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02 de Outubro de 2013 às 00:01

Pedintes e esmoleres?

Ângela Merkel é mestre de táctica, mas governar é prever, de preferência para lá da primeira esquina. Ninguém saberá convencer a "Chefe da Europa" que no interesse de todos, a começar no da própria Alemanha, ou se vai aliviando a austeridade ou, em vez de retoma, teremos a democracia em perigo e a Europa desfeita?

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Os que podem aos que precisam, rezava o lema de já não sei que instituição caritativa da minha infância. Não se aplica hoje aos Europeus. Até agora a experiência da crise ensina que, em momentos de decisão crucial para a sobrevivência da União, Angela Merkel faz o que os seus parceiros e o bom senso reclamam, mas depois de ter arrastado os pés até à beira do abismo a dizer que não, só mesmo quando entende que se o não fizesse seria pior ainda para os interesses dos seus patrões, isto é, dos eleitores alemães. A sua grande ambição política é agradar-lhes para que eles a reelejam, o que não lhe podemos levar a mal: passa-se "mutatis mutandis" a mesma coisa com os tribunos de todas as nossas democracias, desde a que produziu a Magna Carta às neófitas romena e búlgara e preferimos que assim seja a que se deixasse de ir a votos nesta ponta da Eurásia, onde há 2.500 anos a Grécia inventou essa forma de governo. As voltas que o mundo dá. 


Mestre da arte de agradar aos seus sem aldrabices à Berlusconi nem ilusões à Hollande e tendo a Alemanha poder económico, desafogo financeiro e crédito muito acima de todos os seus parceiros comunitários, vários jornais e revistas europeias têm chamado desde o dia 22 à Senhora a Chefe da Europa. (Se o fosse, a democracia sofreria porque os votos da maioria não alemã do continente não poderiam confirmá-la nem removê-la – seria a chefe autocrática da Europa). Passados cinco anos sobre a falência de Lehman Brothers, a maneira de tratar da crise por via de austeridade pura e dura, primeiro sugerida no G20, depois posta em prática pelos países sofredores, trazidos à rédea curta por Conselho Europeu, Comissão, Banco Central Europeu e FMI, descrita há dias como um triunfo pelo ministro das Finanças alemão que entende estarmos a sair da crise, é cada vez mais posta em causa por gente que sabe o que diz. As dívidas nacionais aumentam, o desemprego não baixa, o crescimento é fraquíssimo ou inexistente, a Europa vai perdendo, lá fora, a influência que teve no mundo e, cá dentro, a solidariedade que apanhando uma boa maré política e contra todas as tradições da história fora construindo desde que decidira gerir em comum carvão e aço franceses e alemães.

Não se deve subestimar a capacidade de encaixe dos povos. Os estilos variam de lugar para lugar: na Grécia, bafos de República de Weimar com neo-nazis e tudo; em Portugal, mais perto da mulher-a-dias da minha mãe – "adeus, parabéns, obrigado e desculpe" - em toda a parte se vai vivendo. Mas desconfiança entre europeus e ódio à Alemanha renasceram e crescem como bambus: se nada se fizer para os contrariar haverá sarilho à antiga.

Angela Merkel é mestre de táctica, mas governar é prever, de preferência para lá da primeira esquina. Ninguém saberá convencer a "Chefe da Europa" que no interesse de todos, a começar no da própria Alemanha, ou se vai aliviando a austeridade ou, em vez de retoma, teremos a democracia em perigo e a Europa desfeita?

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