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Portugal país de brutamontes

É conhecido o livro "Portugal país de suicidas" de Miguel de Unamuno. Pelo menos é conhecido o título. Trata-se de uma antologia de textos sobre cultura portuguesa num dos quais se encontra a tremenda frase: "Portugal é um povo de suicidas, talvez um povo suicida."

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Na linha do seu amigo e escritor Manuel Laranjeira, que numa carta dizia que em Portugal "tudo o que é nobre suicida-se; tudo o que é canalha triunfa", Unamuno fazia literatura e não sociologia. Mas podia tê-lo feito já que por cá, apesar do generalizado recurso aos antidepressivos, o suicídio é elevado. Basta dizer que este causa o dobro das mortes por acidentes rodoviários. E todos sabemos como os portugueses conduzem…

 

Não fosse literário e o título podia ser outro: Portugal país de brutamontes. Pois ao contrário da fantasia dos brandos costumes, o nível de violência é mesmo brutal no nosso país. Violência sobretudo contra os fracos. Dos homens contra as mulheres, dos pais contra os filhos, de todos contra os animais, da polícia contra o pequeno criminoso, do sistema contra o zé-ninguém, do Estado contra o cidadão. A violência doméstica, por exemplo, na sua maioria do homem contra a mulher e filhos, não é exceção, mas regra na vasta maioria das famílias. Em todas as classes sociais e logo a partir da adolescência. De tal forma se acha normal que o marido agrida a mulher que a cada caso se levanta uma onda de espanto. Na verdade, muitos dos populares que se acotovelam à volta das câmaras de televisão ou à porta do tribunal ululando por justiça vivem em similar ambiente de brutalidade calada.

 

Mesmo quando o sistema pensa o problema e tenta resolvê-lo é a violência que emerge. Veja-se o caso da semana, com a condenação de Portugal no Tribunal Europeu dos Direitos do Homem, por ter retirado sete filhos a uma mãe negligente, ter mandado cada um para seu lado entregando-os à força para adoção. Isto em nome do superior interesse das crianças. Imagine-se se não o fosse. Pior. A justiça portuguesa achou por bem querer obrigar a mulher a laquear as trompas, ou seja, tornar-se estéril. Nem os nazis fizeram tal coisa. Além da indescritível chantagem associada, ou laqueias as trompas ou tiramos-te os filhos. É isto um Estado de Direito ou um Estado brutamontes?

 

Os próprios media são particularmente brutos na forma como exploram estas coisas. O direito à privacidade é uma balela que não comove ninguém. A começar pela própria justiça cujos segredos fazem sistematicamente a capa dos jornais. Não por acaso se chama violação. Porque o é mesmo.

 

Neste ambiente, a violência e a depressão só podem prosperar a ponto de levarem mães a matar os filhos a que se segue o insuportável coro dos moralistas. Quantos deles brutamontes nos seus próprios lares. Há uns anos foi o caso de um cantor célebre, por estes dias é o de um professor ainda mais famoso.

 

Tanta e tão disseminada violência desespera. Não seremos os mais suicidas, mas somos certamente dos mais deprimidos. Segundo a OCDE, Portugal é o terceiro país do mundo onde se consomem mais antidepressivos. Do mundo. É notável. Já agora, para os curiosos, a Islândia e a Austrália são os primeiros. A Islândia percebe-se. Pouco sol, muito frio. Na Austrália dizem que é por causa do alcoolismo e do desemprego. Não explica muito. Mas Portugal que tem tanto sol, um inverno ameno, boas praias, uma gastronomia razoável e bons vinhos não se percebe de todo. É certamente pela brutalidade das pessoas. Umas contra as outras e todos contra tudo o resto.

 

Já não falo das árvores que os portugueses adoram cortar, mas a forma como se tratam os animais é sintomática. Rituais de matança animal, touradas, caça a tudo o que mexe, pesca até à extinção das espécies, canis indescritíveis na sua barbaridade, criações de gado que mais parecem câmaras de tortura, veterinários que são verdadeiros doutores Mengel, fazem do nosso país um exemplo do mais absoluto desprezo pela vida natural.

 

Definitivamente Unamuno enganou-se no termo. Sugere-se, portanto, que alguém escreva um novo livro, menos literário e mais conforme com a realidade deste país embrutecido.

 

Artista Plástico

Este artigo está em conformidade com o novo Acordo Ortográfico

 

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