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"Un amour" de "swap"

As leituras de Paris do engenheiro Sócrates passaram da busca do tempo perdido para a recuperação do tempo perdido. A forma sublime como conseguiu, com a nossa inestimável ajuda, fazer esquecer a sua paixão pelo "swap" não augura nada de bom para a liderança de António José Seguro

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De mansinho a "silly season" recuperou os seus direitos estivos e fez desaparecer o caso dos "swaps" da abertura dos telejornais, aliás, fez desaparecer os "swaps" dos telejornais. Perdoem-me a ousadia, mas sinto-me ludibriado. Depois de várias semanas de frenesim noticioso, de directos televisivos à porta de vários órgãos de soberania, de "zooms" ao parque automóvel do Estado, de revisões constitucionais em directo, com Secretários de Estado a demitirem colegas, continuo sem saber o que aconteceu.

Devo ter visto demasiados filmes americanos sobre jornalistas e jornalismo. Lembro-me dos "5 W’s" como sendo a regra de ouro de qualquer peça jornalística ("Who is it about? What hapenned? When did it take place? Where did it take place? Why did it happen?").

O leitor perdoará a ousadia, mas gostaria de arriscar percorrer estas cinco inocentes questões a propósito dos "swaps".

Parece inequívoco que os "swaps" cresceram e se multiplicaram sob responsabilidade dos Governos de José Sócrates. Mas a história do fenómeno aparece centrada no actual Governo que herdou os bichos e tem procurado reduzir-lhes a existência.

O "quis" terá a sua importância, mas o "quid" é fundamental. O actual Governo que procurou, com algum sucesso, atenuar as gravosas consequências dos "swaps" transformou-se no vilão da história.

Mais uma vez, a incapacidade de construir uma narrativa política, pior a incapacidade de fazer política, alterou o "quando" dos "swaps". O tempo do autor do delito passou a ser o tempo da vítima.

E como no tempo televisivo dos "briefings à la minute", a alteração do "quando" conduz à alteração do "ubi", ninguém ficou a saber quem fez o quê, onde e porquê. Extraordinário, afinal, o que se passa no PSD que, de trapalhada em trapalhada, conseguiu estrear um novo líder coordenador a perguntar se outros tinham denunciado o homem que nós levámos para o Governo... para quem andou a brincar aos empréstimos na última década nada podia ser mais tranquilizador.

No triste enredo da novela dos "swaps" surgiram, a contragosto ainda alguns reis magos, sobrantes do Governo anterior. Aparentemente, os acólitos pensadores de Sócrates teriam aceitado a proposta de um "swap" para acabar com todos os "swaps", o "swap" total que salvaria o filósofo Sócrates da cicuta eleitoral. E, não para minha surpresa, se não houvesse um Franklin Alves a pôr trancas na porta ia mesmo tudo a eito... Já agora, para a eventualidade de alguém querer fazer a pergunta, quanto é que custaram e quem beneficiou com estas operações? Ando a precisar de comparar opções e, se não desse muito trabalho, ou alguém soubesse, agradecia...

As leituras de Paris do engenheiro Sócrates passaram da busca do tempo perdido para a recuperação do tempo perdido. A forma sublime como conseguiu, com a nossa inestimável ajuda, fazer esquecer a sua paixão pelo "swap" não augura nada de bom para a liderança de António José Seguro e muito menos para Portugal e para os Portugueses. Em tempo de férias, resta-me espremer o optimismo para acreditar que este Governo ainda consegue reencontrar o seu tempo.

Advogado, militante do PSD
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