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22 de Fevereiro de 2013 às 10:22

A esquina do Rio

Quando uma acção de agitação e propaganda - a grandolada, como lamentavelmente já lhe chamam - alcança bons resultados é porque existe disposição para ela ser amplificada

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Protestos

Quando uma acção de agitação e propaganda - a grandolada, como lamentavelmente já lhe chamam - alcança bons resultados é porque existe disposição para ela ser amplificada. Todos os que passaram por acções destas sabem que não basta uma boa ideia. É preciso conseguir o momento certo para que a boa ideia se multiplique. Hoje, é claro, isso é mais fácil porque o espaço entre a acção e a sua comunicação e massificação se tornou praticamente instantâneo.

 

Mas, continua a ser necessário que exista o momento. E a questão é essa: estamos perante um momento em que a oposição ao Governo varreu fronteiras partidárias, ideológicas e etárias. Se fosse o Bloco de Esquerda ou o PCP, e mesmo também o PS, a oporem-se, o facto seria significativo, mas não chegaria. O problema é que, nos apoiantes e eleitores do PSD e do PP, também se acumulam críticas a Gaspar, a Passos Coelho e a outros membros do Governo. A coisa avolumou-se a um ponto em que já não interessa se o objectivo da acção governativa é correcto - e isso é o pior de tudo porque cria o clima para destruir o que se fez e para evitar fazer o que ainda é preciso.


O grande problema deste Governo é a falta de política ou, na realidade, a falta de bom senso: é ter julgado que os fins justificam os meios e ter agido sem querer fazer participar as pessoas no processo. O Governo tem o pecado da soberba e julga que a sua razão basta - e teve medo de mobilizar as pessoas porque sabia que ia tomar medidas anti-populares. Alguém lhes devia ter explicado que essas medidas exigiam cuidados redobrados. Quando se vai para a guerra, faz-se campanha antes, em vez de promessas que depois se revelam mentira. Como se esqueceram do assunto, em cada esquina nasce naturalmente um protesto. Desde 1974 que não existia esta confluência de pessoas, opiniões e movimentos num só sentido e este é o elemento novo de todo este processo, novo e preocupante pelo risco que encerra de fazer um curto-circuito no sistema político. E a culpa não é de quem protesta, é de quem criou as condições para o protesto ganhar esta dimensão. O regime está a perder a sua base social de apoio e esta não é uma boa notícia.

 


Ver
Desde a sua reconstrução, após o incêndio do Chiado, esta é a primeira vez que o Museu Nacional de Arte Contemporânea faz uma exposição permanente com a sua colecção. Aqui estão obras de artistas portugueses, feitas entre 1850 a 1975, de nomes como Malhoa, Bordalo Pinheiro, mas também Paula Rego ou Pedro Cabrita Reis, e outros como Santa-Rita Pintor, Mário Eloy, Almada, Amadeo de Souza-Cardoso, Lourdes Castro ou Júlio Pomar. Uma centena de obras que têm andado, na sua maior parte, escondidas, longe dos olhos do público, e que agora podem ser visitadas.

 


Ouvir
Um dos discos mais divertidos que me foi dado ouvir nos últimos tempos é "The Golden Age Of Song", de Jools Holland & His Rhythm & Blues Orchestra. Jools Holland é um talentoso músico britânico que integrou os Squeeze e já tocou ao lado de nomes como Eric Clapton, Sting ou Mark Knopfler, entre outros. Depois dos Squeeze, tem feito uma bela carreira num programa da BBC que é uma das melhores montras de música pop que se pode encontrar no universo da televisão em todo o mundo. Convida regularmente para o seu programa músicos de diversos géneros e proveniências. Além disso, é um amante de canções - de maneira que escolheu 17 clássicos, convidou outros tantos nomes e juntou num só disco o resultado. Doze são gravações inéditas feitas em estúdio e cinco são gravações ao vivo, feitas no seu programa. Aqui estão novas interpretações de temas como "The Lady Is A Tramp", "September In The Rain", "Mad About The Boy", " My Baby Just cares For Me" ou "Something's Got A Hold On Me", por exemplo. A melhor de todas as versões, devo dizer, é a de Paul Weller com Amy Winehouse, em "Don't Go To Strangers", gravada ao vivo, na BBC. O disco veio da Amazon.

 


Semanada
A Caixa Geral de Depósitos prevê prejuízos de 334 milhões de euros nos próximos dois anos; segundo um estudo do BPI; se Portugal tiver condições de pagamento dos empréstimos semelhantes à Grécia, poderá poupar até 14,9 mil milhões de euros; num só trimestre, desapareceram 125 mil empregos; o desemprego de longa duração aumentou 29,7%; o desemprego afectou mais as profissões qualificadas e há cerca de 60 mil pessoas de profissões intelectuais inscritas nos centros de emprego, mas a maior parte das colocações disponíveis são para trabalhos que exigem habilitações reduzidas; António José Seguro escreveu uma carta à troika a pedir que seja feita uma avaliação política do programa de ajustamento; Carlos Carreiras escreveu que esta atitude de Seguro revela sensatez política; Passos Coelho garantiu que essa avaliação política já é feita ao mais alto nível pelo Governo; António José Seguro foi a Bruxelas dizer a Durão Barroso que a crise em Portugal é grave; desde 1975 que não se verificava uma queda tão acentuada do PIB como em 2012 - 3,2%, mais uma vez acima das previsões; continuando nos enganos de previsões, Vítor Gaspar foi esta semana ao Parlamento dizer que, em relação a 2013, a recessão será o dobro da que previu há três meses no Orçamento de Estado.

 


Arco da velha
Na semana passada, a GNR detectou 13 camionistas a conduzir sem carta, 35 veículos pesados sem seguro e 112 sem inspecção obrigatória.

 


Inveja
Quem me conhece sabe que não sou invejoso. Mas reconheço que desta maneira de trabalhar e de fazer, tenho muita inveja: aqui fica um resumo de um excelente artigo do Mayor de Nova Iorque, Michael Bloomberg, publicado esta semana no Linkedin. Entre 2007 e 2011, o número de nova-iorquinos que trabalham em medias digitais cresceu 80% e a cidade é a região norte-americana que captou mais investimento em empresas tecnológicas no mesmo espaço de tempo, mais que Silicon Valley. Em parte, isto deve-se aos incentivos criados a partir do início da década de 80 do século passado pelo próprio Bloomberg - as coisas demoram o seu tempo a acontecer, mas quando a estratégia é certa, elas surgem. A cidade disponibilizou espaço de trabalho para novas empresas a preços acessíveis - e as 500 empresas que se instalaram nesses espaços conseguiram reunir investimentos privados superiores a 90 milhões de dólares. A cidade investiu também nos cursos de tecnologia das universidades locais e espera que os novos engenheiros que de lá vão sair ajudem a criar uma nova vaga de empresas. O programa "Made In New York", lançado por Bloomberg há uns anos para dinamizar a produção e o desenvolvimento das indústrias do audiovisual na cidade, e que tem sido um êxito, foi agora alargado para a comunidade digital. Este programa fornece recursos e oportunidades para start-ups, que escolham Nova Iorque, se instalarem. Mais de 900 empresas em fase de lançamento criarão 3000 postos de trabalho, fundamentalmente dirigidos a jovens técnicos e criativos, e as empresas e a sua localização constam de um mapa interactivo que todos podem consultar - a cidade esforça-se por divulgar as oportunidades que existem. Chama-se a isto planear, acompanhar, estimular, fazer. Algo muito diferente de prometer e passar a vida a papaguear. Acção política em vez de demagogia política.

 


Folhear
Um dos mais importantes livros sobre a imagem que podemos ler é uma colecção de textos de Susan Sontag, "Ensaios Sobre Fotografia", que foi reeditada pela Quetzal há pouco tempo. A edição original data de 1973, e em tempos já tinha existido uma outra edição portuguesa. Quando estes textos foram escritos, a fotografia não era nada do que é hoje - havia película em vez de digital, a experiência tinha o seu quê de magia alquimista, havia polaroids, mas não instagrams, e ninguém imaginaria que os telefones fotografassem. Apesar de tudo o que mudou, a essência do pensamento sobre a fixação da imagem no processo fotográfico continua actual - e algumas das ideias, como a da acessibilidade da fotografia, como meio de expressão, são cada vez mais reais. Vale a pena sublinhar um ponto desta edição - a excelência da tradução, assinada por José Afonso Furtado.

 

 

 

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