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16 de Outubro de 2013 às 00:01

Populismo

É por isso que no descalabro social que a austeridade agravou, ao assistir, por exemplo, à popularidade de medidas racistas anunciadas pelo governo húngaro ou, mais perto de casa, a vitórias eleitorais do Front National em França, a gente tem medo. Eu, pelo menos, tenho.

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Enrico Letta, primeiro-ministro italiano, ganhou alma nova por se ter visto livre de Berlusconi. (A idade não perdoa e o "cavaliere" desta vez enganou-se: do homem da rua aos seus próprios lugares-tenentes, os italianos perceberam que ir atrás dele contra Letta e derrubar o governo lhes tiraria dinheiro do bolso. Fim em surdina de vinte anos de banha da cobra). Letta deu entrevista de grande difusão na qual, tal como outros políticos europeus, alertou contra o populismo. Demagogos desonestos andam praí a prometer às pessoas o paraíso na terra por via de medidas fatais para a prosperidade europeia – abandono do euro, fecho das fronteiras à emigração, proteccionismo – promessas que, no mal-estar criado pela crise e pela austeridade, animam milhões de vidas da zona euro que não vêm luz ao fim do túnel do futuro desde 2008. 


Letta receia susto suplementar. Prò ano em Maio celebram-se eleições para mais um quinquénio de Parlamento Europeu. Desde que estas passaram a ser por sufrágio universal em 1979, a percentagem de eleitores que vota tem vindo sempre a baixar (e, graças sobretudo a insistência da Alemanha, mais populosa e por isso com mais deputados em Estrasburgo do que os seus parceiros, os poderes do Parlamento têm aumentado muito. Paradoxos). Seguindo a tendência, a percentagem de votantes em Maio deveria ficar abaixo dos 43% de 2009 (61,99% em 1979) mas espera-se percentagem mais alta de votantes. No Reino Unido, na França, na Alemanha, na Itália, em outros países, partidos eurocépticos e eurofóbicos irão apresentar candidatos (em França, o Front National de Marine Le Pen poderá receber mais votos do que qualquer outro partido). Militantes aguerridos, as suas campanhas eleitorais sacudirão a pasmaceira habitual. Os grandes partidos tradicionais do Parlamento Europeu – cristãos-democratas, sociais-democratas e liberais – estão com o Credo na boca. Se eurocépticos/fóbicos ocuparem mais de 30% do hemiciclo em Estrasburgo teremos diante de nós um Cavalo de Tróia anunciado.

Porque é que populismo aparece? Geralmente porque os partidos estabelecidos do poder e da oposição de um país deixaram de convencer os eleitores da sua boa-fé e da sua competência; a hora é dos gladiadores. Acresce que, nos países da Europa do Sul de hoje, não se dá crédito aos políticos nacionais porque quem realmente governa são Bruxelas e Berlim. Não é por acaso que a maioria dos nossos populistas se afirmam contra a União Europeia.

Quais os perigos do populismo? Houve muitos populismos no mundo e nem todos deram para o torto. Os europeus, porém, triunfantes nos anos 30 do século XX e dizendo-se de entrada nem de esquerda nem de direita, acabaram todos fascistas ou pior (Hitler). É por isso que no descalabro social que a austeridade agravou, ao assistir, por exemplo, à popularidade de medidas racistas anunciadas pelo governo húngaro ou, mais perto de casa, a vitórias eleitorais do Front National em França, a gente tem medo. Eu, pelo menos, tenho.

* Embaixador

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