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29 de Novembro de 2013 às 10:35

A esquina do Rio

Os portugueses estão a ir menos ao cinema, quase não frequentam bibliotecas públicas e visitam pouco os museus. Espectáculos, tirando os festivais de Verão, têm público reduzido, seja teatro, dança ou ópera.

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Back to Basics

Quanto mais coisas existem que possam envergonhar alguém, mais essa pessoa é encarada com respeito.
Gerorge Bernard Shaw

 

 

 

Públicos

Os portugueses estão a ir menos ao cinema, quase não frequentam bibliotecas públicas e visitam pouco os museus. Espectáculos, tirando os festivais de Verão, têm público reduzido, seja teatro, dança ou ópera. As vendas de livros estão abaixo da média europeia - nos principais indicadores de consumos culturais ombreamos com a Roménia e a Bulgária. Há quem diga que o problema essencial tem a ver com a falta de estímulos à cultura desde os bancos da escola primária. Ouso aqui lançar uma provocação: após décadas de subsídios, de muitos milhões investidos em teatro, cinema e num conjunto alargado de instituições e equipamentos, porque é que não existem e se multiplicam os públicos?
Será apenas porque a escola não ensina a descobrir a cultura, ou será que os agentes culturais se foram divorciando dos públicos? Já sei que vou ser pouco popular, mas não me sai da cabeça que quem não precisa de vender bilhetes para ter receita tem tendência a falar para o umbigo. Isto passa-se na maior parte dos sectores subsidiados, nos sectores onde se foi desleixando a comunicação com os públicos, onde não foi objectivo assumido a vontade de os captar e multiplicar. Assim, quando esses públicos não surgem a culpa é sempre do sistema - que não os empurra em rebanho até quem os devia captar. E esses, para além das falhas do sistema, ficam demasiadas vezes sentados à espera que alguém chegue. Mas quando há uma boa ideia, bem divulgada e produzida, o público lá aparece - veja-se o que aconteceu com a exposição de Joana Vasconcelos no Palácio da Ajuda.

 

 

Dixit

Prefiro uma igreja ferida e suja por andar na rua a uma igreja interessada em ser o centro e que acabe enclausurada num emaranhado de obsessões e rituais.
Papa Francisco

 

  

Semanada
• Passos Coelho afirmou que a reforma do Estado não é uma iniciativa totalitária  na Assembleia da Republica foi aprovado o Orçamento de Estado para 2014; Soares apelou às armas  as polícias em manifestação invadiram as escadas do Parlamento  sindicalistas ocuparam quatro Ministérios  as secretas confessaram desconhecer tudo isto; cada Ministério vai ter 20 polícias a reforçar a segurança  mais de 400.000 pessoas ganham o salário mínimo; sete em cada dez pensionistas da segurança social ganham menos que o salário mínimo  desde 2010 a UE aumentou em 6,7 milhões o número de pessoas em risco de pobreza ou exclusão  o governo decidiu adiar para 2014 a emissão de dívida a longo prazo  o Banco de Portugal considerou que o orçamento de estado para 2014 pode fazer agravar o crédito malparado; as empresas públicas não financeiras aumentaram o endividamento em 6,2% no ano passado  o Banco de Portugal alertou para os riscos da elevada exposição da banca e dos seguros à divida publica portuguesa  depois das promessas eleitorais das últimas autárquicas, António Costa aproveitou a primeira reunião da nova Assembleia Municipal de Lisboa para anunciar que a Câmara de Lisboa vai aumentar "de forma estrutural" taxas municipais em 2014  o custo dos doze estádios de futebol que estão a ser preparados para receber o Campeonato do Mundo, que decorre no próximo ano no Brasil, agravou-se em 320 milhões de euros menos de um ano  as crianças a partir dos oito anos gastam metade do seu tempo livre, cerca de 21,5 horas por semana, a ver TV ou na Internet.

 

 

Arco da velha

A CMVM demorou quatro meses a disponibilizar publicamente a informação de que Rui Machete havia renunciado ao cargo de vice-presidente da Assembleia Geral da CGD na data em que tomou posse como ministro dos Negócios Estrangeiros.

 

  

Provar

Um dia destes fui almoçar, algo desconfiado, confesso, ao restaurante do Chef Cordeiro no Terreiro do Paço. Saí de lá convencido de que não vale a pena ir de pé atrás quando o anfitrião tem pergaminhos - uma estrela Michelin na Casa da Calçada em Amarante e outra na Feitoria do Altis Belém. Não deve ser fácil governar uma casa daquelas - tem área considerável no interior e na esplanada exterior, soberba, sobre a maior praça de Lisboa. No piso superior há uma zona mais formal e com uma escolha de lista mais elaborada. Fiquei-me, satisfeito, pelo rés do chão. Esquecendo um deslize ou outro no serviço, passemos à substância. Comecei com uma muxama de atum que estava muito boa e que cumpriu a função, abrindo o apetite. Provei um rissol de berbigão e camarão, rico, cremoso, saboroso, que me fez lembrar os que comia em casa da minha avó. Já o pastel de bacalhau achei trivial. Mas, em compensação, a açorda de bacalhau com poejos estava no ponto açordeiro, com bom bacalhau que se sentia e com o aroma único dos poejos frescos. Tudo foi acompanhado com vinho a copo, primeiro branco e depois tinto, sempre Álvaro Castro, do Douro. Espero que o Chef Cordeiro dedique a este local o tempo e a atenção que merece e que não se distraia, nem se perca, com a tentação de ser estrela de televisão. Hei-de lá voltar, quando fizer menos frio, para me deliciar na esplanada. O telefone é o 216 080 090.

 

 

Ver

Esta semana andei a espreitar no Facebook o que andam alguns artistas a fazer. Soube que Cristina Ataíde vai levar as suas montanhas (a imagem que aqui está) a Nova Iorque no próximo ano. Descobri um sedutor conjunto de molduras vazias na página de Ana Vidigal. Espreitei o novo atelier de Paulo Brighenti. Vislumbrei as viagens de Susana Anágua. Invejei os trabalhos que Carlos Correia levou até à Galeria Pedro Oliveira, no Porto. Segui as fotografias que Luísa Ferreira vai fazendo. Em procurando bem o Facebook dá-nos um retrato do que se vai preparando, melhor que os guias desactualizados e tardios que são publicados na imprensa, cada vez mais preguiçosa a seguir a realidade nesta área, com medo de ofender com o que escreve e com pudor em mostrar o que não está na moda. Apetecia-me que alguém fizesse uma galeria virtual no Facebook, onde fosse expondo trabalhos que de outra forma não podemos ver. Irrito-me cada vez que percebo que uma exposição acabou e já não a consigo visitar. Mas ficaria menos irritado se a pudesse pelo menos vislumbrar na sua memória digital. O Facebook é bom para isso - pode deixar o testemunho, como se fosse um catálogo virtual. Há muito ainda por fazer neste mundo novo, e as possibilidades que ele abre de divulgação da arte contemporânea são infindáveis.

 

 

 

Gosto

Com a campanha "Portuguese shoes the sexiest industry in Europe", o calçado português ganhou um prémio europeu de apoio à internacionalização de empresas, em concorrência com o champagne de França.

 

 

 

Não gosto

Há restaurantes que não avisam não ter multibanco e que, na hora de pagar, indicam que ao lado há uma caixa para ir levantar dinheiro. Foi o que me aconteceu esta semana no muito badalado Mercantina, em Alvalade. A evitar.

 

 


Ouvir
Há discos que são uma festa e "Caríssimas Canções", de Sérgio Godinho, é um deles. Trata-se de um trabalho de selecção e interpretação de canções alheias, que vão de "People Are Strange", dos Doors, a "Heartbreak Hotel", de Elvis Presley, com boa passagem garantida por temas como "Sampa", de Caetano Veloso, "Vendaval", que foi cantado por Tony de Matos, as brasileiras "Conversa de Botequim" e "Geni e o Zepelin". Mas aqui estão também Zeca Afonso com os seus "Vampiros", Jacques Brel com "Les Vieux" ou Violeta Parra com "Volver A Los 17". E, claro "You've Got To Hide Your Love Away", dos Beatles. É uma espécie de cancioneiro eclético de uma geração, interpretado com amor, humor e originalidade. Gosto dos arranjos, da guitarra marcante que se manifesta em "Vendaval", do trabalho que Hélder Gonçalves, Manuela Azevedo e Hugo Rafael fizeram com Sérgio Godinho. Já sabia que Sérgio é um dos melhores fazedores de canções que temos; fiquei a saber que é também um dos nossos grandes intérpretes de composições alheias. O disco foi gravado ao vivo no CCB e na Casa da Música no final do primeiro semestre deste ano. Lá em casa está em estado "repeat" há uns dias.

 

 

Folhear

Este mês a Monocle publica uma dupla edição, que abarca Dezembro e Janeiro, dedicada a mostrar os caminhos para ser bem sucedido em 2014. A edição é grande - 300 páginas mais um suplemento de outra centena, dedicado a escolhas especiais da equipa da revista - The Monocle 100. Em destaque um guia de compras em Lisboa. Logo na primeira página está em realce a Chocolataria Equador, do Chiado, já aqui louvaminhada. Outras lojas em destaque são a luvaria Ulisses, a Conserveira de Lisboa, a Chapelaria Azevedo, a Loja do Burel, a charcutaria Moy e a Embaixada do Princípe Real. Em matéria de comida as recomendações passam pelo Cantinho do Avilez, o Bistro 100 Maneiras e a Petiscaria Ideal. O hotel sugerido é o Memmo Alfama. Mudando de registo, só pelo suplemento The Monocle 100 já se justificava ter a revista - é delicioso folhear boas ideias de todo o mundo. E para quem se interessa pela sobrevivência da imprensa há dois interessantes artigos sobre experiências bem sucedidas - uma na California e outra na Suécia.

 

 

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