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23 de Maio de 2014 às 09:20

A esquina do Rio

Neste fim-de-semana, os portugueses vão dividir-se entre os que seguirão a final da Champions League nas suas várias vertentes, no sábado, e os que seguirão o acto eleitoral de domingo.

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Back to basics
Aparentemente, a democracia é uma situação em que são realizadas numerosas eleições, com custos elevados, sem temas evidentes e com candidatos que passam a vida a saltar de um lugar para outro. Gore Vidal

 

 

Abstenções
Neste fim-de-semana, os portugueses vão dividir-se entre os que seguirão a final da Champions League nas suas várias vertentes, no sábado, e os que seguirão o acto eleitoral de domingo. Aposto que o futebol vai ganhar às eleições. Não me surpreendo, graças a uma campanha sem ideias, feita de chavões e lugares comuns. Se fizermos bem as contas, apenas nove dos 18 partidos que se apresentam nas eleições têm alguma espécie de existência e, destes, pouco mais de metade tem alguma actividade política e cívica regular - nos outros, há de tudo, até barrigas de aluguer que é aquilo em que o MPT se transformou. As campanhas eleitorais foram miseráveis - a propaganda política desceu a níveis ainda mais baixos do que aquilo que se podia imaginar.


A Comissão Nacional de Eleições continuou a cumprir o seu papel de guardiã do absurdo: num cenário em que apenas meia dúzia de concorrentes têm alguma existência palpável, como é que se pode defender debates entre todos os participantes? Como se pode defender a igualdade de tratamento a quem não tem igualdade de presença na sociedade nem igualdade de comportamento? Tudo isto é criminosamente ridículo - ainda para mais com o completo desfasamento entre a realidade dos media actuais e a lei existente. Prova disso é que houve mais debate em meios exclusivamente digitais do que nos media tradicionais. Quando se fizer a contabilidade das abstenções no próximo Domingo, os políticos e os partidos escusam de se lamentar - a culpa do desinteresse das pessoas é deles, é estimulada por eles e dá-lhes jeito para que o círculo fique cada vez mais estreito. Como dizia Vasco Pulido Valente, "para a generalidade dos portugueses, uma cara é uma cara e um político é um intruso que nos fala sem razão ou autorização".

 

 

Semanada
l António Capucho apoia o PS l Joana Amaral Dias saiu do Bloco de Esquerda para apoiar o PS l O tal Zé que fazia falta ao BE foi agora plantar papoilas, que é como quem diz, apoia o Livre de Rui Tavares l A candidata do Bloco de Esquerda às eleições europeias defendeu que o surf devia ser incluído nos currículos escolares l Um partido anti-União Europeia aparece à frente nas sondagens da Grã Bretanha, onde se prevê que a abstenção possa chegar aos 75% l Em 2013, a carga fiscal chegou aos 34,9% do PIB, contra 32,4 em 2012 l A carga fiscal sobre as famílias aumentou 35% desde 2010 l António José Seguro divulgou 80 promessas para o caso de vir a ser Governo, que significam um aumento de despesa de 830 milhões de euros por ano l O ajustamento da troika estava previsto ser feito a dois terços pelo lado da despesa e um terço pelo lado da receita, mas acabou com quatro quintos do lado da receita e um quinto do lado da despesa l Em cinco anos, fecharam nove mil restaurantes l 300 mil portugueses emigraram: a taxa de desemprego subiu para 16,3% l O Conselho de Estado não reúne há um ano l metade das famílias ganha menos de 835 euros por mês l Em Portugal, 41% do IRS é pago por 13% das famílias l Metade do IRS foi pago por quem tem salário até 1.500 euros l Só uma em cada quatro famílias ganha mais de 19.000 euros por ano l 44% das receitas de cinema são feitas na zona da Grande Lisboa, segundo a Marktest l Mick Jagger tornou-se bisavô a poucos dias de actuar de novo em Lisboa.

 

 

Dixit
"Só para dizer que, se me obrigarem a escolher, prefiro o Jorge Jesus a falar da Paula Rego do que o Sócrates a falar de Rimbaud".
Ana Cristina Leonardo, no Facebook.

 

 

Folhear
Tenho um palpite que os responsáveis da TAP devem andar todos contentes a comprar exemplares da edição de Junho da "Monocle", tal é o elogio que lá é feito à companhia aérea portuguesa. Na razão do elogio está o número de ligações para o Brasil, que cresceu para 12 rotas com 82 voos semanais incluindo, sublinha a revista, destinos pouco usuais noutras linhas aéreas como Manaus e Belém. A TAP é caracterizada pela "Monocle" como a companhia que liga um continente do norte, a Europa, a dois continentes a sul, África e América do Sul. Além da TAP, Portugal aparece referido mais duas vezes: no bem concebido especial de 12 páginas sobre a Taça do Mundo no Brasil, há um destaque sobre a cobertura de TV e Rui Tovar aparece bem apresentado como um dos decanos do jornalismo desportivo. Finalmente, uma oficina de marcenaria artesanal, no Porto, dedicada à produção de exemplares únicos de cadeiras pela mão de Alípio de Sousa, completa o leque de referências lusitanas. Outros pontos de interesse são a Feira de Arte Contemporânea de Silicon Valley, o novo conceito de centro comercial surgido no remodelado Bikini Berlin e, para rematar, uma bela conversa entre o produtor Jeremy Thomas e o realizador Ben Wheatley sobre o estado do cinema.

 

 

Gosto
De recordar que a liberdade de voto inclui a liberdade de abstenção.

 

 

Não gosto
Da existência de eleições europeias para eleger um largamente inútil Parlamento Europeu.

 

 

Ver
Até 28 de Setembro, pode descobrir os "Olhares Contemporâneos" que o colectivo de fotografia Kameraphoto fez sobre o acervo do Museu Nacional de Arte Antiga. O projecto insere-se numa residência feita sob a égide da Fundação EDP. Os elementos da Kameraphoto tiveram oportunidade de contactar com os conservadores e técnicos do Museu, de descobrir o acervo
e as diversas colecções, percorrendo o dia-a-dia dos bastidores do Museu Nacional de Arte Antiga, fazendo o papel de visitantes. Nelson D'Aires, Augusto Brázio (fotografia aqui reproduzida), Valter Vinagre, Pauliana Valente Pimentel, Céu Guarda, Alexandre Almeida, Guillaume Pazat e Jordi Burch.

 

 

Provar
Restaurantes com boa vista são já de si raros; com boa vista e boa comida ainda mais; com boa vista, boa comida e boa garrafeira, a coisa torna-se inusitada; se juntarmos a isto uma cozinha capaz de preparar uma refeição em condições para duas dezenas de pessoas em simultâneo, tudo fica mais invulgar. Esta semana, regressei ao Claro, no Hotel das Palmeiras, em Paço de Arcos, onde há pouco mais de dois anos o chefe Vítor Claro vem ganhando cada vez melhor reputação. Tratava-se de um aniversário e a celebração gastronómica correu bem - desde os aperitivos iniciais (pequenas sanduíches de pataniscas e pimentos que alternavam com outras, de salmão fumado) até ao pudim de água, simples e perfeito, passando por uns ovos mexidos com cogumelos que estavam superiores. Mas confesso que o que mais me espantou foi a forma perfeita como o robalo do mar, cozinhado ao vapor, apareceu no ponto perfeito, fresquíssimo e saborosíssimo, em simultâneo para 20 pessoas. Já em anteriores ocasiões tinha gostado do local, onde na varanda o sol se põe sobre o mar, na marginal, com uma luminosidade única. Mas a verdade é que a cozinha supera a vista e acreditem que, neste caso, o desafio não é fácil. Restaurante Claro, Avenida Marginal, Curva dos Pinheiros, telefone 214 414 231. Já agora, fiquem a saber que o afamado pão do chef Claro, assim como alguns dos vinhos que o escanção Ricardo Morais recomenda, e petiscos diversos, de queijos a compotas, podem ser encontrados na loja Momentos do Paço, no centro histórico de Paço de Arcos, na Rua Costa Pinto 27.

  


Ouvir
Na criação artística existe um talento inato e existe o talento adquirido. Os melhores artistas são os que surpreendem no princípio da carreira e depois continuam a procurar formas de exprimir a sua criatividade, procurando sempre surpreender. São os que se preocupam com a evolução da sua obra, que amadurecem ideias e continuam inconformistas, evitando acomodarem-se. Isto acontece com escritores, actores, realizadores, pintores… e músicos. Rita Red Shoes mostra os seus progressos neste seu terceiro disco, "Life Is A Second Love", uma prova da sua evolução, que também se evidencia na escolha do produtor, o brasileiro Gui Amabis, que assina a única canção que não é da própria Rita Red Shoes, "Curve Dance Dreams". É certo que eu, pessoalmente, desejaria que o amadurecer de Rita a levasse a cantar em português para que todos percebam como ela não gosta de ficar sentada à espera que as coisas sucedam. Enquanto isso não acontece, vale a pena ouvir este disco musicalmente tão interessante e parar um pouco em torno de canções como "No Matter What", "Words Words", "Floret" ou "In This White Room".

 

 

Arco da velha

Em nove meses, entre Julho de 2013 e Março deste ano, o comboio Celta, que assegura a ligação directa entre Porto e Vigo duas vezes por dia, transportou uma média de 26 passageiros em cada viagem, o que significa uma taxa de ocupação de 12% em relação aos 228 lugares disponíveis. O prejuízo registado nestes nove meses foi de 1,2 milhões de euros.

 

 

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