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Opinião
12 de Julho de 2013 às 10:21

A esquina do Rio

Cavaco Silva foi primeiro-ministro entre 6 de Novembro de 1985 e 28 de Outubro de 1995, há cerca de 18 anos portanto. Os eleitores que este ano votarão pela primeira vez nas autárquicas, e aqueles que se estrearão nas próximas legislativas, não se lembram dele no Governo nem fazem ideia do que o país era no início da década de 90.

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Back to basics
Os piores dos lugares do Inferno estão guardados para aqueles que numa época de crise aguda mantêm a neutralidade. Dante Allighieri

 


Regime

Cavaco Silva foi primeiro-ministro entre 6 de Novembro de 1985 e 28 de Outubro de 1995, há cerca de 18 anos portanto. Os eleitores que este ano votarão pela primeira vez nas autárquicas, e aqueles que se estrearão nas próximas legislativas, não se lembram dele no Governo nem fazem ideia do que o país era no início da década de 90. As suas memórias remontarão ao início deste milénio e devem ter da política a péssima imagem moldada pelos governantes e políticos que, desde então, vieram fazer promessas que não cumpriram, fugiram ao primeiro desaire e incentivaram gastos para além das possibilidades do país. O Cavaco que conhecem é este, desta semana, enigmático, que parece agir por vingança política, preocupado com o seu papel na História mais do que com qualquer outra coisa, que se alheia da realidade e constrói cenários, que brinca ao monopólio político sem medir consequências. A geração que agora vai começar a votar teve, talvez, a adolescência menos preocupada e está a ter a mais difícil entrada na vida profissional. Como se comportará eleitoralmente? Conseguirá o sistema político levar a votar aqueles que nas ruas já se mostraram indignados, descontentes e desesperados? E os partidos políticos? Perceberão que, com a sua retórica de chavões e ideias feitas, estão a milhas de conseguirem comunicar com estes cidadãos? Estas semanas de crise, além de tudo o que já se sabe e não vale a pena repetir, mostram o vazio de argumentos dos partidos - todos previsíveis, todos arrogantes das suas verdades, todos a viverem num mundo de fantasia, sejam do Governo ou da oposição. Verdade seja dita, o Presidente da República desta vez foi rápido a fazer-lhes companhia em matéria de contributo para a crise, no preciso momento em que parecia começar a existir uma solução. O Presidente jogou na incerteza, aumentou a confusão e provavelmente deu um forte contributo para que suceda mesmo um segundo resgate. Na realidade, o Presidente não deu só um tiro nos pés do país - passou por cima do uso da bomba atómica da dissolução e inventou uma bomba de neutrões política, sob a forma de um contrato a prazo para o Governo.

 

 

Arco da velha
António Costa recorreu para o Tribunal Constitucional de duas sentenças que obrigam a Câmara Municipal de Lisboa a facultar o acesso de um jornalista do "Público" ao relatório de um vereador sobre a forma como são feitas as contratações de empreitadas de obras municipais, nomeadamente as de ajuste directo.

 

 

Folhear

A história, fantástica, que Pedro Bidarra criou em "Rolando Teixo", é particularmente adequada ao estado do país, é uma longa metáfora sobre este estado de coisas. O protagonista vive na negação da realidade e sofre um processo de regressão que, progressivamente, destrói o que restava de si. Pelo meio está a descrição do quotidiano de uma vida sem história, que se cruza com sonhos e foge da realidade. Não resisto a citar uma passagem que dá o mote ao livro: "A felicidade é uma invenção da cidade. A cidade foi inventada para esconder a morte do nosso quotidiano, para nos fazer crer na omnipotência, na vida eterna, na juventude sem fim, na felicidade. No campo não há felicidade. Há vida, há morte, e, entre elas, sobrevivência." ("Rolando Teixo", de Pedro Bidarra, 150 páginas, colecção "Poucas Palavras, Grande Ficção", da Guerra e Paz.)

 

 

Perguntas


Como se podem convocar eleições presidenciais antecipadas?
O que se pode fazer quando, por omissões e actos, um Presidente da República aprofunda uma crise política em vez de a resolver?

E se um Presidente da República prefere ignorar uma maioria parlamentar existente e forçar uma solução extra eleitoral, estamos perante um golpe de Estado constitucional? Qual o processo para avaliar se um Presidente é inimputável?

 

 

Dixit

O partido mais pequeno da coligação não pode ser uma espécie de "sidecar" sem travões, sem guiador, nem embraiagem.

Bagão Félix

 

 

Gosto

Da iniciativa da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa e do ISEG, que vão promover um estudo sobre as mudanças verificadas na vida dos vencedores dos grandes prémios dos jogos.

 

 

Não gosto

Que um órgão de soberania, em especial o Presidente da República, se guie pelo ressabiamento no seu processo de tomada de decisões.

 

 

Ouvir

O novo disco do trompetista norte-americano Terence Blanchard, o vigésimo da sua carreira, tem um título que descreve bem a capacidade de atracção dos seus dez temas - "Magnetic". Terence Blanchard no trompete, Brice Winston e Ravi Coltrane no sax tenor, Lionel Loueke na guitarra, Fabian Almazan no piano, Ron Carter e Joshua Crumbly no baixo e Kendrick Scott na bateria são os músicos presentes nestas gravações. A autoria dos dez temas inéditos é diversa, repartida pelos músicos do grupo - aqui estão composições do próprio Blanchard, mas também do pianista Fabian Almazan, do baixista Joshua Crumbly, do baterista Kendrick Scott e do saxofonista Brice Winston. Este disco, nas interpretações, mas também na composição, é um espelho daquilo que é a grande atracção do jazz - o desenvolvimento colectivo do talento, de que o arrebatador tema título "Magnetic" é um belíssimo exemplo. Emocional em "Hallucinations", atrevido em "No Borders, Just Horizons", melancólico no solo de piano de "Comet", ou swingante em "Don't Run", aqui estão boas razões para ouvir este "Magnetic". (Edição Blue Note, Universal).

 

 

Provar

Agora que é mais fácil ir ao restaurante do Chapitô, graças ao parque de estacionamento do mercado do Chão do Loureiro, que desemboca a umas dezenas de metros do local, vale a pena experimentar o que o chef Bertílio Gomes está a fazer, num dos locais com melhor vista sobre Lisboa e que tem tido uma vida atribulada. Falo do restaurante do Chapitô, agora chamado "Chapitô à Mesa" e onde a tradição da cozinha portuguesa está em destaque, com pormenores invulgares que são imagem de marca de Bertílio Gomes. Creme de espargos com amêndoas torradas, secretos de porco preto com molho de queijo de Azeitão, entrecôte com esmagada de batatas e cogumelos em molho de vinho tinto, ou cherne com musseline de aipo e amêijoas são alguns dos pratos da lista - onde também existem saladas e massas frias que sabem bem nestes dias quentes. Localizada na zona do Castelo, a casa é muito procurada por turistas a qualquer hora, e vale a pena marcar e não desesperar - que o serviço, embora esforçado, tem momentos de uma lentidão considerável. Rua da Costa do Castelo 7, telefone 21 887 5077.

 

 

Ver

As duas exposições de fotografia do ciclo "Próximo Futuro", no edifício principal da Fundação Gulbenkian, proporcionam a oportunidade para descobrir a fotografia africana contemporânea. Começo pelas imagens da exposição da nona edição dos Encontros de Fotografia de Bamako
e destaco as máscaras de Fatoumata Diabate, os fragmentos de momentos de Mamadou Konate, os poderosos retratos de Jehad Nga ou a fé vista por Mário Macilau. Há imagens marcantes, de paisagens pós-coloniais, quase sempre com oportuna e referencial presença de pessoas, em vez da tendência paisagística do betão das periferias urbanas, dominantes na aborrecida fotografia ocidental contemporânea. No piso inferior da Fundação está a exposição "Present Tense", comissariada por António Pinto Ribeiro, o dinamizador do "Próximo Futuro", que mostra o trabalho de fotógrafos do Sul de África - e aí destaco as fotografias de Paul Samuels, Piet Hugo, Sammy Baloji, Kiluanji Kia Henda e, de forma especial, a maneira de ver de Mauro Pinto. É muito curioso observar a utilização da cor por estes fotógrafos, em contraste com o recurso ocasional com o preto e branco. E, sobretudo, é estimulante seguir a linguagem fotográfica que praticam, resistindo ao óbvio.

 

 


Semanada
A previsibilidade de reacções do Bloco, do PCP e do PS à crise foi total - chavões, sem uma ideia nova António José Seguro parecia alguém que, nestes dias de calor, estava dentro de água a levar amonas sucessivas e, volta e meia, vinha cá acima respirar e balbuciar qualquer coisa Diversas sondagens revelam que aumenta o descrédito dos políticos entre os eleitores A audiência média diária do Canal Parlamento é de 720 pessoas por dia, menos que o total de deputados e funcionários da Assembleia da República Vítor Gaspar regressou ao Banco de Portugal e uma das suas primeiras decisões foi encomendar a entrega diária do "Financial Times" no seu gabinete Teixeira dos Santos mostrou no Parlamento a nota de passagem de pasta sobre os "swaps", que a actual ministra das Finanças afirma não existir, e voltou a acusar Maria Luís Albuquerque de ter mentido A crise confirmou que nada é mais previsível que o erro das previsões, sejam económicas, sejam políticas O Presidente da República contrariou todas as previsões e, para se vingar da crise da semana passada, criou ele próprio nova crise esta semana O "Financial Times" classificou a situação saída da declaração de Cavaco como "caos político".

 

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