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28 de Agosto de 2017 às 20:40

O ministério da verdade

Infelizmente, não se trata de um episódio isolado ou de um facto típico da "silly season" estival. Repete-se numa cadência em ritmo crescente, invariavelmente sob a capa de princípios e valores de adesão fácil.

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Poucos exemplos ilustrariam melhor o estado de insanidade em que nos querem atolar do que o inenarrável episódio dos "blocos de atividades" da Porto Editora cuja retirada do mercado foi "ordenada por recomendação" de um ministro do governo da República, sob a acusação de "[acentuarem] estereótipos de género que estão na base de desigualdades profundas dos papéis sociais das mulheres e dos homens".

 

Sobre a falta de sentido (e de senso…) que esteve por trás de tão obtusa intervenção, Ricardo Araújo Pereira já disse praticamente tudo o que havia a dizer, ridicularizando - com a mestria que lhe reconhecemos - os responsáveis por tão canhestra medida, cujas orelhas tão cedo não cessarão de arder.

 

Dirão alguns que se tratou apenas de uma indesejável manifestação de excesso de zelo por parte de um grupo de paladinos que se julgam devotos funcionários do ministério da verdade que Orwell tão bem descreveu. Infelizmente, não se trata de um episódio isolado ou de um facto típico da "silly season" estival. Repete-se numa cadência em ritmo crescente, invariavelmente sob a capa de princípios e valores de adesão fácil. Ontem, a igualdade de género. Hoje, o combate à discriminação racial. Amanhã, a bandeira poderá ser a da luta contra qualquer forma de injustiça ou desigualdade.

 

Não são os primeiros - nem serão os últimos - a querer impor-nos um pensamento único e politicamente correto e a subserviência ao sacrossanto Estado, que tudo controla e tributa e sobre todos dispõe, em nome de todas as "boas razões". Um Estado cada vez mais de causas, lesto a reagir de cada vez que o "manual de boas práticas" é alegadamente violado, mas que falha de forma grosseira na hora de proteger as pessoas, seja ao nível da prevenção, seja quando ocorrem catástrofes.

 

Dia após dia, o pensamento único e politicamente correto é-nos servido como a nova verdade absoluta, saída de um laboratório sociologicamente certificado e produzida por mentes devidamente formatadas pela leitura dos mesmos escritos e superiormente orientadas pelos mesmos mestres. Na sua esmagadora maioria pouco mais fizeram na vida do que replicar o que leram nesses livros e ouviram desses mestres. Raramente tiveram ou criaram um emprego que não fosse pago com o dinheiro dos contribuintes. Falam em nome do povo, mas evitam misturar-se com ele porque acham que o comum dos mortais é demasiado primário. Desconhecem o que seja criar riqueza (embora os mais afoitos acabem por enriquecer à custa de terceiros que vendem a alma em troca de algum poder…). Conhecem o mundo apenas por "ouvir dizer", só assim se compreendendo que, sem se engasgar, consigam debitar inanidades sobre Cubas, Venezuelas e Palestinas, ao mesmo tempo que falam de democracia e de igualdades.

 

Passo a passo vão deixando as suas marcas que passam despercebidas à maioria das pessoas, demasiado ocupadas a lidar com os problemas do dia-a-dia. Enquanto a vida não corre mal de todo, ninguém está verdadeiramente atento aos detalhes. Um dia, quando nos quiserem convencer de que as mentiras passaram a ser "inverdades" e que o que era mau se tornou apenas "desrazoável", iremos descobrir, mais uma vez, que a "vanguarda" nos levou para caminhos que não escolhemos e que são contrários às nossas convicções e aos nossos interesses. Nesse dia, daremos meia-volta e iremos voltar a pôr as coisas nos seus devidos lugares...

 

Advogado

 

Artigo em conformidade com o novo Acordo Ortográfico

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