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18 de Setembro de 2013 às 00:01

Movimento tectónico

As Comunidades transformaram-se em União Europeia que é hoje um gigante económico e comercial, mas não tem qualquer papel de defesa militar. Foram construídas ao lado da OTAN e pela mesma razão: por medo de Estaline (como dizia Paul-Henri Spaak).

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Ou o chão a deslizar debaixo dos nossos pés. Não se sentia nas relações transatlânticas desde que o Tratado do Atlântico Norte fora assinado em Washington em 1949 e o Pacto de Varsóvia criara a seguir organização militar para se opor à OTAN. Houve sobressaltos: do lado de lá, rebeliões em Budapeste (1956) e Praga (1968) esmagadas pelo poder soviético e em 1989, annus mirabilis da Europa comunista, quando os países dela (e as três repúblicas bálticas) sacudiram o jugo de Moscovo antes de Yeltsin dissolver a União Soviética. Do lado de cá, a decisão de Eisenhower, em 1956, de não apoiar ingleses, franceses e israelitas quando estes tentaram derrubar Nasser e controlar o Canal de Suez, ajudou a consolidar o regime militar no Egipto (até hoje), determinou que o Reino Unido fosse rendido pelos Estados Unidos como sentinela ocidental no Médio Oriente, mas não enfraqueceu a OTAN nem perturbou o seu papel de dissuasor de aventuras militares contra os Aliados, desempenhado a contento até ao colapso da URSS.


Depois disso - para espanto de muita gente convencida de que o fim da Guerra Fria acarretaria o fim da OTAN - passou a desempenhar também outras tarefas que já não eram exactamente de defesa própria, mas sim de ir tentar pôr ordem em zaragatas alheias – pacificar a Bósnia; expulsar a Sérvia do Kosovo; patrulhar partes do Mediterrâneo – nas quais houve bem. E continuou a irradiar da sua sede em Bruxelas (e Mons, onde tem o comando militar) conforto para os europeus, os que são Aliados e incluem agora vários antigos membros do Pacto de Varsóvia e os que os não são nem tampouco o eram dantes, os chamados neutros, que tinham sempre contado com ela para se houvesse azar durante a Guerra Fria – não houve – e continuam a contar, para o que der e vier.

Entretanto, as Comunidades transformaram-se em União Europeia que é hoje um gigante económico e comercial, mas não tem qualquer papel de defesa militar. Foram construídas ao lado da OTAN e pela mesma razão: por medo de Estaline (como dizia Paul-Henri Spaak). Durante a Guerra Fria, porque a maioria dos seus membros eram também membros da OTAN, se se tivesse chegado a vias de facto, as Comunidades (hoje a União) contariam para sua defesa com o poder bélico dos Estados Unidos e, ganha a Guerra Fria, nesse pressuposto temos continuado a viver.

Ora a questão da Síria, tal como tratada em Washington desde que o presidente Obama traçou "uma linha vermelha" para lá da qual o presidente Assad não poderia passar, levanta dúvidas cruciais sobre o entendimento do poder, do uso da força, da ameaça do uso da força, do papel dos Estados Unidos no mundo, na Casa Branca e no Congresso actuais. A aselhice azarenta de Carter, a ignorância militante de Bush filho não tinham afinal tocado no fundo.

A procissão síria ainda vai no adro, mas os europeus deveriam ir-se habituando à ideia de que poderão ter de passar a pagar pela sua própria defesa – uma novidade desde o fim da 2.ª guerra mundial.

* Embaixador

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