano passou, pela primeira vez na história do evento, a barreira do meio milhão de visitantes  270 reuniões de comissões de inquérito parlamentares resultaram em nada, em termos de procedimentos subsequentes  a recém recuperada Ribeira das Naus, em Lisboa, tem água poluída e uma quantidade anormal de mosquitos  o Provedor de Justiça recomendou que os fiscais da EMEL esperem "um tempo razoável", antes de aplicarem multas, para dar tempo aos automobilistas de trocarem moedas e afixarem o comprovativo  a EMEL passou uma multa a um cidadão que estava morto e nunca teve carro  as empresas de transporte público de Lisboa e Porto perderam, desde 2010, mais de 145 milhões de passageiros, tendo apenas o Metro do Porto conquistado clientes  no ano passado, registaram-se quase três milhões de falsas urgências nos hospitais; faltam cerca de 25 mil enfermeiros no sistema hospitalar  o Benfica registou seis derrotas nos jogos de pré-época das últimas semanas  Julho deste ano foi o mais chuvoso do século
 o ministro Pires de Lima classificou de "desfaçatez" o comportamento da PT em relação do BES.

 

 

Potencial
O meu ponto de partida numa conversa de café é sempre complicado - desprezo o futebol, que acho um jogo menor. Não me distrai, não me encanta e aborrece-me. Não sei falar sobre o assunto. Esteticamente, acho-o medonho. Perturba-me a importância que lhe é dada. Perturba-me ainda mais que ele sirva de desculpa ou escape para muita coisa. O rol de denúncias de falcatruas diversas, os erros de arbitragem, a corrupção, as ligações suspeitas, o crónico endividamento de clubes geridos a proveito de quem lá manda, tudo isto transformou o futebol num jogo de sorte ou azar, em vez de um desporto.
Vivemos num país onde mais depressa os desabafos de Jorge Jesus sobre o estado do Benfica motivam mobilização do que a situação no BES cria movimentações. Isto não é propriamente novidade e, por alguma razão, o serviço público de televisão prefere investir em futebol de mediano interesse do que em programas de referência, como documentários ou ficção. Mas não me quero meter nisso, há muito que se percebeu que mesmo este Governo prefere distrair com o futebol do que investir na criatividade e num audiovisual sustentável. Maduro, que entrou cheio de prosápia, amadureceu tanto que, pelos vistos, apodreceu. Limita-se a ser um vendedor de ilusões sobre a Europa.
Como dizem - e demonstram - livros recentes de Lino Fernandes ("Portugal 2015 - Uma segunda oportunidade?") ou de Félix Ribeiro ("A Economia de Uma Nação Rebelde"), se houvesse estratégia no país em vez de manobras tácticas, muita coisa podia ser diferente. Estas obras mostram dois dos melhores pensadores sobre Portugal das ultimas décadas e demonstram que o país tem potencial, mas desprezou sempre seguir um plano que potenciasse esse potencial. Os seus livros, publicados este ano, mereciam ser estudados por quem governa. Não me parece, infelizmente, que tal suceda. Fazer o que propõem dá trabalho e só tem efeitos de médio prazo - coisa desinteressante numa política que vive de eleições e arranjos.

 

 

Gosto
Portugal ganhou 16 prémios no World Travel Awards Europe e o Turismo de Portugal foi considerado o melhor organismo oficial de Turismo na Europa.


Não gosto
O Estado pagou, desde 2007, mais de 22 milhões de euros por horas de voo, que nunca existiram, dos helicópteros Kamov de combate a incêndios.

 

 

Ver
Duas sugestões algarvias: uma, em Tavira, na Casa das Artes - a exposição dos fotógrafos de "A Pequena Galeria" (na imagem). Ali estão, até 22 de Agosto, cerca de três dezenas de fotografias de Ágata Xavier, António Luiz Sousa, Carlos Gonçalves, Carlos Oliveira Cruz, Guilherme Godinho e Luís Pereira, trabalhos seleccionados a partir do que os autores apresentaram em "A Pequena Galeria" ao longo de 2013 e 2014. A segunda tem a ver com o trabalho da fotógrafa Luísa Ferreira, decorre em São Brás de Alportel e chama-se "À Procura de Um Outro Corpo". As fotografias de Luísa Ferreira estão Museu do Traje e na Antiga Farmácia Passos, e podem ser vistas até ao final de Outubro.

 

Dixit
"A falta de dinheiro no Estado abre espaço à iniciativa privada na Cultura".
Álvaro Covões

 

 

Folhear
Estamos naquela altura do ano em que a Monocle abandona o formato revista e passa a ser jornal. Surge a Monocle Mediterraneo: Mais à frente, aparece a Monocle Alpes, no Inverno, para quem gosta de neve: Mas, por agora, fiquemos a sul, no Mediterrâneo. Esta é uma edição sempre dedicada às praias, aos barcos, ao mar. Aqui há receitas de boas saladas (como uma de lentilhas com atum fresco, fantástica, que experimentámos em casa neste fim-de-semana), há indicações dos melhores bares, de excelentes locais para ficar.
E, por cima disto tudo, Portugal - que não costuma aparecer nesta edição - surge com uma reportagem de duas páginas sobre o trabalho da Força Aérea, na base do Montijo, do esquadrão 751 helitransportado, que já fez mais de três mil salvamentos no mar. É uma história muito bem contada sobre as missões, ambições e acções de um conjunto de homens que garantem a segurança na costa portuguesa. Só por isto já valia ler esta edição veraneante da Monocle.

 

 

Provar
Até fico com pena de dizer isto, mas o Dell'Anima, um novo restaurante italiano da Duque de Ávila, é uma boa ideia mal conseguida. Comecemos pelo espaço, que é muito bom, - esplanada no passeio da renovada avenida, sala interior bem climatizada, e esplanada no pátio das traseiras, arejada, com vegetação e uma fonte que ajuda à sensação de frescura. Mesas grandes corridas onde as pessoas se podem sentar com desconhecidos - mas onde há o risco de calhar ao lado de uma brasileira guinchante, que foi o que me aconteceu. Depois, a lista: grande demais, complexa demais, parece uma proposta de infindável degustação e eu embirro com degustações. No geral, até poderia dizer que há boas propostas, em quase todos os itens, mas de facto a extensão não ajuda a um restaurante que se quer informal e o resultado é que se vai para o óbvio de uma pizzeria - a pizza. Da massa das pizzas só tenho a dizer bem, e dos conteúdos de uma Calabrese que pedi também só tenho a elogiar. O mesmo se aplica à focaccia de entrada, mas não aos gressinos, que não eram frescos. A lista de vinhos volta a ser despropositada nas escolhas, nos preços propostos e na ausência de mais vinhos frescos - brancos e rosés. Também se lamenta a inexistência de um vinho da casa, nas várias variantes possíveis, a um preço que estimule as pessoas a beberem um copo sem terem que beber uma garrafa. O serviço tem muito a melhorar, sobretudo na atenção às mesas, na atenção e rapidez do pedido da conta. Pretensioso na lista de comidas, esquizofrénico na lista dos vinhos, distraído no serviço. Salva-se a pizza. Já não é mau, espero que com o tempo melhore o resto, que o sítio merece.
Ristorante Dell'Anima, Av. Duque de Ávila 42 B, telef 215 926 346.

 

 

Arco da velha
Um terço dos professores que realizaram as provas do Ministério da Educação deram três ou mais erros ortográficos e apenas 37% tiveram a prova limpa sem erros.

 

 

Ouvir
Dois dos maiores êxitos da carreira a solo de Eric Clapton têm a assinatura de J.J. Cale - "Cocaine" e "After Midnight". Nessa época, Clapton saía da ressaca do fim dos Cream e dos Blind Faith e as canções de Cale deram-lhe uma confiança e segurança de que ele precisava na altura. "The Raod To Escondido", um disco de 2006, permitiu a Eric Clapton retribuir a ajuda de Cale. A ideia deste novo álbum de homenagem nasceu depois da morte de JJ Cale e o título vem de uma das suas canções mais conhecidas, "Call Me The Breeze", popularizada pelos Lynyrd Skynyrd. Neste "The Breeze", encontram logo na abertura a faixa que inspira o nome do disco, mas não encontrarão nenhum dos temas que Clapton popularizou. Os melhores momentos do disco vêm da participação de Tom Petty em "Rock And Roll Records", de Mark Knopfler em "Train To Nowhere", de Willie Nelson em "Starbound" e de Don White em "I'Lll Be There". Eric Clapton & Friends, "The Breeze - An Appreciation of JJ Cale", edição Universal, à venda onde ainda há discos.

 

Back to basics
A inveja é a úlcera da alma. Sócrates, filósofo grego


Semanadal Um país em festa: o estudo TGI da Marktest contabiliza cerca de 1,5 milhões de indivíduos que referem ter ido a uma discoteca nos últimos 12 meses l existem 20 mil cães perigosos registados em Portugal l em Junho de 2011, a população activa portuguesa era de 5,5 milhões de pessoas e, em Junho deste ano, tinha descido para 5,24 milhões l novas admissões na Função Pública representam um terço dos 90 mil empregos criados no segundo trimestre deste ano l seis em cada 10 empregos gerados no segundo trimestre foram para trabalhadores com mais de 45 anos l a Feira do Livro de Lisboa deste ano passou, pela primeira vez na história do evento, a barreira do meio milhão de visitantes l 270 reuniões de comissões de inquérito parlamentares resultaram em nada, em termos de procedimentos subsequentes l a recém recuperada Ribeira das Naus, em Lisboa, tem água poluída e uma quantidade anormal de mosquitos l o Provedor de Justiça recomendou que os fiscais da EMEL esperem "um tempo razoável", antes de aplicarem multas, para dar tempo aos automobilistas de trocarem moedas e afixarem o comprovativo l a EMEL passou uma multa a um cidadão que estava morto e nunca teve carro l as empresas de transporte público de Lisboa e Porto perderam, desde 2010, mais de 145 milhões de passageiros, tendo apenas o Metro do Porto conquistado clientes l no ano passado, registaram-se quase três milhões de falsas urgências nos hospitais; faltam cerca de 25 mil enfermeiros no sistema hospitalar l o Benfica registou seis derrotas nos jogos de pré-época das últimas semanas l Julho deste ano foi o mais chuvoso do século l o ministro Pires de Lima classificou de "desfaçatez" o comportamento da PT em relação do BES.


PotencialO meu ponto de partida numa conversa de café é sempre complicado - desprezo o futebol, que acho um jogo menor. Não me distrai, não me encanta e aborrece-me. Não sei falar sobre o assunto. Esteticamente, acho-o medonho. Perturba-me a importância que lhe é dada. Perturba-me ainda mais que ele sirva de desculpa ou escape para muita coisa. O rol de denúncias de falcatruas diversas, os erros de arbitragem, a corrupção, as ligações suspeitas, o crónico endividamento de clubes geridos a proveito de quem lá manda, tudo isto transformou o futebol num jogo de sorte ou azar, em vez de um desporto. Vivemos num país onde mais depressa os desabafos de Jorge Jesus sobre o estado do Benfica motivam mobilização do que a situação no BES cria movimentações. Isto não é propriamente novidade e, por alguma razão, o serviço público de televisão prefere investir em futebol de mediano interesse do que em programas de referência, como documentários ou ficção. Mas não me quero meter nisso, há muito que se percebeu que mesmo este Governo prefere distrair com o futebol do que investir na criatividade e num audiovisual sustentável. Maduro, que entrou cheio de prosápia, amadureceu tanto que, pelos vistos, apodreceu. Limita-se a ser um vendedor de ilusões sobre a Europa. Como dizem - e demonstram - livros recentes de Lino Fernandes ("Portugal 2015 - Uma segunda oportunidade?") ou de Félix Ribeiro ("A Economia de Uma Nação Rebelde"), se houvesse estratégia no país em vez de manobras tácticas, muita coisa podia ser diferente. Estas obras mostram dois dos melhores pensadores sobre Portugal das ultimas décadas e demonstram que o país tem potencial, mas desprezou sempre seguir um plano que potenciasse esse potencial. Os seus livros, publicados este ano, mereciam ser estudados por quem governa. Não me parece, infelizmente, que tal suceda. Fazer o que propõem dá trabalho e só tem efeitos de médio prazo - coisa desinteressante numa política que vive de eleições e arranjos.


GostoPortugal ganhou 16 prémios no World Travel Awards Europe e o Turismo de Portugal foi considerado o melhor organismo oficial de Turismo na Europa.

Não gostoO Estado pagou, desde 2007, mais de 22 milhões de euros por horas de voo, que nunca existiram, dos helicópteros Kamov de combate a incêndios.


VerDuas sugestões algarvias: uma, em Tavira, na Casa das Artes - a exposição dos fotógrafos de "A Pequena Galeria" (na imagem). Ali estão, até 22 de Agosto, cerca de três dezenas de fotografias de Ágata Xavier, António Luiz Sousa, Carlos Gonçalves, Carlos Oliveira Cruz, Guilherme Godinho e Luís Pereira, trabalhos seleccionados a partir do que os autores apresentaram em "A Pequena Galeria" ao longo de 2013 e 2014. A segunda tem a ver com o trabalho da fotógrafa Luísa Ferreira, decorre em São Brás de Alportel e chama-se "À Procura de Um Outro Corpo". As fotografias de Luísa Ferreira estão Museu do Traje e na Antiga Farmácia Passos, e podem ser vistas até ao final de Outubro. 


Dixit"A falta de dinheiro no Estado abre espaço à iniciativa privada na Cultura".Álvaro Covões


FolhearEstamos naquela altura do ano em que a Monocle abandona o formato revista e passa a ser jornal. Surge a Monocle Mediterraneo: Mais à frente, aparece a Monocle Alpes, no Inverno, para quem gosta de neve: Mas, por agora, fiquemos a sul, no Mediterrâneo. Esta é uma edição sempre dedicada às praias, aos barcos, ao mar. Aqui há receitas de boas saladas (como uma de lentilhas com atum fresco, fantástica, que experimentámos em casa neste fim-de-semana), há indicações dos melhores bares, de excelentes locais para ficar. E, por cima disto tudo, Portugal - que não costuma aparecer nesta edição - surge com uma reportagem de duas páginas sobre o trabalho da Força Aérea, na base do Montijo, do esquadrão 751 helitransportado, que já fez mais de três mil salvamentos no mar. É uma história muito bem contada sobre as missões, ambições e acções de um conjunto de homens que garantem a segurança na costa portuguesa. Só por isto já valia ler esta edição veraneante da Monocle.


ProvarAté fico com pena de dizer isto, mas o Dell'Anima, um novo restaurante italiano da Duque de Ávila, é uma boa ideia mal conseguida. Comecemos pelo espaço, que é muito bom, - esplanada no passeio da renovada avenida, sala interior bem climatizada, e esplanada no pátio das traseiras, arejada, com vegetação e uma fonte que ajuda à sensação de frescura. Mesas grandes corridas onde as pessoas se podem sentar com desconhecidos - mas onde há o risco de calhar ao lado de uma brasileira guinchante, que foi o que me aconteceu. Depois, a lista: grande demais, complexa demais, parece uma proposta de infindável degustação e eu embirro com degustações. No geral, até poderia dizer que há boas propostas, em quase todos os itens, mas de facto a extensão não ajuda a um restaurante que se quer informal e o resultado é que se vai para o óbvio de uma pizzeria - a pizza. Da massa das pizzas só tenho a dizer bem, e dos conteúdos de uma Calabrese que pedi também só tenho a elogiar. O mesmo se aplica à focaccia de entrada, mas não aos gressinos, que não eram frescos. A lista de vinhos volta a ser despropositada nas escolhas, nos preços propostos e na ausência de mais vinhos frescos - brancos e rosés. Também se lamenta a inexistência de um vinho da casa, nas várias variantes possíveis, a um preço que estimule as pessoas a beberem um copo sem terem que beber uma garrafa. O serviço tem muito a melhorar, sobretudo na atenção às mesas, na atenção e rapidez do pedido da conta. Pretensioso na lista de comidas, esquizofrénico na lista dos vinhos, distraído no serviço. Salva-se a pizza. Já não é mau, espero que com o tempo melhore o resto, que o sítio merece.Ristorante Dell'Anima, Av. Duque de Ávila 42 B, telef 215 926 346.


Arco da velhaUm terço dos professores que realizaram as provas do Ministério da Educação deram três ou mais erros ortográficos e apenas 37% tiveram a prova limpa sem erros.


OuvirDois dos maiores êxitos da carreira a solo de Eric Clapton têm a assinatura de J.J. Cale - "Cocaine" e "After Midnight". Nessa época, Clapton saía da ressaca do fim dos Cream e dos Blind Faith e as canções de Cale deram-lhe uma confiança e segurança de que ele precisava na altura. "The Raod To Escondido", um disco de 2006, permitiu a Eric Clapton retribuir a ajuda de Cale. A ideia deste novo álbum de homenagem nasceu depois da morte de JJ Cale e o título vem de uma das suas canções mais conhecidas, "Call Me The Breeze", popularizada pelos Lynyrd Skynyrd. Neste "The Breeze", encontram logo na abertura a faixa que inspira o nome do disco, mas não encontrarão nenhum dos temas que Clapton popularizou. Os melhores momentos do disco vêm da participação de Tom Petty em "Rock And Roll Records", de Mark Knopfler em "Train To Nowhere", de Willie Nelson em "Starbound" e de Don White em "I'Lll Be There". Eric Clapton & Friends, "The Breeze - An Appreciation of JJ Cale", edição Universal, à venda onde ainda há discos.

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