Opinião
A esquina do Rio
Numa edição recente da revista do "Expresso", o sociólogo Pedro Magalhães fez uma das mais interessantes propostas que tenho visto nos últimos tempos.
Back to Basics
É muito importante sermos capazes de falar com pessoas com as quais discordamos, nem toda a gente tem que ser capaz de cantar a mesma melodia. Pete Seeger
Escolha
Numa edição recente da revista do "Expresso", o sociólogo Pedro Magalhães fez uma das mais interessantes propostas que tenho visto nos últimos tempos. O que ele preconiza é que os eleitores possam escolher os deputados em que votam - ou seja, que depois de escolherem o partido em que querem votar, possam ordenar os deputados da respectiva lista pela sua ordem de preferência e não pela ordem decidida pelo aparelho partidário. Ora, quer-me parecer que isto acabava com aquela triste cena das guerrinhas nos aparelhos partidários pelos lugares elegíveis, guerrinha que já se está a ver a ferver por causa das próximas eleições europeias - e ainda a procissão vai no adro. A mim, agrada-me a ideia de não ter que votar em candidatos de que não gosto e escolher apenas aqueles com quem mais me identifico - assim acabavam-se os deputados mudos, que passam uma legislatura sem abrirem o bico e que conseguem ir a votos sem que ninguém saiba o que pensam. Por exemplo, assim, mesmo que votasse no PSD, poderia não votar no deputado referendário Hugo Soares. Talvez esta simples medida - que, aliás, já está em prática em alguns países - nos poupasse a espectáculos tristes.
Dixit
"Neste momento, esperava-se uma estratégia concreta para atacar os grandes desafios da RTP (...) em vez disso, optou-se pela criação de um Conselho Geral, uma nova estrutura que assumirá quase todas as competências da tutela, diluindo a responsabilização e tornando confusa a linha de comando. Só por sorte, este órgão (...) contribuirá para um melhor serviço público"
Gonçalo Reis
Semanada
• As mortes por pneumonia subiram 25% no espaço de um ano; as queixas de negligência médica quintuplicaram desde 2001 • em Coimbra, uma cozinheira do estabelecimento prisional levava substâncias ilícitas para distribuir dentro da cadeia; na cadeia de Custóias, um guarda prisional cobrava aos detidos 200 euros por cada placa de 250 gramas de haxixe • os processos de falência, insolvência e recuperação de empresas cresceram 426,3% em seis anos • o crédito malparado das empresas triplicou entre o final de 2010 e o final de 2013 • a Inspecção-Geral de Finanças identificou 225,9 mil euros pagos indevidamente em subsídios para bilhetes aéreos a residentes nos Açores • a fiscalização a escolas de condução, centros de exame e centros de inspecção automóvel está quase parada por falta de carros de serviço para as deslocações • em Janeiro, os 49 vistos "gold" renderam 27 milhões de euros de investimento • Passos Coelho foi reeleito líder do PSD com metade dos votos que tinha obtido em 2010 e também menos que os obtidos em 2012 • "nesta fase do campeonato, ficar-se pelos preliminares é de facto muito pouco" - disse Miguel Cadilhe sobre a Reforma do Estado • no último ano, os portugueses pagaram mais impostos sobre o tabaco do que sobre os combustíveis.
Arco da velha
"Nunca houve praxes violentas. Correu, aliás, sempre tudo muito bem nas brincadeiras que fizeram"
Manuel Damásio, Administrador da Lusófona, em declarações feitas esta semana
(Desa)provar
Mal influenciado pelo blogue Mesa Marcada, fui experimentar o Aron Sushi a São Sebastião da Pedreira. Foi uma má decisão, em má hora tomada. O corte do peixe é rudimentar, a tempura é desinteressante e o arroz - critério decisivo neste género de casas - é absolutamente sensaborão. Acresce que o serviço, embora simpático, é distraído - e a lentidão da cozinha, mesmo com sala apenas meia cheia, está na proporção inversa da qualidade e interesse do que de lá sai. Na realidade, a coisa revelou-se menos interessante que os sushis abrasileirados que por aí vão proliferando. É uma experiência que não irei repetir e que vivamente não aconselho. Mas, também, quem me manda acreditar num blogue que continua a elogiar o trabalho de Vítor Sobral na Cervejaria da Esquina?
Ver
Gosto de visitar galerias, gosto de ver o esforço dos galeristas em descobrir e apresentar novos artistas, às vezes em os misturarem com nomes firmados. As galerias são locais onde se pode desfrutar arte sem nada pagar - a menos que possamos e queiramos comprar uma das obras expostas. São um verdadeiro serviço público, há muito mal tratado pelo Estado - que, aliás, prefere ir subsidiando autarquicamente uns festivais e feiras a apoiar uma actividade continuada. Já aqui ao lado, em Espanha, o IVA das transacções de obras de artes plásticas desceu para metade, ficando abaixo do português. Uma das coisas que me dá prazer é ver uma galeria a crescer - gosto do ambiente das noites inaugurais, quando os artistas se cruzam com os seus coleccionadores, gosto dos fins de tarde a olhar para o que de novo se faz. Uma das mais recentes galerias de Lisboa - abriu há um ano - é a Belo-Galsterer, na Rua Castilho 71, r/c esq. Por estes dias, podem lá ver a exposição "Paperworks", que junta trabalhos de Ana Jotta, Carolina Almeida, Cristina Ataíde (é dela o desenho na foto), Friederike Just, Juliane Solmsdorf, Marcelo Costa, Mário Macilau, Mel O'Callaghan, Miguel Branco, Pedro Calapez, Pedro Proença, Pedro Sousa Vieira, Rui Sanches e Susana Anágua. Nos próximos sábados, decorrem encontros com artistas, sempre às 17h00 - amanhã, dia 1 com Miguel Branco, dia 8 com Cristina Ataíde, dia 15 com Pedro Proença e dia 1 com Ana Jotta e Rui Sanches.
Gosto
O fotógrafo português João Pina viu o seu trabalho sobre as ditaduras sul-americanas, "Operation Condor", ser elogiado pelo blogue de fotografia do "The New York Times" e pelo ICP - International Center Of Photography.
Não gosto
O PSD anunciou que vai insistir no referendo que propôs sobre a adopção e coadopção mesmo que o Tribunal Constitucional o chumbe.
Folhear
Continuo a gostar de esperar todos os meses pela "Monocle". Gosto de a folhear, de ver o que tem a sugerir, de ir descobrindo as suas páginas. Mesmo sabendo que muitas das matérias são fruto de iniciativas comerciais (que os nossos vizinhos espanhóis sabem bem explorar) e são uma espécie sofisticada de publicidade redigida, gosto do critério, da escolha, do alinhamento. Nesta edição, de Fevereiro, Lisboa aparece bem representada e fala-se da Mouraria, do Martim Moniz, do reviver de toda aquela zona da cidade. É engraçado porque um estrangeiro consegue descobrir na nossa cidade encantos que nós menosprezamos e para os quais nem olhamos bem. Ao ver estas três páginas dedicadas à Mouraria, fico contente. Este número tem por tema a descoberta do mundo, sobretudo daqueles locais que são menos evidentes, ou mais arredados das rotas turísticas. Aquilo que gosto mais de ler, edição após edição desta revista, são as histórias de pessoas que mudam de vida para criarem alguma coisa de novo e pessoal, histórias de pequenas empresas baseadas em ideias simples e que permitem tornar-nos a todos mais humanos e mais próximos uns dos outros. Só por isso vale a pena seguir a "Monocle".
Ouvir
O novo álbum dos Capitão Fausto, "Pesar o Sol", revela uma assinalável evolução e maturidade face ao disco anterior, de estreia. Instrumentalmente mais coesos, sob um pano de fundo assumidamente rock, com evocações não saudosistas da pop portuguesa dos anos 70 e 80 (sentem-se momentos da Filarmónica Fraude e até mesmo, pontualmente, do Quarteto 1111), os Capitão Fausto são uma das poucas bandas que nos últimos anos conseguiram entrar no circuito dos festivais a cantar português, procurando uma sonoridade própria e fugindo aos estereótipos das modas internacionais. Só por isso merecem ser ouvidos. E este álbum, "Pesar o Sol", tem boas canções como "Nunca Faço Nem Metade", "Litoral" e, sobretudo, "Lameira".