Opinião
Lições de uma campanha alegre
As recentes eleições autárquicas com os seus resultados multifacetados são férteis de lições para o aspirante a profissional do marketing político. Hoje vamos explorar o caso de um município às portas de Lisboa.
Em Oeiras, apresentaram-se 14 formações políticas ao eleitorado de que resultou uma dispersão de votos à esquerda. O número de formações independentes atingia as quatro candidaturas (IN-OV de Isaltino Morais, IOMAF de Paulo Vistas, MIRO de Sónia Gonçalves e a candidata Isabel Sande e Castro pelo Nós Cidadãos). À esquerda proliferaram as pequenas candidaturas, o PCTP (84 votos), o PTP (46 votos), o Livre (564), o Bloco de Esquerda (2556 votos), a CDU (6.451 votos) e o PS (11.042 votos). A direita concorria numa coligação Oeiras Feliz que reunia o PSD e o CDS (7.216 votos, 8.8%). Participavam ainda o PAN e a extrema-direita do PNR.
Da campanha ficam algumas ideias:
• O dinheiro não ganha eleições, mas ajuda. As candidaturas que mais cartazes colocaram, que mais folhetos publicaram, que mais profusamente abriram sedes, que mais canetas, chapéus, e outros gadgets distribuíram foram a de Isaltino, Paulo Vistas e a coligação PSD/CDS e o Partido Socialista. Os resultados foram muito diferentes. O PSD/CDS cifrou-se por votação equivalente à da CDU que tinha um orçamento claramente muito modesto. Neste caso, as centenas de milhares não se impuseram aos escassos milhares. No entanto, a candidatura de Isaltino beneficiou do investimento feito.
• A memória do eleitor é curta e seletiva, mas pode ser estimulada. A vitória de Isaltino mostra uma sábia gestão da memória dos oeirenses. O que relevou foi a sua obra, que em muitos casos foi partilhada por outros intervenientes, esses sim completamente esquecidos, e o olvidado foram os factos que conduziram à sua condenação e prisão. Os adversários por seu turno não conseguiram avivar na memória coletiva esses acontecimentos nem dar-lhes a importância merecida.
• Promessas de grandes e numerosas obras públicas captam votos neste concelho. Os mais generosos, muitas vezes perto da demagogia mais escandalosa, neste tipo de propostas foram claramente os candidatos mais votados (Isaltino, Paulo Vistas e Partido Socialista). Os mais comedidos foram penalizados.
• Os partidos mais pequenos da mesma área política têm dificuldade em coligar-se entre si, dado que há perspetiva de conseguir eleitos suficientes que possam repartir. Assim o Livre, o PTP, o Bloco de Esquerda e o PCTP surgem individualmente sem capacidade nem ambições, mas acabando por dividir votos da sua área política (à área à esquerda do PS) e, assim, prejudicando a representação institucional desse eleitorado.
• A notoriedade dos candidatos e a experiência política é algo fundamental para disputar eleições. A coligação PSD/CDS apresentou um candidato pouco conhecido, que ganhou mais tarde algum destaque por razões negativas à sua imagem, tendo em contrapartida as formações com mais votos avançado com personalidades de renome local. A CDU apresentou uma personalidade muito conhecida e combativa de nível nacional, a deputada de Os Verdes Heloísa Apolónia. Os candidatos dos pequenos partidos eram em geral ilustres desconhecidos.
Sobre o papel das redes sociais nesta campanha falaremos numa próxima oportunidade.
Economista
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