Opinião
A democracia de pingue-pongue
As cadeiras do poder não estão programadas para as más notícias. As da oposição rezam pela chegada destas. Ambos tornam-se a longo prazo inúteis, nesta democracia de pingue-pongue.
A FRASE...
"Felizmente, existe a Dra. Teodora Cardoso e o seu Conselho de Finanças Públicas, uma entidade que não concorre a eleições, e cujas análises podem ser discutidas ou erradas…"
Miguel Sousa Tavares, Expresso, 11 de Novembro de 2017
A ANÁLISE...
Reunir um Conselho de Ministros a um sábado é a ponta de um icebergue. Manifesta a disfunção governativa que atravessa as democracias atuais relativamente às escolhas de longo prazo. Quando Hamilton instigava os seus cidadãos a refletirem "se as sociedades eram capazes, ou não, de estabelecerem um bom governo a partir de reflexão e escolha, ou se preferiam estar destinados a terem as suas políticas dependentes do acidente e do acaso", não imaginava que o peso do Estado nos Estados Unidos da América seria em 1913 de 7,5% do PIB, e que estaria em mais de 40% no início do século XXI. A vida das pessoas passou a ser definitivamente, pela dimensão estatal, uma responsabilidade totalitária governativa a que nenhum governo se pode escapar. O odioso cai-lhe em cima da forma mais inesperada.
Paralelamente, os artifícios que se utilizam, tais como intermináveis e inconsequentes inquéritos, ou busca de incompetência pessoal ou institucional, e outras artimanhas, para acalmar as pessoas perante os acontecimentos trágicos da vida, esbarram com um simples facto: têm os recursos necessários para gerir melhor a coisa pública, mas não o conseguem fazer. E porque não o conseguem? Ao escolherem paternalizar a sociedade com uma colossal função estatal, ao subordinarem as prioridades às dos ativistas mais ruidosos, e mais numerosos, matam lentamente a nobreza da democracia. Esta podia e devia centrar-se na reflexão e no debate sobre os desígnios coletivos. Ao invés, tentam apagar os fogos mediáticos atuais, mas sabem que estão a omitir os do futuro, cuja responsabilidade já antecipamos de quem seja. O historiador Raleigh no seu livro "The Best of Times and Worst of Times" interroga-se pela degeneração que a esquerda e a direita estão a sofrer com o estado do mundo. A meteorologia política nada resolve: haverá sempre bom e mau tempo. Ninguém se atreve a preparar-nos para o mau, e muito menos a aceitar alertas. Serão sempre os próximos a resolver. As cadeiras do poder não estão programadas para as más notícias. As da oposição rezam pela chegada destas. Ambos tornam-se a longo prazo inúteis, nesta democracia de pingue-pongue.
Artigo está em conformidade com o novo Acordo Ortográfico
Este artigo de opinião integra A Mão Visível - Observações sobre as consequências directas e indirectas das políticas para todos os sectores da sociedade e dos efeitos a médio e longo prazo por oposição às realizadas sobre os efeitos imediatos e dirigidas apenas para certos grupos da sociedade.
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