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08 de Abril de 2015 às 00:01

O Cavalo de Tróia que ameaça a Europa

A Grécia pode ser "uma ponte entre o Ocidente e a Rússia", asseverou Alexis Tsipras antes de chegar a Moscovo, reiterando, ainda, a sua oposição à "política insensata de sanções" da União Europeia.

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Isentar a Grécia do embargo de Moscovo às exportações de produtos agrícolas da UE é um dos objectivos referidos por Tsipras em entrevista à TASS, a par do interesse de Atenas em que empresas russas participem na exploração "offshore" de petróleo e gás natural em Creta.

 

Aguardando por descontos da Gazprom - que vende 65% do gás natural consumido pela Grécia - o ministro da Energia Panagiotis Lafanzanis fez saber, entretanto, que apoia a construção de um gasoduto no Mar Negro entre a Rússia e a Turquia.

 

O gasoduto é a alternativa proposta por Vladimir Putin após o projecto "Fluxo Sul" - via Bulgária, Sérvia, Hungria, Eslovénia até à Áustria - ter sido abandonado em Dezembro devido a objecções da UE e Estados Unidos.

 

A coligação de extrema-esquerda e extrema-direita de Atenas rompe assim de forma pública e notória com a política de contenção da Rússia adoptada pela UE após a violação da soberania e integridade territorial da Ucrânia.

 

A parte fraca

 

Tsipras segue o presidente de Chipre que expressou "grandes dúvidas" sobre a política europeia ante Moscovo depois de assinar em Fevereiro novo acordo, com cláusulas secretas, prorrogando o entendimento em vigor desde 1996 sobre o acesso da marinha de guerra russa a Limassol e demais portos.  

 

Troca por troca, Nicos Anastasiades viu a Rússia reestruturar um empréstimo de 2011 de 2,5 mil milhões €, reduzindo juros anuais de 4,5 para 2,5% e protelando o pagamento até 2021.

 

Ciente da importância do investimento vindo da Rússia, apesar de capitais lícitos e ilícitos russos terem crescentemente procurado outros destinos na sequência da crise bancária de 2013, Anastasiades também expressou interesse na participação de Moscovo na exploração de jazidas de gás natural em águas territoriais de Chipre.

 

As jazidas de gás do Mediterrâneo oriental, partilhadas por Chipre e Israel, sujeitas a contestação por parte do Líbano e Turquia, suscitam intensa competição internacional e é do interesse russo controlar, ainda que parcialmente, esse fonte de abastecimento aos mercados europeus.

 

Nos confrontos entre a Turquia e a Grécia a ilha dividida é um calcanhar de Aquiles da UE e da NATO.

    

O ressentimento

 

O apuro por exacções durante a ocupação nazi atinge 278,7 mil milhões €, segundo anúncio ao Parlamento de Atenas pelo vice-ministro das finanças Dimitris Mardas.

 

A exigência de indemnizações de Atenas a Berlim rompe com um pressuposto político básico dos equilíbrios do pós-guerra.

 

A integração alemã no bloco ocidental passou a partir de 1948 pelo Plano Marshal que levou Bona à "Comunidade Europeia do Carvão e do Aço", em 1952, e culminou no rearmamento da República Federal com a adesão à NATO em 1955, seis anos após a criação da aliança militar.

 

O perdão de dívidas contraídas pela Alemanha após a I Guerra Mundial, inspirado por Washington, foi consagrado no "Acordo de Londres" de 1953, reduzindo em cerca de metade para 15 mil milhões de marcos os compromissos de Bona a pagar num prazo superior a 30 anos.   

 

O acordo e perdão que cobriu dívidas das duas guerras foi ratificado por Atenas que, em 1946, na "Conferência de Paz de Paris" aceitara indemnizações diminutas por parte da RFA no montante de 45 milhões usd valores de 1938.

 

Bona pagou ainda 115 milhões de marcos (58 milhões €) em 1960 no âmbito de outro acordo com Atenas que pôs termo a pedidos de indemnizações individuais de vítimas da ocupação nazi, apesar de processos particulares terem sido posteriormente encetados sem resultados positivos.

 

Fora do euro

 

A Grécia foi um dos países mais flagelados pela ocupação alemã, italiana e búlgara, tendo sofrido mais de 300 mil mortos, uma perda de 4,5% da população.

 

A guerra civil de 1946-1949 colocou Atenas firmemente no bloco anti-comunista, mas as memórias da ocupação e o rancor nunca se desvaneceram completamente.

 

O entendimento com Bona foi sempre questão de relação Estado a Estado, apesar da emigração grega para a Alemanha e o intercâmbio económico aproximarem cada vez mais os dois países.

 

A queda da Junta Militar, que governara Atenas entre 1967 e 1974, não alterou substancialmente a situação até os apertos financeiros reavivarem ressentimentos.

 

O descalabro grego, obra de conservadores e socialistas após a adesão à CEE em 1981, é pretexto para extremistas de esquerda e direita contestarem uma política de alianças e parcerias que implicam mínimos de confiança mútua.

 

Claudica a confiança numa altura em que Tsipras e os seus abusam da chantagem e, muito provavelmente, apostam numa ruptura que, com ou sem extrema-direita à ilharga, levará a Grécia para fora do euro.

 

Jornalista

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