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Quando, a 13 de Janeiro de 1975, o MFA se pronunciou a favor da unicidade sindical, o curso da revolução de Abril mudou dramaticamente.

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Nesse dia, a breve ilusão unitária de Soares e Cunhal esfumava-se e os tambores de guerra começaram a rufar num vertiginoso crescendo, que os acontecimentos do 1.º de Maio e o Verão Quente de 75 amplificaram. De um lado, a Intersindical, o PCP e grupos próximos, pugnando pela consagração legal e obrigatória do frentismo unitário no campo laboral. Do outro, o PS, a direita menos envergonhada e alguma extrema-esquerda, arvorando a bandeira da liberdade sindical e a rejeição dos ensaios de totalitarismo. Decretada a unicidade, foi preciso esperar até 1977 para que a lei fosse revogada e surgisse, um ano depois, a UGT, integrando sindicatos próximos do PS e do rebaptizado PSD.

 

Quatro décadas volvidas, o que a lei do PREC não conseguiu fazer vingar, conseguiu-o de factu a dinâmica político-sindical e a rua. A velha Inter, traquejada dos tempos da ditadura e organicamente apoiada na eficiente máquina do PCP, abanou com a concorrência da UGT, mas rapidamente se recompôs e acabou, sem surpresa, por se afirmar como a única central capaz de fazer tremer governos e mobilizar tropas irredutíveis. Não fora a transfiguração do campo de batalha, com as alterações profundas da base económica nacional e a privatização das principais empresas onde detinha parte substancial das suas forças, ainda a Inter seria capaz de parar o país sempre que o quisesse, como nos dez anos que se seguiram ao 25 de Abril.

 

Hoje, a sua capacidade de mobilização está concentrada na função pública e nos raros sectores que o capital privado ainda não invadiu. É esse o terreno onde a Inter e o PCP contam com o seu exército activo e, por isso, defendê-lo-ão abnegadamente contra quaisquer novas tentativas de privatização directa ou indirecta, mantendo a guarda alta em todas as frentes onde, por via de reestruturações orgânicas ou racionalizações de serviços, a sua capacidade de influência possa sair diminuída. Não por acaso, a preservação das principais empresas de transportes - CP, Metro, Carris, STCP - na esfera pública é uma das condições sine qua non para a manutenção do acordo governativo à esquerda. Como não é à-toa que o PCP e a Inter pretendem reverter o processo de fusão entre a EP - Estradas de Portugal e a Refer. É que, nesta, contam com um batalhão de comandos ferroviários cuja coesão tenderia a diluir-se no espaço mais alargado de uma gestão comum das infra-estruturas.

 

A Inter terá, sem dúvida, um papel determinante no quadro de acção do próximo Governo, tão determinante quanto delicado, porque muito do seu futuro se jogará no curto prazo. Já não lhe bastará a defesa intransigente, tantas vezes míope, de direitos adquiridos e de um status quo sindical enraizado em arquétipos do século passado. Perante as novas contradições da sociedade moderna, estão a surgir novas formas de organização laboral - a Freelancers Union, nos Estados Unidos, ou o SCP/VTC, em França -, trazendo para o teatro de operações um sindicalismo 2.0 que ameaça e desafia os dispositivos convencionais. E agora, CGTP? 

 

A figura do mês: Helmut Schmidt

 

Entre os grandes estadistas europeus do pós-guerra contam-se quatro alemães -Adenauer, Brandt, Schmidt e Kohl. Num tempo em que a Alemanha é tantas vezes acusada de antieuropeísmo e ausência de espírito solidário, é bom relembrar que alguns dos maiores vultos na história da construção europeia são da terra da senhora Merkel. Nenhum outro país do Velho Continente se pode orgulhar de uma tão rica galeria de notáveis.

 

Quando, em 1974, Schmidt sucedeu a Brandt como chanceler da ex-RFA, viviam-se tempos de preocupação na Europa. A crise petrolífera de 73 provocara um estado anémico na economia e a tensão Leste-Oeste não dava sinais de abrandamento. Culto, racional e pragmático, Schmidt prosseguiu com sucesso a Ostpolitik lançada pelo seu antecessor, combateu com inteligência o surto terrorista e esteve, com Giscard, na génese do Conselho Europeu e do G-7.

 

Fervoroso adepto de Popper, Schmidt manteve-se até ao fim fiel às suas convicções. Fumador inveterado, nunca se vergou ao diktat antitabagista. Em sua memória, dedico-lhe o cigarro que acabo de acender.

 

Número do mês: 2%-22%

 

A edição de Novembro da Harvard Business Review dedica um curioso artigo ao tema da liderança, sob o título "Serão os CEO bem-sucedidos simplesmente sortudos?". Enquanto alguns trabalhos de investigação situam o contributo dos CEO para o sucesso das empresas entre 2% e 22% dos resultados, embora abaixo da influência do contexto industrial, um estudo recentemente realizado na Suécia sugere que a sorte é o principal factor determinante.

 

Possivelmente, como propõe um outro trabalho (Fitza, 2014), a aleatoriedade dos factores de contexto cria a ilusão de que existe um "efeito CEO" mesmo que não exista evidência de competências pessoais superiores. Daí à verificação simétrica de que a maioria dos despedimentos de gestores por mau desempenho se fica a dever a factores fora do seu controlo vai um pequeno passo.

 

Surpreendente mesmo nas conclusões do estudo sueco é a constatação de que a estatura é relevante na escolha dos CEO, já que a maioria dos gestores das grandes empresas pertencem ao grupo dos 5% de cidadãos mais altos. Coincidência?  

 

Economista; Professor do ISEG/ULisboa 

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