Back to Basics

"Todos os incapazes de aprender resolveram ensinar - foi a isso que chegou o nosso entusiasmo pela educação". Oscar Wilde

Sinais
O facto político mais relevante da semana foi a adopção, por deputados no Parlamento, do almanaque "Borda d'Água", como matriz de interpretação do pensamento político de Vítor Gaspar, a propósito da influência da chuva no evoluir do comportamento das finanças lusitanas. O espírito Borda d'Água deve ter também contagiado Cavaco Silva, levando-o a dizer, fora de portas, o que não lhe ocorre dizer aqui em ocasiões importantes, como no Dia de Portugal, em que preferiu fazer malabarismos numéricos com a agricultura, em proveito próprio (vamos lá a ver se não sou processado nem multado por dizer isto...). Tudo isto se passa num tempo em que os sindicatos dos professores resolvem desprezar a função educativa e em que a CGTP ganha novo fôlego - engraçado como toda a gente se lembra quem é o Arménio e ninguém sabe quem é o líder da UGT que passou a adoptar a agenda da CGTP.
Quando olho para tudo isto, fico com a impressão que, se as coisas continuam assim, com os comportamentos ilógicos do Governo e dos sindicatos, caminhamos a passos largos para deitar ao lixo estes anos de sofrimento. É isso que verdadeiramente me preocupa, mesmo antes do pós-troika - até porque, mesmo já agora, os juros da nossa dívida no exterior continuam em escalada. A única coisa com o mínimo de bom senso da semana foi a intervenção de Silva Peneda no Dia de Portugal, apontando factos concretos, chamando os bois pelos nomes, e alertando para os perigos da quebra da coesão social - que Cavaco na mesma altura disse não estar em risco. De repente, achei que os papéis estavam trocados.

Dixit
"O processo de reformas requer coragem e visão, mas é importante que os responsáveis políticos saibam temperar essa posição com gradualismo e bom senso".
Silva Peneda

Arco da velha
Há diferenças de 450 euros no fornecimento da mesma quantidade de água em vários pontos do país - 120 m3 de água custam 30,36 euros em Terras de Bouro e 488,52 euros em Loulé.

Provar
A busca pela pizza perfeita é uma estrada cheia de espinhos nesta nossa Lisboa. Não há muitos locais onde a coisa corra bem de forma consistente, com a excepção, talvez, da Casanova, perto de Santa Apolónia, e do Lucca, perto da Avenida de Roma. Como diz o anúncio, o segredo está na massa e, infelizmente, na maior parte das vezes, a desgraça vem da massa. Iludido pela boa campanha de relações públicas, lá rumei à Pizzaria Lisboa, de José Avillez (Rua dos Duques de Bragança 5H), perto do bem melhor Cantinho do Avillez. Pode ter sido azar, mas no dia em que lá passei a massa não correu nada bem - é fina, mas vinha mal cozida, demasiado mole no centro. Por azar, ouvi depois queixas semelhantes de outros comensais, que lá tinham ido noutras ocasiões. O serviço é simpático, a lista apresenta mais de duas dezenas de pizzas com nomes que pretendem homenagear temas lisboetas, além de uns quantos risottos, saladas e pastas. Devo confessar que a melhor coisa do almoço foi a manteiga trufada. A pizza não me convenceu. Aborrecido, quando se vai a uma pizzaria, não é? Esperemos que melhore.

Ver
Na Galeria Belo-Galsterer há uma porta no meio de uma sala. É uma porta simbólica. Abre horizontes em vez de fechar espaços. É uma porta para ver, tocar, espreitar. Podia estar no meio do deserto, era capaz de viver bem num jardim, e claramente domina qualquer sala onde se encontre. A porta foi imaginada e concebida por Rui Sanches e justifica a deslocação. "New Work" é o título do trabalho de Rui Sanches, que coexiste no espaço desta Galeria com a primeira exposição individual, de pintura, de Marcelo Costa, intitulada "O Caso do Verde Primário". A Galeria Belo-Galsterer fica na Rua Castilho 71-r/c -Esq e tem procurado manter uma actividade diversificada, sempre com motivos de interesse e iniciativas paralelas a cada exposição. Se descermos um pouco, até ao Marquês do Pombal, encontramos no espaço BES Arte "A Experiência do Silêncio", mais um episódio dos Territórios de Transição, comissariado por Luís Serpa, uma montagem exemplar com base em trabalhos de fotografia da colecção de "O Museu Temporário" e da colecção do BES. Destaco as fotografias de Rui Calçada Bastos, Eurico Lino do Vale, Cindy Sherman ou Thomas Struth, entre outros, num conjunto de obras e artistas raramente disponíveis para o público português. E, em contraste, a Pequena Galeria mostra um conjunto de imagens sobre a Islândia "Iceland - Welcome To My Place", da autoria de Céu Guarda (Av 24 de Julho 4C).

Ouvir
Nat King Cole tinha um estilo descontraído de cantar. As canções saíam-lhe de forma natural, sem esforço. Esse é o ponto de contacto de George Benson quando decidiu fazer um disco com 12 dos grandes êxitos de Cole. Não tenta imitar o original, mas é igualmente descontraído. Destaque para os arranjos de Harry Waldman, a dirigir The Henry Mancini Institute Orchestra, destaque para a inconfundível guitarra do próprio George Benson (embora aqui assumidamente discreta), destaque ainda para a participação de Wynton Marsalis ou Till Brönner no trompete e para as vozes de Idina Menzel e Judith Hill. Para provar a sua devoção a Nat King Cole, George Benson incluiu uma curta gravação de si próprio, com oito anos, a tocar e a cantar ukelele numa versão de "Mona Lisa". As interpretações de "Unforgettable" (com Marsalis), "Just One Of Those Things", "When I Fall In Love", "Route 66" ou "Smile" devem chegar para convencer os mais cépticos. (CD Concord/Universal).

Gosto
Segundo a Associação Mundial de Editores de Jornais, mais de metade da população em idade adulta do mundo lê diariamente um jornal, seja em papel ou em edição electrónica.

Não gosto
Na semana passada, os três programas mais vistos da RTP foram a transmissão do Portugal-Rússia, um especial sobre a saída de Sara Norte da prisão, e o concurso "Preço Certo".

Folhear
Cada edição da revista "Monocle" termina com um artigo do fundador da revista, Tyler Brulé, intitulado "Observation", em que ele vai registando os resultados dos seus pensamentos sobre o que o rodeia. Obcecado por viagens, pela importância da acessibilidade no desenvolvimento das cidades e pelo conforto em viagem na qualidade de vida das pessoas, a falta generalizada de transportes decentes é o tema da sua observação deste mês de Junho, precisamente dedicado a tudo o que de novo está a acontecer em matéria de transportes. Não resisto, em demonstração de concordância, a citar um excerto, numa tradução livre do "Observation" da edição de Junho: "Uma das causas que impede viagens sem contratempos é o simples facto de haver muito poucas pessoas, entre as que trabalham para aeroportos, companhias ferroviárias, empresas de táxis e até ministérios de transportes, com experiência de viagem e tempo gasto a efectivamente utilizar meios de transporte em circunstâncias idênticas às dos cidadãos comuns. Muitas vezes encontramos planeadores de cidades, responsáveis de linhas aéreas e até responsáveis governamentais de transportes que parecem gastar muito tempo a falar com grupos de pressão e consultores, mas muito pouco tempo a falar com os seus pares noutros pontos do mundo e a trocarem experiências com quem efectivamente tem experiência dos assuntos". Atrevo-me a dizer que isto se poderia aplicar a quase todas as áreas e não apenas aos transportes: esse é uma dos problemas das lideranças actuais.

Semanada
• PIB italiano recuou 2,4% • PIB português recuou 3,9% • PIB da Grécia recuou 5,6% • PIB do Japão aumentou 4,6% • custos laborais na Alemanha subiram 3,9% • a Auto-Estrada do Norte representa 42% da receita de portagens da Brisa • as dívidas à Segurança Social aumentaram 4,5% de Janeiro a Maio deste ano • no 10 de Junho de 2013, Cavaco Silva condecorou quase o dobro das personalidades face a 2012 • 93% das receitas da CP destinam-se a pagar juros da dívida da empresa • Portugal é o segundo país da UE com menor taxa de cobertura das importações pelas exportações nos produtos alimentares • em 1986, a agricultura contribuía com 10% para o valor acrescentado bruto nacional. Hoje fica-se pelos 2% • Desde que Marinho Pinto é Bastonário, o número de advogados estagiários diminuiu 65% • o rendimento médio das famílias portuguesas em 2012 caiu quase mil euros em relação a 2011 • os reformados com pensões inferiores ao salário mínimo nacional são quase um milhão e meio, num total de 3,5 milhões de reformados e pensionistas • a exportação de ouro caiu 24% nos primeiros três meses do ano, na sequência de uma queda de 17% do valor do metal precioso • a dívida, à banca e a fornecedores, dos cinco partidos políticos representados no Parlamento, totaliza 22,4 milhões de euros.