Opinião
Portugal no labirinto
Perdido no labirinto, o país anda às voltas sem conseguir encontrar uma saída. São muitos os que sugerem um rumo, mas a deambulação errática e desesperada torna difícil gerar um mínimo de consenso.
O PS, depois da vitória que soube a derrota, está em ebulição. É natural que uma disputa política deste género altere os ânimos. Mas tem-se ido longe demais. Insultos, golpadas, rancores antigos emergem minando o inevitável desfecho. Pois na realidade já não está em causa a forma desastrada como António José Seguro sai, mas a maneira como António Costa entra.
Embora conhecendo o ambiente, espanta o nível de ódio que alguns exibem contra Costa e os que o apoiam. Os rancorosos fazem-no por hábito. Os adversários por medo. Outros por histórias passadas. Há também os que devem tudo à psicanálise. Transferindo o ódio insalubre que nutrem por Sócrates. O que é um disparate. São políticos muito diferentes, mesmo se aliados circunstancialmente. Sócrates foi um governante determinado, um animal feroz. Costa é um agregador de diferenças.
De qualquer modo, mais relevante nesta tramoia é o esquema que Seguro encontrou para se manter mais algum tempo no cargo. A ideia das primárias pode ser boa como princípio geral, mas a prática é complexa. Não temos tradição nem experiência. O mecanismo não foi testado. Conhecendo o que a casa gasta é quase certo que se venha a optar por um mecanismo tão complicado e burocrático que impedirá a participação da generalidade dos que estariam dispostos a fazê-lo. Ou seja, os "simpatizantes" poderão vir a ser tudo menos isso.
Também o Governo anda pelo labirinto sem saber o que fazer. O que é perigoso. Quando isso acontece, a regra é que se aumentem ainda mais os impostos. O Excel foi de novo posto em causa e os cálculos estão todos errados. Isto no preciso momento em que Passos e Portas andavam ufanos com a putativa saída da Troika que agora se confirma que não foi saída nenhuma. Portugal continua dependente, sob protetorado, massacrado com a sacrossanta austeridade.
A juntar às trapalhadas, em que os nossos governantes e políticos são tão profícuos, a intrincada arquitetura de Dédalo tem contado com a ajuda do Tribunal Constitucional. Na verdade, este Tribunal é hoje uma espécie de Senado, uma segunda câmara não eleita, que vai contrariando as leis mal elaboradas dos deputados. Sendo por natureza um órgão de fiscalização e conformidade legal, as suas decisões, pelo menos quando contrárias ao interesse da maioria, tornam-se atos políticos. Daí a animosidade crescente. A tal ponto que muitos pedem que se acabe com ele. O Constitucional não é isento de crítica. Nem devia ser endeusado quando faz a vontade à oposição. Mas nada enfraquece mais a democracia do que esta tendência para mudar as regras do jogo a meio do campeonato. Em resultado, vivemos numa constante instabilidade na qual, a cada momento, ninguém sabe com o que conta.
A ação do Tribunal Constitucional tem tido ainda um efeito colateral não displicente. O Presidente da República é cada vez mais um "bibelot" que não faz nada, não serve para nada e anda a reboque dos acontecimentos. Cavaco Silva limita-se a andar por aí proferindo declarações vagas, invariavelmente de apoio ao Governo e ao "satu quo", mas a que ninguém liga. Nunca tivemos um Presidente tão irrelevante.
Resta falar dos pequenos. Tão ou ainda mais perdidos. O Bloco, que se arrisca a desaparecer, fecha-se na concha, encosta-se a um canto sem saída esperando não se sabe que sinal. Não é só a bicefalia que não funciona. São as ideias que vão contra toda a lógica. Em vez de procurar agregar vontades, o Bloco afunda-se na arrogância. Perdendo a compostura já fala mesmo da saída do euro. Como se o isolamento pudesse resolver algum problema do país. A experiência já foi feita com Salazar e o resultado foi o que se conhece. Um atraso que deixou marcas profundas que perduram até aos dias de hoje.
Em suma, Portugal não aprende. Confunde o debate livre, sempre produtivo, com a incapacidade de gerar consensos e encontrar um rumo coletivo. Continuamos perdidos no labirinto.
Artista Plástico
Este artigo está em conformidade com o novo Acordo Ortográfico.