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Sentados na arriba 

No domingo, a Frente Nacional tornou-se o primeiro partido em França. Já se esperava que mais tarde ou mais cedo acontecesse mas, com ironia, aconteceu depois de um Presidente socialista ter decretado meses de estado de emergência.

Foi a imitar Le Pen, que o fraco Sr. Hollande perdeu copiosamente e abriu uma enorme brecha no que tem mantido, apesar de tudo, a União Europeia : o sentido de responsabilidade que a História impôs ao fazer do eixo franco-alemão o motor da maioria dos avanços na construção europeia.

 

Hoje temos França, a República da igualdade e fraternidade, a querer fechar as fronteiras, o mesmo é dizer acabar com a União, e a Sra. Merkel a querer acolher refugiados percebendo a delicadeza do momento que atravessamos.

 

Mas como o mundo tem destas coisas, é pela Grécia "devastada" pela Europa, como por cá se diz, que entram todos os dias esses milhares de refugiados. A Europa que os partidos que apoiam o nosso Governo vêem de chumbo é, afinal, a luz que atrai o resto do mundo.

 

Não acontece só pela segurança e pela paz - o que só é pouco para quem delas não precisa. É também, sobretudo, pela prosperidade.

 

Para Portugal, o fim da União (que intimamente o PC e o Bloco desejam) seria uma catástrofe. O regresso ao modelo Estado-nação no espaço continental faria das periferias pobres as primeiras vítimas, reservando o "Estado social" para as economias fortes do Norte da Europa.

 

Contudo, mesmo estar assim, na pendência de um futuro que não dominamos, não nos desobriga de procurar as soluções que vamos adiando. Mesmo que a União sobreviva não podemos continuar como até aqui ou seremos nós que não resistimos.

 

Na primeira década do euro, os que emprestam trataram-nos a todos como alemães e daí veio o crescimento do consumo e do rendimento: pelo endividamento externo. Uma doce ilusão de prosperidade.

 

Depois veio a crise e com ela o ajoujamento que nos faz correr apenas atrás da consolidação orçamental, sem procurar as reformas estruturais articuladas, indispensáveis ao crescimento.

 

Reforma do sistema financeiro urgente para uma economia de empresas sem capitais próprios. Reforma nos sistemas de apoio e protecção social, estimulando a poupança, a acumulação de capital e património que reduzem a dependência do Estado. Reforma na gestão da terra para evitar a desertificação do interior. Enfim, isto é tudo o que vai além de contrair ou aumentar a despesa em função da cobrança de mais ou menos impostos.

 

A gestão de ciclos curtos, ora de poupança à bruta ora de consumo porque sim, alternados como a pobreza da nossa política nada resolvem se não percebermos que precisamos de mudar muito para emergir neste processo de globalização que não vai recuar, só vai expor a maiores desafios a pequena economia aberta que somos.

 

O anterior Governo aguentou o barco durante a tormenta o que não foi pouco, mas sem grande rasgo ou avanço nessas reformas que Portugal precisa. O actual tem prioridades, digamos assim, ainda mais imediatas.

 

Enquanto a União ameaça desabar, o nosso ministro das Finanças estreia-se no Eurogrupo prometendo cumprir a consolidação com uma fezada no crescimento pelo consumo. Vai continuar a ser bem tratado. Desde que prometa que se nos der por um lado nos tira pelo outro, para os de Bruxelas estará tudo bem.

 

É-lhes indiferente que por cá a esquerda tudo exija e o PS nos primeiros dias tudo dê. A crise do euro não está melhor, mas não tem a prioridade que tinha há um ano. Se o fogo não entrar em casa, poderemos continuar a marcar passo. Quando entrar pagam os do costume.

 

Advogado

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